Pesquisar este blog

Seguidores

Total de visualizações de página


terça-feira, 23 de setembro de 2008

Amo os adultos

Ontem na aula de Kumon, uma menininha se dizia que estava cansada e não queria mais fazer a resolução dos deveres de matemática. A professora tentou convencê-la a ter ânimo, que era natural uma criança como ela passar por essa fase de desânimo, mas era preciso reagir a essa preguiça. A menina falou em tom baixo de que iria quebrar o braço, e a professora e os demais presentes olharam para a guria por ter falado isso, e, de imediato ela se corrigiu dizendo que isso era o que ela tinha sonhado. Se os pais dessa garota tivesse ouvido ela falar esse seu desejo, por certo perguntariam: “ onde foi que erramos?”. Vou torcer para que Lelê não queira entrar nessa, e, se ela não entrar, e gostar de verdade do kumon, eu e Maurinete iremos nos perguntar: “onde foi que acertamos?”. Não quero tirar conclusão alguma, mas me provoca o questionamento se certos pais gostam de crianças. Será que é comum os pais afirmarem “eu gosto de crianças!”. Sim, eu acho que essa é uma afirmação corriqueira, no entanto é preciso estarmos atentos para sabermos se é comum, e, vou logo adiantando, acho que não, as crianças afirmarem “eu gosto de adultos!”. Não, eu nunca vi uma criança dizer: “eu adoro adultos!”. Possa ser que tenha alguma criança fora de série para fazer uma afirmação dessas de forma espontânea. Fico até imaginando uma criança pegar o rosto de um adulto qualquer e segurar na ponta dos dedos as bochechas desse adulto e falar dengosamente: “ai, meu deus, como eu amo esse fofuchinho da/o mamãe/papai!”. Que tal observarmos isso.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Bolsa de Valores de Lelê

Depois da aula de Kumon fomos ao supermercado comprar couve. Um real e trinta centavos. Olhei em minha carteira e não havia uma alma sequer de um centavo. Olho pra Lelê: “Você não tem nada aí?”. Ela pega sua carteira recém ganha em seu aniversário e tinha lá dois reais – que eu havia colocado para inaugurá-la -, o que evitaria eu ter que pagar no cartão os um real e trinta centavos. Ela ficou toda contente porque me socorreu. As Bolsas de Valores do mundo inteiro numa pindaíba danada e a bolsa de Lelê alimentando a produção do cinturão de verde de Brasília. A queda do dólar, a subida do dólar, a queda do dólar, a subida do dólar em nada afetou a bolsa de valores de dois reais de Lelê. É claro que a questão cambial na dívida ativa do papai, reflete no sistema financeiro displicente caseiro na boca do caixa dos supermercados, tendo em vista que os Bancos Centrais principais europeus socorreram a jogada sistêmica norte-americana. Como não fui à bocarra do caixa eletrônico sacar papéis cambiais em moeda nacional, o panorama econômico familiar provocou à desaceleração econômica da padaria próxima daqui de casa, quando fui comprar pão e a minha Bolsa de Down Jones estava down. Recorri, mais uma vez, a empréstimos não dolares com a semi tranqüilidade dos papéis da Bovespa de Lelê e obtive recursos na ordem de um real e noventa centavos, a preços do barril de centeio. Segundo analistas econômicos da The Economist, se perdurar por mais um dia empréstimos dessa ordem para a pochete financeira de Lelê, o grau de confiança no sistema financeiro eduardiano poderá refletir nas principais casas de cambio mundiais. Para tranqüilidade de todos o FT, Financial Times, jornal econômico londrino, observa que foi o boom do crédito que detonou a crise americana. Ufa! Que alívio, tô fora dessa melequeira toda! Amanhâ mesmo vou pagar a couve e o pão que Lelê comeu.

domingo, 21 de setembro de 2008

Lelê caetaneou

Maurinete ganhou de presente em seu aniversário – próximo ao de Letícia – o cd O Melhor de Caetano Veloso: Sem Lenço Sem Documento, que vai de Alegria Alegria até Beleza Pura, e também um de Milton Nascimento, também com as melhores dele. Mas foi o cd de Caetano que Lelê se amarrou. As músicas desse cd tem balanço, como se diz, tem ginga, tanto nas músicas quanto nas letras. São sucessos de Cae que o Brasil inteiro já cantou desde 1968 de quando ele começou com o Alegria Alegria. E é por isso que Lelê fica o tempo inteiro cantando trechos de músicas que o seu subconsciente pronuncia com as poucas vezes que ela ouviu o cd. E já tem música que ela já sabe a letra toda. É o caso de Atrás do Trio Elétrico, sua preferida. Entramos no carro, e já vai ela tascando Atrás do Trio Elétrico. Tava na cara que é o tipo de música que qualquer criança gosta. Tem ritmo e tem letra lúdica, letra que Caetano brinca com as palavras. Lelê adora quando ele canta a frase “Aprendeu, que é do outro lado; Do lado de lá do lado; Que é do lado de lá”, e também quando Caetano dá uma sincopada em “Nem quero saber se o dia(pausa)bo; Nasceu, foi na Ba(pausa)hia”, e mais o jogo de palavras “O sol é seu; O som é meu”. Outra musica que Lelê gostou muito foi Soy Loco Por Ti América, e a razão, segundo ela, é porque Caetano canta misturando português e espanhol. Essa música ela já conhecia de quando visitamos a exposição A Utopia da Modernidade, que funcionava como fundo musical. Lelê fica cantando frases que lhe chamou a atenção, como “”...sou o seu bezerro, gritando mamãe...”. A música O Leãozinho, é inevitável que qualquer criança se apaixone por ela. Mas nem tudo são buquês. Ela detestou “Odara”, e lhe perguntamos porque, ela disse que não sabe porque, mas que detesta, detesta. Vou parar com esse papo de que Lelê adora Caetano porque está um papo pra lá de pedante lá em Marraqueche.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Festa de despedida

Lelê chegou da escola já me perguntando:
LL: Pai, se você tivesse de ir a uma festa por oitenta reais, você iria?
DD: Ué, depende de que festa, se é de meu interesse ou não.
LL: Pois eu gostaria de ir a uma festa assim.
DD: Assim como?
LL: É porque vai ter uma festa de fim de ano lá na escola. (Lelê abre a mochila, pega sua agenda escolar e pede pra ler um bilhete da escola):
LL: “Senhores Pais/Responsáveis. Para comemorarmos o término do ano letivo e a despedida dos alunos da 4a. série, estamos programando um dia de passeio em dezembro, com a empresa Janot Tour ao Hotel Fazenda Águas Emendadas com direito ao transporte em ônibus de turismo de luxo, 02 lanches, almoço e atividades recreativas oferecidas pelo hotel como piscina, salão de jogos, quadras esportivas, trilha ecológica, passeio à cavalo entres outras.
Esta é apenas uma proposta e para isto solicitamos que o responsável pelo aluno preencha a autorização abaixo e nos envie até o dia 23/09, para que possamos agilizar e reservar com antecedência aproveitando o preço promocional que a empresa nos concedeu, que será de R$ 80,00 por pessoa:”.
DD: Aí não fala que acompanhará a turma, se os professores ou não.
LL: Você deixa eu ir?
DD: Deixo. Mas antes eu vou me informar sobre quem acompanhará vocês, se essa empresa está ok, etc.
LL: Oba! Oba!
DD: E também eu vou conversar com sua mãe.
LL: Oba! Oba!.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ôba, não tem aula!

-Triimmm, triiimmmm
- Alô! – Eu atendi no telefone e Lelê na extensão simultaneamente.
- Aqui é da Escola da Letícia. Estou avisando que hoje não haverá aula pra porque está faltando água e só voltará depois das dezoito horas.
DD: Ok.
Ouvi os gritos de alegria Letícia de “oba! oba! hoje não vai ter aula! Oba!”, “oba! hoje não vai ter aula!”. Ela corre pra biblioteca, sobe a escada e vai chegando falando-me: “Pai, hoje não vai ter aula!”, e fica pulando de alegria e se dirige pra me abraçar. Eu a abraço e ficamos pulando juntos gritando “hoje não vai ter aula! Hoje não vai ter aula!”. Descemos a escada e fomos lá pra baixo onde estava Neide – secretária – e continuamos gritando “hoje não vai ter aula!”. Neide ficou nos olhando como se não estivesse acreditando eu pulando de alegria com Lelê porque ela não teria aula.
Neide: “Seu” Eduardo, eu num tô acreditando no que estou vendo!
DD/LL: Hoje não vai ter aula! Hoje não vai ter aula!
Neide: Deixa dona Mauri saber disso!
DD/LL: Hoje não vai ter aula! Hoje não vai ter aula!
LL: Eu vou ligar pra mamãe pra dizer que não vai ter aula.
Lelê liga pra Maurinete e ela atende. Lelê, antes de falar fica rindo, apenas rindo.
Mauri: Qual o motivo de tanta alegria, filhinha?
LL: É porque hoje não vai ter aula!
Mauri: E isso é motivo de alegria?
LL: (com toda sinceridade infantil e diminuindo o riso) É!.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Criar um bebê

Os presentes do aniversário de Lelê ainda não terminaram de jorrar. Fomos ao apartamento da vó Bia e lá ela ganhou um joguinho, ‘na ponta da língua’, um joguinho muito interessante em que os participantes respondem a um monte de perguntas de bom nível para crianças – de questões de português a conhecimentos gerais – e mais cd, vestido, bonecas e carteira de dinheiro. Já em casa Lelê brinca com as bonequinhas. Veste as roupas, tira as roupas, prepara mamadeiras, dá água para bebês sedentos com esse clima super seco de Brasília , dá banho, ajeita-as para dormir...
LL: Ufa! Pai, eu estava pensando aqui comigo...
DD: Sim.
LL: Esse trabalho todo para deixar essas minhas meninas tudo ajeitada...
DD: Sim.
LL: Você imagina como isso não é na vida real pra tomar conta de uma criança de verdade.
DD: Você tá vendo como é dureza.
LL: Nossa! Como dá trabalho!
DD: E isso sem contar os deveres de casa quando elas estiverem na escola, brincar, passear...
LL: Pai, eu vi passando na televisão uma menina de treze anos que já tinha filho.
DD: Ou seja, um bebê cuidando de outro bebê.
LL: É muito trabalho para ela fazer com seu filho.
Pelo visto Lelê ficou pensativa de que criar um filho não é fácil, e, pelo menos momentaneamente, ela poderá colaborar comigo em não me dar trabalho e me obedecer de imediato quando eu pedir-lhe para não deixar as coisas espalhadas pela casa. Percebi que ela tem mudado muito, depois d’eu tanto lhe pedir para não deixar roupa suja no chão e sim na cesta apropriada, apagar as luzes se não estiver em determinado ambiente, etc. É a lei da paciência, do pedra dura água mole, tanto bate até que fura e também a lei dos espôrros vez ou outra, ou outra vez.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Viagens de Gulliver

Cheguei um pouco mais cedo na Escola Parque pra pegar Lelê e fui à biblioteca da escola e peguei dois livros pra ela ler. Nunca mais ela tinha lido um. O último foi o Blog da Cacau, se não me engano. Peguei o livro A Vida Íntima de Laura, de Clarice Lispector. Um livrinho que ela escreveu em 1974 e é sobre uma galinha. Eu nunca tinha ouvido falar nesse livro infantil dela. Só este ano é que vim a ler o A Hora da Estrela, de Clarice. Coincidentemente Maurinete telefona-me e diz que acabara de ganhar de presente o filme em dvd A Hora da Estrela, de Suzana Amaral baseado no livro de Lispector.
Bem, o outro livro que peguei pra Lelê ler foi Viagens de Gulliver. Quando mostrei pra Lelê ela de imediato falou que já tinha lido esse livro.
LL: Num é aquele que ele mora numa casa?
Sinceramente não me lembro desse detalhe e já em casa conferi o livro que ela tinha lido. É um livrinho – oito páginas - super infantil de uma coleção chamada Histórias Encantadas. E lá está escrito: “Afeiçoado a Gulliver, a rainha ordenou que construíssem uma casa do tamanho dele para que ficasse bem acomodado”. O livro que ela irá ler é de uma outra coleção: Reencontro Infantil, da editora Scpione, também ilustrado, já mais extenso – 48 páginas - , adaptação de Lúcia Tulchinski. Tá parecendo que estou preparando terreno pra ela ler a tradução do original – 276 páginas – na tradução Octávio Mendes Cajado, da coleção Os Imortais da Literatura Universal. Isso é que é o verdadeiro processo de leitura: uma escala do infantil ao adulto.


