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terça-feira, 30 de março de 2010

Quero votar

Lelê: Pai, quero votar.
Dudu: Quer o quê?
Lelê: Quero votar!
Não sei por que essa menina agora se danou pra ser uma cidadã, como dizem as digníssimas idiotas autoridades, querendo tirar seu título de eleitor. Eu, heim! Talvez seja influência de sua prima Maynara, lá do Espírito Santo, que aos 16 anos já tirou esse maldito título de eleitor. Prefiro supor, e é o mais presumível, que ela esteja realmente querendo se cadastrar como eleitora mais para votar nulo como forma de protesto pelo caldeirão dos diabos por que passa a política nojenta brasiliense. Ela vê todos os dias, em todos os canais de TV daqui de Brasília, que por ventura ligue, os escândalos do chamado “mensalão do DEM”. Já ouvi ela falar que Arruda é um ladrão safado, e não se arriscou a esticar a língua, soltando labaredas, por educação. Se ela, uma guria de onze anos, não tem estômago para o cenário político candango, imagine eu, imagine Maurinete. Também pudera, ela toma conhecimento desses escarcéis na van escolar, na escola, na igreja, na rua brincando com a molecada, em casa, na praça e onde houver boca articulando mandíbulas. Será que ela está querendo ajudar a transformar esse cenário político dando um basta com seu título de eleitor?
Dudu: Mas... Minha filha... Lamento te informar que você não tem idade suficiente pra votar ainda!
Lelê:Ô pai, você não está entendendo...
Dudu: Claro que estou. Eu sei que você está enojada desse lamaçal político brasiliense que está fazendo da gente daqui ficar com vergonha se fôssemos andar por esse Brasil afora.
Lelê: Pai, eu to querendo votar...
Não a deixei terminar a frase e já emendei:
Dudu: Esquece, filhinha, ou melhor, não esqueça, porque eu e Maurinete vamos dar uma lição pr’esses filhos duma mãe na próxima eleição por você. Eu, você sabe, desde as última eleições que voto nulo...
Lelê cortou minha fala:
Lelê: PAI, EU TÔ QUERENDO VOTAR PELA INTERNET É NO CADU DO BIG BROTHER que hoje é a final com show da Ivete Sangalo!
Dudu: ME POUPE, MINHA FILHA, ME POUPE!!!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Luzes apagadas

Lelê: Ô pai, a gente nem desligou as luzes ontem!
Dudu: Lógico que não, nós estávamos no cinema!
Referia-se ela ao movimento A Hora do Planeta, evento organizado pela WWF, onde são apagadas as luzes das moradias mais simples aos maiores monumentos das cidades do mundo inteiro que estejam engajados nessa conscientização pelo uso racional dos recursos naturais do nosso planeta azul. Ela já havia ouvido falar desse movimento no meio da semana e me alertou pra gente voltar a participar. No ano passado apagamos as luzes daqui de casa. Tudo que for diferente, ah, ela adora. Até escrevi sobre isso no ano passado aqui nesse blog. Mas, acontece que estávamos roubando a energia do cinema e perdemos nossa condição de militantes verdes. Cobrei dela essa sua militância pedindo que desligasse pelo menos uma lâmpada do quarto ao lado do banheiro quando ela acorde cinco e trinta para ir ao colégio e vai tomar banho. Foi a oportunidade para eu lhe dizer que foi muito boa sua lembrança desse fato mundial, mas que começasse com um pequeno gesto: ao invés de ligar duas lâmpadas, ligue uma, sendo que ela sabe muito bem que em termos de claridade não alterará praticamente nada. Ela está apenas vestindo o uniforme da escola num quarto bem claro.
No próximo ano espero que ela volte a lembrar sobre esse dia e ficaremos em casa no escuro, eu, ela e Maurinete – eu e Mauri bebendo cerveja e ela refri - conversando sobre a escuridão que era na roça lá no Espírito Santo e na Paraíba, terras de nossos pais que foram precursores desse movimento vivendo a base de lampião a querosene. Rá!, rá!, rá!

domingo, 28 de março de 2010

A revolta

Sexta-feira última Lelê estava chegando do colégio, com mochila nas costas, e falou em tom sério:
- Pai, estou revoltada!
Fiquei surpreso e conjecturei logo que alguém na escola, algum(a) coleguinha, tinha lhe xingado, lhe batido ou lhe ofendido de alguma forma. Já ia eu lhe perguntar por que dessa revolta quando ela repetiu:
- Tô revoltada, pai.
Nossa, senhora - fiquei imaginando - qué que foi que essa menina aprontou lá no colégio? Com quem ela brigou? Qual será a injustiça que cometeram com ela? Quase que eu já ia falar: “só me basta dar o nome do sujeito que lhe bateu que eu quero mostrar a esse indivíduo com quantos paus se faz uma canoa!”. Contive-me e falei pra ela revelar qual era o motivo de tanta revolta. Se fosse Maurinete o instinto materno já teria arregalado os olhos e dito em letras garrafais um “o que foi que aconteceu, minha filha, fala logo!”. Com meu olhar reclamante de explicações Lelê falou:
- É que eu recebi o resultado dos testes de matemática...
Nem bem terminou de falar e já imaginei que ela havia tirado zero, sendo que pelo menos uma questão estava corretíssima e o professor nada considerara. Já estava engatilhando um “que filho da mãe!” – coitado dos professores, nessas ocasiões suas mães se assemelham aos de árbitros de futebol – quando ela completou:
- E eu tirei oitenta e quatro!
Eu: “Ãh!”. E comecei a rir e lhe dar os parabéns. Afinal, não é toda hora que se tira uma nota dessas em matemática. A revolta era porque teve gente que tirou dez e ela achava que poderia muito bem ter também tirado nota máxima. Ou seja, a competitividade está latente em sua mente. É a pedagogia moderna. E agora, vou tirar a menina da escola? Ou aceito que esse é o mundo em que vivemos e ponto!

sábado, 27 de março de 2010

Quebrando galho

Da janela de casa fico observando. Lelê e seus colegas brincando na rua e, em frente da casa de um deles, a brincadeira consistia em colocar galhos secos, que estavam jogados numa calçada, no meio do asfalto para os carros quando passarem esmagá-los e eles ouvirem o crék dos pneus sobre os gravetos. Ao apontar um carro no início da rua a turma corria e se escondia subindo em árvores, por trás de carros, em locas de muros para não serem flagrados como mal feitores. Parece que as brincadeiras mais arriscadas – se bem que não vi nada arriscado nisso – é que dá prazer no divertimento. Andar de bicicleta, de skate ladeira abaixo não é tão emocionante quanto escapar de uma provável bronca de motoristas. A adrenalina está não na queda de bicicleta, nos escorregão do skate, mas na bronca de alguém, ver alguém irritado, se sentir ameaçado. Pelo que observei a brincadeira certinha, a brincadeira educada, a brincadeira polida está nos brinquedos dos shoppings com suas etiquetas vistosas para todos, a própria vitrine do consumismo comportado.
Mais tarde ela chegou para tomar banho, jantar e ir dormir, mas logo depois ela voltou para brincar mais um pouquinho e aí Maurinete já começou a se preocupar e a chamou pra casa. Não tem jeito, brincar na rua é um milhão de vezes mais gostoso do que estudar, ver televisão e se conectar na internet. Quando ela deitou na cama para dormir não deu nem tempo de falar um boa noite. Desmaiou!

sexta-feira, 26 de março de 2010

O caso Isabela Nardoni

Não sei se o que mais chama a atenção é o próprio crime da garota ou o estardalhaço que a imprensa faz do caso. Não temos como escapar das notícias do júri, não temos como fugir do noticiário do acontecimento, mesmo que queiramos fazer ouvidos de mercador. Não adianta insistirmos em, como a simbologia dos macaquinhos, colocarmos as mãos na boca, nos ouvidos e nos olhos. Pois bem, esse distanciamento eu pensei que era apenas eu que queria. Ledo engano. Letícia, hoje de manhã ao ligar a TV para ver o que estava passando enquanto tomava café, viu de cara pela milésima vez notícias do episódio Isabela soltar às suas vistas. Ela deu uma rabissaca e mudou de canal de imediato, como se estivesse dizendo: “droga, essa porcaria de televisão só tem isso, agora!”. Talvez ela esteja contaminada por mim que já expressei o meu repúdio por essa exploração midiática. Ela já viu que eu de imediato mudo de canal quando vejo que o noticiário é da infante paulista assassinada. Na época do ocorrido acho que talvez eu já escrevi isso aí lá pra trás, mas não faz mal por estar repetindo sobre esse assunto tão... tão... como posso dizer... tão consumista quanto a propaganda do danoninho. Esta propaganda, sim, Lelê não se cansa de ver e querer consumir.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ao cair da tarde

