Esse texto era pra eu ter postado há quase um mês atrás, e só agora o faço.
Lelê retirou de sua mochila o caderno e falou que precisava de minha ajuda para resolver o dever escolar de casa porque não estava entendendo nada. Pensei: “é a matemática dos velhos tempos”.
LL: Não, pai, não é matemática.
DD: Ué, se não é matemática você sabe então perfeitamente resolver.
LL: Não sei pai, tá muito complicado.
DD: Deixa-me ver. Português! Ah, Letícia, deixa de lero-lero e responde, cara!
LL: Num tô entendendo nada, pai, ó, ó.
Peguei o caderno e comecei a ler a tarefa. Era pra responder umas questões de um texto, e esse texto era a letra da música de Cazuza, “Brasil”. Li a letra e as questões e achei que tinha que ajudar Lelê mesmo, porque o bicho tava pegando. Vou até colocar a letra da música aqui pra melhor entender as perguntas que a professora fez para serem respondidas.
BRASIL
Jorge Israel, Nilce Romero, Cazuza
Lelê retirou de sua mochila o caderno e falou que precisava de minha ajuda para resolver o dever escolar de casa porque não estava entendendo nada. Pensei: “é a matemática dos velhos tempos”.
LL: Não, pai, não é matemática.
DD: Ué, se não é matemática você sabe então perfeitamente resolver.
LL: Não sei pai, tá muito complicado.
DD: Deixa-me ver. Português! Ah, Letícia, deixa de lero-lero e responde, cara!
LL: Num tô entendendo nada, pai, ó, ó.
Peguei o caderno e comecei a ler a tarefa. Era pra responder umas questões de um texto, e esse texto era a letra da música de Cazuza, “Brasil”. Li a letra e as questões e achei que tinha que ajudar Lelê mesmo, porque o bicho tava pegando. Vou até colocar a letra da música aqui pra melhor entender as perguntas que a professora fez para serem respondidas.
BRASIL
Jorge Israel, Nilce Romero, Cazuza
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
A professora começou a tarefa:
“O texto ‘Brasil’ é um texto poético”. Concordo com ela plenamente. Essa letra fez o maior sucesso no Brasil inteiro e sua letra é muito poético, sim. Pelo menos para mim. Já li quase uma meia dúzia de livros de poesias de Carlos Drummond de Andrade e mais alguns de Mário Quintana e outros poetas Não sei se Lelê considera poético esse texto ou sei lá o que for.Vamos a primeira questão que a professora fez:
“1) Dizemos que um texto é poético quando é composto por: poemas, quadrinhas e________ ou ______________”. Perguntei a Lelê se ela sabia essa resposta depois de ter lido todo esse texto mais uma vez para mim, e ela respondeu que não sabia, e lhe respondi que eu também não.
Questão dois:
“2) Por quê o título do texto é ‘Brasil? Você sugere outro título do texto Brasil?”. Ih, caramba, será que Lelê vai entender todo o contexto desse texto falando que o Brasil é uma zorra, uma pátria desimportante? Ela vai ter cabedal cultural pra entender toda essa letra sociológica, política? Aos nove anos de idade dá pra compreender essa letra-tratado do rock nacional? Não, ela não sabia, a não ser que é porque fala no nome Brasil, e foi isso que ela respondeu. As questões três e quatro eu tentei entender como uma só. Vejam as perguntas:
“3) Qual o assunto tratado na letra?
4) Na sua visão, as questões sócio-econômicas faz do nosso país um lugar de grandes diferenças nas questões de sobrevivência?”.
DD: E aí, Lelê?
LL: Aí o quê?
DD: Olha, minha filha, pra responder essa questão sua professora teria que, antes do estudo desse texto, ter indicado pra vocês a leitura do Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire...
LL: Não é Gilberto Gil não, pai?
DD: Não, filhinha, é Gilberto Freire, sociólogo pernambucano. E mais outros autores como Caio Prado Júnior com Formação do Brasil Contemporâneo, Celso Furtado com Formação Econômica do Brasil, O Processo Civilizatório do Darci Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda...
LL: Pára, pai. Você tá viajando?
DD: Não tanto quanto o questionamento de seu dever. Poxa, filha, acho que estão querendo tornar vocês todos, da turma de vocês, em sociólogos, antropólogos...
LL: Em que pai?
DD: Ah, esquece, realmente eu estou viajando na maionese. Vamos a próxima questão.
“5) Procure no dicionário as palavras que você desconhece o significado”. Moleza, ufa! Lelê buscou o Aurélio que é mais simples que o Houaiss e literalmente ela tem dificuldade de manuseá-lo por causa de seu peso. Sem meias palavras, é um dicionário de peso. Quando ela chegar à sexta série já estará com um físico intelectual mais desenvolvido e o consultará. As palavras que ela pesquisou foram: malhar, crédito, eleger, subornar e taba. Próxima pergunta:
“6) O que você entende por:
‘Não nos ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando carros.
Não me elegeram
Chefe ou nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
LL: E aí, pai.
DD: Aí pergunto eu.
LL: Ele gostava de fumar cigarro, era?
DD: Sim, o Cazuza gostava de fumar muitas outras coisas, era um cara inteligente, gostava de viver a vida intensamente.
LL: Mas eu não entendi nada.
DD: Deixa em branco essa questão e diga pra sua professora de que não entendeu.
LL: Mas eu tenho que responder!
DD: Não, não tem que responder, filhinha. A professora vai te bater, vai te prender?
LL: Não.