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Picles


●Não é que Lelê se desencantou e participou de um esquete com a sua turma da Escola Classe? Sua participação era aparecer numa curta cena com uma máscara de bicho no rosto e dava um susto num grupo de crianças que estava perdido no mato. Pronto, era só isso, sem diálogos. Mesmo assim nesses últimos dias ela falava que estava nervosa com essa ‘apresentação’. Foi legal simplesmente porque ela marcou presença quebrando assim esse seu gelo em não querer participar dos teatrinhos da escola. Isso se deu sexta-feira última por ocasião de festas comemorativas ao folclore brasileiro por todo o colégio. Logo após teve um almoço e bingo. Foi legal. Maurinete também compareceu.

● Lelê tem a mania de colocar meus óculos de grau em seus olhos. Disse ela que tem dois sonhos: primeiro, usar óculos de grau. Ela se acha o máximo e quer usar óculos iguais ao meu. Até perguntou se não existia óculos de grau disfarçado. Lhe falei que ela ia ver o que era bom pra tosse ficar dependendo de óculos. Ainda bem que o meu é só pra leitura. O outro sonho é aprender a dirigir. Ela já sabe que a sua hora será assim que chegar à idade adulta. Faço questão que aprenda dirigir de imediato. Pra mim vai ser um alívio e ao mesmo tempo motivo de preocupação. Preocupação até ela ganhar maturidade e deslanchar vida a fora.

● Ontem estava eu aguando o jardim – a seca de Brasília faz até as plantas chorarem de secura – e quando entro pra casa, na sala de tv vejo Lelê vendo tv. Pensei que fosse algum desenho animado como ela sempre gosta de ver. Qual nada, Lelê estava vendo o Jornal Nacional da TV Globo.DD: Ué, sem minha presença você está vendo o Jornal Nacional?
LL: O Jornal Nacional é muito fera, pai. É muito legal. Será que estou influenciando essa menina pra ela ser uma consumidora de notícias quando entrar na fase adulta? Tomara que seja leitora da mídia impressa.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Aniversário

Sexta-feira passada levei Lelê para uma festinha de aniversário de um adulto, masculino. As mulheres se dirigiam ao aniversariante para parabenizá-lo dando beijinhos e afagando suas costas. Lelê, de antena ligada, pergunta-me:
LL: Pai, por que os homens dão os parabéns dando essas taponas nas costas?
Comecei a observar e vi que era verdade mesmo. São tapas que até dói nas costas da gente. E tem machão que parece caprichar na mão pesada descendo o relho no dorso do aniversariante, de mão espalmada como se estivesse batendo numa bola de vôlei.
DD: É verdade, minha filha, mas também não sei te explicar. Talvez seja porque os homens queiram testar quem é mais forte do que o outro.
Minha explicação foi mal pois daria a entender o inverso com as mulheres. Ainda bem que Lelê não voltou a retrucar-me. Talvez porque ela se ligou no bolo de chocolate, seu bolo predileto com açúcar e com afeto. Não sei porque quando ouço a palavra ‘predileto’ sempre eu emendo essa expressão ‘com açúcar e com afeto’ da música de Chico Buarque.
Falar em festa de aniversário ela não tira da cabeça a seu na próxima sexta-feira que será na escola com seus amigos. Será uma sorvetada de flocos, como ela escolheu. Ela me pediu de presente uma bola já que a sua, a do Fluminense, furou e está murcha como o próprio.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Chiquinha

Pela manhã Lelê tomou banho e fomos para a aula de Kumon. Penteou o cabelo, que cortou semana passada, e está quase rente as orelhas, e colocou seu estojo de maquiagem na bolsa do material escolar. No carro retirou o estojo e começou a passar batom e se maquiar. Fiquei observando-a baixar o espelho que está no guarda-sol do lado do banco de passageiro e fazer todo processo de maquiagem. Parecia uma moça se enfeitando indo pr’uma guerra, pra guerra das vaidades. Tenho que começar a me preparar que Lelê-menina está se esvaindo e cedendo lugar para Lelê-mocinha. Os trejeitos de passar batom e pressionar lábio inferior com lábio superior se olhando num espelhinho é o sinal de que estamos perdendo Lelê-criança. Dia desses já estava me falando de namoradinho, que estava “ficando”... Esses papos circunstanciais e inevitáveis de quando ela está com a galera da escola. É o processo natural do universo feminino, do caminho sem volta porque os centímetros que ela está crescendo a cada instante - “nossa, como ela está grande!”, “ela só tem nove anos?”, “gente, como o tempo passa rápido!”, admiram nossos colegas - pede passagem para ser um instrumento em que avaliaremos, cresceremos, investigaremos, contentaremos, sofreremos a segunda fase de sua/nossa vida. Cada vez mais ela vai se parecendo com Chiquinha, a personagem de Miguel Paiva, cartunista do jornal O Globo, em que ela trava diálogos e situações independentes com seu pai, o Gatão de Meia Idade, lhe coloca contra a parede avisando que o espírito da modernidade feminina está no ar. Chegamos na sala de aula do Kumon e professora perguntou: “Nossa, como você está linda, vai para alguma festa?”. Lelê ficou encabulada mas a resposta estava no ar de que ela estava indo para a festa do prazer da vida.

sábado, 6 de setembro de 2008

Vinícius Ziraldo de Jobim


Estamos comprando a “Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova” e Lelê viu o número 3, Vinícius de Moraes, e ela achou o Vinícius parecido com Ziraldo.
DD: Parecido com o Ziraldo?
LL: Sim, eles se parecem muito.
DD: Não, minha filha, preste atenção e você verá que há diferença.
LL: Não, pai, eu estou falando que eles se parecem por causa da música Garota de Ipanema.
DD: Peraí, minha filha, peraí, que a coisa agora enrolou toda!
LL: Num sabe a música “olha que coisa mais linda, cheia de graça...”?
DD: Lógico que sei.
LL: Então!
DD: Então digo eu! Garota de Ipanema foi feita por Vinícius de Moraes e Tom Jobim, e não por Vinícius e Ziraldo. Se bem que a Garota de Ipanema feita pelo traço de Ziraldo é tão bonita e charmosa quanto à da música do Tom de Vincíus.
LL: Como assim?
DD: Ah, deixa pra lá. Mas não foi o Ziraldo...
LL: Não, pai, o que eu quero dizer é que Ziraldo disse no livro dele Rolim que queria ser o umbigo da Garota de Ipanema. Você me entende?
DD: Ah, entendo, Ziraldo citou a Garota de Ipanema em seu livro Rolim.
LL: Isso, isso, isso.
Mais tarde fui à nossa biblioteca e peguei o livro Rolim, de Ziraldo – que conta a estória de um umbigo, e que ela leu há quase dois anos, e tava lá, na última página do livro o desenho da Garota de Ipanema em que aparece o umbigo dela – não mostra o rosto – sob um sol de traço infantil com o seguinte texto: “E o Rolim respondeu assim, sem nenhum problema: - Eu quero ser o umbigo da Garota de Ipanema!”.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Amigo invisível

LL: Pai, você tem um amigo invisível?
DD: Não.
LL: Pois eu tenho.
DD: E como é ele?
LL: Ah, ele é muito legal.
DD: Mas como? É loiro, é menino, menina, cabelos pretos...
LL: Num sei, num dá pra falar como ele é.
DD: E você sempre fala com ele?
LL: Desde pequenininha.
DD: O que vocês conversam?
LL: Ah, de tudo. Quando eu tô nervosa aí ele aparece e diz: “calma, tenha calma”.
É verdade que eu já a vi algumas vezes falando consigo.
LL: E o legal a gente ter um amigo invisível é que quando não tem ninguém pra brincar eu brinco com ele.
DD: E ele é seu confidente?
LL: O que é isso?
DD: É a pessoa a quem a gente confia segredos a ela.
LL: Ah, com certeza!
Lembrei-me que no seriado Menino Maluquinho da TV Brasil, baseado na obra de Ziraldo de mesmo nome, tem um episódio em que o menino maluquinho conversa com seu amigo invisível e deixa a empregada da casa intrigada porque ele quer dois biscoitos, um para ele e outro para seu amigo invisível. Será que toda criança tem, ou teve, um amigo invisível? Eu não me lembro de ter tido algum, ou, se tive, era tão invisível que ficou invisível em minha memória.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Feira do livro de Brasília

Ontem fomos à Feira do Livro de Brasília, à noite, e estava vazia. Segunda-feira parece ser mesmo dia da ressaca dos afazeres de lazer do fim de semana das pessoas, e porque não dizer, dos animais do zoológico também. Ou seja, ninguém quer saber nada de livros, nem os bichos, porque eles não são bestas. Eu e Lelê percorremos todo o percurso e entramos em quase todos os stands. Lelê se interessou pelas barracas de literatura de cordel e comprou dois livrinhos: “O menino e o disco voador” e “O homem que, um dia, foi bebê ”. Compramos mais um livro do Ziraldo (Outro como eu só daqui a mil anos), dentre os mil e tantos que ele já escreveu. O homem é uma usina de escrever livro infantil. E vende feito pão de queijo porque são bonitos e criativos. O A loja do Sebinho vendia muito. É um sebo muito organizado, parece não ser sebo. Lelê adorou os banquinhos de lá pra gente se sentar e vermos os livros das prateleiras próximas ao chão. Thiago de Mello estava lançando um livro feito especialmente para a Feira e Lelê queria pegar um exemplar, mas a fila tava grande e não íamos ficar esperando. Até estande do pessoal do Esperanto tinha. Mas o que despertou a atenção de Lelê foi um quite com livrinhos infantis e um cd, em embalagem grande de papelão do Fluminense. O cd tem o hino do Flu, do Brasil com aquele clima de jogo da Seleção Brasileira e mais outras músicas em louvor ao futebol. Se nosso amigo tricolor Alcindo tivesse visto compraria. Mas Lelê falou que ele não compraria porque ele agora é são paulino depois que foi morar na cidade de São Paulo. No carro já foi ouvindo o cd na maior euforia. É lógico que a Feira do Livro de Brasília não chega nem nos pés das feiras de São Paulo e Rio de Janeiro, mas não deixa de ser um evento importante. Ouvi no noticiário do carro, dia desses atrás, que essa feira estaria mais centrada no púbico infantil visando a formação de leitores pro futuro, já que o presente com os adultos que não criaram o hábito da leitura estava difícil. Ainda vamos retornar lá com Maurinete. Ah, segundo informações o Ziraldo estará lá autografando seus livros no dia quatro e Lelê quer estar lá para arrancar um autografo dele. Juro, Alcindo e Rita, é Lelê que quer pegar autógrafo do Zira, que, aliás, quase chegou na Academia Brasileira de Letras semana passada, perdendo a cadeira para Luiz Paulo Horta pelo placar de 23 x 11. Cadeira 29 ocupada por Josué Montello.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Raul Santos Seixas

A professora estava dando aula ontem sobre o significado de AC e DC e Lelê lhe perguntou:
LL: Tia, a senhora gosta de Raul Seixas?
Professora: Gosto, por quê?
LL: Porque ele fala disso aí.
Professora: Como?
LL: Na música dele ele canta – e Lelê cantou – “Eu nasci, há dois mil anos atrás, e não tem nada nesse mundo que eu não saiba de mais”.
Professora: Ah, muito bem.
Na hora do recreio ela ensinou mais da letra para suas colegas e mais outras, como Gita, O Trem das Sete... Ela não gosta daquela música que fala no diabo – não me lembro agora, e nem de Mosca na Sopa, “ecaaa!!!”, como ela reage . Descobriu que os pais de quatro delas também gostam de Raul Seixas. Interessante é que há pouco tempo ela não gostava do Raul Seixas e agora é o inverso. Vá lá entender criança! Será que o Raul baixou o santo em Lelê, já que na semana passado foi o aniversário de dezenove anos de sua morte? Pra completar ela me pediu pra deixar levar a capa do cd de Raul – Metamorfose Ambulante – pra mostrar pra galera. As músicas de Raul são muito lúdicas, representativas e anarquistas. Acho que é por isso que ela gosta. Quis levar também um Atlas. Está estudando sobre os continentes. O nosso está desatualizado mas levou assim mesmo. Mais os cards de desenho animado para jogar bafo na escola. Misturar Raul Seixas com Atlas geográfico e cards de desenho animado vai dar um roque globalizado animado infantil pasteurizado na linha evolutiva da MPB da Bossa Nova pato aqui pato acolá.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O Sol

