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terça-feira, 31 de março de 2009

Hora do Planeta

Sábado de manhã quando estávamos indo pra gincana da escola de Lelê, ela ia lendo um texto sobre o problema de escassez e mal trato da água no mundo atual. Era uma tarefa de geografia - fazer um resumo - para ser apresentada na próxima semana. O texto faz um alerta com o que poderá ocorrer com o mundo nos próximos tempos se a preservação da água não for cuidada desde já. Enumera números preocupantes divulgados por organismos internacionais tipo ONU. Não é a primeira vez que vejo essa temática sendo abordada na escola para Lelê. Ano passado também aconteceu. Há um propósito de se semear essa preocupação ecológica para a geração celular-Lelê, e, pelo que a gente vê pela imprensa impressa e digital o problema será sério. Mas, como se colocar esse problema na prática do dia-a-dia de Lelê, além de diminuir um pouco nosso banho, economizando água e energia?
À noite, vendo o noticiário da televisão, foi noticiado a campanha intitulada Hora do Planeta, iniciativa da ONG WWF, que se dedica à conservação da natureza e promoção do uso racional dos recursos naturais, em que se constituía em apagarmos as luzes de casa por uma hora - das 20:30 às 21:30h. Casas, empresas e governo também iriam apagar as luzes. A Explanada dos Ministérios em Brasília, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, a Torre Eifell em Paris e a casa de Lelê em Brasília também. Ela nos convidou: "Vamos pai, vamos mãe, apagar também!". Concordamos e ela buscou uma vela e acendeu para nos locomovermos lá pra rua para vermos se algum vizinho iria aderir também à campanha. Tudo no breu em casa. Maurinete foi tomar banho no escuro. Topou tranquilamente a empreitada. A sombra de Lelê causada pela luz de vela era o espectro do futuro se não houver preocupação com o H2O. A vizinhança, constatamos, não tava nem aí com a preocupação de Lelê, e tomara que Lelê não seja tomada pelo espírito dos ecochatos, mas que tenha a preocupação de demorar menos tempo no banheiro tomando banho e que desligue as luzes quando não estiver nos cômodos da casa. O mundo agradece e o nosso bolso também.

segunda-feira, 30 de março de 2009

O menino que só vivia jogando bola

Não sei de onde ela ouviu essa estória. Deve ter sido na escola, ou é invenção dela, sei lá. É a estória do menino que fazia tudo jogando bola. Se estava fazendo refeições, estava lá o guri mexendo a bola com os pés enquanto comia. Andava chutando uma bola para todo canto que ia. Até ao banheiro, fazer suas necessidades, o miúdo tava lá mexendo com a bola de futebol. Não me perguntem como, só sei que Lelê falou que era assim. Como existe o livro O Menino do Dedo Verde, do escritor francês Maurice Druon, para Lelê também existe a estória do menino que só sabe jogar bola em todas as situações. Subindo os degraus da escada da escola, da igreja, da pracinha, e de onde tivesse degraus, o infante não largava o chute medido da bola. Se ele estava conversando com a gente, ele tava chutando a bola. Tinha outras atividades que o guri fazia jogando bola que nem mais me lembro que Lelê falou, e esqueci de perguntar pra ela, se essa criança, quando ia dormir, dormia jogando bola. Mas com certeza ele jogava bola, sim senhor, dormindo. E muito. Provavelmente ela estaria jogando muito mais do que em todas as outras vezes que ela jogava. É que ele não parava de jogar em seus sonhos. Lelê completou para Mauri:
Lelê: Mãe, até na hora de fazer os deveres da escola para casa, tava lá o moleque fazendo os deveres, sentado, jogando a bola entre um pé e outro.
Mauri: E quando ele foi fazer prova, tava lá ele jogando bola, e depois, quando recebeu o resultado das notas ele recebeu a nota de uma bola, bem redondinha!
Caímos na risada.

