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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Clássicos x gibis

Semana passada Lelê teve que ler (e aí o verbo “teve” está apropriado) Moby Dick de Herman Melville, clássico da literatura mundial, para fazer trabalho da escola. Desses trabalhos que os professores indicam o livro para o aluno fazer um resumo indicando os pontos principais da obra e outras querelas mais.

O livro era uma edição resumida, ilustrada, próprio para estudantes de primeiro grau, pois Lelê não teria pique para ler o original e açambarcar seu conteúdo. Maurinete leu o livro juntamente com ela para ajudá-la no trabalho. Ambas leram oralmente, e Letícia vai sempre perguntando o significado das palavras ou expressões e Maurinete vai aparando as arestas na interpretação do livro.

Disse Lelê que foi o pior livro que já leu. Que que eu posso fazer? Nada. O conteúdo do livro não lhe apeteceu, não lhe despertou atenção. Achou-o maçante. Quem sabe, no futuro, ela o reencontre e passe a achar o melhor livro lido, já com a visão de leitor amadurecido e amadurecida na vida. Não sei se seus colegas foram de mesma opinião.

Não naveguei ainda nas quase setecentas páginas originais da história da baleia para ver se Lelê tinha razão. Provavelmente ela tenha razão pois a visão literária atual dela é a visão de uma menina que está construindo uma leitora.

Por outro lado essa semana ela chegou em casa pedindo que comprássemos o gibi Turma da Mônica Jovem. Pelo tom de sua voz, e a gente pai percebe isso, foi influência de algum colega que já tenha lido esse gibi. Achei ótimo isso, pois adoro gibis, sempre apreciei gibis. Essa semana mesmo Maurinete saiu com ela pela cidade e comprou o gibi de Maurício de Souza, que fez esse gibi adaptando a turma infantil da Turma da Mônica para a Turma da Mônica adolescente.

Dei uma rápida olhada no gibi e vi que eram estórias realmente que abarcam o universo adolescente e, Maurício de Souza, visando esse filão do mercado de adolescentes, caiu fundo no projeto.

Perguntei para Lelê se ela queria que eu fizesse assinatura do gibi, o que ela assentiu de bate pronto. Fiz assinatura via internet e daqui a um mês começaremos a receber a revista. Percebi, e revelo descaradamente, que eu também fiquei interessado no gibi e a assinatura soou mais interesse meu do que de Lelê.

Minha formação de leitor começou pelos gibis, quando eu era criança. Eu adorava os gibis de Tio Patinhas, Pato Donald, Zé Carioca, Tom e Jerry... e mais tarde os gibis de Angeli (Chiclete com Banana), Henfil (Revista do Henfil), Laerte (Piratas do Tietê), e por aí vai.

Lelê ama de paixão os gibis do Menino Maluquinho de Ziraldo. Acho que já falei disso em algum post anterior. Praticamente já releu todos que tenho. Ela gosta de lê-los antes de dormir.

Considero que é assim mesmo: rejeita Moby Dick, aceita Turma da Monica Jovem, rejeita José de Alencar futuramente, aceita Machado de Assis aos poucos... E assim vai se processando a leitora Lelê.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu só sei que nada sei


Lelê: Pai, você já viu frase mais idiota do que essa: “só sei que nada sei”.
Eu: Por quê?
Lelê: Ora, se não sabe de nada, é porque não sabe, e pronto!
Eu: E de quem é essa frase?
Lelê: É do Sócrates.
Eu: Certo.
Lelê: Verdade? Pensei que fosse de Aristóteles!
Eu: Quando você estiver estudando na universidade, você irá tomar conhecimento melhor dessa frase. Quando você já estiver formada, você saberá melhor ainda o sentido dela.
Lelê: E vai demorar tanto assim pre’u saber?
Eu: Dá sétima série que você está hoje, até você se formar, você enfrentará muitos “só sei que nada sei”. Principalmente em dias de provas e testes. Num fique triste não, porque existe o lado oposto da questão.
Lelê: Como assim?
Eu: Por exemplo: Eu só sei que tudo sei porque o Brasil não foi campeão da Copa do Mundo na África.
Lelê: Mas aí não é preciso ser filósofo pra saber. Como você sempre fala, “até um bebê de touca, sabe”.
Eu: Eu só sei que nada sei sobre a morte, mas sei que sabemos que vamos morrer.
Lelê: Cruz credo, pai!
Eu: Filosofia é isso, minha filha, é questionar as certezas e incertezas.
Lelê: E por que o Brasil perdeu a Copa?
Eu: Porque Erasmo de Rotterdam, filósofo holandês, fez um Elogio da Loucura ao futebol brasileiro. Seria muito louco os holandeses ganharem do Brasil, pelo menos para os desentendidos de futebol, e, de fato, a Escola de Frankfurt é que não soube da lição correta de casa contra a Espanha e deixou que José Ortega y Gasset, filósofo espanhol, aderisse ao esquema tático dos passes infinitos, num jogo de pé em pé até atingir a meta alemã.
Lelê: Tá ficando maluco, pai!
Eu: Eu só sei que em 2014...
Lelê: O Brasil vai ser campeão!
Eu: Eu só sei que nada sei disso.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A raiz quadrada

Quando chega o período de provas de Lelê, é um deus nos acuda. Nos acuda porque eu e Maurinete temos que nos desdobrarmos para fazer toda revisão de conteúdo das provas com ela. Sem muito rodeio, acho muito estressante, tanto para Lelê como para nós. Mas não fugimos à responsabilidade e encaramos a situação. Mais estressante, percebo, para Lelê, porque tem que lidar com um volume de informação que eu e Maurinete pensamos ser um pouco exagerado. Desde que me conheço por estudante essa é a rotina de quem está nos bancos escolares.
Estava eu revisando raiz quadrada e Lelê questiona-me para que serve isso e também o conteúdo das outras matérias. É lógico que ela jogou também com o bom humor.
Lelê: Pai, para que serve eu estudar matemática se não vou ser cientista? Para que serve estudar o português se eu não vou dar aulas de português? Para que serve estudar geografia se eu não vou trabalhar no IBGE (não sei onde ela arranjou essa)?; Para que estudar filosofia se eu não vou ser filósofa? Para que estudar inglês se eu não vou pros Estados Unidos? Pra que estudar espanhol se eu não vou pra Espanha? `Pra que estudar História se eu não vou ser historiadora? O que falta mais...?
Eu: Então você queria ficar só em casa brincando? Você quer só aprender a brincar? É verdade que essa raiz quadrada que nesse momento estou revisando com você, eu não sei qual a finalidade pra sua vida. Como nunca teve na minha até hoje. (Dei essa levantada de bola para ela encher o pé e ela encheu com uma expressão facial de satisfação):
Lelê: Então, pai, é isso mesmo. Pra que ela serve? ( Procurei ser ágil e lhe dar uma resposta convincente, mas nem todo momento a resposta é iluminada, de um adulto para uma criança, sem os subterfúgios do engano, da enrolação, e eu queria ser sincero com ela. Como não tive nenhuma resposta iluminada, então empurrei o óbvio).
Eu: Olhe, minha filha, acredito que, na vida, agente tem que aprender um monte de coisas, como esse monte de coisas que você está aprendendo, mesmo que muito disso não lhe dê tanto prazer. Eu passei por isso, sua mãe passou por isso, e, acredito, que mais lá na frente tudo será recompensado pra sua vida prática. Alguma coisa positiva vai lhe ocorrer. Tenho certeza.
Lelê deu vontade de ir ao banheiro, a tardezinha já estava escurecendo e dei por encerrada a aula sobre raiz quadrada. Poxa, vida, fiquei pensando, porque essa raiz quadrada está sempre a perturbar a vida da gente desde criança? Nunca imaginei que, além de quando fui encostado na parede em prova de matemática para responder questões de raiz quadrada, eu fosse ser encostado novamente na parede por minha filha exatamente por essa bendita raiz quadrada!
Hoje entro no site do jornal O Estado de São Paulo e lá está uma matéria com Fernando Reinach, um professor graduado em Biologia em 1974 pela USP, e onde fez mestrado. Fez também doutorado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e pós-doutorado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Foi sócio da primeira empresa especializada em teste de DNA e participou da pesquisa pioneira do genoma no País. Também assumiu o cargo na direção da Votorantim. Pois bem, ele fez uma palestra sobre estudo continuado lá no jornal Estadão, e ele criticou o descompasso que existe entre o que se ensina na escola e o que efetivamente se usa na “vida real”. “As coisas mais úteis que você precisa fazer no cotidiano não são ensinadas na escola. Quantas pessoas calculam raiz quadrada em seu dia a dia?”, questionou.
E agora, eu vou falar pra Lelê o que esse estudioso falou sobre raiz quadrada?

domingo, 13 de junho de 2010

Gol de bicicleta

Notícia do colégio de Lelê: Ela tem saído da sala de aulas e ido pra biblioteca, justamente na aula de matemática, segundo a coordenadora da escola. Estava se achando tranquila nessa matéria. Será? Logo matemática, o bicho papão da estudantada. Não se deve brincar com a matemática. É tanto que saiu o resultado do teste de matemática e ela se deu mau. Tirou uma nota bem vermelha. Nossa!
Com certeza eu também gostaria de ficar lendo na biblioteca e não estudando matemática. É lógico! Qual estudante, em sã consciência – se é que estudante tem consciência numa hora dessas – vai querer ficar com os olhos pregados na matamática? Sim, é isso mesmo que escrevi: matamática.
Ô Lelê, vamos primeiro aos compromissos. Porque senão vamos ter que repetir a série escolar no próximo ano. Então Maurinete foi lá na escola para tentar contornar a situação, mostrar-lhe a importância de estar presente em sala de aula, principalmente nas aulas de matemática.
Sexta-feira última tinha festa junina em meu trabalho, e já estava tudo certo pra Lelê estar lá. Ela só falava nisso durante a semana. Mas, como ela aprontou na escola resolvemos não levá-la a esta festa.
Ela ficou meio tristinha e, de última hora, resolvemos que ela iria. Tudo bem, mas a bronca foi dada. Rumo á festa junina! Iarrruuuuu!! Maurinete não foi.
Na festa, comer que é bom, ela não queria (poxa, vida, é dureza ser pai!). A guria só queria pipoca, refrigerante... Essas... Essas... Essas “comidas” que os pais não querem que as crianças só comam isso e que elas acham que a vitamina está só nessas comidas. Tô frito. Essa guria quer me testar. Com sacrifício ela ainda comeu umas carninhas, uma linguicinha (sem trema, de acordo com a nova reforma ottográfica), mas depois começou a enfiar o pé na jaca das pipocas. Também pudera, a gurizada lá presente só comia isso, como é que eu iria ter moral para barrá-la nas pipocias?
Minha conclusão foi a de que ali não era o ambiente para conscientizá-la da necessidade de se alimentar adequadamente. E nem eu tinha moral pra isso, porque não larguei meu copo de cerveja da mão. Anarriêê!!!
Comprei três cartelas de bingos – dois reais cada – pra cada prêmio oferecido: um dvd, uma bicicleta e uma televisão.
Lelê comendo pipoca, bebendo refri, eu bebendo cerveja e comendo bota-gosto, ou melhor, tira-gosto e chegou a hora do bingo. Do dvd, bulhufas, não ganhamos nada. Lelê é que marcava. Da televisão, nada. Tá cá gota! Da bicicleta, eu até saí, fui ao banheiro e dar umas voltas. Deixei Lelê marcando o bingo, e, quando volto, me falam: “tua filha ganhou a bicicleta!”. De fato, Lelê ganhou a bicicleta, das grandes.
Se tivéssemos deixado Lelê em casa, de castigo, não estaríamos agora com uma bicicleta novinha em folha. Quis o destino assim. Quem sabe o destino não vai ajudar Lelê a tirar uma boa nota em matemática também.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Religião

