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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tema tabu

Semana retrasada morreu o ator que fazia o papel do Visconde de Sabugosa no Sítio do Pica-pau Amarelo da Rede Globo de Televisão. Estávamos eu, Lelê e seu primo Allan, no meu carro, indo pro Plano Piloto e estávamos ouvindo Renato Russo. Ela não conhecia a música Eduardo e Mônica e achou o maior barato. Já tá começando a cantar as primeiras estrofes dessa música longitudinal.
Lelê: Sabugosa vai ser enterrado em Pernambuco.
Eu: O Renato russo foi cremado.
LL: O que é isso?
Allan: O corpo é todo queimado ficando só as cinzas.
LL: Eu, heim! Quando eu morrer eu quero ser enterrada em Vitória.
DD: Mas quem vai morrer primeiro sou eu.
LL: Não, vai ser eu.
DD: Não senhora, a ordem natural da vida é os pais serem enterrados pelos filhos.
LL: Mas eu vou morre primeiro.
DD: Não, vai se eu.
LL: Vai ser eu.
Allan: Vira essa boca pra lá Letícia!
Fiquei pensando como é difícil, realmente, tratarmos sobre a questão da morte, mas Lelê estava falando de forma bem natural, como criança de pensamento puro sobre esse assunto e Allan falou de forma séria, como só há de acontecer com nós adultos.

domingo, 29 de junho de 2008

Artes

Depois de retornarmos dum churrasco de uma amiga de Maurinete no Lago Norte e com fé de não sermos flagrados seis tulipas – minha dosagem - na nova lei seca, fomos eu, Mauri e Lelê, vermos o que rolava no Centro Cultural Banco do Brasil.
Fomos na exposição Casulo, de Darlan Rosa, um artista plástico daqui de Brasília. ‘Casulo’ são literalmente casulos confeccionados em aço em que a gurizada interage com as obras. É um jogo lúdico de entra-sai-sobe, o que toda criança gosta de fazer. Lelê adorou.
Em uma outra galeria vimos, digamos, uma performance do artista plástico Nuno Ramos, em que numa plataforma inclinada, de mármore, tinha caixas de som com músicas cantadas por Arnaldo Antunes - e outros - com aquele vozeirão concentrado e, protegido por uma tela, três urubus, liberados pelo o IBAMA, voavam sob o som da música do ex-titã. Ficamos admirados, mas sentimos dó dos urubus ficar ouvindo o dia inteiro aquele vozeirão de Arnaldo Antunes. Quando saírem dali aqueles urubus jamais irão querer ouvir Arnaldo, solo ou Titãs.
Andando pelos jardins eu e Lelê – Maurinete foi para a livraria - vimos dois stands e fomos até lá. Só nós dois, deparamos com ambientes recém saídos de uma farra total. Tinha garrafas vazias de wisk jogadas no chão, lixo de fim de festa, enfim, uma zorra total, e, aproveitamos para fechar a cenografia do ambiente e começamos a chutar e revirar uns banquinhos e pufes, tudo na maior algazarra com muito riso e presepada. Saímos de lá às mil gargalhadas.

sábado, 28 de junho de 2008

Provocações

● Estava eu levando Lelê pro catecismo e ia passando um cachorro e eu falei pra ela:
DD: Deus criou tudo, no mundo?
LL: Criou.
DD: Foi ele que criou os cachorros?
LL: Foi.
DD: Quer dizer que os cãozinhos quando morrem vão pro céu?
LL: Cruz credo, pai, o cão ir pro céu?
DD: Mas os bichinhos não são criações de Deus? Taí então uma boa pergunta pra você fazer à catequista.
LL: Já perguntaram isso pra ela uma vez.
DD: E o que ela respondeu?
LL: Ah, não me lembro mais.
Peguei Lelê de volta mas não insisti com o assunto.

● Estávamos eu e Lelê almoçando num restaurante onde a carne preferida da maioria da clientela é picanha.
DD: Já imaginou o tanto de vaca que é morta pra todo esse pessoal comer!
Lelê olha pra carne de seu prato:
LL: Mas isso aqui não é carne de vaca.
DD: Lógico que é. Já pensou o tanto de capim que as vacas comeram até chegar nossos pratos?
LL: Eeeecaaaa, pai!
Ela afastou o prato repudiando-o para o centro da mesa, mas de imediato puxou pra si:
LL: É... mas é gostoso, isso é.
DD: Na Índia, um país muito distante do nosso, ninguém come carne de vaca.
LL: Ah, é? Por quê?
DD: Porque lá as vacas são consideradas sagradas.
LL: Eu, heim!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Matemática pura

Estávamos passando pela Ponte JK, fluxo pequeno de automóveis, Lelê se vira pra mim e indaga-me:
LL: Pai, como é que eles arranjam tanto número pras placas dos carros sem se atrapalhar?
DD: Devido a composição das letras que tem nas placas (nem sei se é isso mesmo).
LL: Como assim?
DD: Por exemplo: olhe ali aquela placa – indiquei a de um dos carros que ora passava por nós – com três letras você forma JGH 3423, JGH 3424. JGH 3425 e assim sucessivamente até mudar as letras com novos números (continuo chutando na explicação. Não sei como é o sistema empregado pelo DENATRAN). E você sabe, né, os números são infinitos, portanto dá pra fazer um número incontável de composição de placas.
LL: Cara, é demais os números! Eles são infinitos! As vezes eu fico pensando como é que pode ser os números serem infinitos!.
DD: É, sim, eles são infinitos. Você pode começar a contar do número ‘um’ agora e você nunca vai conseguir parar de contar.
LL: É demais, cara. Quer dizer que eles vão aí pelo céu até o infinito!
Com cara de espanto e admiração:
LL: Putisgrila, é demais!
Como me deu vontade de saber, não a matemática pura da álgebra, da geometria, que a gente sempre aprende – e depois desaprende - na escola, mas a história da matemática, a curiosidade dos que inventaram os números, a história além daquela bíblica de que pra cada ovelha que passava no cercado se colocava uma pedra representando a contagem dos animais. Segunda-feira última eu e ela revisamos o primeiro capítulo de seu livro de matemática e era exatamente sobre a origem dos números, que começou com os egípcios criando os hieroglifos com representações dos números um, dez, cem, mil. São uns desenhos bem bacaninhas que Lelê curtiu pra caramba ficar desenhando-os. Duvido que na prova de matemática que ela fez hoje tenha caído alguma coisa sobre história da matemática. Du-vi-dê-o-dó. Queimo minha língua. As provas - só com resoluções de problemas e fórmulas -, desde o meu tempo de guri, e do tempo de meus pais, são para testar a memória, e sabemos perfeitamente que memória não é sinal de inteligência, e os professores têm que dar satisfação a Secretaria de Educação com notas, ou conceitos disfarçados de notas, para serem preenchidos em suas pautas escolares.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Decola, Escola!


