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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Felicidade

Tem gente que está feliz porque comeu doce de banana em calda e mudou todo o seu dia, achando São Paulo, com seu agito diário, as mil maravilhas. Tem gente que está feliz por algo de bom que lhe aconteceu. Tem gente que está feliz simplesmente porque está feliz. É o casa de Lelê. Estávamos dentro de meu carro, de volta para casa, depois de uma ida ao supermercado, Lelê se volta pra mim e diz:
LL: Pai, estou muito feliz.
DD: Que bom, filhinha
Em minha racionalidade adulta, achando que para tudo tem que ter explicação lhe indago.
DD: Mas por que você está assim tão feliz?
LL: Por que estou feliz
DD: Mas qual o motivo de sua felicidade?
LL: Por nada. Estou feliz e pronto.
E acato a sua felicidade, aceito sua felicidade, acho legal sua felicidade. Mas aí, meu lado adulto racional, lógico, acredita que descobriu porque Lelê está feliz. É que nesses últimos dias Lelê está contente treinando sua flauta doce, sempre está a treinar as pautas musicais que a Escola Parque lhe deu para treino. As músicas são: Bambalalão, Pastorzinho, Asa Branca, Mulher Rendeira, Bate o Sino, Canção da Alegria (9a. Sinfonia de Beethoven).
Firulilulá pra cá, firulilulá pra cola, em casa, no carro... Repete mil vezes para eu ouvir e saber se estão corretas as notas que meus ouvidos já estão se habituando a decifrar os arranhões que as vezes sofrem quando ela dá uma escorregadela de beiço. Não dizem que a música eleva a alma? Então é por isso que Lelê está feliz, e vou mais longe, acreditando que Lelê não apenas está feliz, e, sim, Lelê é feliz.
E a final, o que é felicidade? Ih, caramba, são tantas as definições para felicidade que vou citar apenas algumas. E começo pela Grécia, o berço da sabedoria. Parece que tudo de sabido nasceu na Grécia. Ah, eu gostaria de que eu, Lelê e Maurinete tivéssemos nascido lá e tivéssemos dados conceitos sobre felicidade, como: ‘feliz é aquele que tem corpo sadio, forte, e uma alma bem formada’, como disse Tales Dudu, e ‘felicidade é a medida do prazer e a proporção da vida’, como disse Lelê Demócrito, e ‘a boa saúde, o feliz êxito da vida e o sucesso da formação individual, que constituem os elementos da felicidade, são inerentes a situação do homem no mundo e entre os outros homens’, como disse Diógenes Mauri.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Trajetória da bola

Essa semana estou indo ao parquinho jogar bola com Lelê. É logo depois que ela chega da escola. Ela veste o calção e blusa do Flu e eu calço meu tênis para dar umas boas corridas. Brincamos de golzinho, e, quando ela faz um, corre para comemorar comigo. É uma hora de bola. Quando termina o jogo já estou com um palmo de língua pra fora, e Lelê está toda saltitando pedindo pra continuarmos jogando. Chega, por hoje chega, não sou mais criança, sou um adulto, portanto, uma morada de criança. O suor escorrendo por meu rosto faz-me perceber que a criança Eduardo já gastou todo seu gás e toda sua ex-energia infantil está no corpo de Lelê, está na pessoa daquele guri correndo pra pegar seu coleguinha. Vejo também as outras crianças brincando cumprindo seus rituais de gastarem suas energias naturais, correndo pro corpo de um adulto em construção. E eu correndo pro corpo de um velho, se assim as intempéries do desse mundo velho de guerra cotidiana assim me permitir, e permitir a essas crianças também que vejo correndo a minha frente. Passando em frente ao parquinho vejo um velhinho caminhando lentamente, fazendo sua caminhada, provavelmente por recomendação médica. “Pai, olha bola!”, gritou Lelê. Agarro com as mãos e é como se a trajetória da bola saísse da criança Lelê, passasse pelo o adulto Eduardo e chegasse até aquele velhinho que ora passava pelo parquinho. É o ciclo da vida.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Palavras


Parece até que Lelê é neta de Aurélio Buarque de Holanda, ou de Antonio Houassi, ou mesmo de Caldas Aulete. Se ela ouve a gente falar uma palavra e não sabe o significado, pergunta logo o que significa. Se for alguém estranho a ela, ela guarda a palavra no seu hd depois nos pergunta, e as vezes a gente tem até esquecido o contexto com esse alguém. Eis algumas palavras que lembrei que ela interrogou:

ZIRCÔNIO. Maurinete falou que o brinco dela parecia com essa pedra preciosa. Segundo o Aurélio a “zirconita é um mineral tetragonal, silicato de zircônio, o qual, quando transparente e límpido, é pedra preciosa”. Eu também não sabia que diabo era zircônio.

PICHAR. Ela falou-me que ouviu uma colega da escola dizer que sua rua era toda pichada, menos a casa dela. Disse que ficou com aquela palavra matutando na cabeça até captar o sentido com a conversa da amiguinha. “São aquelas palavras riscadas nas paredes feita com spray que a gente não sabe o que significa”. Falei-lhe sobre o projeto Picasso não Pichava daqui de Brasília para retirar a rapaziada pichadora dos prédios e a pintar painéis nas paredes que não fossem monumentos públicos.

AMBULANTE. Era uma reportagem na televisão sobre camelôs no Rio de Janeiro. Mal começou a reportagem ela já indagava Maurinete, que deu a explicação léxica, porque a explicação sociológica as imagens por si só fizeram-na entender, o pau comendo solto da polícia sobre os ambulantes. Terminada a reportagem Maurinete fez o complemento das explicações desse drama social.

MACAU. Era também uma reportagem na tv, sobre a cidade que os atletas brasileiros estavam indo se aquecer pras disputas das Olimpíadas de Pequim, e um dos motivos era que ainda existia gente que falava o português. Mas só gente velha, porque os novos já não estavam nessa tradição histórica. Influência do domínio econômico português nos idos de mil e quinhentos e cassetada.
“EU SOU MUITO GRANDE, NÃO CABO NO AVIÃO”. Não, ela não queria o significado, e sim, saber se essa frase estava certa, que ela achava que estava errada. A frase está no livro que ela está lendo As Aventuras do Avião Vermelho, de Érico Veríssimo. Maurinete falou que não estava certa, ela continuou a leitura e descobriu o certo expresso algumas frases adiante. Era um diálogo, e a frase correta, que está no livro é: “NÃO DIGA CABO, CAPITÃO. DIGA CAIBO”.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

De volta às aulas

Ih, coisa besta! Existe algo mais chato do que retornarmos às aulas depois de umas férias, ao trabalho depois de umas férias em uma praia, cerva gelada, os prazeres da comida, o sabor das conversas jogadas fora, as conversas bobas arremessadas ao léu? Digo isso porque acho que Lelê vai achar a maior falta de invenção humana essa tal de “retorno às aulas”, deixando de lado os dias mais lindos – mesmo com toda secura de Brasília, gramado da cidade amarelado por falta d´água de quase cinqüenta dias sem chuvas -, vaguear vagabundo jogando dominó e ´resta um` com tia Bel e a mana Ba, brincando de boneca, de bola, de bicicleta, o chão da terra da casa de tia Dê, as presepadas e estripulias dos cachorrinhos chupisca e pite, a companhia da coleguinha Káka – é isso mesmo: Káka e não Kaká – do parquinho, do tempo parado no relógio quebrado das férias. É, mas não tem jeito, assim caminha a gurizada rumo a adolescência e ao adulto com os compromissos escolares. Eu, você, caro leitor, e todo mundo passamos por esses dissabores do retorno ás aulas. Hoje, na hora do almoço, Lelê já indagava-me: “Pai, será que vai ter gente nova entrando hoje? Será que vai ter dever da escola? Será que ´fulano´ volta hoje? Será que todo mundo gostou das férias?...” E o ciclo burocrático da vida retorna:

DD: Já preparou sua mochila? Colocou o lanche? A van já está passando e você ainda não calçou o tênis?
LL: Pai, me dá dinheiro pre’u pagar a APM. Olhe o caderno quadriculado, já está acabando, pai. Que horas tem aí, pai?
Bip bip!
DD: Chegou a van, Lelê!
LL: Já tô indo! Tchau, pai! Tchau, Neide! Não esquece do caderno quadriculado, pai! Neide, guarde o pente no armário, por favor!
DD: Corre, Lelê, o James já buzinou de novo!

domingo, 27 de julho de 2008

Carta da prima

Em papel de borda colorida com desenho de bruxinho e castelo, desenhos de flores, a prima de Lelê, Maynara, escreve-lhe:
“Viana, Espírito Santo. 11.07.08.
Oi, Lelê, tudo bem? Faz um tempão que não escrevo pra você, né? Aí está tudo bem? Eu espero que sim.
Você está se comportando direitinho? Está indo para a escola, fazendo os deveres certos? Acho que você já sabe, ganhei um celular da Elaine, o número é... Me ligue de vez enquanto. Tô com muita saudades de vocês.
Eu já comecei a fazer o crisma e também estou fazendo infância missionária. É muito legal. Quando você vier aqui eu te levo.
Lelê, nas minhas férias eu vou lá pra Marechal Floriano (ES). A Dani e a Michelle vão também. Você conhece a Michelle, né? Se você não conhece quando você vier aqui eu te apresento.
Lelê, o Gabriel ganhou uma roupa do homem aranha e agora não tira mais do corpo. Ele ficou tão bonitinho na roupa. Você precisa ver.
Lelê, mande beijos e abraços para todos por mim.
Te adoro muitoooo.
Beijos de sua prima mais linda.
Maynara”.

sábado, 26 de julho de 2008

Transportes

Brasília tem uma frota de automóveis nova, tão nova que se aparece algum carro antigo a atenção nossa será despertada. Pois hoje ela viu um e ficou toda encantada com esse fusca verde, velho, até parecia que era uma novidade no mercado automobilístico. Íamos –Ll, Dd, Ba e Bel - passando pela ponte JK e ela apontou pro fusca: “Olha lá, gente, um fusca. Nossa, há quanto tempo que não vejo um fusca”.
Ontem ela viu uma super moto e ficou admirada com sua potência. Era uma dessas motos de pneus mais largos que os de um carro de passeio comum e que o motoqueiro parece que fica todo exibido montado numa bicha dessas. Motoqueiro parece ser gente exibida e não tem medo da morte. Praticamente todo santo dia morre um no trânsito de Brasília. Ouvi no rádio que o mercado de motos de Brasília está aquecido. A cada hora são comercializadas quatro motos.
Como a Ponte JK é nosso caminho obrigatório vemos também um outro transporte, encantador, principalmente nos fins de semana, que são os barcos passeando com a elite do Lago Sul, os boas-vidas de Brasília. O visual é muito bonito aos domingos, parece até que estamos avistando a praia de qualquer capital praieira, com seus barquinhos em uma regata.
Mas chegando em casa Lelê mal sai do carro ela corre e pega sua bike e sai pedalando por nossa rua, cabelos esvoaçantes como as velas de um barco, com a velocidade de uma super moto com o design de um fusca encantador.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Saudades

Saudade. Não sei se é verdade, ou se é firula que dizem que esse sentimento expresso em palavra só existe no português. Bem, só sei que ela parece doer mais nas crianças. No Bar do Júnior, o tradicional bar que freqüentamos – eu/Lelê/Mauri – estávamos também com BaBel (Vanessa e Isabel) e Lelê teve seu sentimento invadido pela saudade que ficará em seu coração depois de amanhã, quando BaBel retornarão para Vitória, e ela disparou a chorar. Ela foi pro colo de Maurinete e recebeu palavras de consolo, de conforto, depois foi pro da irmã até se acalmar. A maquiagem de Ba manchou com lágrima que corria de seu olho. Se hoje está assim imagino como será a despedida. É uma situação dolorosa, mas inevitável. Parece que é o aprendizado da distância que está sendo implantado em Lelê, aprendizado nada confortável da saudade. Os poetas, os trovadores cantam e decantam a saudade, mas seria bom que ficasse apenas com eles, em suas poesias, suas canções, e não com a gente, nesse instante, na mesa de um bar, entristecendo nossos corações.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Agenda

Lelê retorna pra casa. Depois de uma semana com a irmã Ba e a tia Bel, ou seja, BaBel, tá chegando toda cheia de idiomas, toda prosa, toda cheia de si, flanando, porque férias é isso mesmo, a gente tem mesmo é que ficar com as pernas pro ar. Foi à psicopedagoga mostrar a tarefa que ela pediu: fazer numa folha de isopor seu scheduler, isto é, sua agenda de tarefas de seu dia-a-dia. A bichinha vai tem que entrar no esquema da responsa, pois tá deixando a desejar em muita coisa. Segundo a psicopedagoga isso vai ajudá-la a se embrenhar num universo mais organizado e deixando a “irresponsabilidade” de lado. O que ela tem que fazer, desde quando acorda até o fim do dia é mais ou menos isso: acordar, tirar o pijama, tomar café, escovar os dentes, arrumar sua cama, organizar suas coisas fora do lugar, tomar banho para escola, almoçar, ir pra escola, chegar da escola, rodar bicicleta ou brincar de qualquer outra coisa, tomar banho, jantar, fazer deveres escolares, ajudar papai/mamãe, ver televisão, fazer leitura (gibis, livros...), organizar seu material escolar, rezar, dormir. Não necessariamente nessa ordem essas tarefas devem ser feitas e outras que não constam aqui, como as de fim de semana. Já sei que, para algumas pessoas isso se configurará como enquadramento, para outras isso é organização, responsabilidade. Joguem os dados, a sorte está lançada, e o futuro de Lelê também.
23.7.08 - Quarta-feira
Conversa fora

Em torno de duas pizzas quentinhas, três cervejas geladinhas, um litro de coca-cola gelado, Ba, Bel, Lê, Du e Mauri - ah, que falta de um apelido para a frase ficar mais redonda – ficamos a jogar bate-papo no forno do fogão que esquentou as pizzas com as conversas requentadas e inesquecíveis das passagens da vida de Lelê – sabe aquelas situações que os pais falam: “ih, eu fiquei sem saber onde colocar a cabeça! - quando mais criança ainda. As mancadas de crianças não são mancadas, são situações em estado natural que os adultos artificializam por não descer à condição desse estado infantil. O grau de sinceridade da criança, como ficou demonstrado nas peripécias de Lelê, constrange no comportamento enquadrado do adulto, já formatado pela racionalidade. Constrange quando estamos diante de outras pessoas, é lógico, porque por via de regra o adulto fica tentado a dar um corretivo na criança, e esse corretivo é dado de acordo com o temperamento de cada um, com o nível de equilíbrio de cada pai, com a sensatez e a educação de cada pessoa Ih, não sei se me fiz entender, estou demasiado tecnicista, burocratizado na linguagem, ou até mesmo sem saber me explicar. Fui!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Brasil, mostra tua cara!