Estávamos indo para aula do Kumon e dei carona para uma senhora e a deixei na parada de ônibus. A mulher agradeceu com um “Deus lhe pague” e lhe respondi com um “Amém”. Reação de Lelê:
Lelê: Mas pai.... Se você não reza por que disse ‘amém’ pra mulher?
Eu: Minha filha, nós devemos respeitar como as pessoas são. Se ela tem uma religião e me agradece dessa forma, com educação, posso perfeitamente retribuí-la com palavra que ela acha que é de sua religião sem que isso me perturbe pelo fato de eu não ter religião.
Lelê Mas você não reza, pai. Insistiu Lelê.
Eu: Minha querida, eu não rezo e isso não significa que eu seja uma pessoa que... Uma pessoa que... Como direi... Que apesar de não ter religião todos os deuses de todas as religiões me respeitam.
Lelê: Como assim?
Eu: O que o Deus de sua religião e os Deuses de todas as religiões querem? Eles querem que as pessoas sejam pessoas de bem, pessoas honestas, respeitadoras (já ia falar ‘éticas’ mas evitei a extensão da explicação), e eu acredito que eu sou uma dessas pessoas, mesmo não tendo religião nenhuma.
Como percebi que ela ficou um pouco calada, provavelmente processando minha fala para ver se encontrava um pé de apoio, continuei;
Eu: Religião, minha filha, se a gente não tem, isso não significa que a pessoa seja má, você sabe muito bem disso. Como você também deve saber que existe uma pá de gente que tem religião e são uns pulhas que religião nenhuma lhe dê jeito.
Fui tentando explicar de forma bem compreensível para Lelê que o respeito entre os ateus e os não ateus deve ser respeitoso, sem que isso seja motivo de desavença. O respeito, a não agressão – de qualquer forma – devem ser cultivadas. Tentei argumentar-lhe que o exemplo reina muito bem dentro de nossa casa. Eu não tenho religião e ela e Maurinete são católicas e nem por isso nos impede de convivência pacífica e harmoniosa.
Percebi que a cabeça dela estava a mil. Ela continuava calada. Calada em termos. Ela estava dialogando consigo mesma, conversando com seus botões e chegando a conclusões que poderiam nem ser possíveis para seu nível de compreensão para sua idade da razão. Mas isso não me preocupa, pois ela chegará por si a seu entendimento no dia-a-dia de suas atribulações.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O roteiro

Mesmo com esse feriadão prolongado (quinta, sexta, sábado, domingo) Lelê não foge da responsa. Ela sabe que se não cumprir com suas obrigações escolares nesses dias de folga, o calo dela apertará na escola. As cobranças lá na escola e aqui em casa com certeza aparecerão. Não vejo nada demais nisso. Ela é uma trabalhadora como qualquer cidadão que desempenhe funções. A função dela é estudar. E brincar também. E vadiar também, quando não tiver as obrigações regulares, lógico.
Hoje, depois de um dia só de farra – brincadeiras com os vizinhos, sinuca, piscina, internet – bicicleta, não, esá quebrada – correria, montar quebra-cabeça, troca de figurinhas da Copa do Mundo, etc. Lelê parece que percebeu que o dia todo não é só pra fuzarca.
À noite, ao chegar à biblioteca daqui de casa, vejo pregada numa porta de um armário uma folha de papel A4. Vou ver de que se trata. Vi que estava escrito alguma coisa, e foi Lelê que escreveu. Conheço sua caligrafia. E o escrito (os parênteses são meus) era:
“Roteiro para a parte da manhâ: (amanhã),
- Acordar cedo. (Por esses dias ela tem feito isso. Será que está se acostumando?)
- Fazer um bloco de Kumon. (Ela sabe que essa atividade não tem como fugir).
- Tomar café.
- Fazer página 47 de inglês. (Essa semana sua professora de inglês ligou para nós e a elogiou por sua evolução, mas pediu que caprichasse nos exercícios).
- Trocar figurinhas. (Já comprei dez pacotes. Amanhã é dia dela ganhar).
- Ler o capítulo 11 de História. (É tanta coisa pra se estudar dessa matéria que desconfio que o professor quer que minha filha se torne uma Eric Hobsbawm).
03/06/2010
Quinta-feira.
22:47:33.
Ass.: Letícia Alves”.
Não sei se essa menina está ficando muito burocrática ou está procurando ser organizada. Pelo visto está deduzindo que, se organizando com suas obrigações o tempo lhe renderá em brincadeiras. Esse ‘roteiro’ não foi sugestão minha e nem de Maurinete. Não sei de onde ela tirou essa idéia.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um dia de passeio

Essa semana Lelê está totalmente livre da escola (que felicidade!). É que lá todo ano tem uma semana (de férias pra todo mundo!) de gincana. As atividades são variadas. De competições à churrasco (Lelê se baba) a galera vai ao delírio. Dizem que é uma confraternização escola, alunos e família (Lelê – e toda turma do colègio – concorda que isso é ao menos uma semana sem aporrinhações de deveres escolares). É uma semana sem ralação (não foi assim que Obama chegou a presidência dos EUA).
Hoje a atividade foi o dia inteiro no clube Cota Mil (onde ninguém pode lembrar do primeiro dez da primeira prova ou, principalmente, da última nota vermelha). Os professores estavam juntos com os alunos para dar-lhes suporte (até que enfim os pais não estão por perto para aporrinhá-los. Pensam os estudantes como pensam o inverso os pais).
Amanhã , quinta-feira, será feriado e a escola emendará com a sexta (para Lelê e amigos, por que toda semana não tem um feriado no seu meio?). Falei: o dia todo no clube? (Lelê nem lembra-se que existimos. Já eu e Mauri sentindo sua falta). Ser estudante nessa fase de Lelê é estudar e bagunçar (ser pai e mãe nessa fase é estudar um meio de parar a bagunça de seus filhos).
Lelê pede que a gente vá pegá-la na escola -o clube fica perto daqui de casa - pois quer ir no ônibus com todo mundo aprontando (ela vai achar-me um super pai, pois concordo que no ônibus a fuzarca vale por dez aulas de psicologia sobre a amizade).
Lelê sempre pergunta-me (até parece delegado em inquérito policial) se quando eu era criança eu fazia as atividades que ela faz atualmente em sua escola. Ela irá me perguntar se eu tinha um dia no super clube como ela foi hoje (vou dizer-lhe que não. Na minha ótica infantil eu diria que era a maldita hora em que eu poderia afirmar que ser pobre não é nada fácil).
Lelê chegou comentando que o passeio só não foi melhor porque se machucou levemente no tobogã (seria anormal se chegasse ilesa, pela voltagem elevada de euforia que ela sente nessas ocasiões).
Maurinete ficou muito preocupada quando Lelê disse que tinha se machucado, mesmo sem ter visto o tal machucado (mãe sempre tem a temperatura do termômetro mais elevada que o pai). Vimos o machucado (extremamente desproporcional a eletricidade de Lelê).
Lelê tomou banho, jantou e foi dormir (sinal de que se houvesse boletim atribuindo notas por seu dia, o verde e o amarelo seriam fichinhas). A expressão “ela estava morta de cançada” ao dormir, é erradíssima. O correto é dizer: “ela dormiu vivíssima de agito”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprender o inglês

Sábado retrasado fomos à livraria Cultura. Além de passearmos por lá queríamos comprar os dvds da Disney’s Magic English. São dvds que principiam as crianças no inglês. Maurinete tinha rececebido referências boas desse trabalho. O volume 1 trata da aprendizagem das cores, os números e músicas infantis. O volume 2 aborda historinhas sobre o mar, a floresta e as montanhas. A criança aprende inglês bincando.
O Magic English é um método divertido, interativo, com canções e momentos mágicos dos clássicos da Disney, como a Branca de Neve, Alice no País das Maravilhas, Cinderela, Pongo e Perdita de 101 Dálmatas, Pato Donald, Pinóquio, Peter Pan, Bambi, Mickey, Minnie, Pluto e vários outros amigos da Disney.
Antes de ver eu estava meio cabreiro, pensando que era algo bem consumista. Qual nada. Quando vi fiquei encantado com o capricho dos desenhos, do modo didático da apresentação, do estilo lúdico. A qualidade da animação é nota dez. Lelê fica ligadona cantando, respondendo, interagindo.
Acho que já falei aí bem atrás n’algum post anterior que eu e Maurinete estávamos querendo encarar o inglês para termos fluência pelo menos na leitura desse atual idioma universal. Vamos fazer um curso para ganharmos ritmo, pois nosso english é paupérrimo. Queremos sair do verbo to be, queremos encarar a coisa a sério. E é por isso que também estamos entusiasmados com esses dvds.
Os três aqui dentro de casa praticando o idioma do tio Sam, vai ser bom. Estou percebendo que, além de fazer Lelê se interessar pelo inglês, eu e Mauri é que estamos parecendo crianças apreciando os dvds. Imperceptivelmente Lelê vai se interessando mais pelo inglês com esse espírito familiar.
Já conversamos com Lelê da importância de um idioma estrangeiro, principalmente do inglês no mundo contemporâneo. A verdade é que ela gosta mais de espanhol do que inglês. Não, não queremos que ela seja poliglota, a não ser que lhe haja interesse. Pensamos que não é tarde para aprendermos o inglês e nem é cedo para Lelê.
Mesmo o Google fazendo a tradução praticamente instântanea de 52 idiomas, tornando-se um ágil instrumento comunicador universal, ainda assim acreditamos na força da aprendizagem individual de um idioma como o inglês, o esperanto sonhado por seu criador Zamenhof.

sábado, 29 de maio de 2010

Qual núcleo prevalecerá?

Estou vendo o Jornal Nacional da Tv Globo na tv da cozinha. Notícia sobre o acordo nuclear do Brasil e Irã. Estados Unidos não concorda com o tal acordo. Tá uma confusão com uma tal carta que Obama mandou pra Lula com boas recomendações pro acordo.
Ontem era sexta-feira. Estava eu dando uma beiçada no copo de cerveja e Lelê aparece e no meio da cozinha simula uma dança. Ginga o corpo rapidamente. Continuo vendo a notícia do acordo nuclear. Lelê pega uma coxinha e se delicia. Lula, ao assinar o acordo, e seus assessores, se deliciaram com a repercussão da notícia pelo mundo inteiro.
Marmud Armadinejad é um ditador. É uma besta. Lelê agora bebe fanta-uva. Não sei porque ela não bebe coca-cola. Como um tira-gosto de pão sírio com antepassas de berinjela. Dou mais uma golada na cerveja. Lelê não dá a menor bola para esse tal acordo. A geração dela será que acordará para esses acordos?
Fanta uva, antepassas de berinjela, cerveja, coca-cola, coxinha, tudo isso é uma bomba atônica. Atônica com ene. Cada vez mais Lula se alia a ditadores como o iraniano, o cubano, o venezuelano, o boliviano, e por aí vai. Lelê ainda não tem consciência de indagar porque ele não se alia aos povos desses países ao invés dos ditadores desses povos.
Já estou na quara latinha de cerveja e Lelê está empatada comigo nas coxinhas. Um é alcóolico, o outro é gorduroso. Dois ingredientes de urânio pesado para a construção de bomba caseira. Como eu e Lelê estamos em casa podemos perfeitamente soltarmos nossos petardos sem causar medo a ninguém.
Lula e Marmud Armadinejad querem se beneficiar com esse acordo. Lula quer se sentir o próprio, quer se sentir ‘o cara’. Sabemos que os dois, mais Obama, são políticos espertos, cada um querendo tirar proveito da situação. Lula querendo ganhar projeção internacional e Marmud quer escapar das sanções impostas pela ONU.
A questão a saber é se a geração de Lelê vai gerar ações no futuro, se vai escapar dos petardos nucleares das relações mal resolvidas internacionais. A geração de Lelê está mais para o núcleo genético de uma bactéria projetada por computador e feito em laboratório para criar uma forma de vida. O núcleo genético e o acordo nuclear: uma bipolaridade que assustará a geração de Lelê entre a vida e a morte.
Se prevalecer a explosão nuclear, Lelê não tem como se esconder debaixo da cama, e se prevalecer a explosão do núcleo genético Lelê terá muito berço para dormir.
Vou sorvendo minha cerveja e olhando para Lelê comendo sua coxinha, olhando com um misto de pena, de dó e de alegria.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Carpe diem

