Não querer almoçar não é novidade. Lelê não está com fome. Tudo bem, respeito. Quero ver até onde ela vai continuar sem comer. Uma hora vai ter que pedir arrego. Ela não é santa!
Para resistir dois dias sem almoçar e jantar leva-me à suspeita de que alguma coisa ela está comendo por fora. Nem eu e nem Maurineta estamos no colégio dela para sabermos se não comeu nada, então, a suspeita é de que alguma besteira ela consumiu.
No segundo dia sem comer chegou em casa e insistia em não se alimentar. Nesse ritmo ela irá concorrer com um indiano, que hoje ganhou manchete dos jornais e telejornais do mundo inteiro que, segundo ele e uma equipe de médicos patrícios, está há setenta anos sem comer nada. Isso mesmo. Sem comer nada.
Fiquei de olho na dispensa, santuário de algumas guloseimas existentes – biscoitos, sucos, cereais em barra... – porque se der bobeira Lelê come isso para não almoçar. Também tem frutas: banana, manga, pera, mexerica, laranja. Mas isso ela não toca. Não precisa nem insistir.
Subo para a biblioteca. Nesse ínterim ouço passos rápidos em direção à dispensa e depois ao banheiro. Calmamente vou verificar minha suspeita. Lelê pegou biscoito e foi comer no banheiro. Ah, isso ela come. O almoço tá lá, a sua espera inutilmente.
Depois pergunto a Lelê se ela pegou biscoito na dispensa e foi comer no banheiro. Ela diz que não. Taí, Lelê é uma menina inteligente. Sua mentira é um sinal de inteligência. Essa capacidade de mentir demonstra sinal de inteligência. Lelê acaba de atingir um importante estágio no seu desenvolvimento utilizando os complexos processos mentais envolvidos na formulação dessa mentira.
Eu, como pai, não devo me preocupar se Lelê me conta uma mentira. Isso é um sinal, repito, de que Lelê alcançou um novo marco em seu desenvolvimento. Isso significa que ela tem um desenvolvimento cognitivo melhor e é capaz de esconder pistas. Isso só é possível porque ela adquiriu a habilidade de realizar um complexo malabarismo mental que envolve guardar a verdade em algum compartimento no cérebro. E eu estou consciente de que aparentemente não há relação entre saber contar mentiras logo cedo e desonestidade na vida adulta.
Bem, isso que acabo de falar se refere a um arcabouço de um estudo feito no Canadá, pelo Instituto de Estudos da Criança da Universidade de Toronto, envolvendo mil e duzentas crianças e jovens com idades entre dois e dezessete anos.
A verdade é que já na noite do segundo dia sem comer Lelê cedeu à fome e jantou muito bem. Quando eu era criança, era exatamente o contrário de Lelê. Queria comer, sempre, no almoço e na janta, e mais lanchar, e mais comer se huvesse. Minha mãe tinha até que esconder comida da galera esfomeada lá de casa, e nós encontrávamos essas comidas e mentíamos que não mexemos em nada.
Meu deus do céu! Hoje não sou e não tenho nenhum irmão desonesto, e não minto dentro do padrão de desenvolvimento do caráter humano. Considero-me um cara do bem. Meus amigos estão aí para falarem.
Para resistir dois dias sem almoçar e jantar leva-me à suspeita de que alguma coisa ela está comendo por fora. Nem eu e nem Maurineta estamos no colégio dela para sabermos se não comeu nada, então, a suspeita é de que alguma besteira ela consumiu.
No segundo dia sem comer chegou em casa e insistia em não se alimentar. Nesse ritmo ela irá concorrer com um indiano, que hoje ganhou manchete dos jornais e telejornais do mundo inteiro que, segundo ele e uma equipe de médicos patrícios, está há setenta anos sem comer nada. Isso mesmo. Sem comer nada.
Fiquei de olho na dispensa, santuário de algumas guloseimas existentes – biscoitos, sucos, cereais em barra... – porque se der bobeira Lelê come isso para não almoçar. Também tem frutas: banana, manga, pera, mexerica, laranja. Mas isso ela não toca. Não precisa nem insistir.
Subo para a biblioteca. Nesse ínterim ouço passos rápidos em direção à dispensa e depois ao banheiro. Calmamente vou verificar minha suspeita. Lelê pegou biscoito e foi comer no banheiro. Ah, isso ela come. O almoço tá lá, a sua espera inutilmente.
Depois pergunto a Lelê se ela pegou biscoito na dispensa e foi comer no banheiro. Ela diz que não. Taí, Lelê é uma menina inteligente. Sua mentira é um sinal de inteligência. Essa capacidade de mentir demonstra sinal de inteligência. Lelê acaba de atingir um importante estágio no seu desenvolvimento utilizando os complexos processos mentais envolvidos na formulação dessa mentira.
Eu, como pai, não devo me preocupar se Lelê me conta uma mentira. Isso é um sinal, repito, de que Lelê alcançou um novo marco em seu desenvolvimento. Isso significa que ela tem um desenvolvimento cognitivo melhor e é capaz de esconder pistas. Isso só é possível porque ela adquiriu a habilidade de realizar um complexo malabarismo mental que envolve guardar a verdade em algum compartimento no cérebro. E eu estou consciente de que aparentemente não há relação entre saber contar mentiras logo cedo e desonestidade na vida adulta.
Bem, isso que acabo de falar se refere a um arcabouço de um estudo feito no Canadá, pelo Instituto de Estudos da Criança da Universidade de Toronto, envolvendo mil e duzentas crianças e jovens com idades entre dois e dezessete anos.
A verdade é que já na noite do segundo dia sem comer Lelê cedeu à fome e jantou muito bem. Quando eu era criança, era exatamente o contrário de Lelê. Queria comer, sempre, no almoço e na janta, e mais lanchar, e mais comer se huvesse. Minha mãe tinha até que esconder comida da galera esfomeada lá de casa, e nós encontrávamos essas comidas e mentíamos que não mexemos em nada.
Meu deus do céu! Hoje não sou e não tenho nenhum irmão desonesto, e não minto dentro do padrão de desenvolvimento do caráter humano. Considero-me um cara do bem. Meus amigos estão aí para falarem.
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