Esse texto era pra eu ter postado há quase um mês atrás, e só agora o faço.
Lelê retirou de sua mochila o caderno e falou que precisava de minha ajuda para resolver o dever escolar de casa porque não estava entendendo nada. Pensei: “é a matemática dos velhos tempos”.
LL: Não, pai, não é matemática.
DD: Ué, se não é matemática você sabe então perfeitamente resolver.
LL: Não sei pai, tá muito complicado.
DD: Deixa-me ver. Português! Ah, Letícia, deixa de lero-lero e responde, cara!
LL: Num tô entendendo nada, pai, ó, ó.
Peguei o caderno e comecei a ler a tarefa. Era pra responder umas questões de um texto, e esse texto era a letra da música de Cazuza, “Brasil”. Li a letra e as questões e achei que tinha que ajudar Lelê mesmo, porque o bicho tava pegando. Vou até colocar a letra da música aqui pra melhor entender as perguntas que a professora fez para serem respondidas.


BRASIL

Jorge Israel, Nilce Romero, Cazuza
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
A professora começou a tarefa:

“O texto ‘Brasil’ é um texto poético”. Concordo com ela plenamente. Essa letra fez o maior sucesso no Brasil inteiro e sua letra é muito poético, sim. Pelo menos para mim. Já li quase uma meia dúzia de livros de poesias de Carlos Drummond de Andrade e mais alguns de Mário Quintana e outros poetas Não sei se Lelê considera poético esse texto ou sei lá o que for.Vamos a primeira questão que a professora fez:

“1) Dizemos que um texto é poético quando é composto por: poemas, quadrinhas e________ ou ______________”. Perguntei a Lelê se ela sabia essa resposta depois de ter lido todo esse texto mais uma vez para mim, e ela respondeu que não sabia, e lhe respondi que eu também não.
Questão dois:

“2) Por quê o título do texto é ‘Brasil? Você sugere outro título do texto Brasil?”. Ih, caramba, será que Lelê vai entender todo o contexto desse texto falando que o Brasil é uma zorra, uma pátria desimportante? Ela vai ter cabedal cultural pra entender toda essa letra sociológica, política? Aos nove anos de idade dá pra compreender essa letra-tratado do rock nacional? Não, ela não sabia, a não ser que é porque fala no nome Brasil, e foi isso que ela respondeu. As questões três e quatro eu tentei entender como uma só. Vejam as perguntas:

“3) Qual o assunto tratado na letra?
4) Na sua visão, as questões sócio-econômicas faz do nosso país um lugar de grandes diferenças nas questões de sobrevivência?”.

DD: E aí, Lelê?
LL: Aí o quê?
DD: Olha, minha filha, pra responder essa questão sua professora teria que, antes do estudo desse texto, ter indicado pra vocês a leitura do Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire...
LL: Não é Gilberto Gil não, pai?
DD: Não, filhinha, é Gilberto Freire, sociólogo pernambucano. E mais outros autores como Caio Prado Júnior com Formação do Brasil Contemporâneo, Celso Furtado com Formação Econômica do Brasil, O Processo Civilizatório do Darci Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda...
LL: Pára, pai. Você tá viajando?
DD: Não tanto quanto o questionamento de seu dever. Poxa, filha, acho que estão querendo tornar vocês todos, da turma de vocês, em sociólogos, antropólogos...
LL: Em que pai?
DD: Ah, esquece, realmente eu estou viajando na maionese. Vamos a próxima questão.

“5) Procure no dicionário as palavras que você desconhece o significado”. Moleza, ufa! Lelê buscou o Aurélio que é mais simples que o Houaiss e literalmente ela tem dificuldade de manuseá-lo por causa de seu peso. Sem meias palavras, é um dicionário de peso. Quando ela chegar à sexta série já estará com um físico intelectual mais desenvolvido e o consultará. As palavras que ela pesquisou foram: malhar, crédito, eleger, subornar e taba. Próxima pergunta:

“6) O que você entende por:
‘Não nos ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando carros.
Não me elegeram
Chefe ou nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

LL: E aí, pai.
DD: Aí pergunto eu.
LL: Ele gostava de fumar cigarro, era?
DD: Sim, o Cazuza gostava de fumar muitas outras coisas, era um cara inteligente, gostava de viver a vida intensamente.
LL: Mas eu não entendi nada.
DD: Deixa em branco essa questão e diga pra sua professora de que não entendeu.
LL: Mas eu tenho que responder!
DD: Não, não tem que responder, filhinha. A professora vai te bater, vai te prender?
LL: Não.
DD: Então! Ela vai discutir com você e sua turma essa questão que é bem legal. Acredite. Vamos ver a última questão.

“7) Como vive a maioria do povo brasileiro após a exploração de nossas riquezas pelos colonizadores portugueses, a contribuição dos povos indígenas e a ajuda valiosa dos negros? É o país que você gostaria de viver? Você mudaria alguma coisa?

DD: Ih, caramba, agora o bicho pegou de verdade. Acrescente àquela lista de livros que te falei na questão três, pra vocês lerem e responderem corretamente: Os Donos do Poder, volume I e o II também não esqueça, do Raymundo Faoro, mais o Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira de Oliveira Lima, O Abolicionismo de Joaquim Nabuco e, deixa eu ver... Ah, o Capítulos de História Colonial do Capistrano de Abreu, e é bom dar uma fechada numa boa com os Sertões de Euclides da Cunha. Que tal?
LL: Pai, ô pai, acorda!
DD: Ô, filhinha, você acha que sou eu quem deve acordar?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Os brinquedos perguntam

Ontem fomos à casa de Dê, irmã de Maurinete. Lelê está lá, é uma chácara. Lelê estava entregue às delícias da roça, às delícias do mato. Brincando com cachorro, andando de carrocinha empurrada pela tia Bel, andando descalça na terra, se lambuzando na terra. Seu short estava pura terra. Correndo atrás de galinha, do gato, da bola, do tempo que passa rápido. Quarta-feira ela retornará saudosa das delícias da roça. À noite estava eu vendo o Fantástico com Maurinete, deitado no sofá, e a boneca de pano de Lelê estava ao meu lado. Percebi que ela não estava olhando para a tv, estava olhando para mim, com os olhos indagativos de um “oi, você sabe onde está Lelê? Há dias que não a vejo”. Sim, ela indagava com essa flexão verbal correta de “a vejo”. Não lhe respondi verbalmente porque senão Maurinete acharia que eu estava louco, mas também com meu olhar respondi-lhe que Lelê estava na casa de tia Dê e retornaria na próxima quarta-feira. Vi uma das bolas de Lelê no canto da sala, chorosa para ser chutada pelo pé pequeno de Lelê. Hoje vi a nina, a bicicleta de Lelê, escorada na parede do alpendre de casa, triste, pedindo por umas pedaladas de Lelê. Deu-me vontade de sair pela casa e falar a cada um dos brinquedos de Lelê que parassem com essa tristeza por Lelê porque ela já estaria de volta, para felicidade geral da nação, na próxima quarta-feira. Dá até título de filme: “Quarta, o retorno de Lelê”.