Ontem Lelê ficou na escola até às 17:30. Tinha aulas de reforço. Maurinete foi pegá-la. Portanto eu a vi por volta das 06:10 quando nos despedimos ao ir para o colégio e só vim a vê-le por volta das 19:00 hs. Quando isso acontece, ao chegar em casa eu saio correndo em sua direção falando: “ô, minha filha, porque vocês demoraram tanto! Eu aqui, morrendo de saudades de minhas meninas, a tarde inteira sozinho nessa casa, e vocês não aparecem!”. Concomitante eu a beijo, abraço, faço o maior chamego com ela, que fica se esquivando mas ao mesmo tempo gostando que eu faça essa farra com ela que fica rindo o tempo todo.
E antes quando eu corro para abraçá-la, ela fala pra Maurinete: “tá vendo, mãe, eu num disse que ele ia dizer que estava morrendo de saudades da gente, eu num apostei, num foi?”. Eu a retiro do carro abraçando-a, quase derrubando-a no chão. Quanto maior a fuzarca, mais a guria adora. Fazendo uma pausa, ela fala:
Lelê: Olha, pai, eu cortei minha perna.
Eu: Aonde, que não estou vendo?
Lelê: Aqui, ó – aponta o local.
Eu: Isso não é um corte, isso é um arranhão.
Lelê: É um corte, sim!
Eu: Ah, que bom que você se cortou!
Lelê: O que? Falou franzindo a testa.
Eu: Que bom que você se cortou. Muito legal você ter se cortada.
Lelê: Mas pai...
Eu: Isso é muito bom. Isso significa que você brincou bastante, exagerou na brincadeira. Não ficou parada. Isso significa que você tem bom sangue. Imagine, se você chega aqui em casa triste porque não brincou na escola? Um corte é sinal de que você exagerou na brincadeira. Ser exagerada, tem momentos que é legal pra caramba. Lembra daquela música do Cazuza, que a gente sempre ouve no carro? Exagerada!
Lelê: Mas tá doendo...
Eu: Outra coisa boa. Seu corpo está dando-lhe a oportunidade para você sentir coisas diferentes. Imagina, uma menina que nunca sente uma dor ao arranhar-se pode se tornar muito fresca, muito mimada, muito cheia de dengo. A dor também faz parte da vida, minha filha. Carpe diem!
Lelê: O que é isso?
Eu: Aproveite o dia!
Lelê: Com dor?
Eu: Não, com alegria. A dor que você está sentindo não é dor. É alegria. Esse arranhãozinho de merda é simplesmente um detalhe que não estragou seu dia de brincadeira intensa!
Peguei sua mochila e seu blusão de frio e saímos abraçados para dentro de casa, e ela foi contando como foi que sofreu o “corte”. Eu a ouvia com “sim”, “sim”, “sim”. Como ela se estendia nas explicações lhe indaguei:
Eu: Quer ir pro hospital engessar a perna?
Lelê: Você tá louco!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ser diferente

Minha filha foi para o colégio com o cabelo preso, como a maioria das vezes gosta de ir, mas hoje ela fez uma firulinha nele. Deixou uma mecha, um tufinho curvo solto bem no meio da testa, quase caindo sobre um dos olhos, como se tivesse sinalizando para todos que a vissem um “ei, você não vai falar de meu cabelo na testa?”.
Tem dia que um cadarço do tênis está solto mas ela não amarra, mesmo que eu tenha que mostrar-lhe que ela caminha chutando-o. Antes de ser preguiça de se agachar e amarrá-lo, para ela é legal andar chutando o cadarço como uma forma de se divertir, entreter-se com algo tão simples.
Mesmo que esteja fazendo calor, Lelê gosta de usar seu blusão de frio quando vai para a escola. Até parece que, mesmo sendo friorenta, o legal para ela é as pessoas vê-la naquela situação calor/frio e indagar-lhe um “você não está sentindo frio?”.
O brinco do menino brinca, porque é moda mesmo sendo diferente. O cabelo multicolorido da menina brinca com o sabor do chamar a atenção. O cabelo espetado do menino brinca, como brincava o cabelo com gomalina do rapaz há muito tempo.
Como a inquietude dos jovens gritando e berrando quando estão em grupo numa farra qualquer, num agito simples, o importante é chamar a atenção, é ter comportamento outdoor. É ser janela windows aberta ao mundo pela internet.
Quando vou pegar Lelê em sua escola observo os adolescentes querendo esbanjar espontaneidade. É muito legal vê-los falando alto, com palavras largadas ao vento sem se preocupar com os decibéis, agarrando-se, empurrando-se, cumprimentando-se efusivamente com toques de mãos, quase que emitindo fumaças cifradas perfeitamente decifráveis entre eles.
Os jovens querem ser diferentes, porque em si a juventude tem temperamento diferente, tem estilo diferente, tem o jeito de ser diferente, quer ser diferente. Diferente visualmente com a indumentária. O querer divergir é ser diferente. Ser diferente. Ponto. Não quer ser unanimidade. Não quer ser, como diria Nelson Rodrigues em sua já famosa frase, não quer ser burra, não quer ser unanimidade burra.
E onde está essa juventude? Está na individualidade de querer ser. Tem momentos que ouço Lelê dizer que adora ser criança. Que, com certeza, adorará ser adolescente. Que aporrinha sendo aborrecente. Mas ao mesmo tempo acha um saco em não poder praticar muitas coisas dos adultos. Um show para ir sozinha, um filme para ir de idade proibitiva. A hora dela vai chegar, está chegando.
A juventude é isso, e mais que isso. Respeitando suas épocas, seus contextos, seus textos, seus discursos políticos, seus discursos de primavera. Discurso de primavera? É só uma frase de efeito, querendo ser jovem.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

“Língua pátria, língua frátria”

Letícia disse que fica pasma com o vocabulário falado entre dois colegas de van escolar. Os dois falam o tempo inteiro gíria e o português truncado da internet. Pelo que ela falou só faltaria mesmo as ilustrações – carinhas com poucos traços expressando riso, tristeza, alegria... - dos diálogos da internet muito usado entre os internautas.
Se ela, que faz parte desse universo, fica admirada, imagine eu, que recebo os respingos dessa linguagem através dela mesma. Só não sei se essa rapaziada também se expressa por escrito dessa forma. Com certeza, não, pois seus professores não os aprovariam em suas redações.
Lelê: Eles falam assim, pai: “véi, cara, brother, tá ligado?, é isso aí, sujou, diz aí mano, mico, cara, caraca, sóóó!!!, belê?...
Já abreviaram a abreviatura de beleza – blz (bêlêzê) por bl (bêlê). Daqui a alguns dias teremos só o b (bê). Se é que já não é. Na realidade essa palavra vem se transformando desda da década de sessenta com o ‘paz e amor’ dos hippies quando expressavam um ‘beleza?’ com o já tradicional dedos indicador e médio abertos em v.
A linguagem cifrada dos jovens na internet é a extensão de sua linguagem oral no dia-a-dia. Ou o inverso é que é a verdade? Ou a junção das duas linguagens se confundem, ou se confluem.
Com a parafernália eletrônica em vigor, de celular comum e com câmera, e com internet, a língua pátria passa a ser a língua digital globalizada, onde ícones, sinais de pontuação, de matemática, com desenhos nítidos, simulados, conceituais, embalados em designers coloridos, animados e esteticamente sedutores, serão, tudo isso passado no liquidificador da gramática, da norma culta, desembocado e destabocado num novo esperanto.
Lelê tem razão de seu misto de admiração e perplexidade, porque sabemos que essa linguagem é a linguagem coloquial, maleável, preguiçosa, gostosa, que a galera conviverá com a lingua formal para sobreviver no desenrolar de suas futuras profissões. Isso quando eles já despirem as bermudas caídas mostrando as cuecas, calcinhas, cofrinhos e vestirem os ternos talhados de formalidades, derrotadores.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Preocupações de uma mãe

Quando se fala que vamos anotar algum recado, algum pedido de informação à professores através da agenda escolar, Lelê logo se prontifica como contrária. Para ela isso é pagar mico. A agenda é um meio de comunicação entre professores, alunos e pais. Isto é, na maioria das vezes é uma comunicação porque não houve comunicação..
Somos atenciosos, acreditamos, nos recados que os professores nos mandam. Procuramos assistir todas reuniões de pais e mestres que a direção da escola programa.
Independente de pagar mico ou não, eis os recados que Maurinete mandou via agenda escolar para os professores de Lelê por esses últimos dias:
“Querida professora Adriana: Quero pedir por favor, que conceda à Letícia a chance de entregar o dever de ciências na aula de sexta-feira, dia 30, pois este fim de semana foi a primeira comunhão dela e, com mais estudos para avaliação de matemática na próxima terça-feira, foi impossível terminar o dever. Obrigada. Maurinete”.
De fato, foi uma correria, e não teve planejamento de horário que desse jeito. Outro recado:
“Prezada professora Raíssa: Infelizmente não pude orientar Letícia a fazer o dever de espanhol. Ela não sabia e nem eu. Quais os verbos principais, no pretérito, para serem usados como palavras-chaves, na pesquisa de uma partida de futebol? Se a senhora puder fazer a gentileza em dar umas dicas, e se ainda há tempo a ser entregue, agradeço. Maurinete”.
Maurinete não sabe nada de espanhol, muito menos eu. Estou falando de espanhol, e não de portunhol. A professora mandou a orientação e o trabalho foi feito.
Outo caso foi o seguinte: “Prezada professora Adriana: Queira, por gentileza, dizer como é para fazer o ‘dicionário monera’. Obrigada. Maurinete”. A professora mandou as explicações e o trabalho também foi feito.
A questão é não ter receio em pedir explicações, orientações e muito menos em não ter vergonha. Não ter vergonha em dizer que não sabe. O importante é correr atrás das orientações e apresentar as resoluções, e, acima de tudo, não fazer trabalho, tarefa nenhuma para seu filho. O que podemos fazer é orientá-lo.
Explicamos para Lelê que mico, é não fazer as tarefas escolares.

domingo, 23 de maio de 2010

A falta que faz a falta de energia

Ontem, por volta de três da madrugada, soube depois, faltou energia aqui pelas cercanias de casa, e só retornou por volta de meio dia. Antes de pensar ser um prejuízo, a princípio, achei uma maravilha, mesmo não podendo acessar o computador para ver notícias dos jornais e revistas que tenho acesso.
Lelê acordou às 06:50 e já pediu para tomar café porque estava com fome. Fiz o café e Lelê foi servi-lo já achando ruim porque não havia energia. Ela não podia ver desenho animado enquanto tomava café, então ficou meu pensativa e convesando comigo. Maurinete ainda dormia.
Sem televisão ligada e sem energia, ela então foi pra biblioteca resolver a lição do Kumon e concluir deveres da escola. Quando Maurinete acordou percebeu que ela já tinha feito essas tarefas e deu-lhe os parabéns. Logo após as duas continuaram em mais deveres escolares – Lelê foi vestir o jaleco branco da aula de ciência. A menina adora estudar como se fosse uma professora - para ganharmos mais tempo livre no fim de semana.
Sem televisão ligada e sem energia, Lelê começou a organizar seu álbum de figurinhas da Copa do Mundo com mais dez pacotinhos que lhe dei. Mostrou-me os cromos e ficamos analisando o andamento de conclusão do álbum. Ela ficou muito contente porque das 40 figurinhas apenas duas vieram repetidas. Excelente índice de aproveitamento.
Sem televisão ligada e sem energia, Lelê foi praticar um pouco de violão, ganhar prática, explicar-me umas notas musicais que estava tentando aperfeiçoar. Dou-lhe atenção. Percebo que quem toca um instrumento musical não quer tocar só pra si, quer ter público, como o escritor quer ser lido por leitores.
Sem televisão ligada e sem energia, Lelê foi concluir a leitura do livro A Menina Que Era Outra Vez, de Sérgio Klein para fazer um trabalho da escola. Ela lê e Maurinete fica ouvindo e ambas discutem o conteúdo da obra, analisando passagens das personagens e comentários vários. Vez ou outra escuto risos das duas com as estripulias das personagens.
Sem televisão ligada e sem energia elétrica, Lelê fica gastando sua energia em alguma atividade. Vai na biblioteca e meche num livro, numa revista, num material qualquer seu, reclama porque nunca mais comprei o gibi da Julieta, de Ziraldo. Explico-lhe que é porque nunca mais vi nas bancas.
Sem televisão ligada e sem energia elétrica, a casa parece mais viva, mais energisada com Lelê ocupando todos seus espaços e as coisas de casa sentindo prazer em serem tocadas e observadas por Lelê.
Sem televisão ligada e sem energia elétrica Lelê faz um montão de coisas bastante úteis para seu cotidiano. Então vou torcer, como pai responsável e que está vendo resultados positivos na vida da filha, que a crise de energia que se anuncia, ou que já estamos vivendo no Brasil, continue afundando, continue falhando e que não haja verbas para investimentos nesse setor.
Se em todos os lares Brasil afora houver resultados positivos como o caso de Lelê, o ideal é que se crie uma campanha nacional com o slogan “Apagão já. Por uma melhor educação de nossos filhos”.

sábado, 22 de maio de 2010

Consumismo

Após a aula do Kumon vou com Lelê a uma padaria comprar uns salgadinhos para ela. É uma padaria-lanchonete. Foi ontem, sexta-feira, dia em que a gente abre mão de alimentação regular de Lelê para ela cair na gandaia, ou seja, no varejo das bobagens alimentícias, que eu também adorava quando era criança.
Estávamos na boca do caixa, numa fila. Um pai, com sua pimpolha, por trás de nós, recusa a atender o pedido da guriazinha que queria chicletes e balinhas. Ele alegava que por ela só comeria essas besteiras. Ouço o diálogo deles e falo pro pai, apontando pra Lelê, que isso, pelo visto, era geral.
O que se percebe é que é estratégico em todo ponto comercial, do supermercado à farmácia, passando por padarias, botecos, lanchonetes..., colocar esse tipo guloseima para seduzir a criançada para seduzir os pais. Estratégia de marketing, estratégia de vendas, ou sei lá que outro nome se dá a isso, só sei que é pra gurizada aporrinhar os pais a comprarem essas asneiras comestíveis. Faz parte do jogo comercial.
Não é à-toa que que os supermercados colocam os gêneros alimentícios mais no fundo das lojas, que é para a clientela passar pelos produtos de não primeiras necessidades. Ou seja, é a mesma estratégia aplicada com as crianças: seduzi-las para o supérfluo.
Sempre nos caixas estão expostos, além dos doces e que tais, jornais locais e principalmente revistas, de capas bonitas e charmosas, exatamente para seduzir os adultos. São as balinhas na boca dos marmanjos. Vejo sempre algum adulto pegando revistas semanais e folheando-as enquanto não chega sua vez. Quem sabe daí não se vende uma revista que o sujeito(a) nem estava querendo?
E aí, o que tenho que falar para Lelê que não vou comprar tudo que ela quer? Eu e Maurinete temos sempre explicado-lhe a questão do consumismo desenfreado, do consumismo pelo olhar, a tudo querer porque achou bonito, o consumismo gratuito. Ela compreende e atende, mas, é lógico, sempre tem as recaídas. E isso não é coisa exclusiva só de criança, não. É comportamento de adulto também moldado pelo consumismo exposto em nossa sociedade de consumo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Lelê mentiu. Ela é uma menina inteligente.