Certo dia desta semana estava eu indo para casa e ouvi no rádio do carro a informação de que o sol no dia seguinte nasceria às seis horas e vinte e dois minutos. “Puxa, vida, 6:22h!”, pensei impressionado com a precisão britânica – dizem que os britânicos são pontuais, num sei, tô só repetindo – da natureza. Eu, costumeiramente, acordo cedo e geralmente aprecio o nascer do Sol. Vejo o Sol surgindo por detrás das montanhas azuis, lá no fundo do baú de deus. Abre-se a tampa e ele aparece com seus raios jogando luz nos dorminhocos. Pois ontem à noite Lelê, dois pontos:
LL: Pai, me acorda amanhã cedo.
DD: Que horas?
LL: Na hora que você acordar.
DD: Mas eu acordo ás seis e pouco.
LL: Isso mesmo, essa é a hora que eu quero acordar.
DD: Mas pra que se amanhã você não tem Escola Parque!
LL: É porque eu quero ver o sol nascer.
DD: Acordar pra ver o sol nascer? Falei admirado.
LL: Sim, eu quero ver o sol nascer, porque é muito bonito.
DD: Tá bem, se eu acordar antes do sol acordar, eu te chamo.
Quando acordei hoje o sol já tinha batido o ponto e partido pro trabalho dele, dá uma voltinha no espaço. Não acordei Lelê, naturalmente, pois ela queria vê-lo nascer. Droga! Eu também queria ver o Sol nascer hoje para ver o nascer do olhar de Lelê com o olho solar. Lelê já me pediu bola, boneca, terno do Flu, caderno quadriculado, refri, pra levá-la no parque, pra comer pizza... Mas pra ver o Sol nascer foi muito legal. Provavelmente ela iria desfiar um rosário de perguntas: por quê o Sol nasce e morre, porque ele é quente, porque ele não pára, porque ele é branco numa hora, alaranjado em outra, se ele não se cansa de ficar só rodando, porque ele é ele e não ela, ou outras perguntas menos esperadas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ficar em casa

O telefone toca. Lelê corre em direção a ele.
LL: Deixa que eu atendo.
DD: Pode deixar comigo.
LL: Não, pai, pode deixar que eu vou atender. Pode ser que seja a diretora da escola dizendo que não vai ter aula hoje!
DD: A diretora? Eu e Neide caímos na risada.
LL: (falando eufórica) Alôôôô!!!
Mauri: Alô.
LL: (em voz baixa e triste) Alô.
Mauri: O que foi que aconteceu que está com a voz triste?
LL: É que eu pensei que fosse a diretora de minha escola.
Mauri: A diretora? O que foi que aconteceu?
LL: Não... É... É que eu pensei que fosse a diretora de minha escola falado que hoje não ia ter aulas.
Mauri: (Não deu para entender o que ela falou. Mas ficou claro que não era nada elogiável.)
Depois falando pra mim:
LL: É que hoje eu gostaria tanto de ficar em casa.
DD: Mas aí você vai atrasar todas suas tarefas da escola. (Ontem a noite ela fez bastante dever de casa. Respondeu um texto sobre brincadeiras escrito por Marilena Felinto, ex. jornalista do jornal Folha de São Paulo).
Já estava quase na hora da van escolar chegar – pronto, chegou! – e ela pegou sua mochila e saiu correndo dando adeus pra mim e Neide.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

É brincadeira!

Quer ver um adulto feliz? O cardápio é extenso: sair com os amigos, beber num fim de semana, ir para a náite, ver um filme predileto, namorar, participar disso e daquilo e aquilo outro tal e etc. São muitos os verbos: sair, beber, ir, ver, namorar, participar e por aí vai na primeira, segunda e terceira conjugação. São mil programas, mil coisas. Quer ver uma criança feliz? É muito simples, resume-se a um verbo: brincar. Colocou um brinquedo nas mãos de uma criança, e pronto, seu mundo está realizado. O mundo mágico incorporado num objeto lúdico é marcante para sempre tanto pela criança em voga como para o futuro adulto que não deixou de ser criança com seus brinquedos. É isso mesmo. Tem adulto que não larga seus brinquedos que marcaram sua infância. Li no Correio Braziliense do último domingo matéria sobre brinquedos e fala de um fotógrafo de 30 anos que não se desliga de seus jogos de Nitendo, Falcon, Playmobil, He-Man, futebol de botão e álbuns de figurinhas. Mesmo com os novos jogos que surgiram no mercado o prazer dele é com os antigos. Tenho observado – na escola dela, no condomínio e na casa de amigos que tem crianças - que Lelê está abandonando as bonecas e brincando com os brinquedos que tanto os meninos quanto as meninas gostam: diabolô, bicicleta, bola, o jogo de bafo com os cards, jogos de computador – a paixão dela é pelo site do Menino Maluquinho e seus jogos interativos-, etc. Na Universidade de São Paulo – USP, tem um laboratório de brinquedos e materiais pedagógicos. É muito fera. Segundo a professora desse laboratório, Ruth Elisabeth de Martin, “além de desenvolver a linguagem, o ato de brincar ajuda na interação social, na estruturação da personalidade e na aproximação com o real”. Bem, limpando essa linguagem burocrática acadêmica, o que ela que dizer é que brincar deixa a criança feliz. A reportagem ainda afirma que “a relação com os brinquedos não se constrói a partir de um valor, mas por um tipo de carisma ainda desconhecido. Umas das provas disso está nos anúncios publicitários de brinquedos: eles parecem direcionados para os pais e não para os filhos”. E arremata com a opinião da pesquisadora Danielle Lins de Almeida: “As crianças escolhem, mas é dos pais a palavra final”. Não entendi bem o que foi dito. Esse pessoal deveria ser simples e direto como as crianças que eles analisam.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Dez e meia

Letícia e eu na aula de Kumon. Entra na sala um menino de uns oito/nove anos:
Menino: Dez e meia.
Professora: Oi.
Menino: Dez e meia.
Professora: Bom dia!
Menino: Dez e meia.
Professora: Como está você?
Menino: Dez e meia.
Professora: Vamos começar estudar!
Menino: Dez e meia.
Professora: Uai!
Menino: Dez e meia.
Entra a acompanhante do menino e diz que a mãe não veio deixá-lo hoje e que ela o pegará às dez e meia.
Professora: Ah, bem, está explicado.
Encerramos nossos deveres.
LL: Vamos embora pai.
DD: (Falando baixinho) Dez e meia.
LL: Já terminamos os deveres, pai.
DD: Dez e meia.
LL: Ô pai!
DD: Dez e meia.
LL: Ô pai, você pirou? (Ela sempre usa essa frase quando faço isso tipo de gozação).
DD: Dez e meia.
Antes que ela ficasse nervosa saímos quinze para as dez e meia.

domingo, 24 de agosto de 2008

Diário

Adoro escrever esse diário, aberto, o mundo inteiro pode lê-lo, quem quiser e tiver conhecimento de sua existência, lógico. É um diário que procuro mostrar o lado positivo de Lelê, o sentido bom da vida de uma menininha, as trivialidades, as brincadeiras. Meu objetivo é ser up, não interessa ser um diário de lavagem de roupa suja, mesmo porque procuro não ter isso como princípio. Sei que me exponho, exponho Lelê, exponho os que me cercam, exponho o mundo ao meu redor e de Lelê. Mostrar a cara para todo mundo, saber que a gente pode dar uma escorregada comportamental, saber que o leitor pode ter mil considerações sobre o que escrevo e reprovar-me, como também dentre essas mil considerações pode-se ter considerações elogiosas, de incentivo. O certo é que, quem se expõe está para ser criticado, ser comparado. Erros de português, erros de estilo, de concordância verbal, etc. são irrelevantes. O importante, aqui, considero, é retratar uma menina de nove anos, filha legítima adotada, classe média, bom padrão de vida, com regalias de oportunidades para a vida, que tem tudo para dar certo, mas que para a vida, como sabemos, não tem disso não. De uma hora para outra o destino pode aprontar com ela, comigo, com o caro leitor. Então o instante é o que nos interessa, com suas surpresas ou suas clarividências. Sinal dos tempos é isso: escrevia-se diários e guardava-se a sete chaves. Quem era famoso seu diário poderia vir à tona em publicação. Hoje qualquer um é qualquer um, a exposição é deslavada e pode se expor nesse caderno de arame óptico planetário. O cadeado do diário de hoje em dia é encadeado.

sábado, 23 de agosto de 2008

O efeito da paternidade

O título acima é o título do artigo do colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, de 30/07 último. Não o leio regularmente, não sou assinante de Veja, mas recebo com certa freqüência seus escritos através de meu amigo Alcindo que me envia um pacote de recortes de jornais da grande imprensa brasileira. O Alcindo, em e-mail para mim, escreveu que eu estava gugu-dadá com os escritos desse blog, como o Diogo Mainardi tem sua atenção voltada excessivamente para seus filhos. Disse o Alcindo que estávamos monotemáticos. O Alcindo tem razão, e o Diogo também. Lelê veio a ocupar todos os espaços vazios de casa, todos os espaços vazios de meu cotidiano, sufocando todos os espaços que antes eram largos, profundos nem tanto porque não tenho talento para tanto, como o Diogo que se indagava sobre Santo Agostinho quando abria um livro. Antigamente – algumas décadas atrás - realmente não era assim, os pais estavam mais para aparar arestas com a palavra final sobre nossos comportamentos com uma palmada em nosso traseiro, ou uma chinelada idem, ou, para os papais mais pedagógicos um carão – uma repreensão verbal brava. Hoje em dia não se bate mais nos filhos e o carão tem o tom da fala do senador Eduardo Suplicy. Mas voltando a Lelê. Alcindo e os prováveis leitores desse blog, se não tiverem a paciência com esse diário, para enxergar que aqui se trata de um pai bajulador, descritivo das ações de Lelê, das firulas de Lelê e de Dudu com Lelê, de imediato galgarão o blog de meu amigo Alcindo – www.alcnol.blogspot.com com reflexões sobre seu cotidiano e a coluna do Diogo Mainardi na Veja quando ele espinafra competentemente Lula e Lulistas de primeira e última hora e das horas de quando Lula estava no ABC da política. Por falar em cartilha Lelê está preocupada em fazer uma poesia sobre Brasília, dever solicitado da escola. Pai é bicho besta, já está pensando que a menina pode escrever um poema e se tornar uma Cora Coralina, Cecília Meireles ou uma Drummona. Lelê não está pensando assim e eu estou sofrendo as conseqüências da cerveja que beberei à noite.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Torcer e distorcer

Estamos no térreo, na cozinha, e Letícia no andar de cima, no quarto dela. Não deu nem oito horas. Pelo converseiro ela sabe que somos nós e grita um “quem está aí” só para avisar que já acordou. Desce a escada e chega com um sorriso largo e falando “o Fluminense ganhou ontem a noite!”. Ganhou do Náutico lá dentro de Recife e canta uma esculachada na galera do Flamengo:
LL: O que eu quero é ser feliz
Pegar um flamenguista
E tirar sangue do nariz
É... e poder me orgulhar
E ter a consciência que o BOPE
Tem seu lugar
Mauri: Que é isso, minha filha!Você não ama o Fluminense?
LL: Amo.
Mauri: Então! Os flamenguistas também amam o Flamengo. Cada torcedor ama de paixão seu clube, nós devemos respeitá-los também. Você gostaria que alguém cantasse dessa forma com o Fluminense?
LL: Não.
Mauri: Então!
DD: Podemos dar uma gozada nos adversários, mas não podemos alimentar rancor, falar com raiva dos rivais. Isso é apenas um... um... sei lá... uma paixão esportiva, um divertimento. Se a gente fica falando com raiva de nossos antagonistas pode acabar virando um fuzuê danado, uma confusão como ocorre nos estádios de futebol que dá aquelas brigas horrorosas. Quando alguém falar que é flamenguista doente você fala que é fluminense sadio, e tudo bem, tudo está em paz.
Lelê ficou ouvindo-nos e, acredito, aceitando nossas ponderações. Eu falo assim, mas sei que é inevitável dar umas boas espinafradas nos flamenguistas, ou nos torcedores adversários de nosso time, quando os vemos atolados na lanterna de campeonato. Nesses momentos parece que a ética esportiva é troçar de nossos rivais e não o contrário.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Olelimpíadas


Já escrevi aí acima que Lelê não teve entusiasmo por essas Olimpíadas pequinince, mas mesmo assim vou láureá-la com um quadro de medalhas

· Hoje Lelê andou bastante de bicicleta e brincou no parquinho até o ultimo minuto antes de ir para casa tomar banho. Em dez minutos a moleca tomou banho, penteou o cabelo, se arrumou e começou a almoçar: medalha de ouro!

· Fez o dever da escola ontem ainda à noite (nunca tive problemas pra mandá-la fazer dever de casa: é ouro!

· Fez seus dois blocos de tarefas do Kumon dentro do prazo estipulado: é medalha amarelinha!

· Quando acordou trocou o pijama pela roupa da gandaia sem ninguém lhe pedir: é amarelo puro!

