A agenda de Lelê hoje está lotada:
Às 06:20 ela já estava pegando a van pro colégio.
12:30 já estava eu no colégio para pegá-la para irmos almoçar no restaurante. Não dava tempo irmos em casa almoçar devido seu compromisso maior.
14:00 tenho que deixá-la no salão de beleza para fazer escovinha.
16:00 retorno com ela pro colégio para fazer prova de inglês. Depois da prova vamos para casa. Lelê tem que se arrumar.
20:00 levo-a para seu colégio, novamente, para a atração principal dessa sua agenda, uma vernissage.
Há quase um mês Lele só fala nessa vernissage. Trata-se de mais uma atividade cultural empreendida por sua escola. Ao final de cada ano letivo é lançado um livro chamado Palavra em Ação, constando de um texto de cada aluno do colégio. O tema é livre. Mais uma exposição de quadros produzido pelos alunos com auxílio da professora de artes.
Lelê não quis fazer feio e pediu que fosse feita uma escovinha, trato no cabelo que ela adora. Maurinete não estava acompanhando-a porque está envolvida em seus estudos (uma especialização), mas Lelê quer que a mãe faça a maquiagem.
Estava ela meio agitada, meio nervosa por causa desse evento. Nem tomou café direito hoje de manhã, muito menos almoçou com apetite. É um frisson que lhe baixa como se esta noite fosse a última das noites admiráveis em sua vida.
Ah, mas o toque especial no cabelo tem que estar impecável. A vaidade feminina lhe aflora como em qualquer mulher que gosta dar um toque em momentos especiais. Não que ela seja vaidosa. O problema é que depois ela quase que não mais quer lavar o cabelo pra não desmanchar a escovinha. Sobre esse tipo de penteado já falei num texto bem lá pra trás.
Quando estava saindo de casa me pergunta: “Pai, eu estou bonita?”. Essa autoafirmação das mulheres parece que está no gene, ou será o afloramento natural da vaidade de uma pré-adolescente? “Lógico, filhinha, lindíssima!”. Qual o pai que irá contrariar a filha num momento desses? Mesmo porque, é a mais pura expressão da verdade: ela estava realmente mais bonita.
Mesmo se não houvesse o realce de suas sobrancelhas, base, batom suave, toques e retoques dados pela mãe, ela ainda está na fase em que a natureza se encarrega de retocá-la de forma generosa.
Acredito que, para a idade dela, em que quer mostrar sua silhueta para seus pares, numa nítida demonstração de ocupação de espaços estéticos, o quadro mais bonito da exposição, o texto mais inteligente do livro, ou fanzine (tinha mostra de fanzine também) passa à margem da intencionalidade intelectual da vernissage.
Digo isto porque fiquei observando a fogueira das vaidades juvenil de toda galera num vai-e-vem pelos corredores do colégio, como se estivessem em uma passarela de desfile.
A propósito: o título desse texto é uma paródia ao do livro de Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, um livro para espíritos livres. No caso, aqui, o subtítulo seria: um desfile para espíritos livres. Não quero, nem de longe, estragar o nome de Nietzsche, tampouco ser o desmancha prazer de festinha de adolescentes de colégio.
Às 06:20 ela já estava pegando a van pro colégio.
12:30 já estava eu no colégio para pegá-la para irmos almoçar no restaurante. Não dava tempo irmos em casa almoçar devido seu compromisso maior.
14:00 tenho que deixá-la no salão de beleza para fazer escovinha.
16:00 retorno com ela pro colégio para fazer prova de inglês. Depois da prova vamos para casa. Lelê tem que se arrumar.
20:00 levo-a para seu colégio, novamente, para a atração principal dessa sua agenda, uma vernissage.
Há quase um mês Lele só fala nessa vernissage. Trata-se de mais uma atividade cultural empreendida por sua escola. Ao final de cada ano letivo é lançado um livro chamado Palavra em Ação, constando de um texto de cada aluno do colégio. O tema é livre. Mais uma exposição de quadros produzido pelos alunos com auxílio da professora de artes.
Lelê não quis fazer feio e pediu que fosse feita uma escovinha, trato no cabelo que ela adora. Maurinete não estava acompanhando-a porque está envolvida em seus estudos (uma especialização), mas Lelê quer que a mãe faça a maquiagem.
Estava ela meio agitada, meio nervosa por causa desse evento. Nem tomou café direito hoje de manhã, muito menos almoçou com apetite. É um frisson que lhe baixa como se esta noite fosse a última das noites admiráveis em sua vida.
Ah, mas o toque especial no cabelo tem que estar impecável. A vaidade feminina lhe aflora como em qualquer mulher que gosta dar um toque em momentos especiais. Não que ela seja vaidosa. O problema é que depois ela quase que não mais quer lavar o cabelo pra não desmanchar a escovinha. Sobre esse tipo de penteado já falei num texto bem lá pra trás.
Quando estava saindo de casa me pergunta: “Pai, eu estou bonita?”. Essa autoafirmação das mulheres parece que está no gene, ou será o afloramento natural da vaidade de uma pré-adolescente? “Lógico, filhinha, lindíssima!”. Qual o pai que irá contrariar a filha num momento desses? Mesmo porque, é a mais pura expressão da verdade: ela estava realmente mais bonita.
Mesmo se não houvesse o realce de suas sobrancelhas, base, batom suave, toques e retoques dados pela mãe, ela ainda está na fase em que a natureza se encarrega de retocá-la de forma generosa.
Acredito que, para a idade dela, em que quer mostrar sua silhueta para seus pares, numa nítida demonstração de ocupação de espaços estéticos, o quadro mais bonito da exposição, o texto mais inteligente do livro, ou fanzine (tinha mostra de fanzine também) passa à margem da intencionalidade intelectual da vernissage.
Digo isto porque fiquei observando a fogueira das vaidades juvenil de toda galera num vai-e-vem pelos corredores do colégio, como se estivessem em uma passarela de desfile.
A propósito: o título desse texto é uma paródia ao do livro de Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, um livro para espíritos livres. No caso, aqui, o subtítulo seria: um desfile para espíritos livres. Não quero, nem de longe, estragar o nome de Nietzsche, tampouco ser o desmancha prazer de festinha de adolescentes de colégio.
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