Síndrome de provas, ou, mais especificamente, síndrome de matemática. Quem nunca teve essas síndromes que levante a mão primeiro. É isso que está acontecendo com Lelê. Sua capacidade de resolver seus deveres escolares espontaneamente, diariamente, contrasta quando chega a semana de provas, onde, parece-me, a formalidade de dizer que está estudando para ´provas` dá um trava e desaparece a espontaneidade da resolução de exercícios. E aí a trabalheira para convencê-la de que ela não poderá deixar de estudar para as provas mesmo achando ruim esse remédio amargo. Como conseqüência vem o desgaste de nosso relacionamento, eu, na forma de pai responsável, tenho que convencê-la de que o nosso sistema educacional impõe essa norma de realização de provas das disciplinas para ela obter notas suficientes para galgar a série seguinte, no caso dela a quinta série, mesmo eu achando uma porcaria esse critério de avaliação. É lógico que eu explico para ela ao nível de seu entendimento, mas o tempo vai passando e eu vou ensinando as matérias das provas dela aos dissabores por parte dela e muito mais ao meus, que tenho que engolir esse critério educacional, e aí, o que ocorre? Ocorre que ela vai “aprendendo” sem espontaneidade e eu frustrado por saber que faço parte da engrenagem de um sistema educacional que prepara nossos filhos, e de tabela os pais, para sermos engolidos pelo sistema maior, a própria sociedade, o mercado de trabalho futuro. Poderia eu fazer como alguns pais que foram motivo de belas reportagens em jornais que simplesmente retiraram seus filhos da escola – um caso em Minas Gerais que vi num jornal – e assumiram a formação escolar da gurizada e comprando briga com o Estado quanto as formalidades para quando a molecada for entrar na universidade com a obrigatoriedade de certificados, freqüência escolar etc. Se eu for fazer isso já vou comprar briga dentro de meu próprio terreiro familiar, Maurinete não vai aceitar e mais um milhão de amigos e parentes. Mesmo porque aí já vem os questionamentos de ordem prática do cotidiano: Lelê seria uma menina de poucos amiguinhos, já que na escola há um monte? E a sua convivência social? É... É muito complicado. Bem, enquanto isso, vamos aguardar as notas de Lelê da escola e vamos procurar dar continuidade na construção do boletim de seu dia-a-dia com brincadeira, leitura, cinema, teatro, gibi, chocolate, leite com toddy, muito pão, bicicleta, piscina, brincar na terra, eu carregá-la nas costas – mesmo que Mauriente diga que eu vá arrebentar minhas costelas -, televisão, esconde-esconde, futebol, pirulito, chiclete – que nós chamamos de ´corim´-, andar o tempo inteiro descalça, comer picanha, comer esfirra com refrigerante, reler o Diário de Julieta do Ziraldo, ver o filme Polyana pela milésima vez e não reler o livro, ir ao catecismo, ver uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, viajar de férias pra Vitória-ES, limpar a meleca do nariz e eu perguntar se vai ter festa no salão, ver o Chaves no SBT, ouvir REBELDES, reticências, etecetra.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Desculpa

Lelê é uma criança que não gosta de pedir perdão por seus erros (erros de criança eu nem sei se são erros), não quer falar simplesmente “perdão” por uma bobagem qualquer, como se pedir (vamos substituir ‘perdão’ por ‘desculpa’) ‘desculpa’ fosse cair pedaço da gente. Pacientemente vou mostrando-lhe, no dia-a-dia, que pedir desculpa por algum deslize que cometemos é educação, e reconhecermos nossos erros é um alívio pras distensões internas, a chamada ‘alma’. Resumo: Lelê tem vergonha de pedir desculpa’’, não está no seu âmago falar essa palavrinha de forma espontânea. Eu e Maurinete continuamos tentando através de gestos significativos para ela falar essa palavra mágica de sentido educativo. Qualquer coisa que eu faça que ela não goste eu digo “perdão”, “me desculpe”, e quando ela faz algo que me desagrade, uma coisa boba qualquer, falo: “peça perdão”, e ela balança a cabeça com um risinho contido no canto da boca, diz uma negativa balbuciante “um hum”. Mas, água mole pedra dura, tanto bate até que fura. Neide me chamou e falou que queria falar comigo uma coisa de Letícia – Letícia estava presente. Já imaginei que Lelê lhe tinha feito alguma ofensa.
Neide: “Seu” Eduardo, eu quero lhe falar um negócio que aconteceu com Letícia.
DD: Por favor, não esconda nada.
Neide: Ontem Letícia me desagradou e eu fechei a cara pra ela, pra ela saber que eu não gostei do que ela fez.
DD: Sim.
Neide: Mas o que eu quero falar mesmo é que ela me procurou, agora mesmo, e me pediu desculpa – Lelê, que estava presente, como já falei, começou a sorrir juntamente com Neide, como se estivessem comemorando a vitória de um gesto.
DD: Gente! Que lindo, isso é maravilhoso. Chama uma banda de música aí – e começamos (eu e Neide) a cantar os “parabéns” e Lelê ficou toda fofa, toda cheia de si, percebendo que pedir perdão não tira pedaço de ninguém, não morde ninguém. Dirigindo-me a ela:
DD: Tá vendo como isso é bonito, que é atitude de gente educada! E lhe abracei, lhe beijei e lhe afaguei. Nós três ficamos encantados.
A noite, não sei o que ela falou pra mim – nem ouvi –mas Maurinete ouviu e achou que era falta de respeito e falou pra ela pedir desculpa e ela pediu. Se seguir nesse ritmo receio que em breve teremos em casa uma Madre Teresa de Calcutá.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Cotidiano

Ontem Lelê acordou cedo, as seis e trinta ela entrou na cozinha – eu estava fazendo café – e pegou em minhas mãos e me arrastou pra dançar cantando: “acorda Maria Bonita, levanta vem fazer o café, que o dia já vem raiando e a polícia já tá de pé...”, (só agora percebi o final dessa frase com os quatro monossílabos: “játádepé”. Até parece nome de cidade do interior. “Onde você mora?”, “moro em Jatadepé”. Sonoridade gostosa) música que ela aprendeu na Escola Parque. Nunca a vi com tanta astral como hoje. Pegou Maurinete também e ficou dançando com ela.
Sou eu que faço o café da manhã pra nós. Até parece a música de Chico Buarque (adaptação minha): Cotidiano

Todo dia Dudu faz tudo sempre igual
Sacode Lelê/Mauri às seis horas da manhã
Lhes sorri um sorriso pontual
E as beija com a boca de “acordem!”