· Almoçou tudo do prato e mais um prato de alface em separado – que ela adora – e tomou suco de goiaba – que ela também adora. O verde da alface e o vermelho da goiaba só fizeram-na a subir o pódio de medalhista ouraço!

· Preparou a mochila com o material escolar e mais o lanche sem ninguém perguntar se já estava tudo pronto: Tá lá no pódio mais amarelo do que nunca!
Vou parar por aqui porque senão ela irá ultrapassar Phelps com suas oito medalhas

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Piadas

LL: Pai, posso contar uma piada?
DD: Lógico!
LL: Era natal e um menino queria ganhar um videogame – e ele não tinha nem computador -, mas o pai dele não tinha dinheiro, aí ele falou pro pai dele: “Pai, você compra pra mim um vídeo game?”. Aí, o pai do menino falou: “Não posso, meu filho, eu não tenho dinheiro”. Aí o menino respondeu: “Puxa, pai, eu queria tanto um videogame”. Aí o pai disse: “Então tá, eu vou comprar”. Aí o menino disse: “Oba, meu pai vai comprar um videogame pra mim, oba!”. Uns dias depois o pai chegou com o videogame e o menino disse: “Como o senhor conseguiu dinheiro, pai, pra comprar o videogame, se o senhor não tinha dinheiro?”. Aí, sabe o que o pai respondeu?
DD: Não, não sei.
LL: O pai disse: “Eu vendi a televisão!”.

LL: Posso contar outra?
DD: Pode.
LL: Quem entra pela porta e sai pela janela?
DD: Não sei.
LL: É a Isabela Nardoni.
DD: Que que é isso, minha filha!
LL: Ah, foi lá na escola que os meninos me contaram.

domingo, 17 de agosto de 2008

Japon

Estávamos no Plano Piloto e na volta para casa passamos no Centro Cultural Banco do Brasil. Lá sempre tem uma exposição nova, um evento qualquer. Hoje tinha até uma banda de música, Rádio Casual, que, aliás, é um grupo, e faria um espetáculo multimídia. Mas não ficamos, ia demorar. Nosso interesse era a exposição “NIPPON – 100 anos de integração Brasil-Japão”. A japonesada inteira de Brasília estava em peso visitando a exposição. Vimos os quadros de Manabu Mabe e Tomi Ohtake e mais outros. Os traços bem no estilo da arte japonesa, aquelas pinceladas delicadas e atenciosas, um colorido apelativo para o encanto de nossa visão. Mas o que me chama a atenção pode não chamar a atenção nenhuma para outra pessoa. Foi isso que percebi em Lelê. Estava indiferente, não sei se era algo instantâneo, se o olhar infantil dela estava achando infantil o olhar criador dos artistas nipônicos, ao contrário do que vimos há dias atrás na exposição A Utopia da Modernidade. Pra não dizer que nada lhe chamou a atenção ela apreciou o que estava numa sala: painéis pendurados no teto em que uma luz projetada dum canhão no alto da parede provocava efeitos luminosos que se retorciam. Eu não sei nada do significado daquilo, se é que a arte tem algum significado estabelecido para o meu olhar e para o olhar de outrem. Observei Lelê fotografando tudo com seu olhar como se não estivesse captando nada. Para mim Tomi Ohtake e Manabu Mabe são Ohtake Mabe, mas para Lelê eles são Tomi e Manabu. É isso. O feio de Lelê para mim é bonito e versa o vice. Fiquei irritado comigo mesmo porque não trouxemos a máquina fotográfica para registrar esse evento.

sábado, 16 de agosto de 2008

O que Lelê vê na TV

Não li o livro, mas li reportagem no jornal Folha de São Paulo. É o “A Tv que Seu Filho Vê” de Bia Rosemberg, diretora de programas infantis na Tv Cultura por 20 anos. Com essa larga experiência pode-se dizer que ela conhece do traçado. Título tão explícito leva-me a avaliar o que Lelê vê na tv. Nunca parei para saber com ar de preocupação o que Lelê vê na tv, e aí talvez eu esteja sendo relapso por não ter preocupado, então pergunto-me: o que Lelê vê na tv? Bia faz um resumo de seu livro em quatro sugestões e que eu vou tentar apresentar aqui em relação a Lelê.
A primeiro pergunta é: quanto tempo Lelê vê tv? Segundo o Ibope 4,5 horas por dia é o tempo que crianças de 4 a 11 anos assistem à TV no Brasil. Lelê, com 9 anos, não chega a ver esse tanto, afirmo categoricamente. Fazendo as contas, deixa eu ver... Meia hora do seriado Menino Maluquinho na Tv Brasil pela manhã – os programas são repetecos pela milésima vez e mesmo assim ela gosta de ver. E o que ela faz então pela manha? Ela gosta muito de rodar bicicleta, ir ao parquinho, ficar zanzando dentro de casa entretida com qualquer coisa; a tarde ela vai pra escola e fica zerada de tv. A noite vê a novela das nove, uma hora, e as vezes o Jornal Nacional comigo, e depois começa a ver qualquer coisa para adormecer. Somando daqui, diminuindo dali, cai um zero pixel no chão, acrescenta 525 linhas na parede, colore um desenho animado aqui com o controle remoto e o tempo ibopal chega numa média de umas duas horas e meia mais ou menos, acredito.
O segundo passo é saber como usar bem o televisor. A autora afirma que “é preciso selecionar a programação a que a criança tem acesso e orientá-la diante da TV”. Não selecionamos porque já sabemos o que Lelê vê; “que se veja TV com seu filho”. Não a acompanho na novela nem no Chaves; “que a tv deve estimular o diálogo em família, não substituí-lo”. Estamos tranqüilos quanto a isso. Sempre que necessário estamos conversando com ela, ou ela mesma nos perguntando sobre o que acaba de ver. Ela gosta muito de perguntar ; “ver TV em excesso pode prejudicar o rendimento escolar”. E a criança se torna bitolada.
O terceiro passo a autora sugere que façamos, durante uma semana, o registro dos horários em que assistimos à TV e quais os programas para sabermos quantas horas vemos TV e saber a quantidade de programas adultos vistos pela criança, e mais: se a TV foi ligada automaticamente ou com propósito específico e se a TV fica horas ligada sem que estejamos escolhendo uma programação. Confesso: nunca fizemos isso e acho muito difícil fazermos aqui em casa.
O quarto passo Bia Rosenberg sugere ensinar a criança a ver TV. Na faixa etária de 3 a 7 anos: fazer perguntas do tipo “por que você gosta desse programa?”. De 7 a 10 anos, faixa de Lelê, “ensinar a diferença entre ficção dos programas e realidade”. Se vermos os jornais praticamente não haverá essa distinção. “10 anos acima apontar estereótipos usados na tv”.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sonho

·LL: Pai, sabe o que eu sonhei hoje?
DD: Sim.
LL: Sonhei que eu chegava no Mc’Donalds e estava sentado numa mesa o Giovanni – do conjunto mexicanao Rebeldes. Aí eu chegava perto dele e não falava nada, porque estava emocionada. Aí, no dia seguinte eu me reuni com as minhas colegas da Escola Classe, demos as mãos e falamos que tínhamos fé que a gente ia lá no Mc’Donalds de novo e o Geovanni ia estar lá de novo e aí eu ia criar coragem e ia falar com ele.
DD: E falou?
LL: Não!
DD: Ficou sem coragem novamente?
LL: Não, o sonho acabou!

· Lelê engatou tanto no cd das melhores músicas de Raul Seixas que quando a gente entra no carro ela já o coloca, principalmente na música Há Dez Mil Anos Atrás. Diz ela que é a cara de Vitória.
LL: Mãe, eu gosto muito dessa música porque ela tem uma rima muito legal.
Mauri: Qual?
LL: Ele canta assim: “Eu fui criança pra poder dançar ciranda”.
Mauri: E onde está a rima?
LL: Em criança e ciranda!
Mauri: Aí não tem rima, minha filha.
LL: Tem mãe. Olhe: (cantando): eu fui CRIANÇA pra poder dançar CIRANDA!Mauri: Não, filhinha, a letra é assim: “Eu li os símbolos sagrados de Umbanda
Eu fui criança pra poder dançar ciranda”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Correndo

Lelê mostrou-me um presente que ela ganhou da professora da Escola Classe: um estojo de colocar canetas. É que ela, e uma outra colega, falaram pra turma a tabuada de multiplicar, de um a dez, sem errar nada. Tá afiada na multiplicação! Dei-lhe os parabéns, abraços e beijos e Maurinete também. Esse seu afiamento se deve ao período escolar de férias último, julho. Ela aprendeu com a irmã dela, Vanessa. Matemática é coisa muita justa, coisa justa é coisa de soldado, soldado é tema musical de flauta e agora Lelê está treinando aquela música “marcha saldado, cabeça de...”. É dever-música da Escola Parque. Escola Parque é diversão, diversão é bola, bola ficamos jogando golzinho ontem no parquinho daqui do condomínio de pouco mais das sete horas até as quase oito e meia. Chegou a galera de um morador conhecido meu com seus três filhos, o Ilieu, e corremos muito. Lelê adora e até que eu não botei dois palmos de língua pra fora. Perdi o horário dos jornais televisivos mas nem senti falta, não vi como estão os casos de corrupção Brasil afora, nem os resultado das Olimpíadas. A corrupção todo dia tem e até Lelê já está de saco cheio, sabendo eu que esse é um fardo que a geração dela vai ter que engolir se não acontecer um revestrés sério. E eu nem sei se a geração dela, da classe média, vai ter pique e consciência para mudanças. Bem, isso é assunto pra muitos posts e muitos comentários de meu amigo Alcindo que irá me espinafrar, com certeza. Gosto muito de suas provocações. Ah, quanto as Olimpíadas, não vi nenhum entusiasmo por parte de Lelê. A não ser as apresentações de Daiane e Jade, que ela falou que está torcendo por elas. Só. Olimpíadas pra Lelê resumiu-se a isso. Até pensei que ela fosse ficar empolgada com essa refestelança esportiva de músculos humanos jovens. Quando tiver uma olimpíada dos músculos do cérebro verei com mais freqüência.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Palavras

LL: Pai, você sabe qual a palavra que eu acho mais bonita no português?
DD: Não.
LL: É “broca”.
DD: Brooocaaaa!!!
LL: É!
DD: Nossa! E por que essa palavra é a mais bonita pra você?
LL: Porque é o nome do cachorrinho que inventei para uma estória que inventei. (Era uma redação da escola).
DD: E você sabe o significado dela?
LL: Não!
DD: Quer saber? (Aparentemente é uma pergunta óbvia, mas para criança não é. É perfeitamente possível ela dizer que não quer saber).
LL: Quero! (Sempre estou colocando exclamação porque as respostas de Lelê – e das crianças de modo geral – têm entonação, não é uma resposta seca como a maioria das dos adultos).
DD: Broca é aquele instrumento que se coloca naquelas maquininhas para furar parede. Também é aquele ferrinho da máquina do dentista que faz aquele barulhinho de ‘ziiiimmm, ziiiimmmm!’ que o dentista faz quando está tratando dos dentes da clientela.
LL: Ah, sei! E, qual a maior palavra do português?
DD: A maior palavra do idioma português – pensei que era uma pegadinha de piada de português – é ‘anticonstitucionalissimamente’.
LL: Não é.
DD: E qual é?
LL: É - segundo ela – “pneumutramicroscópicosilicovulcanicocromiótico”. (Deve ter aprendido com a galera da escola e eu não tenho a menor idéia se isso está certo ou não).







terça-feira, 12 de agosto de 2008

Não foi dessa vez

Estou rodando no meu potente gol um ponto zero, super máquina, a procura de uma vaga no Setor de Rádio e Televisão Sul para pegar nossas amigas Vilma e Vanessa Felleti, que estão em casa. Era jogo rápido, o tempo de pegar as meninas. Uma senhora estava enrolada para retirar seu A3 de uma vaga por causa de um outro carro atrapalhando sua saída. Ofereço-me para retirá-lo e a senhora aceita. Entro no carro e fico procurando a embreagem. O carro é de cambio automático, não sei como usá-lo, já vou retirando-me do automóvel e a mulher pede para eu ficar e me explica como funciona a maquina. Lelê me pede para entrar no carro, ela nunca andou num carro desses e queria provar. Não permiti porque ela conversa muito, iria me perguntar para que serve cada botão do carro e aquele momento, o carro super apertado naquela vaga, não dava para dar atenção à Lelê. Consigo retirar o automóvel depois de idas e vindas e Lelê insistindo para entrar no carro. Quando vejo, Lelê já está dentro do carro, a mulher permitiu-lhe entrar na máquina. Mas ela queria é estar no carro andando, mesmo naquele rápido tempo, com a finalidade de completar o vigésimo segundo carro em que ela teria andado em toda sua vida. Lelê falou pra mulher essa sua finalidade e ela ficou rindo com o objetivo de Lelê. Dia desses ela estava fazendo as contas de quantos diferentes carros ela já andou. Queria fechar o número de 22 autos. Ficou na expectativa.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Leitura II

