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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Chiquinha

Pela manhã Lelê tomou banho e fomos para a aula de Kumon. Penteou o cabelo, que cortou semana passada, e está quase rente as orelhas, e colocou seu estojo de maquiagem na bolsa do material escolar. No carro retirou o estojo e começou a passar batom e se maquiar. Fiquei observando-a baixar o espelho que está no guarda-sol do lado do banco de passageiro e fazer todo processo de maquiagem. Parecia uma moça se enfeitando indo pr’uma guerra, pra guerra das vaidades. Tenho que começar a me preparar que Lelê-menina está se esvaindo e cedendo lugar para Lelê-mocinha. Os trejeitos de passar batom e pressionar lábio inferior com lábio superior se olhando num espelhinho é o sinal de que estamos perdendo Lelê-criança. Dia desses já estava me falando de namoradinho, que estava “ficando”... Esses papos circunstanciais e inevitáveis de quando ela está com a galera da escola. É o processo natural do universo feminino, do caminho sem volta porque os centímetros que ela está crescendo a cada instante - “nossa, como ela está grande!”, “ela só tem nove anos?”, “gente, como o tempo passa rápido!”, admiram nossos colegas - pede passagem para ser um instrumento em que avaliaremos, cresceremos, investigaremos, contentaremos, sofreremos a segunda fase de sua/nossa vida. Cada vez mais ela vai se parecendo com Chiquinha, a personagem de Miguel Paiva, cartunista do jornal O Globo, em que ela trava diálogos e situações independentes com seu pai, o Gatão de Meia Idade, lhe coloca contra a parede avisando que o espírito da modernidade feminina está no ar. Chegamos na sala de aula do Kumon e professora perguntou: “Nossa, como você está linda, vai para alguma festa?”. Lelê ficou encabulada mas a resposta estava no ar de que ela estava indo para a festa do prazer da vida.

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