sábado, 28 de março de 2009

XVII Gincana

A escola de Letícia anualmente realiza uma semana de gincana, e já está na décima sétima. Hoje fomos presenciar e participar. Toda comunidade escolar e familiar é envolvida, com direito a abertura com o inevitável hino nacional e tudo. As pontuações das competições se limitavam a participações. Participou das atividades, estava cumprida a tarefa. Os alunos se dividiram em três grupos: o vermelho, verde – o de Letícia – e o azul – todos vestidos com camisetas confeccionadas para o evento. Podiam levar apito, corneta, bumbo, e o que mais fizesse barulho para agitar na hora das conquistas. As tarefas foram de casais de pais dançando; desfile de três casais vestido a caráter de indiano, chinês e russo; saco de tralhas; apresentação de cão amestrado; pessoas nascidas no dia, mês e ano da fundação da escola; pessoa com maior cabelo – a vencedora foi uma garota com o cabelo de um metro e quarenta e cinco centímetros; passa e repassa – perguntas dos livros de literatura lidos para tal fim; maior melancia de diâmetro; reportagem relacionada com o tema “Faça a Diferença” – publicada no Correio Braziliense. O repórter do jornal esteve lá para cobrir essa tarefa. O que eu achei interessante foi o jogo Play Ball com cegos da Associação Braziliense de Cegos. Um jogo pouco conhecido no Brasil. Cinco jogadores de cada lado, com regras próprias. Dentro da bola do jogo tem guizo para os atletas se guiarem pelo barulho que eles produzem. Depois os pais e logo a seguir os alunos jogaram também com os olhos vendados para sentirem como é o jogo na real. Tudo isso e mais outras atividades são realizadas no decorrer da semana. Letícia estava toda empolgada apitando a toda hora e torcendo para ser premiada por ingressos para uma peça de teatro e pelo sorteio de uma guitarra, é lógico. Segunda-feira as atividades serão desenvolvidas no Clube Cota Mil, um dos mais tradicionais de Brasília.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Escala numérica, escala gráfica

1 - Lelê tá enrolada sem saber resolver os exercícios de geografia sobre escala numérica/gráfica. Leu o capítulo do livro, tentou, tentou, e nada de saber resolver os tais exercícios sobre escala. Fui auxiliá-la e também li algumas páginas básicas do livro e também não consegui traduzir como se faz a transformação de 1:500 000 da escala numérica para a escala gráfica. Putz, tô burro pra caramba. Chamei Maurinete para dar uma força pra gente e ela entendeu mais ou menos – não cem por cento. Caramba, essa menina está estudando coisas de que nem nós damos conta de sabermos. Coletivamente resolvemos os exercícios e Lelê ficou de conferir com a professora e pedir uma melhor explicação. Escala, um nome curto de sentido extenso.
2 - Mais tarde nós três fomos ver o que rolava pelo mundo no noticiário televisivo noturno, ver se dávamos uma refrescada escalar em nossas mentes. Não tem escapatória, violência é inevitável assistirmos. Manchete em tudo quanto é noticiário em Brasília com repercussão no Brasil inteiro foi a barbaridade cometida anteontem a noite por dois menores – um era menina – e um adulto que em curto espaço de tempo furtaram oito carros, assaltaram, balearam e mataram um funcionário da secretaria de cultura do GDF, que era bibliotecário.
3 – Hoje pela manhã Lelê acorda e suas primeiras palavras dirigidas a mim são de que teve um sonho terrível ontem. Sonhara que uma tia sua – colo aqui uma tarja preta de não identificação – havia sofrido um seqüestro relâmpago, e também uma outra pessoa familiar próxima sofrera seqüestro, só que ficou sob o poder dos bandidos aguardando o resgate financeiro, que ela não sabia de quanto era.
4 – Talvez sob a frustração de não ter aprendido corretamente o assunto ´escala´ o sonho lhe imprimiu a escala da violência que viu no noticiário da TV. Também vimos a notícia televisiva de que Lula almeja a escala onírica de construir um milhão de casas, uma espécie de bolsa-residência. Ou seja, quer construir casas de pombo para os que querem viver às margens das metrópoles, ou cidades candidatas a metrópoles. Não precisa nem estudar que Lelê já sabe que essa escala residencial se não for acompanhada de escola em escala o esculacho do triângulo escaleno social estará sedimentado na escala gráfica com o risco ascendente de bala perdida.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Ser adulto