Não querer almoçar não é novidade. Lelê não está com fome. Tudo bem, respeito. Quero ver até onde ela vai continuar sem comer. Uma hora vai ter que pedir arrego. Ela não é santa!
Para resistir dois dias sem almoçar e jantar leva-me à suspeita de que alguma coisa ela está comendo por fora. Nem eu e nem Maurineta estamos no colégio dela para sabermos se não comeu nada, então, a suspeita é de que alguma besteira ela consumiu.
No segundo dia sem comer chegou em casa e insistia em não se alimentar. Nesse ritmo ela irá concorrer com um indiano, que hoje ganhou manchete dos jornais e telejornais do mundo inteiro que, segundo ele e uma equipe de médicos patrícios, está há setenta anos sem comer nada. Isso mesmo. Sem comer nada.
Fiquei de olho na dispensa, santuário de algumas guloseimas existentes – biscoitos, sucos, cereais em barra... – porque se der bobeira Lelê come isso para não almoçar. Também tem frutas: banana, manga, pera, mexerica, laranja. Mas isso ela não toca. Não precisa nem insistir.
Subo para a biblioteca. Nesse ínterim ouço passos rápidos em direção à dispensa e depois ao banheiro. Calmamente vou verificar minha suspeita. Lelê pegou biscoito e foi comer no banheiro. Ah, isso ela come. O almoço tá lá, a sua espera inutilmente.
Depois pergunto a Lelê se ela pegou biscoito na dispensa e foi comer no banheiro. Ela diz que não. Taí, Lelê é uma menina inteligente. Sua mentira é um sinal de inteligência. Essa capacidade de mentir demonstra sinal de inteligência. Lelê acaba de atingir um importante estágio no seu desenvolvimento utilizando os complexos processos mentais envolvidos na formulação dessa mentira.
Eu, como pai, não devo me preocupar se Lelê me conta uma mentira. Isso é um sinal, repito, de que Lelê alcançou um novo marco em seu desenvolvimento. Isso significa que ela tem um desenvolvimento cognitivo melhor e é capaz de esconder pistas. Isso só é possível porque ela adquiriu a habilidade de realizar um complexo malabarismo mental que envolve guardar a verdade em algum compartimento no cérebro. E eu estou consciente de que aparentemente não há relação entre saber contar mentiras logo cedo e desonestidade na vida adulta.
Bem, isso que acabo de falar se refere a um arcabouço de um estudo feito no Canadá, pelo Instituto de Estudos da Criança da Universidade de Toronto, envolvendo mil e duzentas crianças e jovens com idades entre dois e dezessete anos.
A verdade é que já na noite do segundo dia sem comer Lelê cedeu à fome e jantou muito bem. Quando eu era criança, era exatamente o contrário de Lelê. Queria comer, sempre, no almoço e na janta, e mais lanchar, e mais comer se huvesse. Minha mãe tinha até que esconder comida da galera esfomeada lá de casa, e nós encontrávamos essas comidas e mentíamos que não mexemos em nada.
Meu deus do céu! Hoje não sou e não tenho nenhum irmão desonesto, e não minto dentro do padrão de desenvolvimento do caráter humano. Considero-me um cara do bem. Meus amigos estão aí para falarem.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Em um dia normal.

Hoje não é dia dos pais, não é dia das mães, não é meu aniversário, não é o aniversáio de Maurinete. Hoje não é nenhuma data tradicional de homenagem familiar. Hoje é um dia comum, é um dia normal com nossos afazeres de trabalho, do cotidiano de família. É um dia normal em que podemos dar bronca em Lelê porque ela não fez o dever escolar completo. É um dia qualquer em que podemos elogiar Lelê porque ao sair da sala de tv, desligou-a não deixando ligada pra ninguém.
Hoje é um dia tão normal que Lelê foi pra aula de uniforme, com a mochila cheia de livros, cadernos e acessórios. Hoje é um dia normalíssimo em que Lelê viu o Sol dando os primeiros sinais de vida no horizonte, com aquele olhão alaranjado emitindo luz pra quem é lanterna e pra quem é pilha, pra quem é candeeiro e pra quem é pavio aceso, pra quem é farol de neblina e pra quem é farolete.
Porque hoje é um dia normal (parodiando Vinícius de Moraes com seu poema Porque Hoje É Sábado – caramba, ontem recorri ao Vinício também) Lelê pegou a van escolar e passeou pedagogicamente pelas ruas de Brasília, num roteiro de cartas marcadas; Porque hoje é um dia comum Lelê estudou matemática sem entender racionalmente qual a utilidades daquelas fórmulas de raiz quadrada para o seu futuro; Porque hoje é um dia simplesmente chamado de ‘dia’, com sua rigidez de vinte e quatro horas, fez com que Lelê acordasse às cinco e trinta da manhã e dormisse por volta das vinte e uma horas;
Por quê hoje? Sei lá, só sei que foi hoje, como um dia normal, que Lelê entregou pra Maurinete e pra mim, um folha de papel, dessas de tamanho ofício (30x21 cm.) com mensagens, com dizeres de agradecimento, com palavras carinhosas. Ambas as folhas, dobradas ao meio, como se fosse um cartão de presente, estavam desenhadas com lápis de cor árvores, pássaros voando, estrada, corações, sóis com caras alegres, arco-íris e outras singelas firulas.
A folha de Maurinete dizia o seguinte: “Mamãe Mauri: Você é muito linda. Eu te amo de montão do fundo do meu coração. Você é a luz do meu caminho. Obrigada por me dar todo seu calor quando estou com frio. Você é tudo de bom. Você dá carinho, sua paciência, seu conhecimento e está me preparando para o futuro! Te amo.”
A minha folha dizia o seguinte: “Papai DUDU: Você é um careca muito legal. Você se fosse um jogador faria mil gols. Você já fez quarenta mil gols no meu coração. Obrigado por dar atenção, brincar, ajudar nos deveres de casa, comprar figurinhas e por dar carinho. Te amo.” (no desenho de três corações escreveu as síbalas ‘Du-du-zinho’).
Beijamos, abraçamos e agradecemos Lelê.
E assim terminou mais um dia normal.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Para Uma Menina Com Uma Flor

Esse título é o título de um poema de Vinícius de Moraes. É um título poético que só os grandes poetas sabem colocar num poema. E é com esse título que quero referir-me a Lelê. Referir-me a uma condição inerente ao universo feminino. A uma condição que a natureza construiu para elas. Se elas gostam, ou não, é só elas que podem expressar o sentimento sobre esse estado natural.
Depois desse floreio todo falo que Lelê, há uns três meses atrás, passou da condição de menina-moça para a condição de menina-mulher. Entra em uma fase em que passa a lidar com novo instrumental em seu corpo. É um momento em que as preocupações de menina se transmutam em preocupações de mulher.
O corpo de Lelê vai cedendo espaço para a fase de mocinha. Vai dando tchau ao corpinho de criança. Vai abandonando a curva da rua da infância, saindo da rua ladrilhada de estrelas infantes e se aproximando do início da avenida da feminilidade. O estado físico vai franqueando a passagem para o estado mental, da reflexão feminina. Como diria o jogador de futebol muito empenhado em uma partida, chamando à responsabilidade.
A natureza mostra a Lelê e ao mundo que seus seios começaram a crescer, os quadris ficam mais largos, o suor ganha odor de gente grande, começa a aparecer pelos nas axilas e no púbis. A natureza bate a porta de Lelê avisando que isso ocorre por causa de dois novos hormônios que o corpo da mulher começa a produzir na chamada puberdade. São os chamados estrogênio e a progesterona. Dois nominhos feios que vão se responsabilizar pelo futuro mal humor e nas atitudes em relações aos meninos.
Agora temos que acrescer mais um item nas compras de casa. Não podemos esquecer de modess. Quando Lelê usou pela primeira vez sentiu um certo desconforto, fez cara de quem não estava gostando nada daquilo, mas acabou se rendendo ao novo estilo de vida. Mas a mamãe, com muito jeito de mamãe, foi lhe ensinando como usá-lo. Deu-lhe aula primária que Lelê já começa a encarar como secundário. Sinal de que a mocinha está chegando pra ficar. “Ah, não tem outro jeito mesmo, então vou usar, e pronto!”, chegou Lelê a conclusão.
Querer que Lelê ficasse sempre criança, para não entrar nesse novo mundo, é não entender que ela é sangue de nosso sangue. Ops! É sangue! Sangue é vida.
Mas o mundo se transforma, como os costumes, e Lelê já vai enfrentar na geração das mulheres de seu tempo a escolher de não querer menstruar, de ter a opção de passar a temporada de praia sem contratempos e usar uma roupa branca despreocupada. E acima de tudo, isso pode representar o fim das malditas cólicas e do terror TPM.
O conforto de Lelê fica amparado pela a evolução da medicina que começa a não ver mal nenhum na supressão da ovulação e da menstruação.
E eu já vou percebendo que em casa, logo logo, seremos três adultos. Com sangue, suor e cerveja, como diria a música de Caetano. Celebremos a vida!

domingo, 16 de maio de 2010

Qual é o métdo de ensino

Segundo a colega xis de Letícia, da escola, um aluno que estudou na sala de aulas em que elas estudam hoje, se matou lá. Os detalhes Letícia não soube contar porque a colega também não soube falar. É por isso que a colega xis de Lelê fica sempre assombrando ela e outras amigas batendo a porta e dizendo que a alma do tal garoto ronda por lá.
A amiga de Lelê não sabe como foi a morte do garoto, mas sabe qual o motivo. A motivação foi porque ele foi reprovado. Simplesmente isso. Era um aluno relapso e não conseguiu aprovação. A dedução nos leva crer que o moleque ficou pressionado pelo volume de estudos e se sentiu sufocado com o sistema pedagógico da escola. Ou, talvez, pressionado pela própria família, que o pressionava juntamente com a escola.
Não vou atrás dessa estória pra saber se foi história. O que sabemos, de imediato, é que isso é uma fantasia construída na cabeça da amiga de Lelê somente para zoar com a galera.
E se tivesse sido verdade? Se tivesse sido verdade caberia uma investigação de qual metodologia pedagógica a escola empregava. Qual era a sistemática empregada no colégio a ponto de levar uma criana a cometer sua própria morte?
Há muitos anos atrás lembro-me de um fato real acontecido na escola militar do Rio de Janeiro, em que um aluno, na faixa de uns dez a quatorze anos, suicidou porque foi chamado a atenção no pátio repleto de estudantes pelo diretor da esocla.
Pelo fato imaginado pela colega de Lelê e pelo fato real da escola militar, ambos induz a uma reflexão sobre a metodologia adotada pelas escolas. É uma coisa que a gente não pensa quando vai matricular nossos filhos. Só se sabe que a escola pública é lenta em sua aplicação educacional e que a escola particular é melhor que a pública. Só.
Ninguém questiona, suponho, qual a metodologia que a escola em que seu filho vai estudar, emprega. Segundo um estudo feito pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), 60% das escolas públicas e particulares no Brasil se identificam como adeptas do construtivismo, cujos dogmas são adotados por países com os piores indicadores de ensino do mundo.
Os Estados Unidos, França e Inglaterra abandonaram o construtivismo na etapa de alfabetização. O construtivismo foi relevante na década de 70, e na década seguinte os países que o adotaram começaram a abandoná-lo. E qual o motivo? O motivo foi o de que o construtivismo não se traduzia em um método claro de ensino, deixando os professores perdidos, deteriorando o desempenho dos alunos.
Se me perguntarem qual método aplicado na escola de Lelê, respondo que não sei. Só sei que tem um ritmo de estudo que aperta o calo de Lelê com tarefas escolares que muitas vezes acho que exageram. Paricularmente gostaria que as escolas de modo geral trabalhassem freneticamente o hábito da leitura com seus pupilos. Que se dedicassem mais a leitura do que à matemática, às regras de gramática e por aí vai.
Com isso, acredito que ninguém se assustaria com nada, muito menos com os espíritos mal-assombrados rondando as salas de aulas.

