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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Hora do Angelus

Estava Lelê cantando a música ´Tropicália´, de Caetano Veloso, de cabo a rabo, e Maurinete observou que quem a visse cantarolando assim, toda letra com suas devidas pausas, diria que Lelê seria filha de músicos, o que estamos distantes anos luz dessa qualidade. Não toco nem sino, muito menos Maurinete. Lelê sabe essa música, e várias outras de Caetano e mais Milton Nascimento, Jorge Bem, Chico César, e outros, de tanto serem rodados no meu carro quando estamos nos deslocando para algum lugar. Como gostamos muito dessa troupe e congêneres é natural que, ela que tem bom ouvido para música, acredito, aprenda rapidamente. Mas fiquei surpreso que dia desses, às dezoito horas, estávamos indo não sei para onde, no carro, e ela rapidamente sintonizou a rádio Atividade, uma rádio de músicas sertanejas, para ouvir exclusivamente aquela música, típica para as dezoito horas pontualmente, que não sei se o nome é Hora do Angelus (Toque das Ave Marias) ou algo parecido. Eu também gosto dessa música e lhe mostrei que a Super Rádio Brasília FM também toca. O ouvido de Lelê vai do clássico ao sertanejo, sem preconceitos estilísticos musicais, como geralmente muitos adultos como nós as vezes temos.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Escolambação

Hoje teve uma cena hilariante na escola de Lelê, ou melhor, sinistra, como ela costuma falar. A professora xis estava sentada em sua cadeira na sala de aula, e, por um descuido, ou um desleixo no sentar, Lelê não sabe bem, só sabe que de repente a prof. –palavra que ela gosta de usar de forma reduzida – deu uma cambalhota, virou de perna pro ar. Disse ela que a galera foi a delírio na risada. A zombaria foi geral. A prof. pagou o maior mico. A sorte é que ela estava vestida de calça comprida. “Pô, pai, já imaginou se ela estivesse de saia ou vestido? Ia ser o mó barato!”. Quem não gostaria de ver uma situação dessas? Até quem tirou nota dez no bimestre. Seria ela a professora maluquinha ou desleixadinha? Seria genial que, uma vez no ano toda escola tivesse seu momento de escola maluquinha. Um dia de perna pro ar. Um dia em que a diretora deixasse sua saia cair em pleno pátio com todos os alunos ouvindo avisos da comandante. O riso seria contido ou seria uma explosão de alegria? O dia em que os professores não conseguissem se expressar corretamente, falando tudo errado e causando zombaria da molecada. O dia em que os alunos não tiveram aula porque passaram todos os horários das aulas gargalhando com as mancadas dos professores e funcionários. O dia em que o melhor professor da escola, admirado por todos, se cagou nas calças em pleno estrado da sala ao contar uma piada em que ninguém riu. No dia em que...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De pijama na aula

Maurinete arregalou os olhos quando viu Lelê chegar em casa da aula do Kumon, rindo, vestida de pijama, como se estivesse pronta para ir dormir, por volta das dezenove horas e trinta minutos. Ela, Mauri, tinha saído pro Plano Piloto antes que estivéssemos ido pra aula.
Mauri: Minha filha de deus, o que foi isso?
Dudu: Eu sugeri que ela fosse pra aula do Kumon de pijama e eu lhe daria dez reais, e ela topou.
Lelê estava morrendo de ri.
Mauri: Você está louca, minha filha?
Lelê: Foi o maior barato, mãe. Todo mundo ficou rindo de mim e tia Elaine – coordenadora – ficou o tempo todo perguntando o que isso significava.
Mauri: Pois vá entrando na onda de seu pai! Você sabe que ele é doido com essas loucuras!
LL: Mas foi o maior barato, mãe! Repetia Lelê.
Desvendando o mistério: acontece que quando estávamos indo pro Kumon Lelê levava seu pijama numa sacola e eu perguntei pra que que ela estava levando aquela roupa, e ela não quis responder. Fiquei na minha. Após a aula do Kumon, quando já estávamos dentro do carro, ela começou a se trocar, queria ganhar tempo quando chegasse em casa e não mais se trocar de roupa. Mauri acreditou perfeitamente nessa estória de que Lelê estava na aula do Kumon vestida de pijama. Só mais tarde é que revelamos toda artimanha de Lelê.