Mauri estava tomando um remédio e Lelê pediu para tomar também. Mauri lhe falou que era remédio para adulto.
LL: Mãe, você gostaria de ser criança?
Mauri: gostaria
LL: Pai, você gostaria de ser criança?
DD: Gostaria
LL: Todo adulto gosta de falar que gostaria de ser criança.
DD: Mas nem toda criança fala que gostaria de ser adulto.
Essa não é a primeira vez que Lelê aborda essa questão. Quando ela se vê com muito dever da escola para fazer, olha para mim e fala:
LL: Você tem muita sorte!
DD: Por que?
LL: Porque você não precisa fazer dever de casa da escola.
DD: Mas você não sabe que quando eu tinha sua idade eu também tinha deveres de casa?
A reação dela é ficar calada e fazer o dever. Ela sabe que não tem jeito.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Senhora Barbie


No último dia nove a boneca Barbie completou 50 anos. Essa senhora infantil é uma das bonecas mais vendidas do mundo. A cada dois segundos é comprada uma Barbie. São duzentos modelos de bonecas e mais roupas, cadernos, celulares e outras tantas quinquilharias. A criadora dela se inspirou na filha Bárbara, como o Maurício de Souza se inspirou em sua filha Mônica para criar a Mônica, e o Ziraldo em seus amigos pra criar a Turma do Pererê, como não sei em quem Monteiro Lobato se inspirou para criar Emília, e em quem minha avó se inspirou pra criar suas bonecas de trapo. Apesar de tudo isso Lelê não gosta dessa boneca loura. Desde quando ela era mais nova que não simpatizava com essa norte-americaninha . Ontem lhe perguntei porque ela não gostava da loirinha, e ela disse que Barbie era boneca pra criancinha. Do alto de seus dez anos criancinha deve ser bebê. De fato, Lelê tem várias bonecas mas nunca manifestou vontade por uma Barbie. Eu até poderia induzi-la a querer uma dizendo que a Barbie se parece com Marta Suplicy de cabelos longos, ou a Dilma Rousseff também de longos cabelos. Mas desisti da idéia porque senão Lelê iria praguejar-me pelo resto da minha vida.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cotidiano


LL: Pai, o que significa ´cotidiano`?
DD: Onde você viu essa palavra?
LL: No livro de português.
DD: Cotidiano significa aquilo que acontece todos os dias, diariamente. É o que a gente faz regularmente no dia-a-dia. Dê um exemplo de algo cotidiano seu.
LL: Hummm... Deixa eu ver... Ir pra escola é cotidiano.
DD: Isso. Todo dia, de segunda a sexta você vai para o colégio. Cotidianamente nós estamos aqui por volta das seis e dez, seis quinze da matina, na entrada de casa esperando a van pra te levar pro colégio. Você mesma já observou que todo dia quando a gente chega aqui no portão, tem uma mulher que passa em frente daqui de casa pra fazer caminhada. Olha lá, aquele pombo em cima do fio da rede elétrica, que ontem quase dava uma cagada em nossas cabeças sem a gente perceber, ele parece que cotidianamente pousa no fio da rede elétrica. Daqui a pouco começa a passar gente para ir trabalhar, tanto de carro como a pé, cotidianamente.
LL: E aquele avião a jacto que tá passando ali – apontou pro céu – ele também é cotidiano?
DD: Não, porque não o vimos todos os dias passar ali. O Lula todos os dias aparecer na televisão falando, é um cotidiano que enche o saco.
LL: O bebê que chora e faz cocô também é um cotidiano.
DD: É sim. O Obama aparecer todos os dias nos noticiários televisivos é algo cotidiano politicamente no mundo inteiro; os crimes que aparecem todos os dias na televisão é uma coisa cotidiana muito triste; O Ronaldo Fenômeno aparecer todo dia na televisão por causa de seus dois gols no Corinthians, é um cotidiano idiota;
LL: Fazer os deveres da escola...
DD: Não, não, isso não é um cotidiano idiota, não. É um cotidiano essencial... Sim, é verdade, tem momento que a gente acha um saco fazer dever de casa, porque brincar é infinitamente mais legal. Mas que é importante pra gente, ah, isso é. (Se eu tivesse a idade dela agora, vivendo essa fase da infância, iria me contestar, com certeza).
LL: Lá vem a van da escola, pai. Conheci pelo barulho dela. (Me beijou e atravessou a rua tranqüila).
DD: Tchau, filha, o cotidiano da vida te chama. Dê um beijo pra professora cotidiana; um abraço no porteiro cotidiano; um bom-dia pro motorista da van cotidiano; um olhar de admiração pro Sol cotidiano; um olhar de compaixão pros mendigos cotidianos deitados nas calçadas lá da W3 Sul; um insistente raciocínio pra aquela expressão de matemática que lhe encheu a paciência; (Ela já não mais me ouvia mas fez aquele sinal tradicional dos metaleiros, com a mão fechada e os dedos polegar e mindinho esticados balançando).