Lelê e Maurinete foram a uma livraria do shopping e Lelê viu um livro em que a personagem principal tinha o nome de Letícia e ela queria comprar o livro por isso - "A menina que era outra vez" de Sérgio Klein. Maurinete comprou e ela já começou a ler, e, pelos comentários está gostando. Não li ainda, vou lê-lo. Gosto também de ler seus livros, são os livros que eu não li quando criança e ela agora está me dando a oportunidade de usufruir esse prazer. Também vou querer ler os livros das aulas do Kumon que ela ler. Hoje foi dia de aula e achei muito legal porque quando o aluno chega lá, a primeira coisa a se fazer é pegar um livro e ler. A primeira tarefa é leitura com o intuito acertado de criar o hábito da leitura no alunado. Quem faz português, como eu, a recomendação é que, em casa, se leia com o dicionário ao lado. A leitura também é gradual, ou seja, dos livros infantis até chegar aos clássicos. Tô com a relação de livros sugerida para ler e são cento e noventa e um livros. Para Lelê, matemática, tem jogos interativos bem legais. A gurizada não quer largá-los. O que eu e Lelê achamos interessante é que nós vimos uma aluna, uma menininha de uns quatro anos de idade com sua vivacidade. E é todo mundo numa mesma sala, indiferente de idade ou grau escolar. Aliás, não me foi nem perguntado qual era o meu grau escolar. O tempo voou sem a gente perceber –passou meia hora – ao contrário das aulas de quando a gente está na escola tradicional.

domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos pais

Quando as meninas – Mauri e Lelê – acordaram eu já havia feito o café delas. Lelê acordou mais tarde e foi buscar meu presente. Eu julgava que seria um livro, e seria O Antologia do Pasquim, volume III, mas já sei que ainda não foi publicado. Então o que seria? Lelê procura fazer mistério, chega com o presente em uma das mãos atrás das costas, se aproxima de mim e de repente estica a mão com o presente. Parabéns, muitas felicidades, eu te amo daqui, eu te amo dacolá, beijinhos, abraços, afagos e, enfim, abro o presente. Como estou cursando o Kumon com ela ganhei um cronômetro, instrumento fundamental nas tarefas diárias. Muito bom, fiquei muito satisfeito porque eu já havia falado pra Maurinete que tínhamos que comprar um de imediato. Lelê ainda me deu um chaveiro com sua foto confeccionado pela Escola Classe especialmente para o dia dos pais com uma chave de cartolina de uns vinte centímetros, com um desenho infantil de uma menininha rodeada de coraçõeszinhos e mais o sol, nuvens e árvores, e no verso escrito: “Papai, tenho você sempre guardado em meu coração!! Feliz dia dos Pais!” – e sua assinatura”. À noite estávamos sentados no chão jogando dominó dos bichos, que ela adora. Que mané Fantástico que nada, estávamos juntando as pontas das pedras jacaré com jacaré, leão com leão, macaco com macaco... e descobrindo a alegria do jogo dos bichos da mata que mata nosso tempo sem bicho para nos matar.

sábado, 9 de agosto de 2008

Método Kumon

As informações que obtivemos era de que o método Kumon era bom. Temos até colega que tem filhinha de quatro anos de idade que já começou a estudar nesse processo. Letícia, como já falei dia desses atrás, está precisando estudar matemática de forma a perder o medo desse bicho papão, e vimos que os estudos pela metodologia do professor Toru Kumon iria ser o caminho. Ontem fomos a uma unidade aqui perto de casa e já fizemos o teste para saber em que nível ela entraria. Já estamos conscientes de que, pelo fato de entrar no método Kumon agora que sua nota na escola não iria melhorar. O método é a longo prazo, os resultados vem daqui há algum tempo. O que gosto no Kumon é que ele ensina o aluno a ser autodidata. O aluno estuda sozinho, ganha seu próprio ritmo, depende dele o seu desenvolvimento no curso, mas tem a orientação de um instrutor corrigindo seus deveres. A pessoa ganha ritmo de estudo porque todos os dias, repito, todos os dias o aluno tem dever da disciplina que está estudando. O Kumon ensina matemática, a origem do curso, inglês e o idioma pátrio de cada nação em que haja o curso Kumon. Ontem Letícia estava tensa pra fazer o teste pra entrar no curso, e hoje, no primeiro dia de aula já estava relaxada. Trouxe material pra resolver em casa e já está toda contente com o curso, toda serelepe. Que esse entusiasmo seja para sempre. Amém. Ah, como eu vou ter que ir deixá-la todos os dias de aula – são duas vezes por semana -, para não ficar esperando de bobeira resolvi também fazer o Kumon. Vou estudar português. Fiz também testes e deveres da primeira aula. Gostei muito. Diz a professora que eu fui muito bem nos testes para começar e que, se eu continuar com esse ritmo dentro de um ano concluo.Como é uma unidade nova, ainda não tem o inglês – no próximo ano terá – curso que eu e Maurinete queríamos fazer. Portanto, no próximo ano, a família estará unida no Kumon. Depois voltarei a ‘falar’ mais do Kumon.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Como estou dirigindo?

Oração de uma criança: “Deus, que os maus não sejam tão maus e que os bons não sejam tão chatos. Amém”. As vezes fico a me perguntar se estou sendo um pai chato. Mau, tenho a consciência de que não sou. O ideal e o correto é que Lelê seja questionada por alguém. Mas observando bem nosso cotidiano, e do ponto de vista da criança, nós adultos temos momentos que somos maus e temos momentos que somos bons. Se negamos alguma coisa à criança somos maus, se lhe atendemos somos bons. É assim, da ótica infantil. Não me refiro ao ´mau´ no sentido de agressor física e mentalmente à uma criança, porque aí já se trata de doido, maluco. E há momentos em que é preciso dizer ´não´, um ´não´ benéfico. Considero essa questão – bom/mau - muito do ponto de vista dos pais. Cada criança é uma criança, cada pai/mãe é um pai/mãe. Cada vez mais vamos percebendo que a formação de um filho pelos pais é algo que é bom, é fácil, é difícil, é isso, é aquilo... Isso não é nenhuma novidade, não sou entendido de nada. A boa criação de um filho se dá na relação de convivência e zefini. A boa educação é a convivência gostosa. Os pais ensinam aos filhos e os filhos ensinam aos pais. Não depende de grau escolar, de riqueza, de pobreza, de religião, etecetra e tal. É a pedagogia de Paulo Freire: o professor ensina ao aluno aprendendo e o aluno aprende do professor ensinando. Repito: conviver gostosamente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Feriado

Fui pegar Lelê na Escola Classe, quando ela me viu saiu correndo arrastando sua mochila pra me encontrar na maior alegria.
DD: Que alegria é essa minha filha?
LL: Advinhe!
DD: O Presidente da República morreu e não terá aula amanhã.
LL: Amanhã eu não vou ter aula.
DD: Por quê?
LL: A tia está doente e a tia xis não pode substituir ela porque também está doente.
Vi na alegria dela a alegria que todo brasileiro tem quando há um feriado nacional, e, principalmente, se for um feriado que caia na sexta-feira ou na segunda-feira, ou, melhor ainda se for na quinta-feira pra enforcar a sexta e se ter o prazer de não ver a cara do chefe por uns bons dias e ficar afogado no direito à preguiça com bebida, comida e sono. Lelê se afoga no dormir e brincar, principalmente brincar, um dos pilares dos direitos humanos da criança. Criança que tem seu tempo de brincar na infância cria a base de quatro paredes sólidas em um desenho mágico numa construção lógica por andaimes pungentes. Essa semana deu-me vontade de ouvir a música ´Construção´ de Chico Buarque de Hollanda e ainda ela está ressonando em minha memória.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Resposta ao Dr. Alcindo

No dia 23/7 último escrevi texto neste Blog da Lelê intitulado AGENDA, sobre a orientação que a psicopedagoga deu para que Lelê se organizasse em sua vida para deixar de ser menos relaxada com suas coisas, para que criasse mais responsabilidades no seu dia-a-dia em casa e na escola com seus estudos. Consistia numa folha de isopor constando por escrito em folha de cartolina das tarefas do dia-a-dia de Lelê, desde da hora que acorda até a hora de ir dormir, e, na frente de cada tarefa dessas consta os horários a serem seguidos. Isto vai nos auxiliar de não ficarmos fazendo cobranças constantes para ela, de não ficarmos pegando em seu pé para com suas responsabilidades caseiras e escolares. É só ler o que escrevi lá atrás. Ponto.
O meu amigo Dr. Alcindo, advogado, residente em São Paulo, fez um comentário sobre essa postagem dizendo o seguinte: “Vocês estão massacrando a pobre da menina! Eis a prova... Lelê não sabe, ainda, mas poderia entrar com um Habeas Corpus...” Já ouvi falar muito nesse tal de Hábeas Corpus e, devido minha ignorância jurídica recorro ao dicionário do Aurélio, mesmo sabendo que não é um dicionário jurídico, especializado, mas me dá uma noção correta desse latinismo “habeas cor pos = que tenhas teu corpo” e significa: “garantia constitucional outorgada em favor de quem sofre ou está na iminência de sofrer coação ou violência na sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder”. Arra, diabo, tô lascado. Pelo menos na concepção do Dr. Alcindo. E agora, o que é que eu faço, meu deus do céu! Eu não vou mentir pra Lelê e vou falar pra ela o que significa ‘habeas corpus” e já vou aproveitar para contratar o Dr. Alcindo – acredito que ele fará um precinho camarada pra mim – para ela dar entrada com esse dispositivo jurídico pra processar a mim e a Maurinete. Em contrapartida vou também aproveitar o próprio Dr. Alcindo para fazer nossa defesa. Pode ser inusitado, não sei se isso é legal. Mas antes, dessa bi contratação, tenho algumas considerações a fazer ao Dr. Alcindo, que até poderá ajudá-lo na confecção da acusação e da defesa que ele provavelmente nos fará. É o seguinte: quando o senhor, Dr. Alcindo, era criança, assim, nessa faixa de idade de Lelê, seus pais deixavam que você acordasse lá pelas 10h. ou mais e assim fazia com que você não fizesse seus deveres escolares, ou, se estudasse pela manhã, perderia praticamente todas as aulas porque chegaria muito tarde? Sim, eu sei, Vossa Excelência foi uma criança modelo e seus pais nunca o chamaram a atenção para você almoçar, arrumar sua cama, dar uma geral no seu quarto, tomar remédio, tomar banho, escovar os dentes, dormir mais cedo e não ir dormir a hora que bem entendesse pra não perder aulas no dia seguinte, e por aí vai. O senhor, Dr. Alcindo, acredita que nós estamos massacrando nossa Lelê porque queremos que ela brinque em determinado horário para não perder aulas, que ela goste de comer frutas, que goste de ler, que goste de nos ajudar em alguma atividade caseira, que não deixe de ver televisão – seus programas prediletos, que tenha toda liberdade mas não deixe de fazer suas obrigações cotidianas, como o senhor mesmo teve de estudar, brincar e ser legal como Vossa Excelência o é. Vê aí, espero que Vossa Excelência faça os autos do processo com critério, e, caso eu seja condenado, vou usufruir dessa excrescência da justiça brasileira de ir para uma cela distante da marginália porque tenho diploma superior.