sábado, 15 de maio de 2010

Cheiros


Recebemos as visitas de minha tia Doda e minha prima Lurdinha, ambas de São Paulo. Juntamente com minha mãe e minhas duas irmãs, estávamos tomando café, e, todos sentados à mesa, servindo-se, Maurinete indaga:
Mauri: Baby, você não está sentindo um cheiro de gás? (Será que esqueci alguma boca do fogão aberta?)
Eu: Não. Estou sentindo é o cheiro desse bolo aqui maravilhoso de banana.
Tia Doda: E eu estou sentido o cheiro gostoso desse chá.
Lurdinha: E eu estou sentindo o cheiro desse café delicioso.
Nem (irmã): E eu desse pão de quijo.
Márcia (irmã): Tô sentindo o cheiro de tudo isso gostoso.
E o cheiro que Lelê estava sentindo, qual era? Fiquei pensando o que ela iria dizer, já que tem um olfato sensível pra tudo. Tanto para gostar, quanto para detestar.
Lelê: Eu estou sentindo um cheiro de felicidades!
Todos à mesa expressaram um “ooooohhhhhh!!!!!”.
Lurdinha: Ai, que lindo!
Tia Doda: Nossa! Que bonito!
Lelê ficou mais fofa do que os bolos de Dona Benta do Sítio do Picapau, com sua inspiração. É verdade também que, se estivessemos servindo um camarão, Lelê não estaria sentada à mesa. Estaria lá na rua ou trancada em seu quarto fugindo do cheiro do crustáceo.
Poderia eu brincar e dizer que Lelê sente até o cheiro de Deus. Só não sente porque muito antes dela o finado escritor Roberto Drummond, o excelente escritor mineiro, já sentiu em seu O Cheiro de Deus, essa frase bastante expressiva. É uma frase solta deliciosa de se falar. Sinto.
Lelê acha interressante que quando as mulheres da paraíba se despedem ao telefone, elas falam, ao invés de “um beijo”, dizem “um cheiro”.
E Lelê adora perfume. Nunca vi! Pela manhã cedo, saindo pra escola, se deixar ela mete perfume sem dó. Só não faz porque lhe explico que ninguém iria lhe suportar na van e que a casa iria ficar incendiada, perfumada demais.
Mas Lelê só não derrama a mão no perfume porque Maurinete é exatamente o oposto. Tem alergia a perfume. Adoece com o cheiro de perfumes. Penso que já falei nisso num dos textos muito lá pra trás.
Lelê, a garota perfumada. Lelê, a menina que sente o cheiro até de Deus.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Picles

• Lelê: Mãe, esse cara que criou o chocolate Ferrero Rocher, o nome dele é Ferreira Rocha?
Mauri: Não sei, minha filha.
Lelê: Pela lógica, só pode ser.

• Lelê: Mãe, a palavra air bag é a mesma coisa que iceberg?
Mauri: Claro que não, minha filha.
LeLê: Mas que parece, parece.

• Letícia estudando um texto de ciências com Maurinete:
Lelê: ... tem na médula...
Maurinete: Na...
Lelê: ... tem na médula...
Maurinete: Na...
Lelê: ... na medula...
A leitura prossegue mais.
Lelê: ... feito por Sabin (leitura literal).
Maurinete: Por...
Lelê: ... feito por Sabin (leitura literal).
Maurinete: Por...
Lelê: Por Sabin (sêibin).

• Lelê lendo um texto de história para Maurinete e numa frase é usado a palavra ‘trabalho’, e Maurinete explica o sentido dela na frase.
Maurinete: Trabalho aí, significa mão-de-obra, emprego...
Lelê: Ah, eu pensei que era trabalho como o que eu dou pra você, fazendo coisas erradas.

• Ouvindo palavra do noticiário local de televisão, Lelê indaga:
Lelê: Pai, o que é ‘prisão perpétua’?
Eu: É a prisão em que o sujeito passa o resto da vida nela.
Lelê: É o caso de Arruda? (ex-governador de Brasília).
Eu: Mas Arruda não pegou prisão pérpetua.
Lelê: Mas devia.

É assim que vamos aparando as arestas das indagações de Lelê.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lelê tem fome de quê?

Assunto recorrente entre os pais é sobre a alimentação dos filhos, principalmente porque certos filhos não gostam de comer. Lelê está inclusa nesse grupo. Já a levamos a médicos diversos para descobrir porque ela não tem o apetite que eu tenho – gostaria que ela comesse apenas vinte por cento do que como. Estaria satisfeito.
Pois foi hoje de manhã, na hora do café, que ela estava sem fome. Não queria comer nem bisnaguinha, o pão que ela tanto adora, mas mesmo assim iria fazer um esforço para se alimentar porque tinha receio de que mais tarde, no colégio, viesse a passar mal simplesmente porque não se alimentara no café da manhã. Mas o pior é que, pela previsão dela, se isso ocorresse, a diretoria do colégio iria telefonar para Maurinete e para mim para ir pegá-la porque ela não estaria passando bem, e aí o inferno astral dela estaria pronto com as broncas nossas. E ela imita-nos, com voz irônica e falseada, ralhando-a: “Bonito, né? Saindo do colégio passando mau porque está com fome, com tanta comida em casa! Você nos mata de vergonha, né!”
Mesmo levando lanche pra escola a menina ainda retorna pra casa com ele. O estômago dela parece que não se contrái, como deveria se contrair quando normalmente sentimos fome. Não sei se é verdade se o apetite está relacionado com a qualidade e apresentação dos alimentos. Mas sou categórico em afirmar que, se existe alguém preocupado com a alimentação, essa pessoa se chama Maurinete. Ela faz de tudo para que Lelê se alimente bem. Não mede esforços.
Acredito que isso não é só problema de Lelê. Minha vontade seria mandá-la para São Paulo passar uns dias com meu amigo Alcindo, pois ele todo dia come em um restaurante diferente e é só comida deliciosa. Ele registra tudo em seu blog. Só de olhar, e não de se ler, ficamos com água na boca. E Lelê adora comida de restaurante. Mas haja grana e tempo para nos dedicarmos a isso.
Acho até que vou falar pra Lelê que se ela estudar todos os deveres direitinho vou mandá-la para São Paulo para passar um mês com o tio Alcindo, inda mais que ele é tricolor carioca como ela. Ela iria dar pulos de alegria. O que não aconteceria com o tio Alcindo.
Nem vou comentar que Lelê tem fome de leite com toddy e pão, chocolate, refrigerante, chiclete, balinhas, pipoca. Nem vou explicar que Lelê tem sede de bicicleta, piscina, skate... Nem vou analisar que Lelê tem sede de filmes, de desenho animado – muito pica-pau.
Mas ela tem que entender que, para usufruir das delícias das coisas mencionadas no parágrafo acima, ela tem que comer verduras – tenho que reconhecer que ela adora couve e tomate -, tem que comer feijão, arroz, carne, macarrão – outra coisa que ela também adora se feito de forma bem simples.
Como comecei pelo título, continuo a indagar: Lelê tem fome de quê? Que apareça alguma mãe, ou pai, para me explicar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Começou a Copa pra Lelê

Aqui em casa começou a Copa do Mundo da África do Sul. Pelo menos para mim e Letícia. Maurinete não é chegada. Ela acha que é muita tensão, muito nervosismo. Jogos do Brasil ela não gosta nem de ver. Sai, vai caminhar, faz alguma coisa para se desligar do auê provocado nos dias de jogos da seleção brasileira.
Digo que começou a Copa pra nós não porque Dunga divulgou hoje a lista dos convocados da seleção brasileira. Começou porque Lelê está colecionando o álbum da Copa 2010. Foi contaminada pelo o embalo de sua escola. Disse ela que tá todo mundo colecionando e ela também quer. E eu aproveitei pra entrar no embalo também. Vou ter a chance de completar um álbum de figuirnhas em minha vida, já que, na infância, fiquei com água na boca. Não tinha mufa pra gastar com figurinhas. Com Lelê na festa, tô nessa.
A verdade é que descobri que a febre por esse álbum está tão grande que não se encontra em canto nenhum o bem dito álbum pra se comprar. Só através de encomenda, que já fiz, se consegue esse livro em branco. Parei de circular de banca em banca para adquiri-lo. Nem na banca da rodoviária de Brasília, onde se encontra – se encontrava – de tudo, não tem mais. Só Lelê pra me fazer de peregrino de banca de jornais.
Li matérias no jornal Estado de São Paulo e Correio Braziliense que não é só a gurizada, não, que está correndo atrás da brincadeira. Os marmanjos e marmanjas também entraram na dança. Uns, por nostalgia, outros por achar interessante mesmo. Acho que é lúdico acompanhar seu filho, filha, para aumentar mais ainda seu estado de ânimo, de alegria, despertar interesse por algo com paixão, compartilhar o espírito coletivo na troca de figurinhas repetidas, no escambo e no jogo do bafo. Ela se senta confraternizada com esse jogo de papeizinhos coloridos.
Lelê comprou hoje sete envelopes e não veio nada repetido. Caramba, ela ficou super feliz. E vieram dois escudos de seleções. Um foi da Argentina. Lhe sugeri fazer anotações num caderno das que já tem pra não adquirir repetidas quando for trocar com os colegas. Disse Lelê que o pessoal da escola estava econtrando dificuldades para encontrar a figurinha de Kaká. Ronaldinho Gaúcho tá nessa coleção, Lelê tem, mas o Dunga não tem, porque não quis convocà-lo. Nem perguntei ainda a opinião de Lelê sobre os 23 convocados. Mas pensando bem, é melhor não perguntar, pois se não ela vai ficar uma fera porque Dunga não convocou ninguém do Fluminense, o time que ela torce.
O jogo está só começando. Muita água, digo, muita bola ainda vai rolar. Com certeza retornarei mais vezes a esse assunto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fugindo da escola

Na van escolar rola muita conversa, e Lelê sempre me conta as presepadas da galera.
Certo dia fulano de tal (não entrego ninguém) fugiu do colégio com um colega para ir passear no shopping. Beleza pura. Longe das aulas chatas. O verdadeiro prazer está nas vitrinas e não nas salas de aulas, segundo a molecada. Azarando no shopping os moleques estavam já botando os pés no chão ao sair da escada rolante quando depararam com alguém que eles não queriam tomar conhecimento. Foi a gota dágua. Melhor era não ter matado aulas, não ter fugido do colégio, pensaram eles em rápido exame de consciência. Pensaram tarde, muito tarde. Porque esse alguém era a mãe de um deles. Segundo terceiros o pau comeu.
Poderia eu ter sugerido a essa rapaziada o livro sobre a vida de Bussunda, o finado humorista do Casseta e Planeta, um talento do humor do fim dos anos 80 no Brasil. Bussunda – A vida do Casseta, é um livro que revela muitas presepadas do mais famoso casseta. Quando ele era adolescente usava o golpe de acordar cedo para, dizia ele em casa, ir cursar aulas de inglês. Mas esse inglês estava era num banco no calçadão de Copacabana, onde ele continuava puxando um ronco.
Mas não é qualuer moleque que tem a capacidade de se transformar num talento matando aulas.
O máximo que infringi as normas da escola foi ter sido mandado para fora da sala de aula. E em uma outra ocasião peguei uma semana de suspensão porque não fui ouvir o discurso da diretora da escola. Confessadamente: gostei muito.
Em relação a Lelê, até acho que ela é bem comportada, pois nunca recebemos nenhuma advertência séria da direção de sua escola. As observações são leves. Pelo menos até hoje.

domingo, 9 de maio de 2010

Ser mãe é...