domingo, 26 de abril de 2009

Teatro de cantinga

Assim que terminamos o almoço, mesmo chovendo nessa Brasília infindável de tanta chuva, fomos ao teatro. Letícia estava muito querendo ver o Cantigas de Roda no teatro de uma escola do Sudoeste. Adeus, televisão vespertina modorrenta; adeus, leitura de jornal recheado de escândalos senatoriais; adeus, chuvas que banham o Lago Paranoá; adeus, soneca digestiva de lasanha; adeus continuidade de minha leitura do História do Cerco de Lisboa do José Saramago; adeus, sessão cinematográfica em dvd de Lelê do A Era do Gelo 1 – acredito que já pela sexta vez, no mínimo; adeus, possível caminhada numa tarde provável de sol de Maurinete pela ruas sobe-e-desce do nosso condomínio. Ih, caramba, a chuva está aumentando mas mesmo assim fomos ao teatro infantil. Dezesseis atores – crianças e adolescente – encenaram a costura de textos sobre cantigas de roda. Se essa fosse minha... Atirei o pau no gato... O primeiro, foi Maria... ... A idéia foi genial, a interpretação dos atores amadores melhor ainda, e o aconchego do teatro pequeno de uma escola foi legal. Lelê adorou, não parava de falar sobre a peça quando já estávamos de retorno para casa. Muitos pais com seus pimpolhos com certeza se identificaram com as canções e, os pimpolhos, se não são cantigas de sua época, mesmo assim gostaram pela dinâmica do espetáculo e o humor presente da peça. A molecada de atores e atrizes, alunos de teatro da Escola Moraes Rego e dessa escola do Sudoeste, mandaram o recado convincentemente. O diretor é o professor da disciplina de teatro de Lelê em sua escola. O cara realmente é bom, pois pra pegar essa gurizada e fazer com que ela desse esse show é porque sabe trabalhar com jovens. Lelê já tava querendo ver a peça mais uma vez. Pela reação do público de casa cheia, senti que valeu a pena. Gosto muito de ver interpretação teatral por crianças e jovens. Parece que tem um quê de espontaneidade que encanta.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nota baixa

Lelê chegou em casa toda contente. Também pudera, seu professor de matemática leu as notas de sua turma em sala de aula, e, segundo ela, sua nota foi noventa! Já chegou e correu ao telefone para contar a novidade à mãe. Neide, nossa secretária, observou um “tá vendo Lelê, quem estuda tira boa nota!”. É que Neide viu eu dando uma pegada na matemática com ela. Já em inglês sua nota foi apenas 63, o que não é suficiente para ser aprovada. A Thomas Jefferson exige 75 como nota mínima para aprovação. Mas mesmo assim gostei da nota dela, pois para quem nunca estudou o idioma de Barack Obama na vida, tá bom. Tenho certeza que ela se recuperará. Resta saber as outras notas, que no próximo sábado serão dadas para os pais lá na escola. Aqui em casa não há repressão porque se tira nota baixa, e sim reforço escolar. Passamos a dar mais atenção nos estudos dela, conversar que é bom estudar para se recuperar para não se ter a chatice das tais recuperações e não atrasar nossas férias no fim do ano. Mesmo que Lelê tire nota baixa aqui e acolá isso não significa que vamos deixar de levá-la ao cinema, ao teatro, à exposições, etc. Nossa resposta é falação e estudo sem aporrinhação.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dor de dente

