Pesquisar este blog

Seguidores

Total de visualizações de página


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um milhão de amigos


Roberto Carlos tem uma música que diz que quer ter um milhão de amigos. Acredito que foi uma música feita pré-internet. Em sendo o Rei Roberto, poderia até mesmo ter seu milhão de friends se assim o quisesse. Mesmo que só os que vestissem azul, mania do king.

Estava eu navegando no facebook, precariamente, pois ainda não sei navegar de todo, quando chega Lelê e observa que tenho setenta amigos. Fiquei espantado, pois não sei como alcancei esse tantão de gente amiga digital. Diante de minha perplexidade ela informou-me que isso não representava nada, pois ela mesma tinha setecentos e trinta! 

Fiquei abismado mais ainda. Eu, na idade dela, jamais teria uma coleção tão vasta de amigos, e vem ela assim, me esbanjando setecentos e trinta amigos! Refiz-me do susto e achei que deveria ter era orgulho por minha filha ter tantos amigos. Está ela cercada de gente amiga por todos os lados. Urruuu!!! Minha filha é uma ilha de amigos!

O mundo cibernético é fantástico! Então resolvi encostar Lelê na parede e perguntei se ela conhecia todo esse pessoal. Respondeu que sim, mas não com aquela convicção de se envaidecer. Pelo tom de sua voz percebi, ou analisei mentalmente, que esse universo de amigos de minha filha é meio falso. Logo vi que não era possível uma garota de pouco mais de uma dezena de anos ter tanta gente próxima a ela. Se fosse assim, poderia ela até se candidatar a, sei lá, vamos aí... Deputada Distrital, já que não temos vereadoras, mesmo achando eu que isso seria uma desgraça para ela, já que a classe política está mais para inimizade.

Poderia eu explicar-lhe que esse tantão de amigos não são o mundo representativo de suas verdadeiras amizades; que essa carteira de amigos não passa de pixels na tela do computador. Seus verdadeiros amigos são os que estão no seu coração de estudante, no seu coração de filha para seus pais, que, provavelmente fazem parte dessa lista digital de setecentos e trinta amigos. Sim, lógico, eles devem estar conectados com ela nessa lista. Mas não, eu não quero desmanchar seu prazer, porque no fundo no fundo, ela acredita que é uma menina queridíssima por tanta gente, e ela está feliz por isso. Quem deve peneirar suas amizades nas nuvens digitais é só ela, refinando suas tecladas em palavras concisas de kkkk, rsss, e outros grunhidos gráficos , expressões em desenhos emotions.

Entendo perfeitamente a realidade digital de amigos de Lelê. Quando eu era criança meu universo geográfico de encontros com a galera era na rua, nas praças, no colégio, na casa das amigas e amigos, nas esquinas das ruas, no cinema, no açude, no meio-fio da calçada sentado papeando, no campinho de futebol em terrenos baldios, no pátio do colégio, na biblioteca pública, na rodoviária, no clube social, nas escadas das igrejas, no parque de diversão, no circo, no cemitério – em dia de finados, no enterro de gente conhecida, no bar, na budega, na padaria, no cabaré, na casa do vizinho... Hoje Lelê se encontra com sua galera em maior frequencia no facebook, no e-mail, no istagram, no blog, no celular, no tablet, no galaxy – não sei se está correta a grafia -, na antena digital, nas nuvens digitais.

É preciso entender os universos infantis de cada um, meu e de Lelê. E eu entendo perfeitamente que a geração de Lelê é isso, não tem retorno. Eu pronunciava as palavras ao vivo, Lelê pronuncia teclando online, ou até mesmo por câmeras, olho no olho digital.  

Sim, mas retornando, e concluindo, ao fantástico número de amigos que as pessoas tem hoje em dia na internet, espero que Lelê um ida reúna toda essa galera para celebrar a amizade. Aqui em casa não vai dar. É muita gente. Não há espaço suficiente para essa reunião. Que tal todos se darem as mãos num  pendrive de oito mega gigabytes?

Nenhum comentário: