À tarde Lelê tá fazendo seus deveres de casa da escola e, quando tá começando a escurecer, quando a tarde tá se recolhendo em sua rotina, só ouvimos vozes gritando lá da rua: “Letícia! Letícia!”. São os guris vizinhos chamando Lelê pra ir brincar na rua de skate, bicicleta, esconde-esconde, bate-papo, etc. Nessa hora ela fica doida pra terminar o que está fazendo e eu e Maurinete estamos freando seus ímpetos para que ela conclua seus trabalhos, porque senão, se tiver que fazer depois que voltar das brincandeiras, já era! Conhecemos muito bem a criança. Bem, a verdade é que ela termina direitinho e se manda rumo a liberdade da rua. Eu, com certeza, na idade dela, já estaria com minha atenção voltada para o jogo de bola com a galera lá no grupo escolar. “Vista pelo menos uma bluza de frio pra não pegar um resfriado, Letícia!”, grita a mãe, como toda mãe preocupada com os filhos. Por Lelê a gripe que venha, pois a brincadeira é muito mais importante do que ela, a gripe. De dentro de casa só ouvimos os gritos da gurizada e o barulho roncudo das rodinhas dos skates. Vez por outra vou até a sacada de nosso quarto e a vejo com os cabelos aos ventos como se o mundo não existisse nesse momento. Não existe para mim, pois para ela o seu mundo está naquela freiada e derrapada que ela deu na bicicleta e que ficou a marca preta de pneu no chão.
quinta-feira, 25 de março de 2010
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