O tempo do resultado das coisas para as crianças tem que ser instantâneo, com lógica ou sem lógica, sem meias palavras, sem vergonha para nada, sem educação idem no entendimento do adulto.
Lelê estava com dor de dente, estava quase chorando, a mãe prometendo que ia passar, que ia levá-la ao dentista mas que ela, Lelê, é lógico, não iria querer ir, fugindo do dentista como toda criança – e muitos adultos - que não quer nem de longe ouvir o ziiiimmmmm da broca a ser introduzida na boca do paciente. Então, tudo bem, vamos tomar remédio para passar a dor de dente. Já na cama para dormir Maurinete deu algumas gotas de remédio – podia até ser água com açúcar que o efeito psicológico iria sanar a dor de dente de Lelê – e Lelê bebeu misturadas a um pouco d´agua, e, mau engoliu o remédio já perguntou pra mãe:
Lelê: Mas a dor não sumiu, mãe!
Mauri: Mas que é isso, filhinha, o remédio ainda nem desceu até a sua barriga.
LL: Mas eu já tomei o remédio, mãe!
Mauri: Sim, filha, mas o efeito não é assim de imediato!
LL: Ah, droga!

terça-feira, 21 de abril de 2009

O beijo

Esse fim de semana prolongado de feriadão Lelê aproveitou para ler um livro que trouxe da biblioteca de sua escola, alem de faze os deveres de matemática e geografia e estudar inglês para prova oral amanhã. O livro é o “Nanda. Cuidado: garotas apaixonadas 2” de Toni Brandão, ilustrações de Orlando Pedroso, editora Melhoramentos, 136 páginas. O próprio título já denuncia do que se trata. Não li, mas ela e mamãe Mauri leram. Tinha hora que Lelê lia e Maurinete ouvia e vice-versa. Hoje, já pelas 19:00 h. elas bateram a última página, e, a pedido de Lelê as duas leram em conjunto o último parágrafo do livro. Em sintonia leram: “Nanda não lembra se respondeu à pergunta e depois fechou os olhos ou se só fechou os olhos e esperou a boca de Beto 2 chegar perto da sua e, primeiro, conferir suavemente os seus lábios, e, depois, também suavemente, fechar os lábios dela com um beijo... que fez a garota se esquecer de tudo o que ela já conhecia até aquele momento... e entrar em um outro mundo, onde tudo passou a faze bem mais sentido do que no mundo anterior”. Lelê riu e começou a bater palmas acompanhada por mim e Maurinete. Peguntei a Lelê se a euforia dela era decorrente do grande final ou porque havia acabado a leitura do livro e ela respondeu que era por ambos. Até parecia que ela estava aplaudindo um beijo apaixonado de novela, como diz a música de Zeca Baleiro, ou de cinema. Eu que me cuide porque sinto no ar que o embrião da paixão via arte literária começa a criar curiosidade em Lelê. Te cuida, papai, porque o século da geração celular explode!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Fábrica de chocolate

Falei na última postagem da gana de Lelê por chocolate e, desde domingo que ela não dá sossego aos prazeres chocô. Mas, como tudo de mais é veneno, essa chocolatada toda acabou fazendo-lhe mau, muito mau. Ontem a menina quase se acaba de tanto vomitar e defecar. E tome chá, e tome cuidado da mamãe e do papai. De madrugada o papai acorda e vai ver a filha, que também se acorda e vai ao banheiro, mas já está bem melhor. Quando falamos que ela exagerou na dose, no amor ao chôco, ela pede desesperadamente que não mais repitamos isso. A dor de consciência dela só agora chegou, sem açúcar e sem cor de chocolate, mas com a cor esverdeada do chá, com a cor amarelada de sua fisionomia, com a dor de preocupação da mamãe, do papai. Ela errou na dose, mas só este ano, porque na próxima páscoa o prazer, a gula, o desespero por um naco da amêndoa de cacau falará mais alto, porque serão irresistíveis as embalagens dos produtos de chocolates, serão sedutoras as propagandas, serão tentadoras as ofertas a preços baixos, e, quiçá, ela não erre mais uma vez. É não ver para não conferir.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Páscoa