domingo, 3 de agosto de 2008

A Utopia da Modernidade

Depois que almoçamos no apartamento de meu irmão Valdim fomos ver a exposição “A Utopia da Modernidade: de Brasília à Tropicália”. Há dias que eu queria leváLelêlá – a Tropicália nus faz in ventar pa lavras – e fomos eu, Maurinete, Lelê e Vanessa Felleti, amiga capixaba nossa que está hospedada em casa. A exposição está no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. Na área externa a gente já encontra obras sugestivas, como o próprio nome da exposição, A UTOPIA E MODERNIDADE, feito em compensado de tamanho gigante, cor mostarda – cada letra com quase três metros de altura por uns quase dois. Como a própria Tropicália, difícil não chamar a atenção. Dizem que lá de cima, de avião, dá pra se ver essas palavras gigantes. Havia também outros parangolés interativos que Lelê correu logo pra pegá-los, brincar, interagir. A porta de entrada são letras giratórias, e não porta. Só deu pra Lelê. Dentro, fotos em tamanho natural e recortadas no contorno de automóveis da década de 50/60 e de políticos, autoridades, como Juscelino Kubitschek, e candangos – os que botaram a massa pra construir Brasília. Os visitantes tiravam fotos com elas, as fotos. No rodapé de uma parede frases escritas. Móbiles de Athos Bulcão, falecido semana passada aqui em Brasília. Um corredor semi-escuro em que as pessoas de roupas claras se destacavam ao passar nele. Mas o mais legal mesmo era a montagem de um painel de fotos de revistas, jornais e capas de discos da década de 50/60 com todo tipo de gente famosa: Sartre; Pelé; Michel Foucault; uma capa de disco com o desenho do rosto de Nara Leão no início de sua carreira, sensacional; músicos: de Jimi Hendrix a Roberto Carlos; escritores: de Clarice Lispector a Jorge Amado; artistas da moda e com roupas da moda; políticos e o escambau. No centro do painel uma televisão que deveria ser o modelo das primeiras do Brasil, passando imagens em preto e branco daquela época. Nós íamos explicando pra Lelê quem era quem. Getúlio Vargas, depois de saber que ele suicidou, Lelê queria saber porque ele cometeu esse ato. Acabou que saímos da exposição e não explicamos os motivos. Além da tv havia um rádio do tempo de minha bisavó, funcionado, com a música Tropicália de Caetano Veloso. Era a música de fundo quando se entrava no espaço da exposição. Pronto, Lelê deu os primeiros passos na história de Brasília, na de Jusça, como ela se refere a JK, e na do Tropicalismo. Pelo menos os principais nomes do Tropicalismo ela já sabe – Cae/Gil e seus afluentes, como Milton Nascimento e Jorge Bem, a quem ela ama de paixão, como ela diz. Tenho um cd com os principais sucessos de Jorge Bem e ela sabe cantar quase todo de cor.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Leitura

Ih, há quantos dias Lelê já terminou de ler o livro Blog da Cacau. Ela passou pra tia Bel ler. Ela adorou. É um livro de uma linguagem fluente, cativante, próprio pra gente de sua idade, com assuntos de seu interesse feminino. Já falei nisso por aí acima, mas é que quero dizer, falando em leitura, que Lelê parou de ler o livro de Monteiro Lobato, O Minotauro. Acredito que ela sentiu o texto um pouco pesado, por enquanto. Não vou forçar para ela continuar porque sei que mais tarde ou mais cedo ela o retomará. Leitura, para qualquer que seja a fase de vida, tem que ser natural, sem forcação de barra, porém com uma boa orientação, como todo mundo sabe. Muita gente fala que começou a ler já na infância com Monteiro Lobato, que é sensacional, mas, por enquanto Lelê emperrou. Depois do Blog da Cacau ela já leu As Aventura do Avião Vermelho, de Érico Veríssimo. Comprei num sebo. Muita gente só conhece a obra para adultos do gaúcho Érico, mas ele também escreveu, para crianças, Os Três Porquinhos Pobres; Rosa Maria no Castelo Encantado; O Urso-com-Música-na-Barriga; A Vida do Elefante Basílio e Outra Vez os Três Porquinhos. Este primeiro semestre ela está um pouco displicente com a leitura de livros, mesmo porque eu também dei uma relaxada em não ter dado uma devida atenção para essa questão, mas quero retomar seu pique do ano passado.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Felicidade

Tem gente que está feliz porque comeu doce de banana em calda e mudou todo o seu dia, achando São Paulo, com seu agito diário, as mil maravilhas. Tem gente que está feliz por algo de bom que lhe aconteceu. Tem gente que está feliz simplesmente porque está feliz. É o casa de Lelê. Estávamos dentro de meu carro, de volta para casa, depois de uma ida ao supermercado, Lelê se volta pra mim e diz:
LL: Pai, estou muito feliz.
DD: Que bom, filhinha
Em minha racionalidade adulta, achando que para tudo tem que ter explicação lhe indago.
DD: Mas por que você está assim tão feliz?
LL: Por que estou feliz
DD: Mas qual o motivo de sua felicidade?
LL: Por nada. Estou feliz e pronto.
E acato a sua felicidade, aceito sua felicidade, acho legal sua felicidade. Mas aí, meu lado adulto racional, lógico, acredita que descobriu porque Lelê está feliz. É que nesses últimos dias Lelê está contente treinando sua flauta doce, sempre está a treinar as pautas musicais que a Escola Parque lhe deu para treino. As músicas são: Bambalalão, Pastorzinho, Asa Branca, Mulher Rendeira, Bate o Sino, Canção da Alegria (9a. Sinfonia de Beethoven).
Firulilulá pra cá, firulilulá pra cola, em casa, no carro... Repete mil vezes para eu ouvir e saber se estão corretas as notas que meus ouvidos já estão se habituando a decifrar os arranhões que as vezes sofrem quando ela dá uma escorregadela de beiço. Não dizem que a música eleva a alma? Então é por isso que Lelê está feliz, e vou mais longe, acreditando que Lelê não apenas está feliz, e, sim, Lelê é feliz.
E a final, o que é felicidade? Ih, caramba, são tantas as definições para felicidade que vou citar apenas algumas. E começo pela Grécia, o berço da sabedoria. Parece que tudo de sabido nasceu na Grécia. Ah, eu gostaria de que eu, Lelê e Maurinete tivéssemos nascido lá e tivéssemos dados conceitos sobre felicidade, como: ‘feliz é aquele que tem corpo sadio, forte, e uma alma bem formada’, como disse Tales Dudu, e ‘felicidade é a medida do prazer e a proporção da vida’, como disse Lelê Demócrito, e ‘a boa saúde, o feliz êxito da vida e o sucesso da formação individual, que constituem os elementos da felicidade, são inerentes a situação do homem no mundo e entre os outros homens’, como disse Diógenes Mauri.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Trajetória da bola

Essa semana estou indo ao parquinho jogar bola com Lelê. É logo depois que ela chega da escola. Ela veste o calção e blusa do Flu e eu calço meu tênis para dar umas boas corridas. Brincamos de golzinho, e, quando ela faz um, corre para comemorar comigo. É uma hora de bola. Quando termina o jogo já estou com um palmo de língua pra fora, e Lelê está toda saltitando pedindo pra continuarmos jogando. Chega, por hoje chega, não sou mais criança, sou um adulto, portanto, uma morada de criança. O suor escorrendo por meu rosto faz-me perceber que a criança Eduardo já gastou todo seu gás e toda sua ex-energia infantil está no corpo de Lelê, está na pessoa daquele guri correndo pra pegar seu coleguinha. Vejo também as outras crianças brincando cumprindo seus rituais de gastarem suas energias naturais, correndo pro corpo de um adulto em construção. E eu correndo pro corpo de um velho, se assim as intempéries do desse mundo velho de guerra cotidiana assim me permitir, e permitir a essas crianças também que vejo correndo a minha frente. Passando em frente ao parquinho vejo um velhinho caminhando lentamente, fazendo sua caminhada, provavelmente por recomendação médica. “Pai, olha bola!”, gritou Lelê. Agarro com as mãos e é como se a trajetória da bola saísse da criança Lelê, passasse pelo o adulto Eduardo e chegasse até aquele velhinho que ora passava pelo parquinho. É o ciclo da vida.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Palavras


Parece até que Lelê é neta de Aurélio Buarque de Holanda, ou de Antonio Houassi, ou mesmo de Caldas Aulete. Se ela ouve a gente falar uma palavra e não sabe o significado, pergunta logo o que significa. Se for alguém estranho a ela, ela guarda a palavra no seu hd depois nos pergunta, e as vezes a gente tem até esquecido o contexto com esse alguém. Eis algumas palavras que lembrei que ela interrogou:

ZIRCÔNIO. Maurinete falou que o brinco dela parecia com essa pedra preciosa. Segundo o Aurélio a “zirconita é um mineral tetragonal, silicato de zircônio, o qual, quando transparente e límpido, é pedra preciosa”. Eu também não sabia que diabo era zircônio.

PICHAR. Ela falou-me que ouviu uma colega da escola dizer que sua rua era toda pichada, menos a casa dela. Disse que ficou com aquela palavra matutando na cabeça até captar o sentido com a conversa da amiguinha. “São aquelas palavras riscadas nas paredes feita com spray que a gente não sabe o que significa”. Falei-lhe sobre o projeto Picasso não Pichava daqui de Brasília para retirar a rapaziada pichadora dos prédios e a pintar painéis nas paredes que não fossem monumentos públicos.

AMBULANTE. Era uma reportagem na televisão sobre camelôs no Rio de Janeiro. Mal começou a reportagem ela já indagava Maurinete, que deu a explicação léxica, porque a explicação sociológica as imagens por si só fizeram-na entender, o pau comendo solto da polícia sobre os ambulantes. Terminada a reportagem Maurinete fez o complemento das explicações desse drama social.

MACAU. Era também uma reportagem na tv, sobre a cidade que os atletas brasileiros estavam indo se aquecer pras disputas das Olimpíadas de Pequim, e um dos motivos era que ainda existia gente que falava o português. Mas só gente velha, porque os novos já não estavam nessa tradição histórica. Influência do domínio econômico português nos idos de mil e quinhentos e cassetada.
“EU SOU MUITO GRANDE, NÃO CABO NO AVIÃO”. Não, ela não queria o significado, e sim, saber se essa frase estava certa, que ela achava que estava errada. A frase está no livro que ela está lendo As Aventuras do Avião Vermelho, de Érico Veríssimo. Maurinete falou que não estava certa, ela continuou a leitura e descobriu o certo expresso algumas frases adiante. Era um diálogo, e a frase correta, que está no livro é: “NÃO DIGA CABO, CAPITÃO. DIGA CAIBO”.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

De volta às aulas

Ih, coisa besta! Existe algo mais chato do que retornarmos às aulas depois de umas férias, ao trabalho depois de umas férias em uma praia, cerva gelada, os prazeres da comida, o sabor das conversas jogadas fora, as conversas bobas arremessadas ao léu? Digo isso porque acho que Lelê vai achar a maior falta de invenção humana essa tal de “retorno às aulas”, deixando de lado os dias mais lindos – mesmo com toda secura de Brasília, gramado da cidade amarelado por falta d´água de quase cinqüenta dias sem chuvas -, vaguear vagabundo jogando dominó e ´resta um` com tia Bel e a mana Ba, brincando de boneca, de bola, de bicicleta, o chão da terra da casa de tia Dê, as presepadas e estripulias dos cachorrinhos chupisca e pite, a companhia da coleguinha Káka – é isso mesmo: Káka e não Kaká – do parquinho, do tempo parado no relógio quebrado das férias. É, mas não tem jeito, assim caminha a gurizada rumo a adolescência e ao adulto com os compromissos escolares. Eu, você, caro leitor, e todo mundo passamos por esses dissabores do retorno ás aulas. Hoje, na hora do almoço, Lelê já indagava-me: “Pai, será que vai ter gente nova entrando hoje? Será que vai ter dever da escola? Será que ´fulano´ volta hoje? Será que todo mundo gostou das férias?...” E o ciclo burocrático da vida retorna:

DD: Já preparou sua mochila? Colocou o lanche? A van já está passando e você ainda não calçou o tênis?
LL: Pai, me dá dinheiro pre’u pagar a APM. Olhe o caderno quadriculado, já está acabando, pai. Que horas tem aí, pai?
Bip bip!
DD: Chegou a van, Lelê!
LL: Já tô indo! Tchau, pai! Tchau, Neide! Não esquece do caderno quadriculado, pai! Neide, guarde o pente no armário, por favor!
DD: Corre, Lelê, o James já buzinou de novo!

domingo, 27 de julho de 2008

Carta da prima

Em papel de borda colorida com desenho de bruxinho e castelo, desenhos de flores, a prima de Lelê, Maynara, escreve-lhe:
“Viana, Espírito Santo. 11.07.08.
Oi, Lelê, tudo bem? Faz um tempão que não escrevo pra você, né? Aí está tudo bem? Eu espero que sim.
Você está se comportando direitinho? Está indo para a escola, fazendo os deveres certos? Acho que você já sabe, ganhei um celular da Elaine, o número é... Me ligue de vez enquanto. Tô com muita saudades de vocês.
Eu já comecei a fazer o crisma e também estou fazendo infância missionária. É muito legal. Quando você vier aqui eu te levo.
Lelê, nas minhas férias eu vou lá pra Marechal Floriano (ES). A Dani e a Michelle vão também. Você conhece a Michelle, né? Se você não conhece quando você vier aqui eu te apresento.
Lelê, o Gabriel ganhou uma roupa do homem aranha e agora não tira mais do corpo. Ele ficou tão bonitinho na roupa. Você precisa ver.
Lelê, mande beijos e abraços para todos por mim.
Te adoro muitoooo.
Beijos de sua prima mais linda.
Maynara”.