terça-feira, 17 de março de 2009

Crise automobilística

Pelas contas de Lelê a crise da indústria automobilística não está em recessão. Os noticiários televisivos, que ela sempre vê comigo ou Maurinete, nunca sozinha,– seria estranho criança ter interesse em ver o Jornal Nacional, Jornal da Band... - indicam que poucas pessoas estão comprando carro zero km, até mesmo automóveis da linha popular um-ponto-zero. O discurso do empresariado, é lógico, é manter esse discurso pra ganhar as reduções de impostos, os IPIS da vida econômica empresarial. Mas porque Lelê pode chegar a essa conclusão da não existência de crise no setor automobilístico? A questão é que ela usa dados confiáveis do DATALELÊ, que é a contagem estatística na linha ascendente do gráfico de Pareto de automóveis que circulam pelas ruas de Brasília – cidade da amostragem. Na van escolar, comigo ou Maurinete ela vai contando determinadas marcas de automóveis. Por exemplo, o corsa já estava na casa dos cento e vinte carros e ela resolveu mudar para gol. Nossa, senhora, como existe gol nessa cidade! Sem contar ainda o meu velho gol de guerra. A próxima pesquisa do DATALELÊ rumará para o pálio.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Rifa-se uma guitarra

Chegou Lelê em casa com um talão de bilhetes de um bingo de uma guitarra, modelo condor rocky. Rifa da escola em prol da gincana/2009 “Faça a Diferença”. E o preço - R$ 1,00 - tá mais barato que uma latinha de refrigerante. Comprei dois bilhetes e Maurinete três. Ela já ofereceu a Neide, nossa secretária, ao mestre de obras que está fazendo um serviço aqui em casa e só faltou botar uma banquinha em frente de casa para vender os tais bilhetes. A menina ficou toda interessada na venda dos bilhetes ,mesmo o dinheiro não sendo para ela. Rolou dinheiro, o interesse humana se rende, independente da idade. Entendi o espírito da escola em querer botar o aluno para se virar na venda do bilhetes: penso que é fazer com que a criança demonstre interesse na articulação da festa, testar sua ambição – ambição não, tá muito forte, mas digamos ´garra´ na conquista do interesse de grupo competitivo, já que a gincana tem grupos opostos na competição. Não tem jeito: reconheço que estão pegando minha filha para torná-la competitiva, como já falei num dos posts por aí atrás. Buaaaaa!!!! Eu queria a Lelê sem aprendizagem para a competição do mercado de trabalho! Mas qual escola, atualmente, tem esse espírito com esse mercado feroz das escolas disputando alunos a tapa?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ronaldo, o fenômeno

Estava eu ouvindo o comentário do jornalista Boechat na rádio BandNews sobre Ronaldo, o fenômeno, dizendo ele que graças a deus (isso é só força de expressão. Ele é ateu) Ronaldo não ficou no seu queridoFlamengo. E ele enumerou suas razões que não vem ao caso aqui. Já ouvi outros jornalistas e pessoas dizendo que torce pela volta de Nazário para o futebol, mas que não gostaria dele em seu time de coração. As explicações são de torcedores apaixonados por seus times, e pelo Ronaldo, o fenômeno de mídia, onde envolve muita grana, escândalos de farra para um atleta, segundo a crônica esportiva, paixões loucas por ídolo, etc. Ontem ele voltou a fazer mais um gol, dando a vitória para o Corinthians. Estávamos eu e Lelê vendo pelo noticiário do SBT das seis da matina a notícia de mais um feito do Ronaldo quando Lelê tece seus comentários, afirmando isso que escrevi acima, de que não gostaria de ver o Fenômeno no seu time de coração, o Fluminense. Pelas palavras dela já o considera um atleta em fim de carreira. “Ah, ele é um perna de pau! (êpa, vamos respeitar o passado do cara). Nunca eu vou botar ele no meu time. Sou mais o Washington, que saiu doFluminense e foi pro São Paulo”. Eu não sei se ela afirma isso por convicção ou pelos comentários - do tipo dos de Boechat - que ela fica ouvindo na escola e na van escolar.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Falta de tempo?!