À tarde Lelê tá fazendo seus deveres de casa da escola e, quando tá começando a escurecer, quando a tarde tá se recolhendo em sua rotina, só ouvimos vozes gritando lá da rua: “Letícia! Letícia!”. São os guris vizinhos chamando Lelê pra ir brincar na rua de skate, bicicleta, esconde-esconde, bate-papo, etc. Nessa hora ela fica doida pra terminar o que está fazendo e eu e Maurinete estamos freando seus ímpetos para que ela conclua seus trabalhos, porque senão, se tiver que fazer depois que voltar das brincandeiras, já era! Conhecemos muito bem a criança. Bem, a verdade é que ela termina direitinho e se manda rumo a liberdade da rua. Eu, com certeza, na idade dela, já estaria com minha atenção voltada para o jogo de bola com a galera lá no grupo escolar. “Vista pelo menos uma bluza de frio pra não pegar um resfriado, Letícia!”, grita a mãe, como toda mãe preocupada com os filhos. Por Lelê a gripe que venha, pois a brincadeira é muito mais importante do que ela, a gripe. De dentro de casa só ouvimos os gritos da gurizada e o barulho roncudo das rodinhas dos skates. Vez por outra vou até a sacada de nosso quarto e a vejo com os cabelos aos ventos como se o mundo não existisse nesse momento. Não existe para mim, pois para ela o seu mundo está naquela freiada e derrapada que ela deu na bicicleta e que ficou a marca preta de pneu no chão.

Lelê de férias em Vitória-Dez 2009-Jan.2010

Em 17/12/2009. E-mail de Lelê:
Oi, EPS minha viagem foi ótima. Tinha um bb que não parava de dar risada quando o avião virava. Eu não fui na janela por que a buneca da aeromoça me botou pra frente. Eles deram lanche... Foi uma maravilha.A Bel e a Bá foram me buscar e o VoVô Dilino também. Quando cheguei estava todo mundo na frente me esperando. Eu parecia Vossa Excelência = Duque de Caxias o nosso querido Rei de Portugal rsrsrs (ela não esqueceu essa referência ao último trabalho de história que fez pra escola)Nesse fim de semana vamos passear na roça... Bom, vou almoçar. A Bá – sua irmã - tá me entupindo de verdura. Spia!... Ontem eu comi quiabo e batata doce, sem contar da carne seca com batata. Um grande abraço de :Letícia Alves Pereira Passos.

Minha resposta:
Olá, LAPPFiquei contente com seu imeio cheio de notícias sobre a viagem e sua estadia aí com a galera de Areinha. Na sua volta mamãe já pediu à Gol pra você vir na janela vendo as nuvens. Que o pessoal daí continue lhe tratando como Vossa Excelência Duque de Caxias, nosso querido Rei de Portugual, principalmente com muita verdura, camarão, peixe, pouco toddy com leite e pouquíssimo chocolate e chiclete lá do Nides. Você e a Jáina, digo, Anahí e Ríla, estão brincando muito? Falei brincando, e não brigando! Você sabe que, ontem quando cheguei em casa suas bonecas, todas arrumadas por Edileusa, estavam todas preocupadas querendo saber onde você estava. Pedi calma a todas suas bonecas e expliquei que você estava viajando de férias em Vitória. Ah, minha filha, pra quê! Elas ficaram revoltadas porque você viajou e não avisou pra elas e nem sequer você foi lá dar um beijo nelas. Tranqüilizei a todas elas que você retornaria em janeiro e que você estava morrendo de saudades delas. Pra elas não ficarem com raiva dei pirulito pra elas chuparem e aí elas acalmaram. Ufa!Um beijo e abraços pra você, pra Jáina, Vã, Vi, Mara, Jô e toda galera de Areinha, Marechal, Serra, a Roça, e todo mundo de Vitória-Espírito Santo, Amém.EPS.

Prestação de contas

11.8.09 - segunda-feira. Sempre às sexta-feiras tenho que pagar pelo que Lelê “produziu” de trabalho, ou, de satisfação. Essa próxima sexta tenho que pagá-la doze reais pela leitura dos livros ‘A fala da cor na dança do beija flor’, de Assis Brasil e ‘Marcha soldado, cabeça de Miguel’ de Rita Espeschit. E pelos filmes ‘Se eu fosse você 2’, ‘A era do gelo 3’, 'Madagaskar 2’, ‘Marcelino pão e vinho’ – já bem pela décima vez que ela vê esse filme!-, ‘Para sempre cinderela’ e ‘A malandrinha’. O que ela faz com o dinheiro, não sei onde ela gasta. Só sei que vez ou outra a vejo chupando chiclete ou comprando qualquer besteira de cinco reais em brinquedo na Feira do Guará. Evidentemente são brinquedos descartáveis e que ela em pouco tempo perde por qualquer canto de casa ou pelo jardim e depois fica me enchendo a paciência para saber onde está Wally.