Pesquisar este blog

Seguidores

Total de visualizações de página


quarta-feira, 23 de junho de 2010

A raiz quadrada

Quando chega o período de provas de Lelê, é um deus nos acuda. Nos acuda porque eu e Maurinete temos que nos desdobrarmos para fazer toda revisão de conteúdo das provas com ela. Sem muito rodeio, acho muito estressante, tanto para Lelê como para nós. Mas não fugimos à responsabilidade e encaramos a situação. Mais estressante, percebo, para Lelê, porque tem que lidar com um volume de informação que eu e Maurinete pensamos ser um pouco exagerado. Desde que me conheço por estudante essa é a rotina de quem está nos bancos escolares.
Estava eu revisando raiz quadrada e Lelê questiona-me para que serve isso e também o conteúdo das outras matérias. É lógico que ela jogou também com o bom humor.
Lelê: Pai, para que serve eu estudar matemática se não vou ser cientista? Para que serve estudar o português se eu não vou dar aulas de português? Para que serve estudar geografia se eu não vou trabalhar no IBGE (não sei onde ela arranjou essa)?; Para que estudar filosofia se eu não vou ser filósofa? Para que estudar inglês se eu não vou pros Estados Unidos? Pra que estudar espanhol se eu não vou pra Espanha? `Pra que estudar História se eu não vou ser historiadora? O que falta mais...?
Eu: Então você queria ficar só em casa brincando? Você quer só aprender a brincar? É verdade que essa raiz quadrada que nesse momento estou revisando com você, eu não sei qual a finalidade pra sua vida. Como nunca teve na minha até hoje. (Dei essa levantada de bola para ela encher o pé e ela encheu com uma expressão facial de satisfação):
Lelê: Então, pai, é isso mesmo. Pra que ela serve? ( Procurei ser ágil e lhe dar uma resposta convincente, mas nem todo momento a resposta é iluminada, de um adulto para uma criança, sem os subterfúgios do engano, da enrolação, e eu queria ser sincero com ela. Como não tive nenhuma resposta iluminada, então empurrei o óbvio).
Eu: Olhe, minha filha, acredito que, na vida, agente tem que aprender um monte de coisas, como esse monte de coisas que você está aprendendo, mesmo que muito disso não lhe dê tanto prazer. Eu passei por isso, sua mãe passou por isso, e, acredito, que mais lá na frente tudo será recompensado pra sua vida prática. Alguma coisa positiva vai lhe ocorrer. Tenho certeza.
Lelê deu vontade de ir ao banheiro, a tardezinha já estava escurecendo e dei por encerrada a aula sobre raiz quadrada. Poxa, vida, fiquei pensando, porque essa raiz quadrada está sempre a perturbar a vida da gente desde criança? Nunca imaginei que, além de quando fui encostado na parede em prova de matemática para responder questões de raiz quadrada, eu fosse ser encostado novamente na parede por minha filha exatamente por essa bendita raiz quadrada!
Hoje entro no site do jornal O Estado de São Paulo e lá está uma matéria com Fernando Reinach, um professor graduado em Biologia em 1974 pela USP, e onde fez mestrado. Fez também doutorado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e pós-doutorado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Foi sócio da primeira empresa especializada em teste de DNA e participou da pesquisa pioneira do genoma no País. Também assumiu o cargo na direção da Votorantim. Pois bem, ele fez uma palestra sobre estudo continuado lá no jornal Estadão, e ele criticou o descompasso que existe entre o que se ensina na escola e o que efetivamente se usa na “vida real”. “As coisas mais úteis que você precisa fazer no cotidiano não são ensinadas na escola. Quantas pessoas calculam raiz quadrada em seu dia a dia?”, questionou.
E agora, eu vou falar pra Lelê o que esse estudioso falou sobre raiz quadrada?