Se é pra ser responsável, então vamos assumir nossa condição de pais que estão realmente preocupados com os estudo de Lelê. Sem esterismo pedagógico, sem nervosismo, sem pressão doentia. Acontece que estou percebendo que Lelê está nos sugando com o tanto de deveres e tarefas escolares. Cadê os velhos tempos em que tínhamos condições de irmos ao teatro, ao cinema, às exposições – nunca mais fomos ao Centro Cultural Banco do Brasil vermos belas exposições que nos causam beleza e espanto – e, principalmente, tempo bastante para ler. Nem sei mais quando foi a última vez que li um livro de uma tacada só. Nunca mais bati a última página de um Drummond. Ando com uma vontade enorme de ler um livro do outro Drummond, o Roberto, também mineiro. Até mesmo Lelê escasseou suas leituras em detrimento da escolaridade. Vamos ter que reavaliarmos essa rotina de estudo para adentrarmos o mundo artístico, causa maior da conquista do espírito humano. A conclusão de tudo isso acima foi comentário conjunto meu e de Maurinete. Então vamos procurar fazer a correção de rumos.

terça-feira, 10 de março de 2009

Geração fibra óptica

Navegar na internet, pra Lelê, já é trivial. Entrar no messenger, idem. Computador com câmera para se conectar, ou melhor, se comunicar – esses dois verbos cada vez mais se cruzam – de forma ‘presencial’, também, como também é banal dizer que as distâncias cada vez mais se encurtam hoje em dia. Literalmente pode-se dizer que assim caminha a humanidade, pelos caminhos das teclas digitais. A geração de Lelê é pura fibra ótica.
Vítor, seis anos, filho de nossos colegas Edimir e Vanessa, hoje, pela primeira vez, sozinho, abriu seu próprio e-mail. Os pais estavam radiantes com o novo internauta abrindo as portas do espaço cibernético. Como se não bastasse isso, o Caio, dois aninhos, irmão do Vítor, tá ali na cola esperando sua vez, para mais cedo que o Vítor dar seus primeiros passos na linha evolutiva dos cabos coxiais.
Só estou achando ruim que Lelê não tem uma caligrafia boa, bonita, compreensível, e, pelo caminhar da carruagem do teclado a situação deverá permanecer assim indefinidamente, pois quando chegar a usar constantemente o teclado para digitar, ela mesma, seus trabalhos escolares, então é só admirar o layout da página via estética que ela empregar em suas tarefas escolares. Em vista disso a professora de Lelê do Kumon lhe deu um caderno de caligrafia para praticar escrita de forma legível e bonita. Vamos ver se isso, seguindo esse método tradicional, vai melhorar sua letra.
Conclusão: o que espero é que Lelê tenha uma geração, como falei aí acima, uma geração de fibra ótica, e não uma geração “control ce-control ve”, intelectualmente falando.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Teologia infantil da libertação

Estávamos passando em frente ao salão onde é realizada a missa dominical em nosso condomínio:
LL: Pai, vai ser fera quando eu fizer a primeira comunhão.
DD: Porquê?
LL: Porque eu vou experimentar a hóstia. E eu vou ser a primeira da fila, porque senão eu não vou receber a hóstia inteira. Lá na igreja Santa Edwirges quem chega por último pega só a metade da hóstia. Você sabe o significado da hóstia, pai?
Antes que ela testasse meus conhecimentos litúrgicos eu testei os dela.
DD: Não. O que significa?
LL: Nossa, senhora, pai! Significa o corpo e o sangue de Cristo. Dá nisso não ir à missa.
DD: E quem recebe a metade da hóstia recebe só a metade do corpo de Cristo e só a metade do sangue?
LL: Lógico que não.
DD: Porquê?
DD: Porque tudo tem o mesmo significado.
Não quis colocar mais porquês para Lelê, senão a história iria ficar longa e a teologia infantil da libertação iria, provavelmente, despontar nela, deixando muita gente com os bofes estourando.