Na hora de dormir, depois de estudar português para prova amanhã, depois de jantar e depois de ficar jogando tempo livre para dentro de si, como recuperação de energias, Lelê vai pra cama e dispara em risadas. Que que deu nessa menina? Rindo assim de graça com toda graça é muito bom. Ou aprendeu tudo que estudou de português e está esbanjando sabedoria, ou está rindo à-toa para disfarçar que não aprendeu nada. Ou talvez sua alegria se deva ao tanto de energia acumulada desde ontem quando torrou a chocolatada da páscoa. A melhor data comemorativa do calendário de feriados do ano, para Lelê, sem dúvidas é a páscoa. O significado religioso passa a quilômetros em detrimento do tanto de chocolate que ela come, mesmo que neguem que ela coloca acima do chocolate o sentido religioso da páscoa. Aliás isso não é nada especial para Lelê, e sim, para todas as crianças viciadas em chocolates. Vou além: pros adultos chocólatras também. Essa é a realidade: páscoa é chocolate. O resto é resto. Chega de falso moralismo. Vamos, para quem ama chocolate, rir do coelhinho de páscoa. Lelê ri com os dedos lambuzados de chocolate.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dois solavancos e um tiroteio

Minha amiga Rita de Cássia envia-me e-mail com esse texto sobre os pais, do escritor Marcelo Mirisola. Como se trata de pai, e, eu, na condição de, gostei também do texto. Não estou dentro do texto em si do Marcelo, mas estou dentro da sinceridade e pureza que ele escancara. Vamos ao texto.
Dois solavancos e um tiroteio
Marcelo Mirisola*