Todo dia Dudu diz que é pra elas se cuidarem
E essas coisas que diz todo marido/pai
Diz que as esperará pro jantar
E as beija com a boca de “agora!”

Todo dia Dudu só pensa em poder parar
Meio-dia só pensa em dizer não
Depois pensa nas meninas pra levar
E se cala com a boca de rubacão

Sete da noite como era de se esperar
Dudu pega e as espera no portão
Diz que está louco de saudades
E as beija com a boca de paixão

Toda noite Dudu diz pra elas não se afastarem
Meia-noite ele jura eterno amores
E as aperta quase as sufocando
E as sacode com a boca de preocupação

Todo dia Dudu faz tudo sempre igual
Sacode Lelê/Mauri às seis horas da manhã
Lhes sorri um sorriso pontual
E as beija com a boca de “acordem!”.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Picles


● Essa é a semana que todos os alunos da Escola Classe irão vestidos com roupas de maneira diferente. Hoje todos irão com as camisas de seus clubes de paixão. Lelê foi com a camisa, short e sandálias do Fluminense. Amanhã irão com calçados de estilos distintos. Lelê vai com um tênis e uma sandália e de meias de cores desiguais. No ano passado teve um dia que ela foi vestida com roupa e sandália de Maurinete e no dia seguinte de pijama. Ela adora ir trajada dessas formas. Imagino como deve ser a fuzarca gostosa na Escola.

● Allan, seu primo, já retornou à Vitória e levou uma carta de Letícia para uma priminha em que ela, domingo passado, 22.06.08, envia os parabéns para a prima. Até aí tudo bem se o aniversário não transcorresse no mês de dezembro, portanto daqui a seis meses! Por que tanta antecedência? Vá lá entender a cabeça de uma criança.

● Lelê não terminou ainda de ler O Minotauro de Monteiro Lobato, retomou ontem a leitura, e dentre as palavras sublinhadas que ela não sabe o significado para procurar mais tarde no dicionário está “asneira”, que ela perguntou se significava “asma” e “papiro” se vinha de “papo”. “Franzir” eu ia lhe explicar, mas ela recusou que eu falasse pra não estragar a surpresa do que iria falar o dicionário. O livro de Lobato faz referência ao Dunga do filme de Walt Disney Branca de Neve e os Sete Anões, e ela me perguntou se era o Dunga técnico da Seleção Brasileira, e eu disse que não e ela riu muito porque o único Dunga que ela conhece é o comandante da seleção canarinha. Antes da leitura de um capítulo do Minotauro revimos um capítulo do livro de matemática dela e depois comecei a lhe ensinar o Esperanto. Ela adorou, vamos ver se haverá continuidade.

domingo, 22 de junho de 2008

Palhaçada

Lelê já estava toda embrulhada em seus lençóis para dormir, só a cabeça pra fora, acordada, esperando o desmaio do sono e, na presença de Lelê Maurinete começa a fazer gestos e eu a repeti-la: ela esticava a língua, e eu também; dançava os quadris, e eu idem; dava um toque no meu ombro, e eu no dela; balançava a cabeça, e eu balançava também; se agachava e se levantava rapidamente, e eu o mesmo; e fomos fazendo outros acenos palhaçais – nem sei se existe essa palavra – como se fossemos duas crianças, e quanto mais sinais infantis fazíamos mais Lelê caía na risada com nossas besteiradas, mais ela ria gostosamente. Dois marmanjos encenando infantilidades e uma criança parecendo um... Não, Lelê não parecia um adulto como se estivesse num circo rindo das presepadas dos palhaços, ela parecia, e era, e é, uma criança feliz com a felicidade de dois adultos felizes porque uma criança estava contente. Não, não somos eternamente felizes, porque amanhã de manhã Lelê estará descalça e eu ou Maurinete vamos dar bronca nela: “calça as sandálias, Lelê, não está vendo que esse piso tá gelado!”. Não tem jeito, esses pais tem cada neura, somos uns estraga prazeres, arruinamos o mundo feliz das crianças sem mais nem menos. Quem foi que disse que chão gelado adoece criança?

sábado, 21 de junho de 2008

Bomba!

Tinha eu pego Lelê na Escola Classe e já estava levantando a tampa traseira do carro para colocar sua mochila quando, de repente, ela, por trás de mim, fala:
LL: Pai, eu estou grávida.
De forma tranqüila continuei a guardar a mochila.
DD: Ah é, de quem?
LL: Ué, eu estou grávida!
DD: Sim, eu sei, você já me falou, mas contra quem?
LL: Eu só estou grávida!
DD: Sim, mas para estar grávida é preciso ter algum responsável, ou, irresponsável.
Ela se aproximou de mim e, com as pontas dos dedos das mãos começou a cutucar minha cintura e a falar acelerado: “tico-tico-tico-tico...” e falou:
LL: Eu estou brincando! Peguei o bobo, na casca do ovo!
Antes mesmo dela terminar essa frase reveladora já estava claro que era brincadeira. Ela gosta de jogar essas conversas pra cima de mim pra ver se eu tenho alguma reação, digamos, nervosa, mas essas conversas inventivas dela saem de forma natural, de seu jeito trocista.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cofrinho

Estávamos eu, Mauri, Lelê e Allan – primo delas que veio de Vitória fazer vestibular na UnB – jantando no restaurante do UniDF, que fica em frente ao ginásio de esporte da instituição, e lá treinava judô e capoeira rapazes e moças. Uma dupla de rapazes estava atracada em golpes e contragolpes e um dos lutadores estava com o quimono um pouco arriado nas nádegas, Lelê viu e falou:
LL: Pai, me arranja uma moeda aí.
DD: Pra quê?
LL: Pre’u depositar no cofrinho.
DD: Que cofrinho?
LL: Ali, olhe lá – e apontou para o rego da bunda do lutador. Riso geral, mas de forma contida, senão seria a mesma coisa que estivéssemos estimulando-a a deboche e ridicularizar outras situações. Essa neguinha é fogo. E ela completou:
LL: Eu aprendi lá na escola com meus amigos.
Na volta para casa, no meu carro, eu falo pro Allan que estou escrevendo esse blog sobre Lelê e ele quer o endereço.
LL: Pode escrever sobre o que quiser sobre mim, só quero que não escreva sobre uma coisa.
Allan: O quê?
LL: Sobre minhas notas da escola.
Bobagem dela, suas notas não são ruins, a exceção da matéria... no ano passado. A pedido dela não revelarei a nota e a disciplina.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Data vênia, meritíssimo!