sábado, 26 de julho de 2008

Transportes

Brasília tem uma frota de automóveis nova, tão nova que se aparece algum carro antigo a atenção nossa será despertada. Pois hoje ela viu um e ficou toda encantada com esse fusca verde, velho, até parecia que era uma novidade no mercado automobilístico. Íamos –Ll, Dd, Ba e Bel - passando pela ponte JK e ela apontou pro fusca: “Olha lá, gente, um fusca. Nossa, há quanto tempo que não vejo um fusca”.
Ontem ela viu uma super moto e ficou admirada com sua potência. Era uma dessas motos de pneus mais largos que os de um carro de passeio comum e que o motoqueiro parece que fica todo exibido montado numa bicha dessas. Motoqueiro parece ser gente exibida e não tem medo da morte. Praticamente todo santo dia morre um no trânsito de Brasília. Ouvi no rádio que o mercado de motos de Brasília está aquecido. A cada hora são comercializadas quatro motos.
Como a Ponte JK é nosso caminho obrigatório vemos também um outro transporte, encantador, principalmente nos fins de semana, que são os barcos passeando com a elite do Lago Sul, os boas-vidas de Brasília. O visual é muito bonito aos domingos, parece até que estamos avistando a praia de qualquer capital praieira, com seus barquinhos em uma regata.
Mas chegando em casa Lelê mal sai do carro ela corre e pega sua bike e sai pedalando por nossa rua, cabelos esvoaçantes como as velas de um barco, com a velocidade de uma super moto com o design de um fusca encantador.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Saudades

Saudade. Não sei se é verdade, ou se é firula que dizem que esse sentimento expresso em palavra só existe no português. Bem, só sei que ela parece doer mais nas crianças. No Bar do Júnior, o tradicional bar que freqüentamos – eu/Lelê/Mauri – estávamos também com BaBel (Vanessa e Isabel) e Lelê teve seu sentimento invadido pela saudade que ficará em seu coração depois de amanhã, quando BaBel retornarão para Vitória, e ela disparou a chorar. Ela foi pro colo de Maurinete e recebeu palavras de consolo, de conforto, depois foi pro da irmã até se acalmar. A maquiagem de Ba manchou com lágrima que corria de seu olho. Se hoje está assim imagino como será a despedida. É uma situação dolorosa, mas inevitável. Parece que é o aprendizado da distância que está sendo implantado em Lelê, aprendizado nada confortável da saudade. Os poetas, os trovadores cantam e decantam a saudade, mas seria bom que ficasse apenas com eles, em suas poesias, suas canções, e não com a gente, nesse instante, na mesa de um bar, entristecendo nossos corações.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Agenda

Lelê retorna pra casa. Depois de uma semana com a irmã Ba e a tia Bel, ou seja, BaBel, tá chegando toda cheia de idiomas, toda prosa, toda cheia de si, flanando, porque férias é isso mesmo, a gente tem mesmo é que ficar com as pernas pro ar. Foi à psicopedagoga mostrar a tarefa que ela pediu: fazer numa folha de isopor seu scheduler, isto é, sua agenda de tarefas de seu dia-a-dia. A bichinha vai tem que entrar no esquema da responsa, pois tá deixando a desejar em muita coisa. Segundo a psicopedagoga isso vai ajudá-la a se embrenhar num universo mais organizado e deixando a “irresponsabilidade” de lado. O que ela tem que fazer, desde quando acorda até o fim do dia é mais ou menos isso: acordar, tirar o pijama, tomar café, escovar os dentes, arrumar sua cama, organizar suas coisas fora do lugar, tomar banho para escola, almoçar, ir pra escola, chegar da escola, rodar bicicleta ou brincar de qualquer outra coisa, tomar banho, jantar, fazer deveres escolares, ajudar papai/mamãe, ver televisão, fazer leitura (gibis, livros...), organizar seu material escolar, rezar, dormir. Não necessariamente nessa ordem essas tarefas devem ser feitas e outras que não constam aqui, como as de fim de semana. Já sei que, para algumas pessoas isso se configurará como enquadramento, para outras isso é organização, responsabilidade. Joguem os dados, a sorte está lançada, e o futuro de Lelê também.
23.7.08 - Quarta-feira
Conversa fora

Em torno de duas pizzas quentinhas, três cervejas geladinhas, um litro de coca-cola gelado, Ba, Bel, Lê, Du e Mauri - ah, que falta de um apelido para a frase ficar mais redonda – ficamos a jogar bate-papo no forno do fogão que esquentou as pizzas com as conversas requentadas e inesquecíveis das passagens da vida de Lelê – sabe aquelas situações que os pais falam: “ih, eu fiquei sem saber onde colocar a cabeça! - quando mais criança ainda. As mancadas de crianças não são mancadas, são situações em estado natural que os adultos artificializam por não descer à condição desse estado infantil. O grau de sinceridade da criança, como ficou demonstrado nas peripécias de Lelê, constrange no comportamento enquadrado do adulto, já formatado pela racionalidade. Constrange quando estamos diante de outras pessoas, é lógico, porque por via de regra o adulto fica tentado a dar um corretivo na criança, e esse corretivo é dado de acordo com o temperamento de cada um, com o nível de equilíbrio de cada pai, com a sensatez e a educação de cada pessoa Ih, não sei se me fiz entender, estou demasiado tecnicista, burocratizado na linguagem, ou até mesmo sem saber me explicar. Fui!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Brasil, mostra tua cara!

Esse texto era pra eu ter postado há quase um mês atrás, e só agora o faço.
Lelê retirou de sua mochila o caderno e falou que precisava de minha ajuda para resolver o dever escolar de casa porque não estava entendendo nada. Pensei: “é a matemática dos velhos tempos”.
LL: Não, pai, não é matemática.
DD: Ué, se não é matemática você sabe então perfeitamente resolver.
LL: Não sei pai, tá muito complicado.
DD: Deixa-me ver. Português! Ah, Letícia, deixa de lero-lero e responde, cara!
LL: Num tô entendendo nada, pai, ó, ó.
Peguei o caderno e comecei a ler a tarefa. Era pra responder umas questões de um texto, e esse texto era a letra da música de Cazuza, “Brasil”. Li a letra e as questões e achei que tinha que ajudar Lelê mesmo, porque o bicho tava pegando. Vou até colocar a letra da música aqui pra melhor entender as perguntas que a professora fez para serem respondidas.


BRASIL

Jorge Israel, Nilce Romero, Cazuza
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
A professora começou a tarefa:

“O texto ‘Brasil’ é um texto poético”. Concordo com ela plenamente. Essa letra fez o maior sucesso no Brasil inteiro e sua letra é muito poético, sim. Pelo menos para mim. Já li quase uma meia dúzia de livros de poesias de Carlos Drummond de Andrade e mais alguns de Mário Quintana e outros poetas Não sei se Lelê considera poético esse texto ou sei lá o que for.Vamos a primeira questão que a professora fez:

“1) Dizemos que um texto é poético quando é composto por: poemas, quadrinhas e________ ou ______________”. Perguntei a Lelê se ela sabia essa resposta depois de ter lido todo esse texto mais uma vez para mim, e ela respondeu que não sabia, e lhe respondi que eu também não.
Questão dois:

“2) Por quê o título do texto é ‘Brasil? Você sugere outro título do texto Brasil?”. Ih, caramba, será que Lelê vai entender todo o contexto desse texto falando que o Brasil é uma zorra, uma pátria desimportante? Ela vai ter cabedal cultural pra entender toda essa letra sociológica, política? Aos nove anos de idade dá pra compreender essa letra-tratado do rock nacional? Não, ela não sabia, a não ser que é porque fala no nome Brasil, e foi isso que ela respondeu. As questões três e quatro eu tentei entender como uma só. Vejam as perguntas:

“3) Qual o assunto tratado na letra?
4) Na sua visão, as questões sócio-econômicas faz do nosso país um lugar de grandes diferenças nas questões de sobrevivência?”.

DD: E aí, Lelê?
LL: Aí o quê?
DD: Olha, minha filha, pra responder essa questão sua professora teria que, antes do estudo desse texto, ter indicado pra vocês a leitura do Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire...
LL: Não é Gilberto Gil não, pai?
DD: Não, filhinha, é Gilberto Freire, sociólogo pernambucano. E mais outros autores como Caio Prado Júnior com Formação do Brasil Contemporâneo, Celso Furtado com Formação Econômica do Brasil, O Processo Civilizatório do Darci Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda...
LL: Pára, pai. Você tá viajando?
DD: Não tanto quanto o questionamento de seu dever. Poxa, filha, acho que estão querendo tornar vocês todos, da turma de vocês, em sociólogos, antropólogos...
LL: Em que pai?
DD: Ah, esquece, realmente eu estou viajando na maionese. Vamos a próxima questão.

“5) Procure no dicionário as palavras que você desconhece o significado”. Moleza, ufa! Lelê buscou o Aurélio que é mais simples que o Houaiss e literalmente ela tem dificuldade de manuseá-lo por causa de seu peso. Sem meias palavras, é um dicionário de peso. Quando ela chegar à sexta série já estará com um físico intelectual mais desenvolvido e o consultará. As palavras que ela pesquisou foram: malhar, crédito, eleger, subornar e taba. Próxima pergunta:

“6) O que você entende por:
‘Não nos ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando carros.
Não me elegeram
Chefe ou nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

LL: E aí, pai.
DD: Aí pergunto eu.
LL: Ele gostava de fumar cigarro, era?
DD: Sim, o Cazuza gostava de fumar muitas outras coisas, era um cara inteligente, gostava de viver a vida intensamente.
LL: Mas eu não entendi nada.
DD: Deixa em branco essa questão e diga pra sua professora de que não entendeu.
LL: Mas eu tenho que responder!
DD: Não, não tem que responder, filhinha. A professora vai te bater, vai te prender?
LL: Não.
DD: Então! Ela vai discutir com você e sua turma essa questão que é bem legal. Acredite. Vamos ver a última questão.

“7) Como vive a maioria do povo brasileiro após a exploração de nossas riquezas pelos colonizadores portugueses, a contribuição dos povos indígenas e a ajuda valiosa dos negros? É o país que você gostaria de viver? Você mudaria alguma coisa?

DD: Ih, caramba, agora o bicho pegou de verdade. Acrescente àquela lista de livros que te falei na questão três, pra vocês lerem e responderem corretamente: Os Donos do Poder, volume I e o II também não esqueça, do Raymundo Faoro, mais o Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira de Oliveira Lima, O Abolicionismo de Joaquim Nabuco e, deixa eu ver... Ah, o Capítulos de História Colonial do Capistrano de Abreu, e é bom dar uma fechada numa boa com os Sertões de Euclides da Cunha. Que tal?
LL: Pai, ô pai, acorda!
DD: Ô, filhinha, você acha que sou eu quem deve acordar?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Os brinquedos perguntam

Ontem fomos à casa de Dê, irmã de Maurinete. Lelê está lá, é uma chácara. Lelê estava entregue às delícias da roça, às delícias do mato. Brincando com cachorro, andando de carrocinha empurrada pela tia Bel, andando descalça na terra, se lambuzando na terra. Seu short estava pura terra. Correndo atrás de galinha, do gato, da bola, do tempo que passa rápido. Quarta-feira ela retornará saudosa das delícias da roça. À noite estava eu vendo o Fantástico com Maurinete, deitado no sofá, e a boneca de pano de Lelê estava ao meu lado. Percebi que ela não estava olhando para a tv, estava olhando para mim, com os olhos indagativos de um “oi, você sabe onde está Lelê? Há dias que não a vejo”. Sim, ela indagava com essa flexão verbal correta de “a vejo”. Não lhe respondi verbalmente porque senão Maurinete acharia que eu estava louco, mas também com meu olhar respondi-lhe que Lelê estava na casa de tia Dê e retornaria na próxima quarta-feira. Vi uma das bolas de Lelê no canto da sala, chorosa para ser chutada pelo pé pequeno de Lelê. Hoje vi a nina, a bicicleta de Lelê, escorada na parede do alpendre de casa, triste, pedindo por umas pedaladas de Lelê. Deu-me vontade de sair pela casa e falar a cada um dos brinquedos de Lelê que parassem com essa tristeza por Lelê porque ela já estaria de volta, para felicidade geral da nação, na próxima quarta-feira. Dá até título de filme: “Quarta, o retorno de Lelê”.

domingo, 20 de julho de 2008

O nome de Deus

Marguerite Yourcenar falava que Deus tinha trinta e três nomes, para ela, e era fácil de saber esses nomes. Era só deixar a alma repleta de alegria e enxergar esses nomes. Eram os seguintes – vou citar apenas alguns: o mar da manhã; uma abelha; um cordeirinho recém nascido; o mugido paciente do boi; o perfume do capim; um passarinho no céu; o peixinho que agoniza no papo da garça; um gole de uma bebida fria ou quente; pão; um cego que canta e uma criança enferma; um cavalo correndo livre... A lista continua, e, pensando nisso, a conclusão é óbvia que cada um que acredita em Deus pode elaborar sua própria relação de nomes de Deus. A de Lelê, pois ela acredita em Deus, do ponto de vista infantil, obedecendo o seu gostar e a sua admiração de hoje, aos nove anos de idade, é: beber leite gelado com toddy com três pães de sal; ver desenho animado; rever pela enésima vez um filme que tenha gostado – Pollyana, Luluzinha...-; pegar um objeto e desmontá-lo sem preocupação de remontá-lo; brincar com terra; comer esfirra com refrigerante... Aparentemente, você, caro provável leitor, não esteja enxergando Deus em nenhum desses nomes da relação de Lelê. Só aparentemente. Digo isso porque, como estou próximo a ela, e vejo o encanto em que ela se dá por esses “nomes”, acredito de verdade que tudo isso é o encanto de Deus revestido na visão infantil de uma criança. Preste atenção aos atos de uma criança e você perceberá o nome de Deus, de Deus para os que acreditam nele. Quando ela estiver saindo da pele de criança e vestindo a de adulto a sua sofisticação poderá chegar ao refinamento vocabular e poética de Marguerite Yourcenar

sábado, 19 de julho de 2008

Onde está Lelê?