E agora, o que dar de presente para Maurinete nesse dia das mães? Convoco Lelê para ouvir sua sugestão. Nem pestanejou:
Lelê: A caixa de cds do Roberto Carlos dos anos 70.
Eu: Isso, boa idéia. Vamos comprar.
É que Maurinete já tem a caixa dos anos 60 de RC que nós demos no ano passado pela passagem de seu aniversário. Penso que eu e Lelê estávamos mais interessados nessa caixa do que a própria Maurinete.
Compramos anteontem e escondemos. Hoje, após o café da manhã Lelê fez a entrega da caixa de cds. Beijinhos, abraços, felicidades...
Mamãerinete tem sido de uma dedicação com Lelê pra filho nenhum reclamar. Aliás, é o contrário. Os filhos reclamam das cobranças dos pais, acham que eles sufocam, e, tem mãe/pai que faz filho pagar mico. O que escrevi de diferente?
Ser mãe é, no caso de Lelê:
•Acompahá-la nos deveres de casa. “Dá tempo estudar ainda mais meia horinha”;
•Perguntar se já fez o Kumon. “Depois do Kumon pronto você pode ir brincar”;
•Falar mil vezes para Lelê comer verdura. “Se você não come agora, seu organismo vai reclamar futuramente”.
•Levá-la pra tomar sorvete. “Antes de voltarmos pra casa vamos ao Zimbro tomar uma rodade de sorvete e você pode escolher o que você quiser”.
•Botá-la pra dormir cedo por causa da escola. “Vamos logo dormir, senão amanhã cedo você não dá conta acordar”.
•Botá-la no colo e acarinhá-la. “É, minha filha, você está crescendo tanto que já não consigo te carregar no colo como antigamente”.
•Dar bronca por que está muito desorganizada. “Eu num já te falei, Letícia, pra arrumar sua gaveta de roupas, que está uma zorra!”.
•Fazer a comidinha especial, mesmo que não seja especial. “Tá bem, tá bem, eu vou fazer o seu miojo!”.
•Observar detalhes. “Já escovou os dentes?”. “Penteia esse cabelo direito!”. “Amarra os cadarços desse tênis!”. “Leve a carteirinha de estudante pra pagar meia!”. “Não está vendo que isso não tem o menor cabimento!”. “Mas isso é nota que se tire!”. “Meu parabéns, filha, continue assim com essa nota maravilhosa!”. “Que gracinha, filhinha, você está linda!”. “Não está vendo que essa blusa não combina com essa calça!”. “Não exagere esse condicionador no cabelo!”. “Fala lá com seu pai que ele resolve!”. “Eu não já te falei pela milésima vez pra não deixar esse tênis no meio da sala!”. “Ah, filhinha, como você está uma moça. Daqui a algum tempo você não está mais tão ligada com a gente. Estará mais ligada em sua galera!”...

sábado, 8 de maio de 2010

O diário de Lelê

Lelê agora está escrevendo um diário. Só não sei até por quanto tempo. Mesmo que seja por pouco acho válido exercitar a escrita. Perguntei-lhe se não queria que eu o colocasse na internet, criasse um blog exclusivo para ela. Rejeitou de bate-pronto. Disse que diário é segredo e ninguém pode ficar sabendo. Mesmo explicando-lhe que hoje em dia praticamente essa idéia não existe mais com a internet e seus blogs.
Então eu não vou falar nada aqui do diário de Lelê. Só posso revelar que esse diário é diferente. Diferente no aspecto de que é um diário de datas. Segundo ela, são registradas as datas marcantes em sua vida. Se não tiver a data – pode ser datas passadas - do que lhe ocorreu de importante, então ela não escreve.
Podia ela registrar o dia em que conheceu a sala de trabalho da Dilma Rousseff, hoje candidata do PT à presidência – conhecemos um pessoal gaúcho que trabalha com a indicada presidencial de Lula e Lelê foi lá com uma turma.
Lelê: Você sabe qual foi o dia?
Eu: Ah, isso foi há uns dois anos e pouco...
Lelê: Você sabe o dia?
Eu: O dia exato, não.
Lelê: Então não vou escrever.
Eu: Mas minha filha...
Lelê: Só escrevo se tiver data.
Bem, o nível de importância dela pode ser não o meu, nem o seu, provável leitor, como, por exemplo, o registro – vou escrever aqui só por alto – de seu primeiro vôo de avião. Ou o dia em que ela achou uma fitinha do Senhor do Bonfim. Ou o dia em que estreiou uma escova de dentes... São esses acontecimentos que são relevantes na ótica dela. Ela relegou a Dilma em relação a uma fitinha de pano e a uma escova dentária.
O título de cada escrito é sempre com um: “amgios queridos”, “amigos legais”, “amigos inesquecíveis”, “amigos legítimos”...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A menina do tempo

Tem mensagens que recebemos via internet e gostamos muito. Outras, nem tanto, mas em consideração aos amigos lemos e outras, que não temos afinidades, deletamos. A internet é um grandiosíssimo mural onde todas as formas de mensagens e mensageiros que querem ser lidos, vistos e ouvidos, estão.
Nem sei porque teci essa consideração boba aí nesse parágrafo acima. Ah, simplesmente porque queria dizer que Lelê recebeu uma mensagem que lhe chamou muito a atenção e ela quis compartilhar com seus amigos e amigas da escola.
Vi um pedaço de papel no chão da garagem e peguei e abri. Era a letra de Lelê. Provavelmente deixou cair de sua mochila e não percebeu. O conteúdo da mensagem, que ela transcreveu da internet, e que lhe chamou a atenção foi: “Previsão do tempo para semana: Hoje pancadas de bençãos cairão em seu coração e chuvas de felicidades inundarão a sua vida, e duarante a semana nota-se grandes nuvens de alegria vindo do céu em sua direção, com trovoadas de amor, carinho, proteção e muita paz. Tenha um ótimo dia!”. Deve ter sido de alguém muito religioso, fervoroso na fé divina.
E se o assunto é o tempo informado na televisão, Lelê adora. Adora porque gosta de ver o clima de Vitória-ES. É só as garotas do tempo, em noticiários, entrarem na tela de tv e Lelê corre pra prestar atenção. Só vi uma pessoa pra gostar mais do que Letícia de notícias sobre o tempo. É nosso amigo paulista, digo, brasiliense, Alcindo. Recebo também recortes de jornais dele sobre como está o tempo em São Paulo, Curitiba e outras capitais que ele adora. Acho que vou colocar os dois para fazer um programa sobre meteorologia.
Hoje quando Lelê estava saindo de casa, por volta de seis horas, o Sol estava nascendo, muito bonito. Se, dizem, que o Sol de Brasília é um dos mais bonitos, hoje Ele estava se exibindo. Lelê então abriu os braços e disse de forma suave, a comprimentá-lo: “bom dia, querido Sol!”.
E o dia de hoje foi realmente gostoso. O Sol parece que ouviu a saudação de Lelê e ficou muito contente pelo resto do dia. Duvido que tenha acontecido de alguma menina ter saudado o Sol hoje de manhãzinha quando Ele estava acordando. Até parece que eu estava vendo-O se espreguiçando. E se não me engano vi-O dando uma piscada de olho pra Lelê em agradecimento pela sua educação. Só faltou falar: “Obrigado, Lelê, e um bom dia pra você também!”. Só faltou falar, não. Eu ouvi, sim, Ele retribuir o cumprimento de Lelê.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Esqueceram de mim

Toda sexta-feira Lelê gostava que eu a pegasse no colégio. Só assim ela viria direto pra casa pelo menos um dia da semana. James, motorista da van escolar, já sabia que a volta de Lelê às sextas-feiras era comigo. Mas Lelê percebeu que eu chegava sempre no horário certo, às doze e trinta, e ela, então, não teria mais tempo para zoar depois da aula com a galera.
Reivindicou, então, que preferiria retornar com o motorista da van, James, só pra dar tempo brincar mais um pouco. Tudo bem, o James já estava acostumado a não pegá-la as sextas-feiras, e, eis que, nessa última sexta-feira ele esqueceu de pega-la.
Já tinha eu chegado em casa, pouco mais de 13 horas. Almocei. Deu 13:40 h. e Lelê nada. 13:50 h., e necas. 14:00 h. e nadica. 14:10 h. As vezes o James atrasa porque pega algum engarrafamento no Plano Piloto. Ligo pro James. “Ô, seu Eduardo, eu pensei que você é que ia pegar Letícia, desculpe...”
De imediato ligo pra Maurinete no trabalho e ela já tinha ido embora. Ligo no celular. Ela já estava a caminho de casa. Explico a situação e ela retorna do meio do caminho e vai buscar Lelê no colégio.
Depois Lelê comentou que nem mais lembrava que alguém ia pegá-la.
Eu: Você não ficou com saldades da gente, não?”.
Lelê:Eu, não!”
Eu: Você não estava com fome?
Lelê: Eu, não!
Eu: Você não estava com sede?
Lelê: Eu, não!

É muito bonito a sinceridade da criança. A bichinha estava tão empolgada com as brincadeiras com a galera que pai e mãe pra ela eram seres inexistentes. Corretíssimo. Lembro-me quando eu era criança era a mesma coisa. Terminava a aula e eu ia brincar de bola e esquecia do mundo, e de seus habitantes. Chegava em casa e minha mãe já estava preocupada. É muito gostoso brincar.
Disse Lelê que esse foi um dia maravilhoso, porque deu pra brincar bastante, e quase que ia assistir ao ensaio de uma peça de teatro da galera do nono ano, quando Maurinete chegou para pegá-la. Lamentavelmente.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Parabéns, Lelê!

Lelê falou pra mim e Maurinete que a apresentação do trabalho sobre a leitura do livro Pescadores de Pedras, de Maga Moraes, ela tirou nota 1 (um).
Maurinete: UM!, minha filha, isso não é pouco, não?
Eu: Você não entendeu nada do que leu? Não é possível!
Lelê: Entendi tudo e tirei UM!
Antes que Lelê deixasse a gente continuar super decepcionado fez a explicação.
Lelê: Sim, tirei UM! Sabem por quê? Porque o trabalho só valia UM!
Mauri/Eu: Aaahhhh, booommm!!!!
Ufa! Nós não estávamos querendo dar bronca nela por seu insucesso, mas já iríamos questioná-la onde estava o erro, principalmente Maurinete, que acompanhou-a na leitura desse livro. Há umas três semanas elas leram-no, principalmente no carro, quando, de três a quatro vezes Maurinete foi deixar Letícia na escola, ao invés do James da van. Maurinete dispensou a van escolar exatamente para Lelê ir no carro lendo para ela, Mauri. E esse processo de se ler, ela escutando a si a estória, provocou nela, além de seu grande interesse pela a aventura das personagens, um efeito muito bom pra ela tirar essa nota máxima. Outra coisa: Maurinete a orientou para fazer fichamento do livro. Teve um domingo aí atrás que eu vi Lelê com o livro e um caderno, sentada no banco do jardim daqui de casa fazendo suas anotações.
Resultado: Hoje Lelê disse que falou pra turma, a pedido da professora, o conteúdo do livro. E aí ela começou a falar pra mim e Maurinete toda a estória dele. Nossa, senhora, eu nunca a vi falar toda a estória do livro, assim, de cabo a rabo, com riqueza de detalhes que nem Maurinete lembrava mais – eu não li. Ficou narrando cerca de uns dez minutos ou mais. Ficamos bestas. E não gaguejava, não. Era uma fala fluente. Estou falando isso não é por vaidade de pai e mãe, não. É por sua narrativa ininterrupta, bem explicadinha. A menina tava com a memória super afiada. Como recompensa já aumentei a mesada dela pra vinte reais (são quinze) e Maurinete vai bancar uma rodada de sorvete. E aí eu e Maurinete começamos a questionar:
Mauri: Por que será que pra outras matérias ela não tem essa capacidade? Por que ela não está afiada em saber o que é o PIB, reforma agrária, comércio das civilizaçoes primitivas... Esses assuntos que os livros estão pedindo para ela estudar pras provas?
Eu: Ora, tá na cara que esses temas são pedregulhos em relação à leitura desse livro que Lelê disse que amou em lê-lo. Dizem que nossa memória se prende ao que temos de interesse. PIB? Reforma agrária?... Se Lelê quer se preocupar com isso! Quer saber é de livros de aventuras, como foi esse que ela leu.
Ficamos exultantes com essa performance de Lelê. Deixo claro que Lelê não é uma aluna exemplar. Longe disso. É uma aluna mediana, sem rasgos de genialidade, com dificuldades em matemática, como a maioria dos alunos.
Em tempo. A estória do livro é: “Alexandre e Diana vivem uma aventura inesquecível. Durante as férias, eles acompanham o pai paleontólogo a um sítio arqueológico no Ceará e se descobrem em meio a uma rede de contrabando de fósseis brasileiros, envolvendo desde modestos habitantes da região até uma poderosa gangue estrangeira”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A poesia

O que que uma tarefa de escola não nos leva a fazer.... Para Letícia levou a escrever uma poesia. Não sei qual o contexto, mas só sei que a professora de Lingua Portugesa II solicitou essa tarefa. Lelê me sondou e a Maurinete. Depois de conversa pra’qui, conversa pra’colá, ela, sob a orientação de Maurinete para aparar as arestas e orientá-la foi arredonando um texto, que deu no que vai aí abaixo.