domingo, 20 de julho de 2008

O nome de Deus

Marguerite Yourcenar falava que Deus tinha trinta e três nomes, para ela, e era fácil de saber esses nomes. Era só deixar a alma repleta de alegria e enxergar esses nomes. Eram os seguintes – vou citar apenas alguns: o mar da manhã; uma abelha; um cordeirinho recém nascido; o mugido paciente do boi; o perfume do capim; um passarinho no céu; o peixinho que agoniza no papo da garça; um gole de uma bebida fria ou quente; pão; um cego que canta e uma criança enferma; um cavalo correndo livre... A lista continua, e, pensando nisso, a conclusão é óbvia que cada um que acredita em Deus pode elaborar sua própria relação de nomes de Deus. A de Lelê, pois ela acredita em Deus, do ponto de vista infantil, obedecendo o seu gostar e a sua admiração de hoje, aos nove anos de idade, é: beber leite gelado com toddy com três pães de sal; ver desenho animado; rever pela enésima vez um filme que tenha gostado – Pollyana, Luluzinha...-; pegar um objeto e desmontá-lo sem preocupação de remontá-lo; brincar com terra; comer esfirra com refrigerante... Aparentemente, você, caro provável leitor, não esteja enxergando Deus em nenhum desses nomes da relação de Lelê. Só aparentemente. Digo isso porque, como estou próximo a ela, e vejo o encanto em que ela se dá por esses “nomes”, acredito de verdade que tudo isso é o encanto de Deus revestido na visão infantil de uma criança. Preste atenção aos atos de uma criança e você perceberá o nome de Deus, de Deus para os que acreditam nele. Quando ela estiver saindo da pele de criança e vestindo a de adulto a sua sofisticação poderá chegar ao refinamento vocabular e poética de Marguerite Yourcenar

sábado, 19 de julho de 2008

Onde está Lelê?

Como falei ontem Lelê está na casa de sua tia Dê. Nossa casa parece que cresceu com sua ausência temporária. Maurinete pergunta-me se não estou sentindo falta de Lelê. Claro que estou, quem não estaria sentindo falta de sua filha? Ainda bem que ela voltará na próxima semana. As sextas-feiras à noite, como de praxe, eu e Lelê vamos ao apartamento de minha mãe, e ontem ela também me perguntou se não estou sentindo falta de Lelê. Ítalo, meu sobrinho, deu uma passada ontem lá no apartamento de minha mãe, viu que Letícia não estava comigo e perguntou: “cadê a pequenininha?”. Com certeza se eu estivesse passado lá no trabalho de Maurinete, à noite, antes de ir pro apê de minha mãe, como sempre faço, todos iriam perguntar-me por Lelê e se eu estaria sentindo falta dela. Ninguém pode ver-me desgarrado de Lelê que perguntam logo por ela. Estão acostumados a ver-me o tempo todo com ela pra cima e pra baixo debaixo de minha asa. Onde está Wally? Perguntava aquele livrinho que vendeu muito no Brasil, que procurava saber a localização exata de Wally. Onde está Lelê? Na biblioteca fazendo desenhos no paint do computador não está. Onde está Lelê? No home vendo Menino Maluquinho/Chaves/Luluzinha... não está. Onde está Lelê? Na cozinha bebendo leite com toddy e pão, não está. Onde está Lelê? Na rua rodando na bicicleta, não está. Onde está Lelê? Em algum lugar da casa perturbando Neide, não está. Onde está Lelê? Fazendo o dever escolar de casa não está, ufa!, ela está de férias. Onde está Lelê? Lelê está aqui em casa, em todos os cômodos de nosso coração, meu e de Maurinete.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Cartas

Lelê foi à penúltima sessão da psicopedagoga, acompanhada de Vanessa, sua irmã e Bel sua tia, e, pelo que observei, está havendo necessidade de uma melhor comunicação dos familiares de Lelê em Vitória e da gente daqui de Brasília via cartas. Pelo menos é o que nós conversamos – eu, Vanessa, Bel e Lelê, quando estávamos indo pra casa de outra tia de Lelê, Dê. A psicopedagoga aconselhou carta, para melhorar essa comunicação, e estou de conformidade com ela, porque sou um fã de carta no tempo dos e-mails e outros parangolés cibernéticos. E por que cartas? Simples: Lelê melhorará sua caligrafia, que não está legal, pratica redação, melhora sua coordenação motora, estimula a sua paciência em enviar e receber respostas das missivas. Sim, eu sei, e-mail é instantâneo, mas pra que Lelê tem pressa? Pra que essa aceleração do dia-a-dia com seus nove aninhos? Vanessa sugeriu de que pelo menos de quinze em quinze dias trocassem correspondências, o que achei ótimo. Há dois anos, quando Lelê veio morar com a gente, ela recebia e enviava cartas no maior entusiasmo, havia retorno das respostas de tias, primas, colegas e demais familiares. Houve um esfriamento não sei por que, ou se foi porque Lelê está se adaptando tão rápido ao ponto de ir se distanciando do universo de Vitória, e que eu não sei se isso é natural ou está acontecendo algo errado. É lógico que eu não estou esperando que nos aproximemos, nem de longe, do grau de missivista que foi o Otto Lara Resende, e muito menos sonhar em ter a produção de Mário de Andrade. Tô citando esses nomes porque eles foram expoentes epistolares e é bom pensar alto, mesmo que jamais os alcancemos. Em tempo: guardo todas as cartas recebidas de Lelê. Minha correspondência – cartas e posters - também guardo tudo que recebo.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Definições sobre criança

Queria saber o que pensa algumas pessoas sobre crianças e busquei essas definições e dizeres abaixo nos meus livros de minha pequena biblioteca. Ei-las:

Millôr Fernandes. Millôr definitivo: a bíblia do caos, p. 110, Ed. LPM, 1994.
● Criança é muito teimosa e nunca faz o que os mais velhos mandam por isso tem muita que ninguém quer. É muito difícil obrigar uma criança a se lavar, agora a se sujar não é não. (Composição Infantil).
● Uma criança de seis meses, quase toda composta de choro.

J. B. Serra e Gurgel. Dicionário de gíria: modismo lingüístico, o equipamento falado do brasileiro, p. 276, Ed. HPM, 2005.
● Criança. Pessoa forte, alta, grande. “Veja o tamanho da criança”.

Carlos R. Stortini. O Dicionário de Borges, p. 53, Ed. Bertrand Brasil, 1986.
● Os cinco ou seis primeiros anos foram-me insuportáveis, depois comecei a aceitá-los’.

Mário Souto Maior. Dicionário do palavrão e termos afins, p. 58, Ed. Record, 1988.
●Criança. Invertido sexual (Sul).