Como falei ontem Lelê está na casa de sua tia Dê. Nossa casa parece que cresceu com sua ausência temporária. Maurinete pergunta-me se não estou sentindo falta de Lelê. Claro que estou, quem não estaria sentindo falta de sua filha? Ainda bem que ela voltará na próxima semana. As sextas-feiras à noite, como de praxe, eu e Lelê vamos ao apartamento de minha mãe, e ontem ela também me perguntou se não estou sentindo falta de Lelê. Ítalo, meu sobrinho, deu uma passada ontem lá no apartamento de minha mãe, viu que Letícia não estava comigo e perguntou: “cadê a pequenininha?”. Com certeza se eu estivesse passado lá no trabalho de Maurinete, à noite, antes de ir pro apê de minha mãe, como sempre faço, todos iriam perguntar-me por Lelê e se eu estaria sentindo falta dela. Ninguém pode ver-me desgarrado de Lelê que perguntam logo por ela. Estão acostumados a ver-me o tempo todo com ela pra cima e pra baixo debaixo de minha asa. Onde está Wally? Perguntava aquele livrinho que vendeu muito no Brasil, que procurava saber a localização exata de Wally. Onde está Lelê? Na biblioteca fazendo desenhos no paint do computador não está. Onde está Lelê? No home vendo Menino Maluquinho/Chaves/Luluzinha... não está. Onde está Lelê? Na cozinha bebendo leite com toddy e pão, não está. Onde está Lelê? Na rua rodando na bicicleta, não está. Onde está Lelê? Em algum lugar da casa perturbando Neide, não está. Onde está Lelê? Fazendo o dever escolar de casa não está, ufa!, ela está de férias. Onde está Lelê? Lelê está aqui em casa, em todos os cômodos de nosso coração, meu e de Maurinete.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Cartas

Lelê foi à penúltima sessão da psicopedagoga, acompanhada de Vanessa, sua irmã e Bel sua tia, e, pelo que observei, está havendo necessidade de uma melhor comunicação dos familiares de Lelê em Vitória e da gente daqui de Brasília via cartas. Pelo menos é o que nós conversamos – eu, Vanessa, Bel e Lelê, quando estávamos indo pra casa de outra tia de Lelê, Dê. A psicopedagoga aconselhou carta, para melhorar essa comunicação, e estou de conformidade com ela, porque sou um fã de carta no tempo dos e-mails e outros parangolés cibernéticos. E por que cartas? Simples: Lelê melhorará sua caligrafia, que não está legal, pratica redação, melhora sua coordenação motora, estimula a sua paciência em enviar e receber respostas das missivas. Sim, eu sei, e-mail é instantâneo, mas pra que Lelê tem pressa? Pra que essa aceleração do dia-a-dia com seus nove aninhos? Vanessa sugeriu de que pelo menos de quinze em quinze dias trocassem correspondências, o que achei ótimo. Há dois anos, quando Lelê veio morar com a gente, ela recebia e enviava cartas no maior entusiasmo, havia retorno das respostas de tias, primas, colegas e demais familiares. Houve um esfriamento não sei por que, ou se foi porque Lelê está se adaptando tão rápido ao ponto de ir se distanciando do universo de Vitória, e que eu não sei se isso é natural ou está acontecendo algo errado. É lógico que eu não estou esperando que nos aproximemos, nem de longe, do grau de missivista que foi o Otto Lara Resende, e muito menos sonhar em ter a produção de Mário de Andrade. Tô citando esses nomes porque eles foram expoentes epistolares e é bom pensar alto, mesmo que jamais os alcancemos. Em tempo: guardo todas as cartas recebidas de Lelê. Minha correspondência – cartas e posters - também guardo tudo que recebo.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Definições sobre criança

Queria saber o que pensa algumas pessoas sobre crianças e busquei essas definições e dizeres abaixo nos meus livros de minha pequena biblioteca. Ei-las:

Millôr Fernandes. Millôr definitivo: a bíblia do caos, p. 110, Ed. LPM, 1994.
● Criança é muito teimosa e nunca faz o que os mais velhos mandam por isso tem muita que ninguém quer. É muito difícil obrigar uma criança a se lavar, agora a se sujar não é não. (Composição Infantil).
● Uma criança de seis meses, quase toda composta de choro.

J. B. Serra e Gurgel. Dicionário de gíria: modismo lingüístico, o equipamento falado do brasileiro, p. 276, Ed. HPM, 2005.
● Criança. Pessoa forte, alta, grande. “Veja o tamanho da criança”.

Carlos R. Stortini. O Dicionário de Borges, p. 53, Ed. Bertrand Brasil, 1986.
● Os cinco ou seis primeiros anos foram-me insuportáveis, depois comecei a aceitá-los’.

Mário Souto Maior. Dicionário do palavrão e termos afins, p. 58, Ed. Record, 1988.
●Criança. Invertido sexual (Sul).

Plácido e Silva. Vocabulário jurídico, p. 231, Ed. Forense, 1999.
Criança. Considera-se criança a pessoa com até 12 anos incompletos. Ver a Lei nr. 8.069, de 13.7.90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, p. 578, Ed. Nova Fronteira, 1999.
● Criança. Ser humano de pouca idade, menino ou menina. Pessoa ingênua, infantil.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Picles

●Maurinete está fazendo uns canteiros pra plantar chá e algumas ervas medicinais.
LL: Neide, eu pedi pra mamãe plantar um pé de chocolate pra mim.
Neide: O chocolate é feito do cacau.
LL: Mas eu quero é um pé de chocolate e não de cacau.


●Mauri: Lelê, você realmente gosta daqui de Brasília?
Lelê: Você quer que eu diga a verdade?
Mauri: Lógico!
Lelê: Só tem uma coisa que eu não gosto de Brasília.
Mauri: O que é?
Lelê: É a bandeira de Brasília. Ela é muita esquisita. Sei lá! É feia.
Mauri: Mas a do Espírito Santo tem a cor rosa e vai ter que mudar porque as bandeiras só podem ter as cores primárias.
Lelê:

●Será que a Bíblia explica que, quando morre uma criança, e ela com certeza vai pro céu, Deus deixa ela bagunçar o coreto lá no céu, ou as crianças se comportam como um anjinho? O céu permite crianças birrentas? Lá elas têm direito a dar escândalo porque não querem comer chuchu, ou Deus, com sua infinita bondade, dá umas palmadas nelas? Esses são questionamentos de Lelê dentro da alma de Dudu.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pais são para...


Lá pelas quatro horas da madruga Lelê vem ao nosso quarto e chama Maurinete, dizendo que estava com dor de cabeça. Maurinete providencia remédio e Lelê foi acolhida no cafofo da mamãe. Aos poucos ela foi melhorando até adormecer. O frio estava bem acentuado, de pedir um bom agasalho, e nós estávamos bem agasalhados, mas Lelê foi aquecida mais pelo calor materno. Pensando nisso é que a gente chega a conclusão de que os pais:
·São para ficar acordados até os problemas da madrugada dos filhos sejam resolvidos, mesmo que as olheiras apareçam de forma acentuadas no dia seguinte;
·São para receber carinho dos filhos até em momentos que a gente menos espera;
·São para receber aborrecimento dos filhos até quando a gente também está de saco cheio;
·São para receber elogios de outras pessoas sobre seus filhos e se sentirem o dono do mundo de satisfação;
·São para dar bronca quando os filhos merecem e não sentir dó, porque com certeza é porque houve merecimento;
·São para agüentar encheção de saco porque quando criança encheu também o saco dos pais;
·São para sofrer quando filho é reprovado e alegrar-se quando aprovado;
·São para________(o leitor preencha essa lacuna com sua lista).
Tudo isso é óbvio, mas inevitável.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Blog da Cacau

Um dia desses vi uma reportagem no Correio Braziliense sobre o livro Blog da Cacau: Ninguém Merece, de Chantal Herskovic – autora de uma tirinha diária no jornal Estado de Minas - e fiquei interessado em comprá-lo pra Lelêler. Trata-se de um diário de uma menina de onze anos que já começa a enfrentar toda as questões femininas da adolescência. Sábado Maurinete comprou e quando chegou em casa Lelê começou a ler, até esqueceu da novela na tv pra ler o livro, mas depois resolveu ver televisão porque senão o livro iria acabar rápido. Ela está gostando muito e quer ler devagar pra não terminar essa leitura prazerosa. Puxa vida, seria tão legal se todos os livros fossem dessa maneira, a gente querer lê-lo de uma tacada só ou em doses homeopáticas pra não terminar nunca o prazer da leitura. Esse é o primeiro livro pra ela ler nessas férias. Vou ver se encontro outro bem do jeito desse Blog da Cacau. O chato é que Lelê vai ter que ralar um pouco nessas férias porque ela não foi bem em suas provas de matemática – a matemática, como sempre - e português do último bimestre. Hoje mesmo ela vai dar uma estudada em tabuada, - vai ter que entrar no Kumon – a professora orientou para que ela dessa uma caprichada nessa matéria. Lelê gosta da música Eduardo e Mônica de Renato Russo, principalmente quando diz que não puderam viajar nas férias porque o filhinho deles ficou de recuperação, e aí eu emendo pra ‘filhinha’, ficando meio parecido com nossa realidade, a realidade de Eduardo e M.
Há quase um mês Lelê não parava de falar da vinda de sua irmã Vanessa e sua tia Bel, de Vitória, para passar essas férias com ela. Elas chegaram ontem, Lelê tá morta de contente: altos frissons, altos agitos de confraternização, tititi, chamegos, dengos, carinhos.
Como o programado pras férias Lelê acordou tarde, saiu com a irmã e a tia para o parquinho, almoço tarde, estudada na tabuada, filme, pipoca...

domingo, 13 de julho de 2008

O sono da boneca

Vejo Lelê sentada em sua cama e balbuciando pra sua boneca, – um boneca de pano bem bonitinha - chego e ela diz que está falando com a boneca sobre Deus.
DD: E o que é essa conversa?
LL: Eu estava falando pra ela que Deus foi um homem que criou a água, a terra, as matas, criou tudo no mundo. Que ele é um homem que ama ela – a boneca – e que criou adão, e depois criou Eva de sua costela e depois eles tiveram um bebê, e daí foi surgindo mais gente, mais e mais.
Lelê pega nas mãos da boneca, movendo-a e sua cabeça – a da boneca – fica balançando como se estivesse concordando com tudo que Lelê está falando:
LL: Tá vendo, pai, ela está concordando com o que eu estou dizendo. Então, veio um anjo e Deus não gostou dele e ele fez malvadeza e nós não devemos gostar dele, desse anjo mau, porque as coisas ruins vão lá pra baixo. Aí Deus criou Jesus, um homem também muito bom, e tinha Maria, mãe de Jesus, e a gente deve obedecer a ele – balançou a boneca: ouviu?
Eu estava só ouvindo, não fiz nenhuma intervenção. Ela terminou de fazer sua pregação pra boneca e a deitou no colchão dizendo que ela estava com sono, então saí na ponta dos pés com Lelê fazendo sinal de silêncio pra mim com a ponta do dedo indicador no bico da boca. A boneca adormeceu depois de ter aprendido a história do universo sob a ótica de Lelê com toda anuência do papai. Lelê falou que Letícia – foi assim que ela chamou a boneca – iria dormir e só iria acordar às cinco horas da manhã. Com certeza iria sonhar com a origem de Deus e seus mistérios.