Depois do Aldir Blanc, por causa de uma única canção, Fábio Júnior se tornou um dos maiores letristas da MPB
Os últimos quinze dias foram complicados para mim. Não seria exagero dizer que voltei de uma montanha-russa. Contabilizadas as indignações e as injustiças de praxe, e descontada a queda vertiginosa de cabelos na base do meu brilhante cocuruto, posso tranquilamente dizer que ainda estou sob o impacto de dois solavancos, e um tiroteio. Os três acontecimentos são complementares. O primeiro foi o infarto do meu pai, o segundo foi a notícia de que assaltaram o sítio do Fábio Jr. E, por último, tenho que dizer que escapei ileso e feliz da vida do tiroteio na Ladeira dos Tabajaras, uma vez que me entrincheirei na Adega Pérola, e resolvi adotar o ponto de vista da bala perdida – sem me esforçar muito poderia chamar isso de “o melhor complemento”.
O velho ficou dois dias na UTI, quase que bate com o rabo na cerca. Teve de parar de fumar, e agora me garantiu que vai dar um tempo nos cupins mal passados e nas picanhas sangrentas. A conferir. Bem, e o Fábio Jr? – perguntariam os mais céticos. O que o assalto no sítio do Fábio Jr. tem a ver com as calças? Tudo. O Fábio Jr – a meu ver – continua sendo, depois do Aldir Blanc e por causa de uma única canção, um dos maiores letristas da Música Popular Brasileira. Além de ser um ótimo ator, vale lembrar.
"Em sendo assim” – como diria meu saudoso professor de economia, dr.Euzébio Rocha – eu peço licença aos leitores do Congresso em Foco, e republico um texto que escrevi em homenagem ao Fábio Jr. e ao meu Pai. Esse texto, aliás, é um dos meus preferidos e faz parte do esgotadíssimo Proibidão (ed. Demônio Negro). Aqui vai:
PAI
Pai, pode ser que daqui a algum tempo, haja tempo pra gente ser mais, muito mais que dois grandes amigos... pai e filho talvez...
Essa linda canção do Fábio Jr.me fez pensar no seguinte: nunca olhei nos olhos do meu pai. De uma certa forma sempre mantivemos uma distância engenhosa um do outro. Mas isso não quer dizer que fôssemos indiferentes. Só que ele tinha as preferências dele,e eu as minhas. Como se nossas afinidades – o jeito como organizávamos as idéias na cabeça, a antecipação das tragédias, a fantasia que chegava sempre (tanto nele como em mim) antes da realidade, o gosto pelas viagens de carro noturnas e o sorvete de nozes e, sobretudo,a mania de acreditar nas próprias fraudes ou falar de uma coisa para inventar outra,enfim,como se nossas afinidades não tivessem nada a ver conosco. Não, diferente do Pai do Fábio Jr., o meu pai nunca (em tempo e lugar nenhum) jamais seria meu grande amigo, apenas um cara que cometia os mesmos erros e as mesmas besteiras que eu havia de cometer vida afora; a gente sempre se repetiu,tanto que ele podia ser perfeitamente meu filho, e se fosse assim, eu ia agir da mesma forma que ele age e agiu a vida inteira comigo,isto é, nunca olharia nos meus olhos.
Pai, pode ser que daí você sinta qualquer coisa entre esses vinte ou trinta, longos anos em busca de paz...]
Difícil aceitar que a vida de quem amamos tenha sido jogada fora. Porque uma coisa é ponto pacífico: há amor, claro que sim.
Na verdade, tememos pelo nosso destino. Pelo tempo que não é tão longo assim, e que passa rápido demais, e se há algo nessa história que prova que,apesar da distancia entre uma pessoa e outra, o amor existe, e que não é o tempo que vôa, bem, esse “algo” é a busca obstinada pelo encontro (ou pela paz); daí o desejo ou a súplica de que em algum instante – tanto faz se for Pai ou filho ou a mulher amada, – alguém venha a renascer: Pai, pode crer que eu estou bem, eu vou indo, estou tentando, vivendo e pedindo, com loucura pra você renascer... enfim, a gente pede “com loucura” para que alguém renasça a qualquer custo,mesmo que o tenhamos matado no meio do caminho, a gente pede com loucura para ele (ela) voltar, mas esse alguém não vai voltar, não. Sabem por quê?
Pai, eu não faço questão de ser tudo. Só não quero e não vou ficar mudo, pra falar de amor pra você...
Porque para o amor sempre vai ser tarde demais. Ah,meu Deus! Por que tem de ser assim? Por que quando adquirimos o grito apenas o deserto nos ouve? Por que, como diria meu amigo e poeta Marcelo Montenegro,temos sempre que “dinamitar a ponte que atravessamos”?
Montenegro, aliás – e não por acaso – é fã dessa canção.
Ah,pai, senta aqui que o jantar está na mesa, fala um pouco, tua voz está tão presa, me ensina esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver...
Ah, pai, agora que é tarde demais, o jantar está na mesa, deixa eu lhe servir um drinque, me conta daquela noite que flagrei você e a mãe combatendo sob uma luz prateada, foi tão bonito... eu nunca consegui saber o que de fato estava acontecendo, não sei se foi sonho ou realidade, mas me conta, Pai, agora que é tarde demais, me conta porque a minha voz está tão presa... tão presa como a sua voz: me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança que um dia morrendo de medo nos teus braços você fez segredo...
Tão presa. Ah, Pai, minha voz tão presa, igual a sua, nos seus passos você foi mais eu.
Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no seu peito pra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho no tapete da sala de estar...
Não houve outro jeito, Pai. O que eu faço agora que meu filho cresceu? Se não tenho você mais comigo? Ah, e agora que meu filho me olha nos olhos e eu, envergonhado, vejo você? Onde ponho você nessa estante? No lugar do herói ou do bandido?