Plácido e Silva. Vocabulário jurídico, p. 231, Ed. Forense, 1999.
Criança. Considera-se criança a pessoa com até 12 anos incompletos. Ver a Lei nr. 8.069, de 13.7.90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, p. 578, Ed. Nova Fronteira, 1999.
● Criança. Ser humano de pouca idade, menino ou menina. Pessoa ingênua, infantil.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Picles

●Maurinete está fazendo uns canteiros pra plantar chá e algumas ervas medicinais.
LL: Neide, eu pedi pra mamãe plantar um pé de chocolate pra mim.
Neide: O chocolate é feito do cacau.
LL: Mas eu quero é um pé de chocolate e não de cacau.


●Mauri: Lelê, você realmente gosta daqui de Brasília?
Lelê: Você quer que eu diga a verdade?
Mauri: Lógico!
Lelê: Só tem uma coisa que eu não gosto de Brasília.
Mauri: O que é?
Lelê: É a bandeira de Brasília. Ela é muita esquisita. Sei lá! É feia.
Mauri: Mas a do Espírito Santo tem a cor rosa e vai ter que mudar porque as bandeiras só podem ter as cores primárias.
Lelê:

●Será que a Bíblia explica que, quando morre uma criança, e ela com certeza vai pro céu, Deus deixa ela bagunçar o coreto lá no céu, ou as crianças se comportam como um anjinho? O céu permite crianças birrentas? Lá elas têm direito a dar escândalo porque não querem comer chuchu, ou Deus, com sua infinita bondade, dá umas palmadas nelas? Esses são questionamentos de Lelê dentro da alma de Dudu.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pais são para...


Lá pelas quatro horas da madruga Lelê vem ao nosso quarto e chama Maurinete, dizendo que estava com dor de cabeça. Maurinete providencia remédio e Lelê foi acolhida no cafofo da mamãe. Aos poucos ela foi melhorando até adormecer. O frio estava bem acentuado, de pedir um bom agasalho, e nós estávamos bem agasalhados, mas Lelê foi aquecida mais pelo calor materno. Pensando nisso é que a gente chega a conclusão de que os pais:
·São para ficar acordados até os problemas da madrugada dos filhos sejam resolvidos, mesmo que as olheiras apareçam de forma acentuadas no dia seguinte;
·São para receber carinho dos filhos até em momentos que a gente menos espera;
·São para receber aborrecimento dos filhos até quando a gente também está de saco cheio;
·São para receber elogios de outras pessoas sobre seus filhos e se sentirem o dono do mundo de satisfação;
·São para dar bronca quando os filhos merecem e não sentir dó, porque com certeza é porque houve merecimento;
·São para agüentar encheção de saco porque quando criança encheu também o saco dos pais;
·São para sofrer quando filho é reprovado e alegrar-se quando aprovado;
·São para________(o leitor preencha essa lacuna com sua lista).
Tudo isso é óbvio, mas inevitável.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Blog da Cacau

Um dia desses vi uma reportagem no Correio Braziliense sobre o livro Blog da Cacau: Ninguém Merece, de Chantal Herskovic – autora de uma tirinha diária no jornal Estado de Minas - e fiquei interessado em comprá-lo pra Lelêler. Trata-se de um diário de uma menina de onze anos que já começa a enfrentar toda as questões femininas da adolescência. Sábado Maurinete comprou e quando chegou em casa Lelê começou a ler, até esqueceu da novela na tv pra ler o livro, mas depois resolveu ver televisão porque senão o livro iria acabar rápido. Ela está gostando muito e quer ler devagar pra não terminar essa leitura prazerosa. Puxa vida, seria tão legal se todos os livros fossem dessa maneira, a gente querer lê-lo de uma tacada só ou em doses homeopáticas pra não terminar nunca o prazer da leitura. Esse é o primeiro livro pra ela ler nessas férias. Vou ver se encontro outro bem do jeito desse Blog da Cacau. O chato é que Lelê vai ter que ralar um pouco nessas férias porque ela não foi bem em suas provas de matemática – a matemática, como sempre - e português do último bimestre. Hoje mesmo ela vai dar uma estudada em tabuada, - vai ter que entrar no Kumon – a professora orientou para que ela dessa uma caprichada nessa matéria. Lelê gosta da música Eduardo e Mônica de Renato Russo, principalmente quando diz que não puderam viajar nas férias porque o filhinho deles ficou de recuperação, e aí eu emendo pra ‘filhinha’, ficando meio parecido com nossa realidade, a realidade de Eduardo e M.
Há quase um mês Lelê não parava de falar da vinda de sua irmã Vanessa e sua tia Bel, de Vitória, para passar essas férias com ela. Elas chegaram ontem, Lelê tá morta de contente: altos frissons, altos agitos de confraternização, tititi, chamegos, dengos, carinhos.
Como o programado pras férias Lelê acordou tarde, saiu com a irmã e a tia para o parquinho, almoço tarde, estudada na tabuada, filme, pipoca...

domingo, 13 de julho de 2008

O sono da boneca

Vejo Lelê sentada em sua cama e balbuciando pra sua boneca, – um boneca de pano bem bonitinha - chego e ela diz que está falando com a boneca sobre Deus.
DD: E o que é essa conversa?
LL: Eu estava falando pra ela que Deus foi um homem que criou a água, a terra, as matas, criou tudo no mundo. Que ele é um homem que ama ela – a boneca – e que criou adão, e depois criou Eva de sua costela e depois eles tiveram um bebê, e daí foi surgindo mais gente, mais e mais.
Lelê pega nas mãos da boneca, movendo-a e sua cabeça – a da boneca – fica balançando como se estivesse concordando com tudo que Lelê está falando:
LL: Tá vendo, pai, ela está concordando com o que eu estou dizendo. Então, veio um anjo e Deus não gostou dele e ele fez malvadeza e nós não devemos gostar dele, desse anjo mau, porque as coisas ruins vão lá pra baixo. Aí Deus criou Jesus, um homem também muito bom, e tinha Maria, mãe de Jesus, e a gente deve obedecer a ele – balançou a boneca: ouviu?
Eu estava só ouvindo, não fiz nenhuma intervenção. Ela terminou de fazer sua pregação pra boneca e a deitou no colchão dizendo que ela estava com sono, então saí na ponta dos pés com Lelê fazendo sinal de silêncio pra mim com a ponta do dedo indicador no bico da boca. A boneca adormeceu depois de ter aprendido a história do universo sob a ótica de Lelê com toda anuência do papai. Lelê falou que Letícia – foi assim que ela chamou a boneca – iria dormir e só iria acordar às cinco horas da manhã. Com certeza iria sonhar com a origem de Deus e seus mistérios.