Oh, Vida Cruel!

Tem que comer fruta
Tem que comer verdura
Não pode comer chocolate
Não pode beber refrigerante
Não pode comer batata frita,
Por que tem que se ser magra?
Ser magra é ser bonita?
E mais: tem que se dormir cedo
Para muito cedo acordar.
Não pode brincar na rua,
Então, o que posso eu?
Estudar...

É lógico que não é preciso ouvir o comentário de nenhum especialista em literatura pra se saber que Lelê não tem tendência para a poesia, não tem a menor chance para ser poetisa. O que vimos foi um desabafo, um protesto porque suas guloseimas não lhe chegam fácil, não saciam seu estômago infante, de prontidão para recepcionar o açucar e os salgadinhos.
Mas como pai, não posso deixar de registrar um afeto pelo seu desempenho, sua intenção válida. Não, nunca vai ser uma Cecília Meireles mas, pelo meno para mim, ela expressou o paladar dos quitutes da globalização, da gurizada fermentada pelos temperos mcdonaldenses, como Cora Coralina manifestou a gostosura dos quitutes do século passado nos fornos de lenhas de Goiás Velho. Lelê, no asfalto quente de Brasília, Cora Coralina nas pedras de ruas repletas de histórias e estórias temperadas por seu sabor literário.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Consciência ecológica

Costumo deixar uma garrafa d’água numa mesa da biblioteca, para não ficar descendo toda hora lá na cozinha para pegar o precioso líquido para beber. Lelê observou que eu encho muito essa garrafa, o que pode derramar o h2O quando ela vai botar água no copo. Ouvindo isso, Mauri comenta ironicamente:
Mauri: Minha filha, eu ficaria muito mais satisfeita se você diminuisse um pouco mais seus banhos. Você iria economizar muito mais e o planeta agradeceria.
Lelê: Mas mãe, isso é desperdício d’água. A natureza vai agradecer se meu pai economizar água, os rios vão ficar bem felizes!
Eu: Peraí, gente. Eu não derramo uma gota d’água dessa garrafa. Se você acha que vai derramar, Letícia, então peça pr’eu botar água no seu copo!
Lelê dá por não ouvir e continua com sua pregação ecológica.
Lelê: Você já imaginou, as plantinhas bebendo uma gotinha de água que a gente perde por aí?
Eu: Sim, já imaginei. (Embarquei no discurso ecochato de Lelê). Um mundo muito mais verdinho sendo aguado pelas gotinhas de água de minha garrafa d’água. Um mundo muito mais cheio de água se não houvesse as fábricas de refrigerantes que consomem muita água para fazer refrigerantes coloridos e artificiais e estragar sua saúde e a saúde de nosso planeta. (Vi a hora Lelê falar: “não, pelamor de deus, preservem minha coca-cola!).
Com esse nível de discussão sobre a sustenção de nosso planeta, ia até propor às minhas duas meninas, participarmos de uma mesa redonha na próxima reunião de Copenhague e debatermos se as gotas d´água desperdiçadas de minha garrafa d’água e os minutos a mais do banho de Lelê afetarão ainda mais o aquecimento global a quase dois graus centígrados, o que é um absurdo, em termos de planeta.
Maurinete já havia saído da biblioteca, provavelmente por acreditar que se não estamos chegando a um acordo diplomático sobre nossos recursos hídricos caseiro, imagine aquela conferência mundial do clima em Copenhague, em dezembro do ano passado, com 194 países do mundo. Ou seja, naquela conferência eles não conferiram nada.
Lelê também se retirou da biblioteca e eu fiquei a olhar aquela garrafa d’água na mesa, e me lembrei que omiti pra Lelê o gasto d’água pra se produzir cerveja.

domingo, 2 de maio de 2010

Responsabilidades extremas

Fomos almoçar na residência de Valdim, meu irmão, e, quando chegamos em casa, por volta de pouco mais de 14:00 h., Lelê foi logo pedindo para ir estudar o complemento da matéria de história, pois, segundo seu planejamento, ela queria parar por volta das 19:00 h. Assim mesmo, sem ninguém pedir, ela estava querendo estudar.
Ontem a noite ela queria resolver o bloquinho do Kumon de matemática que era pra hoje. Disse que estava tão interessante que não estava se agüentando pra fazer esse dever.
Já a noite, antes de dormir, ela já havia tomado banho sem que ninguém pedisse, e, Maurinete pediu que ela já arrumasse seu uniforme escolar pra amanhã. Ela já tinha arrumado. Então Maurinete pediu que ela organizasse seu material das aulas de amanhã na mochila, e, ela já tinha feito isso há muito tempo. Disse-lhe eu que ela estava uma verdadeira “quando você vinha com a farinha eu ia com a farofa”.
A toalha de banho dela já estava estendida no varal, seus tênis já estão prontos com meias dentro pra não se atrasar amanhã para ir à escola. Em síntese, a menina estava numa aplicação que chamou nossa atenção.
Maurinete: Minha filha, - falou rindo -, o que está acontecendo com você? Num estalar de dedos você está fazendo tudo direitinho! Será que houve algum deslocamento de alguma peça em sua cabeça? Tem certeza que tá tudo normal com você? – Lelê fica só rindo.
Eu: Peraí, filhinha, deixe-me ver se você está com febre. – Coloquei a mão em sua testa e na garganta – e ela só rindo. Continuei: vem cá, filhinha, diz prá mim, o que você está querendo ganhar, diz aqui pro papai. E ela continua apenas rindo e envaidecida com sua própria eficiência.
Eu e Maurinete, boquiabertos com suas ações eficazes, estamos torcendo que esse vírus se prolongue por muitos e muitos dias, quiçá meses, mas estamos preparados também para o comum das negligências a partir de amanhã.
E assim caminha a criançada.

sábado, 1 de maio de 2010

Lição de escola, lição de vida

Poxa, vida, hoje o dia está maravilhoso, um sol gostoso, uma temperatura gsotosona, dia próprio pra dar um mergulho na piscina, dar umas braçadas com fôlego. Dia bom pra jogar uma cinuquinha com Lelê, pois ela é meu sparring. Dia bom pra dar uma esticada bem grande na leitura das 720 páginas do livro O Reacionário, de Nelson Rodrigues, que estou lendo a conta-gotas para não acabar rapidamente de tão gosto que está. Dia excelente pra ir a uma exposição que a EMBRAPA está apresentando e dizem que está maravilhosa, e que Maurinete está querendo muito ir. Dia propício para nós três irmos à exposição OS GÊMEOS – Vertigem, onde dois artistas irmãos apresentam telas e obras interativas que brincam com os sentidos visuais, auditivos e táteis dos visitantes. Dia bom pra tudo.
Se está tão bom, por que não ir desfrutar tudo isso? É... Mas o dever nos chama. Qual dever? O dever da escola de Lelê. Vixe Maria! Maurinete está dando uma orientação prum teste de geografia pra segunda-feira, e o pior é que temos percebidos que cada vez mais os textos desses livros são extensos, abarcando assuntos que até parece que a guria está apresentando um pré-projeto pra sua dissertação de doutorado. Eu, sinceramente, não sei se isso surte efeito prático, ou teórico, pra formação desse pessoal de hoje em dia, não. É muita, mas muita mesmo, matéria para estudar. Tenho que ajudar Lelê em um reforço em matemática, o bicho papão desde o tempo de Adão e Eva, porque o material está acumulando e estamos vendo a hora a coisa se desembestar. Ela tem que estudar inglês do colégio porque ela não se deu bem no ano passado. Ela tem que ver o conteúdo de ciências, que também é extenso, pois já está se aproximando o teste. Ela tem...
É muito conteúdo pra uma criança só. Fico até questionando se os pais não percebem isso, ou sou eu que estou subestimando a capacidade cognitiva de nossa filha. Bem, criança gosta mesmo é de brincar, isso todo mundo sabe, e, se deixássemos, Letícia ficaria só estudando e não teria mais tempo para brincar. Mas aqui em casa o que eu e Maurinete estabelecemos foi que, até as dezenove horas, mas ou menos, o que ela estudou, estudou, e ponto. Depois pode se mandar pra ir brincar com a galera na rua. De certo modo isso tem funcionado porque pelo menos ela acelera o interesse pelos estudos para poder brincar a noite.
O mundo moderno exige um volume descomunal de conhecimento e regras das pessoas que querem, simplesmente, ter uma formação, trabalhar e ser feliz. Mas será que esse mundo acelerado não irá impor essa trinca para as pessoas e fazer com que elas deixem de usufruir a vida?
Será que estou falando besteira?

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ser criança

O que é ser criança? Ser criança é basicamente uma brincadeira de deus. Brincar é a mola mestra para a criança ser um adulto feliz. Ô frasezinha sem criatividade, e é mais batida do que bolo. Mas não há argumento contra o óbvio.
Estou falando isso porque Lelê tava me falando que hoje queria ter doze anos. Como se doze anos fosse um estágio adulto. A noção temporal dela está circunstanciada a alguma necessidade. Doze anos anos para ela significa ganhar liberdade. Mas é assim que funciona a cabeça de uma criança.
Perguntei-lhe porque não queria ter seus onze anos atuais. Respondeu-me que essa idade deixa ela com cara de criança. Oh,meu deus do céu, só sendo criança pra raciocinar assim. Aliás, essa é que é a lógica infantil. Nós adultos é que estamos distantes da criança que fomos.
Disse-me ela que de terça-feira até hoje não foi legal na escola nem na rua onde ela brinca todo dia a noite com sua tchurma. Deu de ombros e dobrou o lábio inferior sem saber explicar direito porque essa semana não foi legal. Será que é por isso que ela está questionando que ter onze anos hoje não está sendo beleza?
Mas o que é mesmo ser criança? Estou aqui na biblioteca de casa e olhei de lado para estante repleta de livros e quis ver a opinião de algum desses escritores que estão a minha disposição. Corri os olhos e lembrei-me da opinião gostosíssima de nada mais, nada menos, de Millôr Fernandes: “Criança é muito teimosa e nunca faz o que os mais velhos mandam por isso tem muita que ninguém quer. É muito difícil obrigar uma criança a se lavar, agora a se sujar não é não”. Do livro Millor Definitivo. Uma outra dele: “Uma criança de seis meses, quase toda composta de choro”.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Brincando de boneca

Lelê: Pai, vem cá. Quem fez isso?
Lelê me interrogou com uma cara de meio riso no canto da boca de “foi você que aprontou isso?”.
Eu: Noooossssaaaa, que menina mais traquina! É uma peralta! Como foi que ela conseguiu fazer isso? Como se explica que ela tenha essa capacidade para tal?
Lelê fica me ouvindo como se estivesse desconfiada do que estou falando, batendo as pontas dos dedos de um pé no chão repetidamente, e como se estivesse a dizer que eu não tenho jeito mesmo.
Eu: Eu juro, minha filha, que não foi eu. Garanto que foi atitude dela mesma.
E me olhando com o rabo de um olho me intimida à explicações.
A questão é que quando ela entrou em seu quarto deu de cara com sua boneca de pano na posição de pé-de-bananeira, ou seja, aquela posição que a gente faz quando é criança, que fica com as duas mãos apoiadas no chão e ficamos de cabeça para baixo em relação ao chão.
Enquanto ela distrai um pouco lá por baixo volto ao seu quarto e invento outras posições com suas bonecas.
Agora coloquei a boneca por entre a colcha da cama, aparecendo apenas a cabecinha dela, como se estivesse olhando curiosamente quem chegasse no quarto de Lelê. Depois só ouço a voz:
Lelê: De novo, pai!
Ela grita e quando chego no quarto ela adora que eu mudei a posição da boneca. Mais tarde um pouco ela não mais está no quarto, está lá embaixo novamente, de propósito, se disfarçando para dar tempo para eu ir lá colocar a boneca em uma nova posição. Então peguei uma outra bonequinha, menorzinha, e encaixei nos braços da boneca de pano, como se fosse uma mãe cuidando de seu filho no colo, sentada na cama junto ao travesseiro.
Lelê: Ô pai, você não tem jeito! Fala com sorriso entreaberto.
Em outras vezes já tentei colocar a boneca com um dedo no nariz, mas não sustenta; com os braços abarcando o violão de Lelê, mas não deu; pregada no teto, mas foi impossível; como se estivesse dando uma banana, mas seus braços são flexíveis demais; ah, consegui colocar um livro entre suas mãos e braços como se fosse uma leitora devoradora de livros e já coloquei gibi também.
Já que eu não vou brincar de bonecas com Lelê, eu simulo as bonecas brincando para elas poderem brincar com Lelê.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Já não se faz universitário como antigamente.