*Considerado uma das grandes relevações da literatura brasileira dos anos 1990, formou-se em Direito, mas jamais exerceu a profissão. É conhecido pelo estilo inovador e pela ousadia, e em muitos casos virulência, com que se insurge contra o status quo e as panelinhas do mundo literário. É autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô e O azul do filho morto (os três pela Editora 34) e Joana a contragosto (Record), entre outros.

sábado, 4 de abril de 2009

Sinal de alerta

Tá na boca de todo mundo que o mundo está cada vez mais violento, e quando temos filhos pré-adolescentes, nosso nível de preocupação aumenta, e a violência do mundo aumenta mais ainda segundo nossa ótica de pais. Se não tivermos cuidado a neura pode atingir-nos, mas para não sermos pegos de calças curtas, ou, outro velho ditado, ‘brasileiro só fecha a porta quando é arrombada’, é melhor prevenir. Repito, sem deixar que a neura nos afete. Bem, esse preâmbulo todo é só para registrar um e-mail que recebi, que já foi recebido de alguém, que foi transmitido por não sei quem, que foi retransmitido não sei por quem, e aí vai nessa ciranda louca da internet, que ficamos com a sensação de que a neura já bateu nossa porta, se não fosse o crime do dia transmitido pelo noticiário televisivo, mais violento do que do dia anterior. O e-mail de advertência é o seguinte:
“Alerta!!! Isto é importante para conscientizar-mos, inclusive nossos filhos!!! Informação Importante! Dentro dos Shopping Centers há pessoas próximas às entradas dos cinemas fazendo uma suposta pesquisa com os jovens (algo "interessante", como cinema, TV, um novo filme a ser lançado...). Pegam então o nome, telefone fixo e residencial, endereço e algumas características como as roupas, cor do cabelo, etc etc etc do seu filho. Depois que as pessoas entram no cinema, eles esperam alguns minutos, ligam para a pessoa que foi "entrevistada" para ver se o celular está mesmo desligado e, se estiver, eles ligam para a casa da pessoa. O bandido diz o nome completo do seu filho (o que já assusta), as características como cabelo, estatura, roupas e diz ainda: "Ligue para seu filho, se acha que estou mentindo... O n º dele é 9XXX - XXXX? Está desligado..." (Pronto, se ele sabe até o nº do celular de seu filho, só pode ser verdade). E como um filme dura em média 2hs, demora muito para você conseguir ligar e ser atendido. Aí você já está em pânico e pronto para fazer o que o bandido lhe pedir.
AVISO DE UM DELEGADO DE POLÍCIA: "Isso não é boato, é fato”. Instruam seus filhos a não responderem nenhuma entrevista ou pesquisa nas ruas, e fornecer informações curriculares apenas diretamente para empresas. Não coloquem curriculum em sites.... Nunca desliguem os celulares... coloque-os em "silencioso". Em caso de cinemas, coloque-o para que simplesmente acenda a luz... Assim saberão se algum parente está ligando... O nível de inteligência dos bandidos está aumentando... Temos que nos precaver cada vez mais”.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Villa-Lobos e Carlos Gomes

Depois da última aula do Kumon passamos no supermercado para comprarmos pão e no caixa tinha algumas revistas à venda. Chamou-nos atenção a revista Nova Escola, porque acompanhava um cd intitulado “Villa-Lobos e Carlos Gomes para Crianças”. Além dos autores clássicos despertou-nos também o valor da revista com o cd: dois reais e noventa centavos. Não era cd pirata, não era música pirata. Lelê foi até procurar confirmar o preço nas máquinas indicadoras de preços e confirmou-se o valor baratinho. Compramos, e ao chegarmos em casa fomos ouvir o que Lobos e Gomes tinham arranjados para as crianças. De antemão eu já previa que Lelê não iria gostar quando lhe falei que as músicas não era cantadas, ou seja, não tinham letras, eram músicas orquestradas. Dito e feito, apesar de que as músicas fazem partem do universo folclórico infantil. As interpretações de Villa-Lobos eram: Todo Mundo Passa; O Cravo Brigou com a Rosa; A Canoa Virou; Carneirinho, Carneirão e Cai, Cai Balão. Na interpretação de Carlos Gomes são: A Cayumba; Morro Alto; Saltinho; Quimgombô e Final. Eu gostei porque as músicas estavam realmente vestidas de sonoridades infantis. Algumas até pareciam músicas provocativas, lúdicas, brincalhonas. Tinha música que sugeria que a batuta era de Hermeto Pascoal. Tudo bem, Lelê pode não gostar agora nessa sua fase de vida, mas quem sabe depois ela passe a apreciar. Música clássica, ou autores clássicos - batendo agora no velho refrão - não tem divulgação na programação radiofônica, então não seria de se estranhar que Lelê passasse a apreciar esse estilo de música de uma hora para outra, se não for apreciada em casa.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Vegetarianismo

