Marguerite Yourcenar falava que Deus tinha trinta e três nomes, para ela, e era fácil de saber esses nomes. Era só deixar a alma repleta de alegria e enxergar esses nomes. Eram os seguintes – vou citar apenas alguns: o mar da manhã; uma abelha; um cordeirinho recém nascido; o mugido paciente do boi; o perfume do capim; um passarinho no céu; o peixinho que agoniza no papo da garça; um gole de uma bebida fria ou quente; pão; um cego que canta e uma criança enferma; um cavalo correndo livre... A lista continua, e, pensando nisso, a conclusão é óbvia que cada um que acredita em Deus pode elaborar sua própria relação de nomes de Deus. A de Lelê, pois ela acredita em Deus, do ponto de vista infantil, obedecendo o seu gostar e a sua admiração de hoje, aos nove anos de idade, é: beber leite gelado com toddy com três pães de sal; ver desenho animado; rever pela enésima vez um filme que tenha gostado – Pollyana, Luluzinha...-; pegar um objeto e desmontá-lo sem preocupação de remontá-lo; brincar com terra; comer esfirra com refrigerante... Aparentemente, você, caro provável leitor, não esteja enxergando Deus em nenhum desses nomes da relação de Lelê. Só aparentemente. Digo isso porque, como estou próximo a ela, e vejo o encanto em que ela se dá por esses “nomes”, acredito de verdade que tudo isso é o encanto de Deus revestido na visão infantil de uma criança. Preste atenção aos atos de uma criança e você perceberá o nome de Deus, de Deus para os que acreditam nele. Quando ela estiver saindo da pele de criança e vestindo a de adulto a sua sofisticação poderá chegar ao refinamento vocabular e poética de Marguerite Yourcenar
domingo, 20 de julho de 2008
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Um comentário:
Belo texto! Aproveite para dar mais uma olhada na Lelê dormindo tranqüilamente, e você verá a face de Deus...
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