Excepcionalmente hoje Lelê foi para o colégio pela manhã. Na semana passada um Juiz (ela falou que era um Juiz) foi na escola dela e distribui pros alunos a Cartilha da Justiça, em forma de gibi, da Associação dos Magistrados Brasileiros e a professora passou como tarefa fazer o resumo dessa cartilha-gibi. Pois bem, domingo último Maurinete estava orientando Lelê a fazer esse resumo e eu estava só ouvindo.
Os assuntos abordados, mesmo que em linguagem de gibi, para uma criança de nove anos, achei que estava bem além de sua compreensão. A cartilha falava sobre a importância da Constituição, conceituava os Três Poderes, a Justiça e a Polícia, o trabalho desenvolvido pelo Promotor, discorria sobre nossos direitos constitucionais, expunha sobre o Juiz da Justiça Estadual...
A cartilha descrevia que o Juiz da Justiça Estadual resolve casos de propriedade, “você sabe o que é isso Lelê? “Não, não sei”, de inventário, “você sabe o que é isso Lelê? “Não, não sei”, de juizados especiais, “você sabe o que é isso Lelê? “Não, não sei” – é lógico que ela não iria saber - e mais ainda conceituava confisco, auto de prisão em flagrante, réu primário, assistência judiciária e por aí a dentro do linguajar juridiquês.
Cheguei pra Maurinete e falei:
DD: Ué, eu não estava sabendo que Lelê anda fazendo curso de Direito, ou ninguém me avisou que ela está se preparando pra concurso de Juiz.
Mauri: Saúde e educação são direitos que estão escritos aonde?
LL: Aqui, ó! – e apontou pra cartilha-gibi.
Mauri: Não, minha filha, é na Constituição. Antes Mauri já tinha explicado isso para ela e mais uma pá de conceitos jurídicos tentando chegar ao nível dela, mas tava difícil traçar o be-a-bá do data vênia para uma criança.
Só sei que hoje ela acordou 6:30, tomou banho e café, botou a cartilha na mochila e se mandou pra aula de Direito que o Juiz ia ministrar pra estudantada.
Sine qua non, Lelê, de hoje em diante, nos defenderá de qualquer imbróglio que nos metermos, pois ela estará apta a interpretação do Direito assistencial, Direito cambiário, Direito canônico, Direito clássico, Direito consuetudinário, Direito de arena, Direito de fundo, Direito de regresso, Direito intertemporal, Direito regressivo de recurso, Direitos de estola, etc., etc. Escrevi esses Direitos porque o Processual, Criminal e Civil serão fichinha pra ela.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

No sentido figurado


● A nova mania de linguagem de Lelê é: “no sentido figurado”. Se ela fala: “Pai, você é feio”, diz ela que está falando que eu sou bonito, pois a frase está no sentido figurado; “a comida está muito fria, Neide”, é porque a comida está muito quente. Segundo ela, se eu falar: “Filhinha, você é muito burra”, é porque eu estou dizendo que ela é muito inteligente. “Pai, o dever tá muito fácil = pai, o dever está difícil”...
Estamos fazendo uns serviços aqui em casa e o pedreiro me pediu pra comprar “uma” lixa de ferro e eu comprei “uma” lixa de ferro como ele havia me pedido, mas na realidade ele queria que eu comprasse várias folhas, e quando eu já estava aqui em casa com as lixas ele se justificou:
Ailton/Pedreiro: Não, Eduardo, é porque, como diz Letícia, eu estava falando “no sentido figurado”.
“No sentido figurado” virou curinga na resolução de qualquer afirmação/negação ou mal entendido aqui em casa. “Seus problemas de linguagem acabaram”, como diria as “Organizações Tabajara” do Casseta e Planeta.


● Lelê chegou da escola, está sentada à mesa fazendo deveres escolares, depois de uma tarde inteira em sala de aula mais viagens de ida e volta na van escolar. Eu ajeitando sua janta:
LL: Pai, você é sortudo.
DD: Por quê?
LL: Porque você já é adulto, não é preciso ir pra escola e nem fazer dever.
DD: Também você é sortuda porque ainda é criança. Eu gostaria de estar nessa sua idade para brincar.
LL: É mesmo, né pai, a gente brinca, a gente come chocolate, a gente brinca no parquinho...
DD: Sem contar que por dentro do corpo do adulto já passou o de uma criança - tentei fazer uma jogada meio filosófica pra cima de Lelê mas ela não deu atenção e eu também desisti de baixar ao entendimento dela.
DD: Ah, esquece.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Desleixo

O dia já está dando por encerrado e Lelê vai pra sua cama dormir, fica vendo televisão, adormece, e quando vou vê-la está com o cordão do iô iô esticado pra fora da cama e amarrado no dedo; a maria chiquinha amarrada no cabelo; o controle da tv debaixo dos lençóis dando o maior trabalho para encontrá-lo sem que ela seja acordada; com uma blusa de frio ao invés da do pijama – ela me garantiu que iria trocá-la; sua cabeça por cima de uma bonequinha, provavelmente incomodando-a; um caderno com uma caneta na ponta da cama; o estojo de lápis de cor no chão ao lado de sua sandália; a pomada que ela passa nos lábios para prevenir ressecamento ao lado do travesseiro. É assim, temos que estar ao lado dela até o último momento antes do sono pra ver se tá tudo ok, mesmo que ela garanta que trocará a blusa de frio por a do pijama, que vai tirar a maria chiquinha... Fico até pensando que esse desleixo, que não considero tão sério assim, faça parte do processo de aprendizagem, ou seja, é preciso existir o desleixo pra se criar a responsabilidade com a cobrança dos pais. Imagino que seria um saco ter uma criança toda perfeitinha, toda organizadinha, sem nenhum trabalhinho para os pais, toda asséptica no comportamento. Tô fora! (Será que ainda vou queimar minha língua?)
Só sei que o sono veio e aplicou em Lelê uma injeção sonífera como fazem os médicos em pacientes em cirurgias. Só que a injeção do sono é para ela repor suas energias, é para ela descansar das pedaladas de bicicleta, de muita conversa, de pular, de correr, de ficar alegre , de se aborrecer, de, enfim, ter externada muita energia durante o dia, e, também, dar um descanso pro papai e pra mamãe.