domingo, 13 de junho de 2010

Gol de bicicleta

Notícia do colégio de Lelê: Ela tem saído da sala de aulas e ido pra biblioteca, justamente na aula de matemática, segundo a coordenadora da escola. Estava se achando tranquila nessa matéria. Será? Logo matemática, o bicho papão da estudantada. Não se deve brincar com a matemática. É tanto que saiu o resultado do teste de matemática e ela se deu mau. Tirou uma nota bem vermelha. Nossa!
Com certeza eu também gostaria de ficar lendo na biblioteca e não estudando matemática. É lógico! Qual estudante, em sã consciência – se é que estudante tem consciência numa hora dessas – vai querer ficar com os olhos pregados na matamática? Sim, é isso mesmo que escrevi: matamática.
Ô Lelê, vamos primeiro aos compromissos. Porque senão vamos ter que repetir a série escolar no próximo ano. Então Maurinete foi lá na escola para tentar contornar a situação, mostrar-lhe a importância de estar presente em sala de aula, principalmente nas aulas de matemática.
Sexta-feira última tinha festa junina em meu trabalho, e já estava tudo certo pra Lelê estar lá. Ela só falava nisso durante a semana. Mas, como ela aprontou na escola resolvemos não levá-la a esta festa.
Ela ficou meio tristinha e, de última hora, resolvemos que ela iria. Tudo bem, mas a bronca foi dada. Rumo á festa junina! Iarrruuuuu!! Maurinete não foi.
Na festa, comer que é bom, ela não queria (poxa, vida, é dureza ser pai!). A guria só queria pipoca, refrigerante... Essas... Essas... Essas “comidas” que os pais não querem que as crianças só comam isso e que elas acham que a vitamina está só nessas comidas. Tô frito. Essa guria quer me testar. Com sacrifício ela ainda comeu umas carninhas, uma linguicinha (sem trema, de acordo com a nova reforma ottográfica), mas depois começou a enfiar o pé na jaca das pipocas. Também pudera, a gurizada lá presente só comia isso, como é que eu iria ter moral para barrá-la nas pipocias?
Minha conclusão foi a de que ali não era o ambiente para conscientizá-la da necessidade de se alimentar adequadamente. E nem eu tinha moral pra isso, porque não larguei meu copo de cerveja da mão. Anarriêê!!!
Comprei três cartelas de bingos – dois reais cada – pra cada prêmio oferecido: um dvd, uma bicicleta e uma televisão.
Lelê comendo pipoca, bebendo refri, eu bebendo cerveja e comendo bota-gosto, ou melhor, tira-gosto e chegou a hora do bingo. Do dvd, bulhufas, não ganhamos nada. Lelê é que marcava. Da televisão, nada. Tá cá gota! Da bicicleta, eu até saí, fui ao banheiro e dar umas voltas. Deixei Lelê marcando o bingo, e, quando volto, me falam: “tua filha ganhou a bicicleta!”. De fato, Lelê ganhou a bicicleta, das grandes.
Se tivéssemos deixado Lelê em casa, de castigo, não estaríamos agora com uma bicicleta novinha em folha. Quis o destino assim. Quem sabe o destino não vai ajudar Lelê a tirar uma boa nota em matemática também.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Religião

Estávamos indo para aula do Kumon e dei carona para uma senhora e a deixei na parada de ônibus. A mulher agradeceu com um “Deus lhe pague” e lhe respondi com um “Amém”. Reação de Lelê:
Lelê: Mas pai.... Se você não reza por que disse ‘amém’ pra mulher?
Eu: Minha filha, nós devemos respeitar como as pessoas são. Se ela tem uma religião e me agradece dessa forma, com educação, posso perfeitamente retribuí-la com palavra que ela acha que é de sua religião sem que isso me perturbe pelo fato de eu não ter religião.
Lelê Mas você não reza, pai. Insistiu Lelê.
Eu: Minha querida, eu não rezo e isso não significa que eu seja uma pessoa que... Uma pessoa que... Como direi... Que apesar de não ter religião todos os deuses de todas as religiões me respeitam.
Lelê: Como assim?
Eu: O que o Deus de sua religião e os Deuses de todas as religiões querem? Eles querem que as pessoas sejam pessoas de bem, pessoas honestas, respeitadoras (já ia falar ‘éticas’ mas evitei a extensão da explicação), e eu acredito que eu sou uma dessas pessoas, mesmo não tendo religião nenhuma.
Como percebi que ela ficou um pouco calada, provavelmente processando minha fala para ver se encontrava um pé de apoio, continuei;
Eu: Religião, minha filha, se a gente não tem, isso não significa que a pessoa seja má, você sabe muito bem disso. Como você também deve saber que existe uma pá de gente que tem religião e são uns pulhas que religião nenhuma lhe dê jeito.
Fui tentando explicar de forma bem compreensível para Lelê que o respeito entre os ateus e os não ateus deve ser respeitoso, sem que isso seja motivo de desavença. O respeito, a não agressão – de qualquer forma – devem ser cultivadas. Tentei argumentar-lhe que o exemplo reina muito bem dentro de nossa casa. Eu não tenho religião e ela e Maurinete são católicas e nem por isso nos impede de convivência pacífica e harmoniosa.
Percebi que a cabeça dela estava a mil. Ela continuava calada. Calada em termos. Ela estava dialogando consigo mesma, conversando com seus botões e chegando a conclusões que poderiam nem ser possíveis para seu nível de compreensão para sua idade da razão. Mas isso não me preocupa, pois ela chegará por si a seu entendimento no dia-a-dia de suas atribulações.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O roteiro