domingo, 8 de março de 2009

Residências

Ontem falei que Lelê estava estudando História para uma prova amanhã. Maurinete pegou firme com ela para estudar desde a semana passada e ouvi uma questão do roteiro de estudo dela que fala da diferença entre o modo de o homem e o do de João-de-barro construírem suas casas. Segundo o estudo dela o homem constrói sua casa de forma planejada e o João-de-barro faz sua casa sem planejamento. Mais tarde, de forma inconsciente, julgo, ela me pergunta se o nome é João-de-barro simplesmente porque ele faz a casa com o barro. Não sou enciclopédia para ter a resposta para tudo que Lelê me pergunta, mas essa me parece que está na cara que sim.
LL: Então o nome do homem deveria ser homem-de-concreto, homem-de-palha, homem-de-madeira, homem-de-tijolo.
DD: Faz sentido.
Lula prometeu recentemente construir um milhão de casas pro povo brasileiro. Se Lelê sabe disso vai dizer que Lula é o homem-promessa das residências. Pra ela Lula deveria construir essa infinidade de casas de chocolate. Seu boneco canguru, que ela ganhou de presente de uma amiga nossa que mora na Austrália, estava no chão de seu quarto. Seria a conta pra ela comentar, se eu estivesse por perto, de que o filhote de canguru tem a melhor casa de todas as casas. A casa construída dentro da mamãe canguru.

sábado, 7 de março de 2009

Chamem o Piaget!

Na próxima semana Lelê terá provas importantes a fazer. O parafuso começou a apertar. Observei que o roteiro dos livros, e mais especificamente o de matemática e história, os que me detive a analisar o conteúdo das provas, estão sintonizados com o tempo passado e presente. O presente já abordando a evolução tecnológica que desaguou no satélite e na internet. Muito diferente de meu tempo, onde os conteúdos eram secos, centrados no espírito cientifico estrito, e a mil anos luz, provavelmente, no tempo de meus pais. Paro por aqui, porque senão cairei na vala do analfabetismo de meus avôs e bisavôs. Só sei que, Lelê estudar sozinha esse farto material, ela não daria conta de aprender muito. Para quem tinha apenas um professor há três meses e de repente se defrontar com onze professores bombardeando sua cabeça que ainda não saiu de seu primeiro decênio, não é moleza não. Em história ela está estudando os conceitos de etnocentrismo, linha do tempo, e por aí vai. A matemática está centrada no tripé de sua história, ciência pura e exemplos da realidade do estudante. Não sei se esse volume de conhecimentos é fruto natural da contemporaneidade em que requisita cada vez mais o indivíduo para a informação e fazendo com que o tempo de dedicação às bonecas, às brincadeiras, ao tempo livre seja considerado supérfluo ou, ou, ou... Sei lá que argumento contraponho a isso! Ah, já sei, não há contra-argumentação, isso é um chamamento para o espírito competitivo da chamada era da globalização. Meu deus do céu, chamem o Piaget para destrinchar a questão do tempo e o desenvolvimento intelectual da criança; os estágios do desenvolvimento intelectual da criança; a linguagem e as operações intelectuais; a práxis na criança; a vida e o pensamento do ponto de vista da psicologia experimental e da epistemologia genética.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Conjuntivite

• Estávamos vendo o jornal noturno das vinte e uma horas do SBT, com Carlos Nascimento, e uma reportagem chamou a atenção de Lelê. Era uma reportagem sobre conjuntivite.
LL: Pai, você já teve conjuntivite?
DD: Já, sim.
LL: É muito fera ter conjuntivite.
DD: Ter essa doença é legal? Por quê?
LL: É fera porque a gente não pode ir à aula.
Não comentei nada porque me lembrei de que quando eu era criança, quando estava na escola primária, até espirro de galinha que causasse sua morte, pra mim seria decretado feriado nacional.
•A menina continua encucada com a história de que todos os dias crescemos. Ela agora fica de pé olhando pra´s pontas dos dedos dos pés tentando flagrar seu crescimento.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O mundo sem os bichos