Ontem Lelê estava tomando seu café da manhã – por volta de 05:50-06:00 h. (ô maldade, gente, isso é hora de criança tomar café?) – quando ela falou pra mim e Maurinete, com um misto de espanto e admiração, que no colégio dela tem uma menina que é vegetariana. Respondemos de forma natural que isso era uma opção dela, possivelmente em conformidade com seus pais. Lelê entendeu que seu apetite por uma picanha bem gordurosa deve ter tanto respeito quanto as crianças que não comem carne, e nem por isso deixam de ter alimentação saudável, questão esta – comedores de carne x não comedores de carne - que não cabe discussão aqui. Geralmente as pessoas que não comem carne se diferenciam também por acreditarem que devemos respeitar os animais e não matá-los para comê-los, que os animais devem ser respeitados. Expliquei para Lelê que as crianças vegetarianas podem comer tranquilamente outros alimentos gostosos como pizza, que Lelê tanto gosta, almôndegas, hambúrguer, queijo, cevada e até cachorro quente, etc. Tudo vegetariano. Como são poucos os vegetarianos, em relação aos não vegetarianos, principalmente crianças, é possível surgir preconceito. E, no fundo, se a gente for parar pra pensar, termos que matar animais para comê-los assados, fritos, cozidos, é um negócio muito esquisito. Lelê fez uma cara!!! Depois temos o costume de falarmos que os animais é que são selvagens.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Agora escola é só para brincadeira e chocolate

Como de praxe Lelê já estava tomando seu café alvorecente quando eu, em tom sério, lhe falei:
DD: Lelê, ontem a noite você foi dormir muito cedo, antes mesmo do Jornal Nacional da Tv Globo começar, e, portanto, não deu pra você ver uma notícia muito importante divulgada ontem. Muito importante mesmo! E é de seu interesse. (Lelê continuou bebendo café tranquilamente). Foi o seguinte: eu não sei se o presidente Lula estava maluco, mas ele determinou que a partir da próxima semana todas as escolas do Brasil, públicas e particulares, teriam que reservar três dias da semana - os outros dois serão de aulas normais - para os estudantes apenas brincarem em seus colégios - tipo as aulas da Escola Parque que você tinha o ano passado, que eram aulas de teatro, artes, música, natação, jogos e brincadeiras mais. Ele disse que, segundo pesquisas científicas, os estudantes que têm brincadeiras orientadas pelos professores rendem mais nos seus estudos e serão mais inteligentes. (Lelê não manifestou surpresa). Não satisfeito com essa medida ele determinou que cada aluno, a partir de então, receberia, ao entrar na escola, uma barra de chocolate das grandes. (Nada de reação de Lelê). Como se não bastasse, Lula orientou o Ministro da Educação a aumentar o período de férias escolar para dois meses no meio do ano e mais dois no fim. Para os pais isso vai ser ruim, mas para vocês irá ser a glória! (Calmamente Lelê observou):
LL: Pai, já saiu o resultado da gincana lá do meu colégio. Meu grupo, o verde, foi o vencedor, o grupo vermelho ficou em segundo lugar e o azul em terceiro.
DD: Oba! Que legal, vocês venceram!
LL: Pai, quem não sabe que hoje é o dia da mentira!
Fiquei com a cara murcha e concluí que sou um péssimo mentiroso.