Mesmo com esse feriadão prolongado (quinta, sexta, sábado, domingo) Lelê não foge da responsa. Ela sabe que se não cumprir com suas obrigações escolares nesses dias de folga, o calo dela apertará na escola. As cobranças lá na escola e aqui em casa com certeza aparecerão. Não vejo nada demais nisso. Ela é uma trabalhadora como qualquer cidadão que desempenhe funções. A função dela é estudar. E brincar também. E vadiar também, quando não tiver as obrigações regulares, lógico.
Hoje, depois de um dia só de farra – brincadeiras com os vizinhos, sinuca, piscina, internet – bicicleta, não, esá quebrada – correria, montar quebra-cabeça, troca de figurinhas da Copa do Mundo, etc. Lelê parece que percebeu que o dia todo não é só pra fuzarca.
À noite, ao chegar à biblioteca daqui de casa, vejo pregada numa porta de um armário uma folha de papel A4. Vou ver de que se trata. Vi que estava escrito alguma coisa, e foi Lelê que escreveu. Conheço sua caligrafia. E o escrito (os parênteses são meus) era:
“Roteiro para a parte da manhâ: (amanhã),
- Acordar cedo. (Por esses dias ela tem feito isso. Será que está se acostumando?)
- Fazer um bloco de Kumon. (Ela sabe que essa atividade não tem como fugir).
- Tomar café.
- Fazer página 47 de inglês. (Essa semana sua professora de inglês ligou para nós e a elogiou por sua evolução, mas pediu que caprichasse nos exercícios).
- Trocar figurinhas. (Já comprei dez pacotes. Amanhã é dia dela ganhar).
- Ler o capítulo 11 de História. (É tanta coisa pra se estudar dessa matéria que desconfio que o professor quer que minha filha se torne uma Eric Hobsbawm).
03/06/2010
Quinta-feira.
22:47:33.
Ass.: Letícia Alves”.
Não sei se essa menina está ficando muito burocrática ou está procurando ser organizada. Pelo visto está deduzindo que, se organizando com suas obrigações o tempo lhe renderá em brincadeiras. Esse ‘roteiro’ não foi sugestão minha e nem de Maurinete. Não sei de onde ela tirou essa idéia.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um dia de passeio