sábado, 12 de julho de 2008

Gugu-dadá

Além deste diário escrevo um blog de artigos que tento ser engraçadinho, moderninho e chatinho. É o “oobservador” – http://www.blogedups.blogspot.com.br/ Acredito que meu amigo Alcindo seja um dos raros leitores dele, se não for o único. Escrevo porque gosto de escrever, mas escrevo de forma irregular, irregularíssima, sem compromisso, e, já no blog de minha filha, que criei há cerca de três meses, escrevo de forma regular, regularíssima, sem falhar um dia, que também escrevo com muitíssimo prazer. O Alcindo gosta mais do que escrevo para o “oobservador” porque são artigos racionais, intelectualizados, e ele fez uma observação, ou uma crítica aparente, ou velada, sei lá, porque eu estava dando atenção demais ao Leledudu em detrimento do “oobservador”, e escreveu que agora só escrevo ‘gugu-dadá’ – alusão ao mundo infantil de minha filha que discorro diariamente - motivo para o título desta postagem. Bem, feita esse preâmbulo, inicio o que quero realmente escrever.
É preciso estar conectado ao cotidiano de um filho(a) para dar-lhe muita atenção, do contrário, o tempo passa e você não vê que aquele ser que está ao seu lado no dia-a-dia é seu filho. Há alguns anos lembro-me que li num jornal que um ministro francês não abria mão de pegar sua filha na escola, podia estar em qualquer compromisso oficial, mas o horário de buscar a filha era sagrado.
Lendo matéria – recorte que Alcindo enviou-me - da revista Piauí de junho vejo duas matérias de pais também envolvidos na atenção a seus filhos. O empresário vídeo maker, o gaúcho Roberto de Moraes, era um workaholic de carteirinha e um certo dia resolveu dar um basta em sua correria disposto a dar atenção a sua família e agora tem tempo para enxergar que brincadeiras simples e sem mistério não tem preço, como, por exemplo, brincar de esconde-esconde com sua filhinha de 3 anos. Percebeu que “não é preciso nenhum evento especial, nem esperar as férias dos sonhos ou um grande acontecimento, para que sua vida se encha de significado e prazer”.
Outro exemplo é do jornalista argentino, criador do jornal Crítica de la Argentina, Jorge Lanata – em 2005 um pesquisa mostrou que ele era a terceira personalidade mais confiável da Argentina -, com uma vida agitadíssima, cheio de compromissos, mas não dispensa atenção a sua filha de 3 anos. Em meio a sua agenda de uma tarde de maio, constava, entre tantos compromissos, participação de reunião na escola da filha e depois retornaria a seus milhares de compromissos jornalísticos e empresariais.
Acredito que os exemplos dos pais que abrem mão de muitos afazeres profissionais para se dedicarem aos filhos são muitos, se dedicando a filosofia do gugu-dadá.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Religião

Por formação, Lelê e Maurinete são católicas, assistem missa regularmente aos domingos. Por deformação, ou por opção já crescidinho, não tenho religião. Lelê, vez por outra, quando dou uma derrapagem em minhas palavras, ou seja, quando falo alguma besteira que desagrade quem tem uma religião, ela puxa-me a orelha e diz, porque já ouviu alguém falar: “você precisa ter uma religião!”, ou algo no sentido de que me falta Deus no coração. Aí eu falo com ela:
DD: Você me acha mal?
LL: Não.
DD: Você já me viu desejando o mal para as pessoas?
LL: Não.
DD: Então você acha que Deus não gosta de mim?
LL: Não.
DD: Então!
É lógico que ainda é prematuro para que essa questão sobre religião amadureça em sua cabeça. Quando ela atingir o estado da razão de adulto, vamos ver se ela será católica, católica praticante ou assumirá sua fé por outra religião ou por religião nenhuma. Nem Maurinete, nem eu, nem ninguém, julgo, saberemos qual será seu futuro religioso, mesmo ela freqüentando catecismo.
Rubens Alves, psicanalista, um grande contador de histórias, um intelectual refinado, para ele “há muitos deuses, cada um com a cara e o coração daquele que o tem dentro do peito. O Deus de São Francisco não era o Deus de Torquemada. São Francisco usava o fogo do seu Deus para aquecer sua alma. Torquemada usava o fogo de seu Deus para churrasquear hereges em fogueiras que eram a diversão do povo”. De forma poética ele – que já foi pregador – se diz não saber se acredita em Deus, mas se acha um construtor de altares.
Mas esse papão tá muito complicado para Lelê entender. Nem os adultos se entendem por causa de religião imagina eu querer construir uma razão religiosa para uma criança de nove anos. Apenas desejo que ela seja uma pessoa do bem, sem complicações de credo político-religioso-afetivo. Não temos bola de cristal e o que eu quero agora, neste instante, é pegar uma bola de futebol e ir brincar com ela. Narrando um jogo: peguei a bola, matei no peito, dei um passe para Deus que também matou no peito e passou de primeira com a ponta do pé direito para Lelê que chutou também de prima para o bom senso e foi gooooooollllll!!!! Que gol bonito, minha gente, um gol de tática equilibrada, sem chutão, na medida certa, decorrente de uma jogada que veio lá de trás, até parece que tudo foi discutido até atingir o objetivo final, um gol laço pra ser elogiado, tomara que ela continue dessa forma, sempre usando o ponto de equilíbrio para desconsertar os adversários. É isso aí, minha gente!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Porque estou de férias:

Vinícius de Moraes escreveu um poema, cujo título não sei, em que ele fala: “porque hoje é sábado: não sei o que, não sei o que, etc.; porque hoje é sábado...”. Aqui copio o estilo desse poema com o início das férias de Lelê a partir de hoje.

Porque estou de férias
Quebrarei com uma marretada o meu relógio biológico
Porque estou de férias
Comerei dois pães no café da manhã com um copo de tody com leite no capricho
Porque estou de férias
Não terei horário para almoçar
Porque estou de férias
Passearei de bicicleta despreocupadamente do horário de aulas
Porque estou de férias
Conversarei com minhas duas árvores da rua sem me preocupar que achem que estou louca
Porque estou de férias
Vou ouvir o cd de Ivete Sangalo no maior volume do som do carro
Porque estou de férias
Vou pra casa de tia Dê e passar o dia inteiro jogando vídeo game
Porque estou de férias
Vou chupar chiclete sem a mamãe e o papai me aporrinhar
Porque estou de férias
A catequese também está de férias – iurruuu!
Porque estou de férias
Vou ver o Chaves, sessão da tarde, Malhação, desenho animado, desenho animado...
Porque estou de férias
Não vou lembrar dos livros da escola – ninguém merece!
Porque estou de férias
Não vou tomar banho onze horas, só o antes de dormir – se mamãe/papai deixarem, né!
Porque estou de férias

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Prisão escolar

Sinceramente, eu gostaria tanto que Lelê ficasse em casa só brincando, correndo, bicicletando, livrando, filmando, cocacolando, frutando, sucando... Esse negócio de todo dia, de segunda-feira a sexta-feira pegar a van escolar e ir para o colégio, parece como se fosse um prisioneiro naquela condição que passa o dia livre e a noite tem que retornar à prisão para cumprir pena. Chega lá na escola e Lelê é recepcionada pelo carcereiro, digo, o bedel, vigiando a entrada da prisão, digo, escola. A guarda, digo, a professora lhe dá ordens, que, se desobedecidas tem o castigo de repetir a lição do livro, digo, ficar sem tomar sol por um mês; a diretora da escola, digo, a chefe da Papuda - penitenciária de Brasília - , chamará os pais se o filho extravasou por não suportar tanta complicação matemática e o tédio de ficar confinado em sala de aula, digo, se o detento não suportar a solidão de sua alma – ou o excesso de presos por cela, provocando motim, e aí o diretor da escola chama reforço policial, digo, os pais para dar uma reprimenda daquelas. Sim, eu já sei, é assim que funciona a engrenagem da nossa formação escolar para que sejamos adultos bem sucedidos. Vai dizer que tem alguém aí, caro provável leitor, que deixou de provar a explosão de alegria quando chegávamos na escola e a diretora falava que não iria ter aulas porque tinha morrido alguma autoridade, personalidade da cidade ou do país. Hoje em dia está cada vez mais difícil, principalmente político importante – ou raça ruim de morrer.
São tantas as frases de efeito, bonitas, reflexivas sobre a escola que resolvi citar apenas uma, que achei muito legal. É do místico Jacob Boehme: “As escolas existem para transformar as crianças que brincam em adultos que trabalham”.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ritmo acelerado