Data: 16.06.08
Título: Música

● Lelê soltando o gogó musical:
LL: Ela só quer,
só pensa em namorar
ela só quer
só pensa em namorar. Depois falou: “pai, canta pra mim essa música em inglês”.
Cantei em sotaque paraibano daqueles bem arrastado, bem matuto:
DD: She only want,
only thinks to flirt
she only want
only thinks to flirt.
Risada geral minha, dela e Maurinete.

● Brincadeira que Lelê quer que eu e Maurinete façamos: uma mão girando em cima da cabeça e a outra girando na barriga, só que em sentidos opostos, e depois a mesma coisa nas orelhas. Ela consegue fazer e eu Maurinete não, é um exercício de pura coordenação motora, exercício que ela pratica muito com os colegas em divertimento no recreio.
Outra brincadeira é de cachorrinho se enroscando em nossas pernas, querendo nos morder e fica com a língua pra fora tipo um cachorrinho. Estalando os dedos ordeno que ela ataque Maurinete e ela fica simulando ataque às pernas de Maurinete.
Logo após pega três tampinhas de refrigerante pet, uma azul, outra branca e outra vermelha e pede que determinemos qual tampinha queremos ser, em seguida fica dando peteleco nelas pra ver qual bate na qual e fica irradiando um jogo: “mamãe acertou papai, Lelê acertou mamãe, papai acertou Lelê, atenção, vai chutar, é gooooollllll!!!!! de Lelê!!!

domingo, 15 de junho de 2008

Foto clássica


●Mauri: Nunca mais Glória e Chico (amigos nossos) telefonaram.
LL: Mãe, o que significa “Chico”.
Mauri: É um apelido.
DD: É a síntese de Francisco.
LL: É a fotossíntese.
DD: E o que significa fotossíntese?
LL: Uma foto pequena.

● Dia desses da semana passada, Neide ouvindo música sertaneja no rádio.
Neide: Aí, Lelê, essa é que é a música que todo mundo gosta.
DD: Todo mundo?
Neide: Você não, você é intelectual, num é Lelê?
LL: É isso aí.
DD: Peraí, gente, não me xinguem pelo o amor de deus. Isso é uma injustiça.
Neide: Você num gosta de ficar ouvindo aquelas músicas clássicas? (Ouço a Super Brasília FM onde só toca música instrumental, clássica e congêneres...).
LL: Éééé!
DD: Agora são as duas contra mim! Ouvir música clássica, isso é verdade, mas me xingar de intelectual, aí é pegar pesado!

sábado, 14 de junho de 2008

Nervosinha

Sexta-feira, quando fui buscar Lelê na psicopedagoga ela veio treinando flauta e quando errava ficava nervosa, dava uma soprada alta, irritante e grunhia um “arrrgghhh!!”, e tinha vontade de meter a flauta no painel do carro. Só na vontade!
DD: Que é isso, desse tamaninho e tão nervosa assim. Música é treino e muita calma.
Mais uma treinada e mais um “arghhh!” e uma soprada alta irritante.
DD: Peraí, pare de tocar, deixe a flauta aí guardada, dá um tempo, mesmo porque meu ouvindo não é penico pra ficar ouvindo esse som irritante, desconexo. Na aula de flauta na Escola Parque você se comporta assim também?
LL: Não.
DD: Então! Aliás, tem certos momentos, por uma coisinha de nada você fica toda nervosinha. Até parece uma pequena mulher a beira de um diminuto ataque de nervos. Vamos parar com isso. Ligue o rádio, taca uma música gostosa aí pra gente ouvir, vamos levar a vida na flauta - e gritei - urrruuuu!!!..
Ela ficou calada me ouvindo e logo a seguir começou a ficar alegre, como se nada tivesse acontecido, mesmo porque eu a envolvi num clima para mudar esse baixo astral por não conseguir emitir nota musical a contento em sua flauta mágica, que não estava nem aí pra ela. E terminei:
DD: Você colocou açúcar nessa flauta? Ela não é doce? Então é por isso que ela não está funcionando legal.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Vaidade


Lelê chegou da escola, rodou bicicleta (não fui, a minha está quebrada), já entrando em casa:
DD: Minha filha, você já vai tomar banho para jantar e está passando brilho nos lábios!
LL: (Teatralizando) Menina sempre tem que ficar linda, sempre tem que ter brilho nos lábios. Toda mulher tem que ficar bonita, charmosa. Vocês homens, não, se passam brilho acham que ficam bicha, vocês não entendem disso. Quem passa brilho nos lábios é o Ney Matogrosso porque ele faz um trabalho... Um trabalho... Um trabalho artístico.
DD: Tá legal, mas deixe pra passar depois da janta.
LL: Fique tranqüilo, pai. O charme da mulher tá em passar batom nos lábios, se mostrar, entêndj?
Fiquei olhando pra ela achando que estava entendendo que ela era uma semente da vaidade feminina, estava eu aprendendo a lidar, ao vivo, a cores, no terreiro de casa, com esse universo a entrar no processo fantástico de como se constrói uma mulher.
Ela já se preocupa com o cabelo:
LL: Tá bom assim esse cabelo, pai?”.
DD: Ótimo!. “
LL: Não, mas eu não estou gostando.
Já diverge de Maurinete na escolha das roupas:
LL: Mas essa roupa não combina com essa sandália!.
As vezes faço a sugestão de roupa:
LL: Mas pai, num tá vendo que essa blusa não combina com esse jeans?.
E eu, de forma comum:
DD: O jeans combina com qualquer outra peça”.
LL: Ah!!. Monossilabilou como se estivesse falando: “esses homens não entendem de nada”. Como não sou deus só me resta saber onde tudo vai desaguar.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia... O quê?

Estou na biblioteca e Letícia chega.
LL: Pai, sabe aquele presente que Julieta deu pro Menino Maluquinho (se refere ao seriado da Tv Brasil) no aniversário dele?
DD: Não, não me lembro (Ela lembra de tudo dos episódios desse seriado).
LL: Ele é assim, ó (explica).
DD: Uma bússola?
LL:É, isso mesmo, só que eu quero falar é do diabolô.
DD: De quê?
LL: Diabolô, pai!
DD: Nunca ouvi falar nessa palavra.
LL: Pai, você é mais velho que eu e devia saber.
DD: Não é porque as pessoas são mais velhas que outras que elas tem que saber de tudo, não.
LL: Mas pai, o diabolô é assim ó: (faz a descrição). Vou te mostrar no dicionário a palavra. (Busca o Aurélio na estante e procura o significado). Aqui, achei, ó: presta atenção (lê): “Brinquedo que consiste em aparar num cordel estirado, atado pelas pontas a duas varas, uma espécie de carretel com o centro mais fino que o resto, que se atira no ar”.
DD: Ah, bom, agora eu sei do que se trata, mas juro que não sabia que o nome era esse.
LL: Pois então!
DD: Sim, e daí?LL: E daí é que eu quero falar que eu quero ganhar um diabolô no meu aniversário!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Te amo