DD: Então! Ela vai discutir com você e sua turma essa questão que é bem legal. Acredite. Vamos ver a última questão.
“7) Como vive a maioria do povo brasileiro após a exploração de nossas riquezas pelos colonizadores portugueses, a contribuição dos povos indígenas e a ajuda valiosa dos negros? É o país que você gostaria de viver? Você mudaria alguma coisa?
DD: Ih, caramba, agora o bicho pegou de verdade. Acrescente àquela lista de livros que te falei na questão três, pra vocês lerem e responderem corretamente: Os Donos do Poder, volume I e o II também não esqueça, do Raymundo Faoro, mais o Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira de Oliveira Lima, O Abolicionismo de Joaquim Nabuco e, deixa eu ver... Ah, o Capítulos de História Colonial do Capistrano de Abreu, e é bom dar uma fechada numa boa com os Sertões de Euclides da Cunha. Que tal?
LL: Pai, ô pai, acorda!
DD: Ô, filhinha, você acha que sou eu quem deve acordar?
“O texto ‘Brasil’ é um texto poético”. Concordo com ela plenamente. Essa letra fez o maior sucesso no Brasil inteiro e sua letra é muito poético, sim. Pelo menos para mim. Já li quase uma meia dúzia de livros de poesias de Carlos Drummond de Andrade e mais alguns de Mário Quintana e outros poetas Não sei se Lelê considera poético esse texto ou sei lá o que for.Vamos a primeira questão que a professora fez:
“1) Dizemos que um texto é poético quando é composto por: poemas, quadrinhas e________ ou ______________”. Perguntei a Lelê se ela sabia essa resposta depois de ter lido todo esse texto mais uma vez para mim, e ela respondeu que não sabia, e lhe respondi que eu também não.
Questão dois:
“2) Por quê o título do texto é ‘Brasil? Você sugere outro título do texto Brasil?”. Ih, caramba, será que Lelê vai entender todo o contexto desse texto falando que o Brasil é uma zorra, uma pátria desimportante? Ela vai ter cabedal cultural pra entender toda essa letra sociológica, política? Aos nove anos de idade dá pra compreender essa letra-tratado do rock nacional? Não, ela não sabia, a não ser que é porque fala no nome Brasil, e foi isso que ela respondeu. As questões três e quatro eu tentei entender como uma só. Vejam as perguntas:
“3) Qual o assunto tratado na letra?
4) Na sua visão, as questões sócio-econômicas faz do nosso país um lugar de grandes diferenças nas questões de sobrevivência?”.
DD: E aí, Lelê?
LL: Aí o quê?
DD: Olha, minha filha, pra responder essa questão sua professora teria que, antes do estudo desse texto, ter indicado pra vocês a leitura do Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire...
LL: Não é Gilberto Gil não, pai?
DD: Não, filhinha, é Gilberto Freire, sociólogo pernambucano. E mais outros autores como Caio Prado Júnior com Formação do Brasil Contemporâneo, Celso Furtado com Formação Econômica do Brasil, O Processo Civilizatório do Darci Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda...
LL: Pára, pai. Você tá viajando?
DD: Não tanto quanto o questionamento de seu dever. Poxa, filha, acho que estão querendo tornar vocês todos, da turma de vocês, em sociólogos, antropólogos...
LL: Em que pai?
DD: Ah, esquece, realmente eu estou viajando na maionese. Vamos a próxima questão.
“5) Procure no dicionário as palavras que você desconhece o significado”. Moleza, ufa! Lelê buscou o Aurélio que é mais simples que o Houaiss e literalmente ela tem dificuldade de manuseá-lo por causa de seu peso. Sem meias palavras, é um dicionário de peso. Quando ela chegar à sexta série já estará com um físico intelectual mais desenvolvido e o consultará. As palavras que ela pesquisou foram: malhar, crédito, eleger, subornar e taba. Próxima pergunta:
“6) O que você entende por:
‘Não nos ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando carros.
Não me elegeram
Chefe ou nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
LL: E aí, pai.
DD: Aí pergunto eu.
LL: Ele gostava de fumar cigarro, era?
DD: Sim, o Cazuza gostava de fumar muitas outras coisas, era um cara inteligente, gostava de viver a vida intensamente.
LL: Mas eu não entendi nada.
DD: Deixa em branco essa questão e diga pra sua professora de que não entendeu.
LL: Mas eu tenho que responder!
DD: Não, não tem que responder, filhinha. A professora vai te bater, vai te prender?
LL: Não.
DD: Então! Ela vai discutir com você e sua turma essa questão que é bem legal. Acredite. Vamos ver a última questão.
“7) Como vive a maioria do povo brasileiro após a exploração de nossas riquezas pelos colonizadores portugueses, a contribuição dos povos indígenas e a ajuda valiosa dos negros? É o país que você gostaria de viver? Você mudaria alguma coisa?
DD: Ih, caramba, agora o bicho pegou de verdade. Acrescente àquela lista de livros que te falei na questão três, pra vocês lerem e responderem corretamente: Os Donos do Poder, volume I e o II também não esqueça, do Raymundo Faoro, mais o Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira de Oliveira Lima, O Abolicionismo de Joaquim Nabuco e, deixa eu ver... Ah, o Capítulos de História Colonial do Capistrano de Abreu, e é bom dar uma fechada numa boa com os Sertões de Euclides da Cunha. Que tal?
LL: Pai, ô pai, acorda!
DD: Ô, filhinha, você acha que sou eu quem deve acordar?
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