Tenho observado que Lelê não gosta de ouvir música quando a música é lenta. Tem que ser rítmica, frenética como as músicas do conjunto mexicano para adolescentes, Rebeldes, como as músicas aceleradas sertanejas, como outra música qualquer de outro cantor qualquer. Do cd de Rick Wakeman, que eu já falei dia desses atrás, quando coloco para ouvi-lo ela já fala: “coloca na música cinco!”, que tem um ritmo bem veloz. Qualquer cd que eu vá ouvir praticamente ela já sabe quem é lento e quem é ritmado e já quer avançar para a acelerada. Dizem que o corpo humano é um instrumento musical – sei lá quem afirmou isso, mas vamos considerar que seja – e se isto for verdade Lelê está mais para bateria e guitarra elétrica do que para violino e oboé. Acostumada ao ritmo veloz de desenhos animados, à linguagem rápida do clipe, ao clique acelerado no mouse para baixar imagens e textos no computador – e isso faz parte de sua geração – é provável que julguem um tédio assistir a um filme que não tenha a dicção célere do cinema norte-americano – sim, eu sei, existe filme americano de cadência branda. Quem sabe, ir a uma exposição de quadros de arte seja uma reeducação no olhar e no escultar da alma.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Cuidado p(fr)aterno

Lelê vai sozinha de bicicleta pro parquinho do condomínio brincar, e, automaticamente – só pode ser instinto paterno – a advertência é de imediato:
DD: Cuidado, filha, não aceite balinhas de ninguém muito menos chocolate – ponto fraco de qualquer criança, e mais ainda de Lelê - não aceite ir pra canto algum se lhe chamarem ou prometerem alguma coisa.
LL: Fique tranqüilo, pai, eu tenho um plano.
DD: Que plano?
LL: As férias. Não entendi nada de sua resposta.
DD: Pois com plano ou sem plano, fique de olho, bem atenta.
O parquinho é perto de casa, é tranqüilo, é seguro – supostamente – mas a neura nos tempos de hoje penso que já é natural para os pais. Principalmente a televisão, a imprensa vai tecendo no interior dos pais o espírito do medo, da insegurança, devido a violência do cotidiano repetida mil vezes nas manchetes dos jornais impressos, internet, televisão e o boca-a-boca das conversas informais da rua. Eu jamais iria pensar que fosse ficar preocupado, como outro pai qualquer quando visse seus filho(a) de nove anos, saindo sozinho pro parquinho próximo de casa. Sem perceber me enxergo exagerando nos cuidados, mas o ditado popular avisa que não adianta chorar depois do leite derramado. Falo sobre esse nível de preocupação porque vejo crianças na idade de Lelê saindo de sua escola e pegando o ônibus pra sua casa em uma cidade satélite nas cercanias de Brasília. Será relaxo ou segurança de si com os filhos? Ou eu tô exagerando na dose de preocupações? Isso será ruim pra mim e muito mais pra ela? Será excesso de zelo? Mas é bom ficar claro que não sou obsessivo.

domingo, 6 de julho de 2008

Tal qual a mãe

Acredito que os filhos procuram copiar os pais, sim. Ontem Lelê estava brincando de Maurinete, ou seja, imitando a mãe. Lelê calçou as sandálias de Mauri, pegou sua bolsa e botou pendurada no ombro e andava com os trejeitos – e exagerava no rebolado - de Maurinete fazendo compra. Para completar o quadro da brincadeira eu me passei como vendedor de loja – ela gosta quando eu participo de suas brincadeiras - e Lelê vinha em minha direção e dialogava:
LL: Bom dia.
Djandei (nome que inventei pro vendedor): Bom dia, em que posso ajudá-la?
LL/Mauri: Olha, moço, eu queria ver cerâmica porque eu estou fazendo uma reforma em casa.
Djandei: Eu tenho que saber a metragem.
LL/Mauri: Você trabalha com os produtos da Eliane? (Lelê acompanhou Mauri em compras de materiais de construção e ela já sabe o nome de várias marcas e o linguajar dos vendedores)
Djandei: Trabalho com várias marcas. Quantos metros a senhora precisa?
LL/Mauri: São cinqüenta metros quadrados. O senhor aceita cartão de crédito?
Djandei: Aceito. A entrega é pra quando?
LL/Mauri: Olha, eu vou precisar daqui a quinze dias. (Ela abre a bolsa, entrega-me o cartão, finjo que passo na máquina, ela digita a senha)
Fazia de conta que ia embora e depois retornava como se fosse outro dia:
LL/Mauri: Eu vim aqui porque o material que eu comprei ainda não chegou (falando com a voz teatralizada).
Djandei: Desculpe, senhora, é que houve um atraso na fábrica e tivemos que atrasar nossas entregas.
LL/Mauri: Então eu vou dar mais um prazo, mas estou precisando com urgência.
Djandei: Combinado.
Na profissão os filhos também querem copiar os pais, nada de novo nisso. Quando perguntamos o que Lelê quer ser quando crescer, ela responde de bate-pronto: bibliotecária. Os pais, bibliotecários, lógico que há influência.

sábado, 5 de julho de 2008

Sacolinha da Leitura

Esse título é o título do projeto de leitura da Escola Classe, a escola de Lelê. Começou em 2007 e agora tem continuidade em 2008. Consiste na leitura individual de um livro para toda turma, e depois cada um escreve numa página de um caderno coletivo sua opinião, o que o aluno achou de mais interessante, os principais acontecimentos sobre o livro, acompanhado de uma ilustração feita pelo o aluno. Esse material consiste de um quite formado de uma sacola vermelha com motivos infantis - na realidade é um bornal –, o livro que vai circular pela turma e o caderno, grande, capa de um material emborrachado, com um ursinho em alto relevo muito bem feito. O livro deste ano é “Não fui eu!”: Aprendendo sobre Honestidade, de Brian Moses e Mike Gordon (ilustrador), editora Scipione. Aborda a questão da mentira, da ética, os primeiros passos para a criança ser honesta. Lelê escreveu o texto e não interferi em nada, não corrigi nem os erros de português, deixei para a professora dela avaliar, ver seu desempenho. Segunda-feira ela entregará o kit e um outro colega trabalhará o livro. Tomara que tenha mais projetos práticos sobre leitura. No início do ano preenchemos um formulário da escola, sobre a escola, e eu e Maurinete enfatizamos a necessidade e reforço do hábito da leitura, porque estou achando pouco só esse projeto da sacola. Nas reuniões de pais sempre enfoco a necessidade da questão da leitura.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A felicidade está nas bugigangas