Hoje essa menina tomou fermento de felicidade. Acompanhei-a até portão para ela ir pra escola na van e abraçou-me, e afagou-me, e beijou-me dizendo que eu era o melhor pai do mundo. Ao telefone com Maurinete:
LL: Você me ama, mãe?
Mauri: Te amo profundamente.
LL: Diz que me ama, diz, diz.
Mauri: Te amo muiiiito, você é a razão do meu viver.
LL: Mas eu amo mais você do que você a mim.
Mauri: Ah, não, sou eu quem ama mais (e ficaram as duas na disputa de quem ama mais a quem)
LL: Pai, você me ama de verdade? (Ela já sabe o que vou falar).
DD: Meu amor por ti gela! (tigela: ela ri).
À noite:
LL: Pai, me abraça, e diz que me ama!
DD: (Dou-lhe abraço, dou-lhe beijo, dou-lhe afago) Te amo com todas as forças do meu coração.
LL: "Meu amor por ti gela", não vai falar não?
DD: Meu amor por tigela.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Lelê mimi


Vez por outra Letícia pede para ir dormir com Maurinete – antigamente era mais freqüente, mas já passou essa fase – e aí eu deixo. As duas ficam papeando, Letícia com suas conversas que não deixa ninguém dormir. Ela gosta de conversar e é por isso que eu sustento esse blog. Chega meia-noite e eu só ouço o tititi das duas e vou lá avisar que elas têm que dormir porque Maurinete tem que acordar cedo pra ir pro trabalho. Procuro controlar Lelê que ela também não pode acordar tarde porque senão quando ela for tomar café da manhã não irá querer almoçar e não é legal ir pra escola sem almoço. Beijo as duas, cubro com seus lençóis, falo algumas frases apalhaçadas, bobas, Lelê sorrir, vou pra biblioteca e ainda fico ouvindo um teretetê das duas que vai escasseando, escasseando... Vou vê-las, adormeceram com os rostos um de frente pro outro como se estivessem pronunciadas as últimas palavras em sonolência, Lelê com um braço envolto no pescoço de Maurinete. As duas dormindo se “olhando”, como se Maurinete fosse a filha de Lelê ouvindo sua conversa atenciosamente; Maurinete como se fosse a irmã de Lelê tricotando sobre o dia-a-dia; Lelê como se fosse a irmã mais nova de Maurinete ouvindo algum conselho; Lelê como se fosse a mãe de Maurinete a orientá-la para gostar de estudar, ler, ir ao teatro, ao parquinho...; Maurinete como se fosse uma bonequinha de Lelê pre’la dar banho debaixo do chuveiro e vestir sua roupinha e depois niná-la; Lelê-Mauri como se fossem almas gêmeas, e digo que são! Mauri-Lelê como se fossem duas colegas inesquecíveis do primeiro grau em último grau de amizade; Lelê-Mauri em uma dobradinha Pelé-Coutinho, Ronaldinho Gaúcho-E´to, Lemaulêri, Maulerilê.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Caô

● Ontem, eu e Maurinete fazendo o almoço, batendo papo, bebendo cerveja, Lelê rodando bicicleta na rua, vai e volta pra casa e depois brincando de bola e papeando também com a gente.
LL: Mãe, por que o nome cadeira?
Mauri: Por que o nome Letícia?
LL: Porque... porque... porque eu sou bonita!
Mauri: Seeei...
LL: Por que o nome macarrão?
DD: Porque a palavra ma-car-rão é comprida como macarrão.
Pelo visto vamos ter que comprar o Manual dos Curiosos para satisfazer a tantas dúvidas. Aliás, o Manual dos Curiosos foi escrito para matar a curiosidade dos adultos, e depois falam que as crianças são muito curiosas.

● Lelê comprou um joguinho chamado Resta 01, que é parecido com dama, onde se come as pedras pulando uma. O jogo se resume a comer todas as pedras e restar apenas uma, daí o Resta 01.
Depois que Lelê jogou uma partida foi minha vez.
DD: Pera aí, você está me enrolando.
LL: Pai, eu num vou dar caô em você, não.
Antes de lhe perguntar o significado dessa palavra construí meus significados: dar o trampo; enrolar; dar o cano; fazer rolo pra cima de mim;
LL: Significa mentira!

domingo, 8 de junho de 2008

Festa junina

Sexta-feira Lelê foi à festa junina da Escola Parque e lamentou que essa seja a última festa junina nessa escola, pois no próximo ano, com certeza, ela já estará cursando a 5a. série e lá só leciona até a 4a série. Ela não foi a nenhuma dessas festas vestida a rigor: cabelo trançado, vestido florido, chapéu de palha, em síntese, vestida de uma caipirinha. Nunca quis. Tentamos e ela resistiu, e ela é uma menina toda extrovertida em casa. Em casa! Mas, é lógico, também adora essa festa porque ela se esbalda no bolo de chocolate, brigadeiro, pipoca e por aí vai a guloseima da humanidade infantil. A música da festa era de um som com músicas tradicionais – Luiz Gonzaga e outros forrozeiros – e queria ter semelhança com as festividades juninianas do interior.
Ontem fomos a outra festa junina, na igreja Santa Edwirges, na 904 Sul. Banda ao vivo, de Goiânia. Lotadim de gente e tinha quentão, rubacão, caldo de feijão, cerva e mais pizza e outros badulaques. Só que, a banda de goiânia não era de forró, e nem podia ser pois goiano só canta sertanejo, e aí rolou sertanejo a maioria do tempo e mais música bate-estaca, batidão, música do ‘créu’ e outros quejandos. Teve uma quadrilha de jovens de uma comunidade, sei lá de onde, que dançavam bacana, mas a música era uma mistura de forró com rap e congêneres. Depois a banda goiana voltou atacando com rock anos 60, sertanejo, bate-estaca e similares. Em síntese, festa junina mesma, das boas – aí estou querendo demais – não existiu de jeito nenhum.
Bem, fiz esse preambulão todo pra dizer que Lelê – e a maioria dos ali presentes - tava adorando, principalmente das músicas de rap, créu e demais pérolas das paradas musicais. Percebi que eu estava passando o bastão da festa junina tradicional, que já morreu, para a festa junina globalelêzidada dos novos tempos. Tenho que entender que a geração de Lelê está vindo aí embalada, descendo a ladeira e tenho que ficar lá embaixo procurando apará-la para não se machucar, pra não ter arranhões nela e em nós, eu e Maurinete.