Estava eu bebendo água para matar a sede desse calorão que ora grassa Brasília quando aparece Lelê querendo beber na fonte dos questionamentos:
LL: Pai, eu acabei de pensar uma pergunta pra você.
DD: Manda!
LL: Você acha que o mundo pode existir sem os bichos?
LL: Não.
LL: Por quê?
DD: Ah... Acredito que os bichos são parte integrante da natureza. Não faria sentido o mundo sem animais.
LL: É isso, pai! Você já imaginou se não existissem bichos no mundo como seria para os cegos que tem aquele cachorro como guia!
DD: E nem veríamos o desenho animado de Tom e Jerry.
Pensei minha resposta assim de repente tanto quanto a pergunta de bate-pronto dela. Criança não dá pra ficar tergiversando, procurando respostas mirabolantes e elaboradas de imediato. Depois, só depois, é que pensei que poderia ter aproveitado a ocasião para falar dos duzentos anos de nascimento do naturalista inglês Charles Darwin e sua teoria da evolução da vida humana. Mas depois ela estava dando banho em seu casal de bonecos e eu não quis interrompê-la em seu “diálogo” com seus filhinhos. Ela falava o tempo todo durante o banho dos meninos, bem no espírito maternal, como se embalasse os bonecos na continuidade da evolução da espécie humana.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mais uma vez Pollyanna

• Por esses dias Maurinete estava batendo papo com uma amiga dela e tocou no assunto do livro de Pollyanna Moça, primeiro livro que Maurinete leu quando chegou aqui em Brasília, e falou para essa amiga que Letícia já havia lido esse livro, e gostou de montão, só que ele estava em forma resumida, livro de uma coleção para leitores principiantes. Lelê tem o filme e já viu por mais de vinte vezes. Isso não é força de expressão não. Lelê já viu o filme por mais de vinte vezes, sim senhor(a). Penso que já falei isso há muito tempo atrás. Pois bem, Maurinete trouxe o Pollyanna Moça, texto integral, para Letícia ler. Falei pra Lelê que fizesse com que esse livro se tornasse seu livro de cabeceira. Todo dia antes dela dormir pegasse no livro e desse uma lidinha, ao invés de ligar a TV. Hoje a vi na cama, antes de dormir, com o livro entre as mãos. Leu um pouco e depois me procurou para dizer que o livro estava difícil. Fui ver o que estava pegando, e vi que tinha algumas palavras que ela não estava entendendo, tipo ´imponente´, irradiar´, ´hesitante´, etc. Isso só no primeiro parágrafo do livro. Prometi-lhe que nesse próximo final de semana iríamos ler, em conjunto com Maurinete, para desarmarmos as armadilhas do texto. O livro é da editora Martin MClaret, 226 páginas. Ah, um tipo de leitura que ela gosta é a leitura em voz alta, lendo pra mim e Maurinete. É bom porque Maurinete vai corrigindo as pausas que ela tem que fazer obedecendo as pontuações e vai explicando o significado das palavras e questionando certos trechos para ver se ela está entendendo realmente a leitura.
• Deu trabalho, mas saiu as maquetes que eu e Lelê construímos como tarefa de geografia para casa. Era a construção de uma casa e um edifício em material de sucata, na altura de 10 centímetros. Fizemos em papelão, só que ultrapassamos as alturas pelo menos pelo dobro. Acredito que é porque não agüento ver aquelas casas populares, casas de pombos, que os prefeitos constroem para a classe baixa em bairros afastados das cidades brasileiras. Expliquei a Lelê, de relance, o problema habitacional da classe pobre brasileira, mas ela estava ligadona mesmo era como colar uma folha de papel em branco para dar acabamento estético às suas construções, talvez querendo me dizer de que além do tamanho a estética e a funcionalidade é inerente ao conforto de qualquer residência. Olhei pro rosto dela e percebi que ela não estava pensando nada disso que eu estava pensando que os prefeitos deveriam pensar para os moradores de casas de pombos pensarem em pessoas que pensam soluções pensadas para o conforto.