Nós – diz a regra que não devemos começar parágrafo com pronome pessoal, mas aqui é um blog sobre criança, sem muitas regras - adultos as vezes não prestamos muita, ou pouca, atenção nos objetos importantes – muito importantes – com que as crianças brincam. Elas ficam concentradas, absortas nesses objetos como nós adultos damos importância a... sei lá... vê aí: dinheiro? automóvel? Ou outra coisa qualquer. Vejo Lelê compenetrada brincando com um pedaço de cordão, uma tampinha de refrigerante, ou outra coisa sem a menor importância, do nosso ponto de vista, e é como se ela estivesse dialogando com essas objetos inanimados. Devido a isso passei a entregar para ela tudo quanto é quinquilharias decorrentes de objetos de uso doméstico, como, por exemplo, tampinha de garrafa, vasilhame de refrigerante pet, canudo do rolo de papel higiênico e de papel-toalha, caixinha de creme dental e de sabonete, tampinha de creme dental, qualquer caixa de embalagem, papel de presente com a fita de enrolar, caixa de sapato, tampa de papelão da embalagem de pizza, papel de presente, tampa de caneta, liga de amarrar dinheiro, ou qualquer outra besteirada que lhe dará prazer em brincar. Se ela não está em casa eu guardo pra quando ela chegar. Como nós adultos temos mania de colar definições em tudo, diria que isso seria uma terapia para as crianças, desde que os adultos não torrem a paciência delas gritando: “joga isso no lixo, menina, num tá vendo que isso não serve pra nada!”, “pára de juntar lixo e vê se não desarruma a casa!...”. Nesses instantes em que elas brincam com essas bugigangas elas estão solitárias, distantes de nossa vigilância adulta, no mundo só delas. É só olhar quando elas estão andando de bicicleta, brincando de bonecas, de bola, de correr... distantes dos olhares dos adultos. Guimarães Rosa disse que teve uma infância muito gostosa, mas tinha uma coisa que atrapalhava muito essa infância deliciosa: eram os olhos dos adultos que se intrometiam em tudo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Frufru, digo, Fluflu

Inevitável voltar ao tema do jogo decisório de ontem do Flu na Libertadores como já havia abordado na vitória sobre o Boca Juniors argentino. Não posso fazer nada, Lelê adora – toda vez que uso essa palavra ela me corrige dizendo que adorar, só a Deus – torcer pelo Fluminense e isso não vai tirar pedaço de mim, então deixa.
Antes de começar o jogo contra a LDU – essa sigla parece com a de SLU daqui de Brasília, que significa Serviços de Limpeza Urbana – Lelê já estava vestida a caráter, uniforme completo do pó de arroz. Sentamos – melhor dizendo, apenas eu - no sofá pra vermos o jogo, Lelê colocou o volume bem alto e criou-se um clima de adrenalina maior com aquelas imagens aéreas do Maracanã feitas pela Tv Globo e o barulho uníssono da torcida corria por dentro das veias de Lelê, ela gritava, extravasava palavras de ordem de torcedor: “ é Flumineeeeeense...”, “vamos lá, minha gente...” etc. Ela gritava rasgando a garganta, iria ficar rouca, com certeza. Pegou um caderno para anotar a que minutos os gols seriam assinalados. O jogo começou, ela de pé, não ficava parada um minuto sequer, e em pouco tempo veio o primeiro gol da LDU e ela deu uma gelada, mas não deixou de xingar de fedepê o equatoriano do primeiro tento da partida. Quando vieram os gols tricolores vi a hora ela explodir. Pediu-me para eu pôr a mão no seu coração pra ver como estava acelerado e realmente estava, pedi para se acalmar porque aquilo era um simples jogo de futebol. Os lances de perigo eram acompanhados de um “uuuuu!” como se estivesse saído do caldeirão do Maracanã. Virada do Flu – e haaaaaja, coração infantil!; veio a prorrogação – se segura, coração infante!; decisão dos pênaltis – explode, pequeno coração tricolor. Os pênaltis defendidos pelo arqueiro equatoriano fizeram Lelê sentar no sofá, foi afundando num silêncio com o sentido inverso daquelas placas de papelão que os torcedores mostram nos estádios, num consternado “eu não sabia!”, e a degola fatal veio quando Washington, o milagreiro dos jogos anteriores, chutou e o grande goleiro do equador defendeu e correu feito um louco para comemorar o título de campeão da Libertadores. Lelê, coração partido, coração de estudante, levantou-se silenciosamente e caminhou de cabeça baixa e foi pra cama dormir, não pra cama dela mas a de sua mãe, pedindo socorro para seu pequeno corpo desmoronado, e antes de dormir, como todo bom tricolor, chorou e naufragou nas ondas do mar de lágrimas do Maracanã. Hoje de manhã pediu-me para que eu a levasse no meu carro para escola, ela não queria ir de van escolar porque iria ser motivo de gozação por toda galera. Falei-lhe que não, que ela deveria ir na van e já chegando dizendo pra todo mundo que ela torce pelo Fluminense na vitória e na derrota, que era o seu time de coração, e pronto. Fui falando com ela e aos poucos ela foi se convencendo e aceitou ir de van mesmo. Ah, falei pra ela ir pra escola vestida com o uniforme do Fluminense, e ela topou, só que na hora que foi vestir, cadê o uniforme tricolor? Neide tinha colocado pra lavar pois o bicho tava sujo porque ela não tirava esse uniforme nos últimos dias por nada. E também que, era preciso lavar todo o suor da decepção, apagar as marcas deixadas pela LDU – Serviço de Limpeza Urbana Equatoriano.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Picles

● Maurinete perguntando a Lelê o que ela gostaria de comer pro almoço.
Mauri: Minha filha quer comer frango ou carne de sol?
LL: Eu quero comer carne de chuva.

● Lelê me chama só pra perguntar:
LL: Pai, quantos filhos vó Bia teve?
DD: Onze.
LL: Êta ferro!
DD: Não, minha fila, foi pauleira pura.

● Jogando conversa no café da manhã:
Mauri: Lelê, quando eu tinha mais ou menos a sua idade, nossa casa era feia, e, certa vez uma menina me perguntou: “onde você mora?”, aí eu olhei pra uma casa bonita próxima a minha e apontei: “é ali, naquela casa bonita”.
LL: Então você mentiu?
Mauri: Menti.

●Lelê estava brincando sozinha de escola com seu lap top da Xuxa, e escreveu à mão o seguinte bilhete a lápis de cor – cada palavra uma cor:
“Sra. Maurinete, Sr. Eduardo:
Sua filha Letícia está conversando muito, ela é boa aluna, mas assim prejudica ela e os alunos. Por gentileza, conversa com ela para não ocorrer mais esse tipo de comportamento. Se não, adivertência ou suspençao.Grtata. Prof. Elcy”.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Parabéns pra você

Lelê tem um bom repertório de músicas infantis adaptadas, sacaneadas, aprendidas na escola, não com as professoras e sim com os coleguinhas e na rua também, e vez ou outra ela canta pra mim.

Título: Parabéns pra você

Parabéns pra você
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida (bis)

É big, é big, é big é big big…
É hora, é hora, é hora, é hora....
Rá, tim, bum!
Pa-pai, pa-pai!
Com quem será, com quem será, com quem será
Que o papai vai casar
Vai depender
Vai depender
Vai depender se a mamãe vai querer
Ela aceitou, ela aceitou
Tiveram dois filhinhos e
Depois se separou
Passou um mês, passou um mês
Tiveram dois filhinhos
E se casaram outra vez
Lá vem o padre
De bicicleta
Levou um tombo
E rasgou a cueca