sábado, 7 de junho de 2008

Jardim Botânico

● Domingo retrasado fomos – eu, Lelê e Mauri - ao Jardim Botânico pela primeira vez. Fica pertinho daqui de casa e não tínhamos ainda visitado. Quando entramos ficamos encantados com tanto verde. Passando pela estrada de asfalto as comparações de Lelê foram de imediato: “Parece com as estradas que chegam a Marechal Floriano”, terra natal de Maurinete”; na estrada de terra: “nossa, parece com a estrada de São Rafael”, a roça dos parentes de Lelê e Mauri; no jardim dos cheiros, local só com ervas, plantas medicinais, para chá, tudo exalando um aroma gostoso, e Lelê emenda: “minha nossa, parece com aquele cheiro lá de São Rafael”. Na Avenida das Nações, dentro do Jardim Botânico, há um auditório ao ar livre, bancos de madeira rústica, palco elevado, gramado, tudo ao natural, margeado com todas as bandeiras dos estados brasileiros, e Lelê correu em direção à bandeira do Espírito Santo. Fomos ao mirante, subimos e vimos no horizonte a paisagem verdejante a encantar nossos olhares. Letícia subia e descia as escadas de uns sete metros de altura, mais ou menos. Tudo parecia com o Espírito Santo na visão de Lelê.

●LL: Pai, o que significa anorexia?
DD: Por que você quer saber?
LL: É porque a Mia, dos Rebeldes, tem anorexia.
DD: Então vamos consultar o dicionário.
Ela procurou e achou no Aurélio.
LL: Ah, agora eu sei.
DD: Então anote no seu caderno pra você não mais esquecer.
LL: Não precisa, pai, eu anoto aqui na minha cabeça, ó!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Baculejo

Não tem jeito. Por mais que a gente peça a Lelê ela acaba esquecendo de levar objetos seus de dentro do carro para dentro de casa. Certos dias dou um baculejo no gol e encontro coisas da garotinha, como: maria chiquinha – sorte que ela tem várias; borrachas de amarrar dinheiro – não sei onde ela consegue essas ligas; envelopes vazios de figurinhas dos Rebeldes – várias duplicatas estavam na lateral da porta traseira; uma meia - “ oh, deus, eu jurava que essa meia estava dentro de casa; uma bonequinha pichututinha – “pai, você não viu aquela bonequinha minha, não?”; grampo de cabelo – tem dia que quer prender o cabelo e fica louca procurando um mísero grampo; tampa de batom – ”num sei, mãe, eu acho que eu vi ela ali no armário da cozinha!”; papel de balinha e de chiclete – “mamãe já falou, filhinha, que não quer que a filhinha fique chupando bala e chiclete toda hora, pois se não vai ter que ir no dentista com muita freqüência”; lapiseira – “filhinha, você não viu aquela lapiseira amarela minha que estava na escrivaninha da biblioteca, não?”, “juro, papai, que não vi”; uma sandália de dedo – “eu sabia que a desgraçada dessa sandália não estava aqui dentro de casa porque eu já revirei tudo!”; a flauta da escola – entrou no carro já está ela soprando um tirulilulá!, firim-fom-fom!, fiu-fiu-fiu!: “viu, pai, aprendi mais uma nota, olha só!”; os gibis do Maluquinho e os da Julieta – “o sol que bate aqui dentro do carro, filhinha, vai amarelando as revistas, tome cuidado!”.
“Não, num vou esperar não, leve agora pra dentro de casa. Você só sabe dizer ‘espera, espera, espera’, e nunca leva, caramba!”.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cala-te Boca!

Fluminense x Boca Juniors da Argentina. Foi duro, mas tive que torcer pelo Fluminense ontem à noite por causa de minha filha. A alegria dela me pedia a ajuda de mais um torcedor somando-se aos 84 mil que coloria o Maraca. Tenho que reconhecer que a festa estava bonita com todo aquele mundão de gente mais as figuras de proa como o Lulu Santos, Chico Buarque e sua filha Sílvia e mais um provável plantel de estrelas artísticas ali presentes. Mas a estrela maior foi a de Lelê que vibrava, xingava, me abraçava de nervosismo, de emoção, de ansiedade pro jogo terminar logo. Palermo, autor do primeiro gol da partida, pobre coitado, Lelê chamou-o de filho-da-puta em um grito rompante e mais um “morra! morra! sua besta!”, manifestações que eu não podia reprovar, pelo contrário, deixei a menina extravasar juntamente com aquelas oito dezenas e meia de milhares torcedores, torcendo de dores e alegria por um time de futebol, que, tenho certeza, nosso amigo tricolor Alcindo - um torcedor tricolor não tão doente como antes de se mudar pra São Paulo e que agora só pensa no time do São Paulo, ou seja, um meio traidor - irá falar que o Flu estava representando o Brasil.
A velha dor de joelho na jovem Lelê voltou, bem na hora do jogo, mas ela suportou até o fim do jogo para eu fazer massagem, não queria atrapalhar nossa assistência de espectador pro Flu. No terceiro gol de Dodô, aos quarenta e sete minutos da etapa final, Lelê gritou, pulou – nem mais lembrava do joelho - já dando como certa a vitória do Flu. O juiz deu o veredicto final aos quarenta e nove minutos e Lelê gritou e pulou feita uma cabrita ainda mais.
Hoje Lelê e eu fomos comprar o Jornal de Brasília – que vem com caderno só de esportes – pra lermos as notícias do jogo de ontem e a manchete era: “Ao Japão, via Washington!”. O Washington é o nome do jogador que fez o primeiro gol do Flu. Dentro do carro ela já vinha lendo a chamada de capa.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Tosse

●Lelê está com a garganta meio inflamada, não quis nem tomar café direito. Mais tarde vi que ela estava colocando água em sua garrafinha de água da escola, e eu pensei que era água gelada, como ela sempre gosta de fazer ou ficar chupando gelo.
DD: Letícia, num tá vendo que você não pode beber água gelada!
Neide: Não, “seu” Eduardo, não é água gelada não.
LL: Meu pai está nervoso.
Neide: O senhor não deixa eu explicar!
DD: Depois essa menina fica tossindo e a noite eu tenho que ficar a madrugada acordado por conta dessa sua “tossidão”.
LL: Meu pai tá com TPM.
DD: Não, é que minha menstruação está atrasada (riso de Neide).
LL: Meu tá com TPM: Tensão Pré Maurinete!
● Se a gente fala pra Lelê, numa situação qualquer, a expressão “como é que pode!” de imediato ela responde: “um boi casar com um bode!”.