Essa semana Lelê está totalmente livre da escola (que felicidade!). É que lá todo ano tem uma semana (de férias pra todo mundo!) de gincana. As atividades são variadas. De competições à churrasco (Lelê se baba) a galera vai ao delírio. Dizem que é uma confraternização escola, alunos e família (Lelê – e toda turma do colègio – concorda que isso é ao menos uma semana sem aporrinhações de deveres escolares). É uma semana sem ralação (não foi assim que Obama chegou a presidência dos EUA).
Hoje a atividade foi o dia inteiro no clube Cota Mil (onde ninguém pode lembrar do primeiro dez da primeira prova ou, principalmente, da última nota vermelha). Os professores estavam juntos com os alunos para dar-lhes suporte (até que enfim os pais não estão por perto para aporrinhá-los. Pensam os estudantes como pensam o inverso os pais).
Amanhã , quinta-feira, será feriado e a escola emendará com a sexta (para Lelê e amigos, por que toda semana não tem um feriado no seu meio?). Falei: o dia todo no clube? (Lelê nem lembra-se que existimos. Já eu e Mauri sentindo sua falta). Ser estudante nessa fase de Lelê é estudar e bagunçar (ser pai e mãe nessa fase é estudar um meio de parar a bagunça de seus filhos).
Lelê pede que a gente vá pegá-la na escola -o clube fica perto daqui de casa - pois quer ir no ônibus com todo mundo aprontando (ela vai achar-me um super pai, pois concordo que no ônibus a fuzarca vale por dez aulas de psicologia sobre a amizade).
Lelê sempre pergunta-me (até parece delegado em inquérito policial) se quando eu era criança eu fazia as atividades que ela faz atualmente em sua escola. Ela irá me perguntar se eu tinha um dia no super clube como ela foi hoje (vou dizer-lhe que não. Na minha ótica infantil eu diria que era a maldita hora em que eu poderia afirmar que ser pobre não é nada fácil).
Lelê chegou comentando que o passeio só não foi melhor porque se machucou levemente no tobogã (seria anormal se chegasse ilesa, pela voltagem elevada de euforia que ela sente nessas ocasiões).
Maurinete ficou muito preocupada quando Lelê disse que tinha se machucado, mesmo sem ter visto o tal machucado (mãe sempre tem a temperatura do termômetro mais elevada que o pai). Vimos o machucado (extremamente desproporcional a eletricidade de Lelê).
Lelê tomou banho, jantou e foi dormir (sinal de que se houvesse boletim atribuindo notas por seu dia, o verde e o amarelo seriam fichinhas). A expressão “ela estava morta de cançada” ao dormir, é erradíssima. O correto é dizer: “ela dormiu vivíssima de agito”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprender o inglês

Sábado retrasado fomos à livraria Cultura. Além de passearmos por lá queríamos comprar os dvds da Disney’s Magic English. São dvds que principiam as crianças no inglês. Maurinete tinha rececebido referências boas desse trabalho. O volume 1 trata da aprendizagem das cores, os números e músicas infantis. O volume 2 aborda historinhas sobre o mar, a floresta e as montanhas. A criança aprende inglês bincando.
O Magic English é um método divertido, interativo, com canções e momentos mágicos dos clássicos da Disney, como a Branca de Neve, Alice no País das Maravilhas, Cinderela, Pongo e Perdita de 101 Dálmatas, Pato Donald, Pinóquio, Peter Pan, Bambi, Mickey, Minnie, Pluto e vários outros amigos da Disney.
Antes de ver eu estava meio cabreiro, pensando que era algo bem consumista. Qual nada. Quando vi fiquei encantado com o capricho dos desenhos, do modo didático da apresentação, do estilo lúdico. A qualidade da animação é nota dez. Lelê fica ligadona cantando, respondendo, interagindo.
Acho que já falei aí bem atrás n’algum post anterior que eu e Maurinete estávamos querendo encarar o inglês para termos fluência pelo menos na leitura desse atual idioma universal. Vamos fazer um curso para ganharmos ritmo, pois nosso english é paupérrimo. Queremos sair do verbo to be, queremos encarar a coisa a sério. E é por isso que também estamos entusiasmados com esses dvds.
Os três aqui dentro de casa praticando o idioma do tio Sam, vai ser bom. Estou percebendo que, além de fazer Lelê se interessar pelo inglês, eu e Mauri é que estamos parecendo crianças apreciando os dvds. Imperceptivelmente Lelê vai se interessando mais pelo inglês com esse espírito familiar.
Já conversamos com Lelê da importância de um idioma estrangeiro, principalmente do inglês no mundo contemporâneo. A verdade é que ela gosta mais de espanhol do que inglês. Não, não queremos que ela seja poliglota, a não ser que lhe haja interesse. Pensamos que não é tarde para aprendermos o inglês e nem é cedo para Lelê.
Mesmo o Google fazendo a tradução praticamente instântanea de 52 idiomas, tornando-se um ágil instrumento comunicador universal, ainda assim acreditamos na força da aprendizagem individual de um idioma como o inglês, o esperanto sonhado por seu criador Zamenhof.