terça-feira, 3 de março de 2009

No tempo da vovó

• A aula de espanhol de Lelê foi massa – como ela gosta de falar.
LL: No final da aula a professora falou pra turma – imita a professora falando rápido em espanhol - : “tarea para casa”. Aí a turma toda: “oh, nõ!”. Foi massa!
LL: Tem uma palavra que a professora escreveu em que tem aquele acento...
DD: O Til, aquele que é uma ondinha?
LL: Não.
DD: O circunflexo, que é um chapéu?
LL: Não. É aquele que é o grampinho de cabelo da vovó.
DD: Grampinho que é o cabelo da vovó? Não sei qual é esse não.
LL: Aquele que é assim, deitado...
DD: Ah, já sei, é o acento agudo.
LL: Isso, isso.
DD: Esse eu não sabia. Você aprendeu onde?
LL: Isso é do tempo que eu estava no presinho que a professora ensinou.
• A noite estávamos tomando banho na piscina e mostrei pra Lelê como a Lua, aparecendo um pouco mais da metade, estava bonita. Apontei pra Ela e dei tchau pros astronautas que estavam lá. Lelê observou que não havia astronauta coisa alguma naquele pedaço de Lua. Poderia haver na outra Lua, a Lua inteira. Maurinete lhe disse que não havia uma outra lua, não havia duas luas, como ela estava pensando. A Lua era uma só e ela estava aparecendo daquele jeito porque estava na fase quarto minguante, ou quarto crescente, que é quando só uma parte da superfície visível é iluminada. Lelê estava no mundo da Lua e aprendeu mais uma.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O tempo não pára


Lelê costuma sempre preparar sua mochila a noite porque, como ela acorda as cinco e trinta da matina, ou da madruga, melhor dizendo, não iria dar tempo se arrumar e preparar o material de aula do dia. Pois bem. Ontem ela não organizou sua mochila, foi dormir cedo, mesmo a gente sempre alertando-a para ela tomar de conta de sua mochila na noite anterior. Ela acordou (o relógio é cruel no seu tic-tac), tomou banho (o relógio não dá trégua no tempo), tomou café (o relógio apressando Lelê silenciosamente), escovou os dentes (o relógio é o senhor do tempo), e depois Lelê foi arrumar a mochila com todo seu material (o relógio gritou silenciosamente que a van escolar já estava esperando por ela). Aviso pra ela que a van já chegou e ela grita para esperar porque ela estava ajeitando sua pulseira verde identificadora de seu grupo da gincana do colégio (o relógio buzinando no meu ouvido que a van – com todos os passageiros-estudantes, já estava há alguns minutos pacientemente a espera dela). Corro para ver porque essa menina não se desenrola. Ela estava sentada no chão da cozinha organizando sua pulseira da gincana como se o tempo estivesse parado exclusivamente para ela. Chamei-a:
DD: Vamos Lelê, o pessoal está te esperando!
LL: Peraí que eu tenho que terminar isso aqui (no passo que ela estava iria acabar lá pelas dez horas).
DD: Leve para ir ajeitando isso na van
LL: Não posso, tem que ser aqui (o tempo gritou mais alto no meu ouvido avisando que o respeito com o horário dos que estavam na van era maior). Como ela continuou despreocupadamente, tive que dar-lhe um grito:
DD: Vamos Lelê, levanta daí que o pessoal ta te esperando!
LL: Não posso, pai, se não eu vou perder ponto na gincana.
DD: Levanta agora! Vamos embora!
Lelê começou a chorar e largou a recomposição de sua pulseira da gincana e saiu chorando em direção a van. Se deixar, a guria fica folgada. A tarde, quando ela chegou do colégio me cumprimentou abraçando-me e beijando-me, como se nada tivesse acontecido. Com certeza mais gente não levou a pulseira pro colégio e ninguém ficou prejudicado. Do contrário seria a primeira coisa que ela comentaria ao chegar em casa. Mas foi bom ter acontecido isso, porque a partir de agora não preciso nem mais alertá-la de que a mochila tem que estar pronta pro dia seguinte. O tempo não pára, não páraaaaa – Cazuza.