LL: Mãe, qual a piada de um pinto?
Mauri: Piu!
LL: Qual a piada do segundo pinto?
Mauri: Piu! Piu!
LL: Qual a piada do terceiro pinto?
Mauri: Piu! piu! piu!
LL: Não, é pirr! Ele é caipira! Vi essa piada no Menino Maluquinho (seriado da Tv Brasil).

terça-feira, 3 de junho de 2008

Muito dever


LL: Pô, pai, a professora pegou pesado!
DD: Já sei, foi matemática.
LL: Não, olha aqui, ó (mostrou o livro de Estudos Sociais), a gente tem que fazer os deveres da página 26 até a 62, copiar todas as páginas, responder todos os exercícios.
Na realidade achei ótimo, pois ela está necessitando praticar muito a escrita para melhorar sua caligrafia – além da aprendizagem, claro.
DD: E isso é pra entregar amanhã?
LL: Não, a professora num falou o prazo, não.
DD: Ah, bom.
Se fosse, eu e Maurinete estaríamos ferrados. Enquanto ela não termina um dever não sossega, não entrega os pontos nem com a bixiga. Ela seria capaz de varar a madrugada só fazendo esses deveres.
Mais tarde ela veio mostrar-me se a caligrafia estava ficando boa.
DD: Está ótimo, meus parabéns. Faça sem pressa e ela vai ficar melhor ainda.
Meia noite e cindo minutos, estava ela lá, fazendo os deveres.
Mauri: Filhinha, pare, vamos dormir, por hoje chega. Você já está com os olhos vermelhos de sono, está bocejando.
LL: Não, mãe, só mais um pouquinho.
Mauri: Não, filhinha, vamos dormir, dessa maneira não é interessante estudar, você não tem rendimento, a aprendizagem é péssima.
Acabou sendo convencida pelo cansaço.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Greve

Brasília paralisada: greve de ônibus. Lelê tá triste porque ela não é uma onibuseira. Se fosse uma onibuseira ela não iria hoje pra aula. A todo momento argumenta pra mim que hoje vai ter poucos alunos em sala de aula e fez até os cálculos de quantos alunos iriam e de quantos não iriam. Outra desculpa é que o James (motorista da van escolar) pode atrasar e aí ela chegará tarde. Mas tudo bem, ela falou que adora chegar atrasada em sala de aula só pra bater com os nós dos dedos da mão na porta da sala de aula e falar pra professora um “dá licença!”.
Poucos alunos assistirem aula e outros não, isso ela considera injusto. E ficou gritando em tom de grevista pra mim:
LL: Injustiça! Injustiça! Injustiça!.
DD: É verdade, isso é injustiça, mas você vai ter que ir pra aula.
Por último, apresentou o argumento de que, quando acontece essas situações de poucos alunos comparecerem a aula, a professora fica mais é passando filme e aplicando atividades de lazer.
DD: Letícia, é o seguinte: quem determina que você vai à aula... (não deixou eu completar)
LL: É você.
DD: E sua mãe. Quem determina se vai ter aula, e o conteúdo dessas aulas, são a diretora e a professora.
Bib, bip! Era a van, o James chamando. Lelê lamentou porque o James não faz greve.

domingo, 1 de junho de 2008

No parquinho

●Ontem levei Lelê pros parquinhos daqui do condomínio. De manhã e a tardezinha. Fim de semana aparece bastante pais com seus pirralhos. Eu com minha guria e a sua inseparável bola do Fluminense brincamos de arremessá-la na cesta de basquete. Apareceu um guri (de uns seis anos – o pai estava na entrada do parquinho) perguntando se podia brincar.
DD: Claro. (Ficou brincando com Lelê).
Guri: É a bola do Fluminense?
DD: É, sim.
Guri: Eu não gosto do Fluminense. Eu torcia pelo São Paulo, ele perdeu e agora torço pelo Flamengo. (Depois emendou):
Guri: Eu estudo de manhã, mas eu queria estudar a tarde, aí vai dar tempo ver desenho e eu brincar com meu cachorro.
Guri: Quanto tá nosso jogo?
Lelê: Um a três.
Guri: Não é um a três, é três a um.
Lelê: Dá no mesmo.
Guri: Mas é mais fácil de falar.

●Apareceu o Felix, morador que conheci aqui no condomínio e seu filhinho.
Filhinho: Pai, vamos ver eu fazer uma cesta.
Felix: Pode ir, eu vejo daqui você fazer uma enterrada.
Filhinho: Você não acha que eu vou enterrar a bola no chão não, né? (Caímos na risada).

Descemos pro outro parquinho. Lelê brinca como se estivesse na praia (o parquinho tem areia de praia). Cobre as pernas de areia, brinca de fazer sorvete, se lambuza de areia, cai na areia como uma jogadora de vôlei. Esquece-se do mundo na areia. Levei um livro e fico lendo (O Pasquim: antologia I) e rio com umas passagens de uma fictícia entrevista de Jaguar com Sérgio Porto. Lelê me viu rindo e pergunta do que estou rindo e comento.
LL: Não, pai, não fala, lê pra mim.
DD: É melhor eu explicar pra você.
LL: É porque eu sou criança e criança não entende, né?
DD: Não, não é isso. Então tá, vou ler: “Aos 20 anos, Rosamundo teve o seu primeiro emprego no Ministério do Trabalho: oficial de gabinete do Ministro, emprego que durou apenas alguns meses, justamente o tempo em que o Ministro levou para aparecer pela primeira vez no gabinete. O Rosamundo, que nunca tinha visto S. Excia. ali, perguntou: ‘O senhor quer falar com o Ministro?’ O Ministro, para gozá-lo, respondeu que sim e o Rosa estrepou-se, ao fazer esta justa, mas distraída, observação: ‘Então o senhor trate de procurá-lo em casa, pois o Ministro é um vagabundo e nunca aparece aqui”.
LL: É muito legal esse “vagabundo!”.
Outra que Lelê pediu p’reu ler:
DD: “Calos Lacerda (governador do Rio de Janeiro) inaugurou a Adutora do Gandu e anunciou (isso em 1971) que não faltaria água no Rio de Janeiro até o ano 2000, e quando Rosamundo chegou em casa e abriu o chuveiro para um banho reparador, só caiu uma gotinha na cabeça dele e olhe lá. Na sua proverbial vaguidão, ele comentou: ‘Puxa! Como os anos passaram depressa’ “. Fomos embora pra casa (19:15h) e devoramos uma pizza das grandes que Maurinete trouxe da rua, depois que ela,Lelê, tomou aquele banho.