Estávamos indo a um coquetel no meu carro eu, Mauri e Letícia. Lelê estava ouvindo música no rádio de meu celular, e, para não acabar a bateria pedi que ouvisse música no som do carro. Então fiquemos ouvindo a música que Lelê estava ouvindo, e era uma música sertaneja. Já falei num post bem antigo aí pra trás que Lelê tem um gosto musical eclético. Da MPB ao sertanejo ela passa por todas as linhas evolutivas e involutivas – sei que essa palavra não existe – musicais.
A música sertaneja que Lelê estava ouvindo, segundo ela, era uma sertaneja universitária.
Eu: Música sertaneja universitária?
Lelê: Sim.
Eu: Com essas letras ridículas?
Lelê: Sim, pai.
Eu: E quem são essas duplas sertanejas universitárias?
Lelê: Vítor e Leo... – E citou outros tantos que eu nem mais me lembro.
Eu: Mas, minha filha, esses caras tem mestrado ou doutorado em quê? Ou, eles têm graduação em quê?
Lelê: O quê?
Eu: Nada, esquece.
Mauri: Já não se faz universitário como antigamente.
Lelê vai formando sua história musical de acordo com o que a indústria cultural vai lhe apresentando, como foi minha formação com os universitários Chico Buarque e companhia tropicalista e outros movimentos de quadris e de cabeça. Cabe a mim e a Maurinete aparar as arestas e encaminhá-la para experimentar outros segmentos mais degustativos. Pelo menos penso assim.
A cerveja que bebi no coquetel fez com que eu ficasse martelando minha cabeça com uma repetição, como uma estrofe musical: “sertanejo universitário, vejam só”, “sertanejo universitário, vejam só”, “sertanejo universitário, vejam só”...
É, estou passado...

terça-feira, 27 de abril de 2010

O penteado

Para ir a festa de primeira comunhão Lelê deu uma caprichada no pêlo, digo, no cabelo. Fez uma escovinha. Ficou muito bonito. Sou suspeito para falar, mas na opinião da mulherada toda que viu, não teve ninguém para dizer que não ficou legal. E a própria Lelê ficou toda exultante, se achando, a própria!
Falei pra Lelê que eu já imaginava as palavras e a cara de admiração de suas colegas do colégio com um típico: “Letííííciiaaaa! Como ficou lindo seu cabelo, cara!”; “Nooossaaaa, Lê, você está o máximo!”... Ela riu e falou que foi exatamente assim.
Minha mãe, minhas irmãs, todo mundo quando a via já abriam a caixa de elogios e sapecavam no seu ego. Com essa fermentação adjetiva, detestável para as obras dos escritores – Graciliano Ramos rejeitava –, eu vi a ora Lelê explodir de tão inchada estava seu espírito de vaidade feminina. Qual mulher não gosta de receber um ramalhete de adjetivos florais?
Esse Eyjafjallajoekull de elogios, fez com que Letícia tornasse seu cabelo o pivô de sua atenção com o espelho. Virava a cabeça prum lado, virava pro outro, alisava aqui, mexia pro outro lado... Mas se observarmos direitinho Letícia é a alma da mulher vaidosa, da mulher que se cuida, da mulher que se admira. Ela é, nesse presente momento, a miniatura das mulheres adultas vaidosas. Não, não é ‘vai, idosas’! Simplesmente é: vaidosas.
Todo dia quando Lelê vai pro colégio, ao tomar banho, ela molha seu cabelo, e tem quase três dias que Lelê não quer molhá-lo, não quer desmanchar sua pedra de toque
Não, Lelê não demonstra que a beleza é o centro da atenção para tudo. Percebo que ela não viaja nessa.
Como todo dia, telefono pra minha mãe, e, hoje, ela perguntou-me: “Letícia já molhou o cabelo? Tava tão bunitim” – falou com seu sotaque de paraibana. Para desencanto de minha mãe e de todas as mulheres do mundo, anuncio que Letícia Alves Pereira Passos molhou o cabelo. Buááááá!!! Eu quero o cabelo de minha filha escovadinho!
Mas Lelê já falou que agora vai fazer esse penteado com mais freqüência para o bem geral da nação e de todas as mulheres do mundo.
Ah, tirei fotos desse penteado. Quando revelar – ih! Minha máquina ainda não é digital! – tentarei burlar minha ignorância megabytes para postar aqui essas fotos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Teatro

Domingo passado fomos ao teatro. Eu, Lelê e Mauri. Era uma peça que já havíamos visto no início deste ano. Trata-se da peça Momentos, apresentada por um grupo de estudantes da escola de Letícia, ou seja, colegas de seu colégio. A temática é a aids, e, por isso, acredito que ela teria mais repercurssão se seu nome tivesse alguma vinculação com o nome aids. Chamaria mais atenção e teria, consequentemente, mais público. Essa apresentação foi no teatro de bolso de uma escola, e, por isso, Lelê não gostou tanto como pela primeira vez. Fiz-lhe ver que nessa nova montagem o espaço era pequeníssimo e daí os atores não tinham muito ambiente para se movimentarem, falavam baixo, e tiveram que reestruturar algumas cenas. Por outro lado os atores estavam mais próximos da platéia. Mesmo essas argumentações não fizeram demovê-la de que a primeira apresentação em localidade maior foi muito melhor. Mas mesmo assim não duvido de que no próximo fim de semana ela queira ver novamente essa espetáculo, mas eu e Maurinete não vamos cair em sua armadilha da obsessão. Sim, é obsessão. Quando ela se apaixona por um filme, por uma peça teatral, por um cd, por um dvd... ela irá vê-lo, ouvi-lo à exaustão. Ela é, nesse sentido, como diria o grande dramaturgo Nelson Rodrigues, uma flor da obsessão. O próprio Nelson se achava obsessivo em suas repetições. Mas isso eu já escrevi há muito tempo aí atrás.
Quando Lelê era menorzinha frequentávamos mais o teatro. O teatro infantil. A Escola Parque é testemunha de que não perdíamos uma apresentação teatral, principalmente do grupo Néia e Nando, grupo famoso daqui de Brasília especializado em teatro para a gurizada. Mas a vontade mesmo é que ela cresça mais para assistirmos teatro mais adulto, só assim eu e Maurinete voltaremos a frequentar melhor o teatro, uma das grandes paixões artísticas nossa.
Caramba, agora me lembrei de que estou devendo o texto, em livro, da peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, para Lelê ler – percebi o cacófato. É que ela, e eu também, perdemos as contas de quantas vezes ela já viu o filme homônimo na versão de Guel Arraes e também a versão de Renato Aragão. De longe ela prefere a versão de Guel Arraes.
É verdade que a avalanche de deveres, provas, testes e trabalhos escolares de Lelê está tirando a nossa frequência ao teatro.

domingo, 25 de abril de 2010

Óstia

Igreja lotada. Familiares dos catequistas em peso marcaram presença. Como sempre, crianças chorando, eu quero mamãe, criança deitada no chão alheia a tudo e a todos, inclusive aos santos. Era a oficialização da turma de catequistas que receberiam a primeira comunhão.
Máquinas fotográficas digitais, de todos os tamhos e formatos, é a nova mania. Registro de fotos torna-se comum. Que o digam os orkuts da vida na internet. E o registro por escrito, onde encontrar?
No sermão o padre diz que os catequistas devem receber Cristo como se estivessem recepcionando uma pessoa em sua casa, quando procuramos deixá-la arrumada, bonita, para as visitas. Como se fosse uma visita do Papa, uma visita de Lula, ou a visita de um professor da escola do catequista. Aproveita e dá uma bronca nos pais porque não frequentam a igreja com regularidade para trazer seus filhos também, que, com o tempo vai imitá-los.
O momento esperado: os catequistas comungam. Fiquei observando a expectativa deles. Recebem as óstias e as colocam em suas bocas. Comecei a rir porque alguns ficaram a comentar entre eles – eu estava bem pertinho deles – que o sabor da óstia não era legal ou não tinha sabor. Lógico, essa gurizada acostumada com os hamburgueres dos Mc Donalds da vida não vai sentir gosto nenhum numa óstia feita a trigo e água.
Devido a troca de comentários sobre o sabor da óstia veio a primeira bronca evangelizadora do padre. Não era pra conversar nesse momento com os colegas, e sim, com Cristo. O padre pagou geral.
Letícia falou que realmente a óstia não tinha lá esse goooosto. Maurinete observou que óstia não era tira-gosto. Eu sei do sabor da óstia porque comi muito quando era criança e adorava. Eram óstias que não estavam ainda consagradas e que dona Odília, nossa vizinha, recebia da diocese de minha cidade para selecioná-las, retirando as quebradas, as que eu e meus irmãos comíamos.
Encerrada a cerimônia. Mais fotos, filmagens, confraternizações entre todos. Ufa! O processo burocrático para se tornar um religioso oficial é longo e nem sabemos se esses pimpolhos realmente querem isso ou estão ali por livre e espontânea pressão familiar.

sábado, 24 de abril de 2010

1ª. Confissão

Amanhã será a primeira comunhão de Lelê, e, para isso, hoje ela faz sua primeira confissão, pré-requisito para tal, depois de um longo tempo de preparação para esse momento, sob a responsabilidade de uma freira.
O que que uma criança como Lelê tem para confessar de errado? O que que ela vai confessar para o padre? Será que essa menina tem tanto pecado assim?

Eu: Minha filha, o que você vai confessar pro padre? Ah, já sei. Você vai falar pra ele que sua mãe lhe ordenou pra você pegar pra comer dois chocolates ferrero rocher e você foi lá e pegou três e traçou os bichos. Você não resistiu as tentações infernais do chocolate!

Lelê: Ih, pai, tem coisa sim, pr’eu confessar pra ele.

Eu: Ah, com certeza. Você vai dizer pro homem santo que você não quis estudar mais um pouquinho pra prova de matemática e foi pra biblioteca ler gibis. Isso é, lógico, um pecado matemático. Ou senão, você vai revelar pro representante de Deus na terra que você vez por outra está desobedecendo a mamãe porque não quer comer de jeito nenhum.

Lelê: Eu vou confessar que eu já falei palavrão...

Eu: É aquela palavra com mais de trinta letras que você fala rapidamente ou é inconstitucionalissimamente?

Lelê: Se é confissão, eu não posso falar.

Eu: Tudo bem, tudo bem! Mas não esqueça de revelar que você me chingou no pensamento quando eu falei, sexta-feira da semana passada, que não iria comprar pizza porque em casa ainda havia bastante comida com muita verdura (arghhh!) pra gente jantar.

Lelê: Eu chinguei?

Eu: Pela expressão de seu rosto tava escrito que você quase me mandou pro paredão.

Bem, a verdade é que Lelê ainda tem muita estrada pra rodar pra um padre mandá-la rezar um pai-nosso, três salva-rainhas e vinte ave-marias.
Amém.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Política

Uma revista com uma foto de uma urna eletrônica estava sobre a mesa da sala e, Lelê, observando-a, perguntou-me se eu iria votar nas próximas eleições. Falei que ia por força da obrigatoriedade, pois sou a favor do seu contrário. Então iria votar nulo. Diante de sua exclamação esclareci que não acreditava em nenhum dos candidatos que aí estavam e muito menos nessa fórmula da obrigação do voto.
Lelê: Pois eu votaria no Lula (talvez ela quisesse falar de Dilma Rousseff, candidata de Lula). E depois indagou:
Lelê: Lula é ladrão?
Eu: Iiiihhh!!!!
Lelê: Mas ele já foi preso na Polícia Federal. (Falou como se isso o crendenciasse como um homem que enfrentou até a polícia para se chegar ao Poder).
Eu: Quem te falou isso?
Lelê: Eu li no google.
Diante dessa informação tenho que ensiná-la a melhor filtrar as informações a meio as milhões de notícias que a internet jorra, porque senão, daqui a pouco ela vai achar que Serra foi primo de Che Guevara, o qual lhe negou cabelo da barba para a sua careca, e que Karl Marx foi tio de Ciro Gomes, quando aquele lutou na Guerra de Canudos juntamente com Antonio Conselheiro.